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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Evolucionismo pela Igreja Católica Apostólica Romana (I)

Perante um véu opaco que vai, passo a passo, toldando a consciência colectiva, incutindo-lhe mentiras e deturpações - um véu que aumenta a resistência mental de indivíduos manifestamente mais influenciáveis, por um lado, e que, por outro, impede os interessados de alcançar o merecido esclarecimento – urge prestar alguns esclarecimentos atinentes à relação da Igreja com as ciências positivas, nomeadamente, com as teorias evolucionistas da biologia (a quem esteja disposto a recebê-los, que por cá nunca foi nosso fito pressionar ou utilizar falácias para conquistar a adesão do auditório - veja-se que nunca abusámos das categorias clássicas do Ethos, Phatos e Logos).

Assim, para obviar uma imprecisão gravíssima, nota da difundida ignorância que povoa círculos académicos que se queriam sobranceiros, peço a atenção dos possíveis leitores. Falo do criacionismo, aquilo que muitos julgam ser a posição oficial da Igreja Católica, e mais não é do que, sejamos honestos, uma grande treta! É uma parvoíce e não é ciência. Todavia, não queiram acusar, sem mais, a Igreja, pois esta é a primeira a negar tal “teoria”.

Aliás, o criacionismo surgiu nos E.U.A., em alguns Estados, pela vontade de meia dúzia de pais escandalizados por estarem a ensinar aos pobres filhinhos que o homem e o macaco tiveram um antepassado comum e bem peludo (é conhecida a fobia norte-americana à pilosidade corporal) – que fique bem claro, desta vez, a Igreja e a CIA nada tiveram que ver com o caso!

Ora, para calcificar a minha argumentação achei por bem transcrever três pontos de uma Encíclica do Papa Pio XII, denominada Humani Generis. O documento data de 12 de Agosto de 1959, o que atesta a sobriedade e esclarecimento do Vaticano à data.

Um primeiro ponto sobre a relação geral da Doutrina Católica com as ciências positivas:
“35. Resta-nos agora dizer algo acerca de algumas questões que, embora pertençam às disciplinas a que é costume chamar positivas, entretanto, se entrelaçam mais ou menos com as verdades da fé cristã. Não poucos rogam insistentemente que a religião católica tenha em máxima conta a tais ciências; o que é certamente digno de louvor quando se trata de factos na realidade demonstrados, mas que hão-de admitir-se com cautela quando se trata de hipóteses, ainda que de algum modo apoiadas na ciência humana, que tocam a doutrina contida na sagrada Escritura ou na tradição. Se tais conjecturas opináveis se opõem directa ou indirectamente à doutrina que Deus revelou, então esses postulados não se podem admitir de modo algum.”

Agora quanto ao evolucionismo:
“36. Por isso o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são directamente criadas por Deus), segundo o estágio actual das ciências humanas e da sagrada teologia, de modo que as razões de uma e outra opinião, isto é, dos que defendem ou impugnam tal doutrina, sejam ponderadas e julgadas com a devida gravidade, moderação e comedimento, contanto que todos estejam dispostos a obedecer ao ditame da Igreja, a quem Cristo conferiu o encargo de interpretar autenticamente as Sagradas Escrituras e de defender os dogmas da fé.(10) Porém, certas pessoas, ultrapassam com temerária audácia essa liberdade de discussão, agindo como se a própria origem do corpo humano a partir de matéria viva preexistente fosse já certa e absolutamente demonstrada pelos indícios até agora achados e pelos raciocínios neles baseados, e como se nada houvesse nas fontes da revelação que exigisse a máxima moderação e cautela nessa matéria.”

(Continua...)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Tolerância que Nos Tolhe


Apreciemos os rectos moralistas, senhores da inominável verdade, detentores da égide que, sentados no seu trono, se encolerizam contra qualquer manifestação religiosa. É moeda corrente o riso escarninho com que alguns opinion makers europeus recebem qualquer declaração da Santa Sé: seja uma encíclica papal, sermão domingueiro, declaração de bispo ou cardeal. Tudo o que a Igreja diz é falso e só merece o nosso mais profundo repúdio! Aliás, o papa é um velhinho senil e nós, cultores da perfeição circular, não lhe perdoamos ter enfileirado na juventude hitleriana (mesmo que na altura não passasse de um miúdo sem opção de escolha)!
O mais interessante é que, para o Vaticano não ser alvo da crítica destes seres etéreos, teria de mergulhar em azoto líquido. Senão vejamos: se durante muito tempo acusavam a Igreja de não acompanhar a evolução dos padrões culturais, agora, que finalmente se voltou para as novas tecnologias (Internet, televisão, etc), agora que participa activamente em debates transversais a toda a sociedade, que reflecte sobre os últimos avanços da ciência; agora que faz tudo isto, os nobres moralistas apontam-lhe o dedo e apelidam-na de leviana.
Mais grave ainda é a deturpação que as declarações dos representantes clericais sofrem: exemplos históricos são interpretados como manifestos anti-islâmicos; metáforas são levadas a peito pela imprensa, que sente a sua dignidade decepada por entre muita birra e choro, como crimes de lesa pátria.
O nosso mundinho é tão airoso na sua perfeição formal que silenciar a Igreja se tornou estandarte de algumas esquerdas mais inconsequentes. A Santa Sé não tem só o direito de questionar e discutir assuntos políticos, tem também esse dever. Então, uma instituição com tanto poder educacional e formativo, deveria permanecer calada? Para muito boa gente sim, deveria voltar-se para o terço e ministrar uns quantos pais-nossos em jeito de expiação dos pecados e deixar a política para os indivíduos capacitados. Não interessa que os senhores bispos que vemos palestrar tenham dedicado toda a vida ao estudo minucioso não só da teologia, mas também da filosofia, sociologia, POLÍTICA, diplomacia, direito etc. Não, nada disto interessa, eles são incapazes e ponto final!
Outra questão, tantas vezes invocada, é a mancha escarlate do sangue de milhões de inocentes ceifados pela Igreja. Sem dúvida que houve derrame de sangue, sem dúvida que morreram inocentes. Todavia, da mesma maleita se encontra ferido o socialismo, o liberalismo, o nosso país, qualquer país. Os alicerces da humanidade são incrivelmente sangrentos. Contudo, pouca gente refere, por exemplo, a sua luta pelo fim da escravatura e o contributo inestimável na defesa da dignidade humana.
Assim sendo, após o que escrevi, não me abstenho de tecer duras críticas. Considero grotesco o perdão do Vaticano ao bispo norte-americano (Richard Williamson) que nega incessantemente o holocausto nazi. Não se pode passar uma borracha por cima de discursos anti-semitas (vocábulo no sentido estrito, uma vez que são vários os povos semitas), discursos que só encorajam o ódio perante os judeus, novamente em franca expansão. Assim como me parece incomportável a sua posição no combate ao vírus da SIDA (a infeliz e insustentável oposição ao uso do preservativo).
Perante o exposto, fica o desejo de uma convivência saudável entre as várias forças sociais, que deveriam colaborar entre si, não entrando em desatinos despóticos e não açambarcando a verdade.
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