segunda-feira, 22 de abril de 2013



Cinéfilo quadro voltado a poente:
as malas esvaziadas e tu ausente.

Como máquina esvaziada,
desnatada e crucificada
pararam pardos os relógios
transgredindo ordens químicas
de matar fome ao próprio tempo.

Há muito que o homem é filme
nos antípodas da memória
quase em delírio e doente
ugindo-se de caos e presente.

Segue-se o sono ao som do sol
petrifica-se a descoberta eslástica
de permanecer-se imagem volátil.

Somos em abstacto algo concreto
transplante de movimento dividual
indício levado avante pelo afecto. 

21/4
in contra-átomo , poesia, 2013
( em revisão)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Escuro mas Quente

É como estar à lareira de alta labareda - tão alta como a alma do Homem das lágrimas enxutas! - de braço recostado languidamente sobre o cabelo, mas não lhe tocando, desbravando a fio de gládio o negrume dos tratados de Estética enquanto sinto o chão cair sobre minha cabeça.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Rabelais


Onde ficará o Gargântua e Pantagruel da arte contemplativa de crescer-se sem saudade?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Metatradicionalismo

Não serão os reaccionários os maiores hipsters do nosso tempo? Eis o seu obstinado lema: 'gritemos com a pujança de um cego pelas instituições do passado; abraçar o presente é demasiado mainstream'.

sábado, 23 de junho de 2012

Traços hipermodernos

Eis que é chegada a hora dos Esteves Sem Metafísica!

A anomia axiológica hipermodernista cresceu nos nossos dias; cresceu e evoluiu para um novo patamar. Agora é o tempo da democrática validade horizontal da opinião. Agora, a eminência do sábio resigna-se à misologia do delinquente.

terça-feira, 13 de março de 2012

Sobre a curta "Praxis"

Com o devido respeito ao livre pensamento de cada um, a minha concepção de sociedade universitária não passa por ter um grupinho de canalizadores de frustrações facilmente sublimados de companheiros integradores, com a hábil e fácil desculpa da liberdade de acção humana.

Não vislumbro em nenhuma sociedade evoluída, paradoxalmente, tal "instituição" da Praxe universitária. O argumento do fascismo é sempre o caminho mais fácil para qualquer orador querer destronar esta tradição ( e não instituição, pela falta de universalidade). Toda a gente gostará, conquanto, de poder mandar.

O fenómeno de integração tão caro à sociologia e a Emile Durkheim, que coloca o sujeito social numa teia de fronteiras e possibilidades ínfimas de integração quantas as instituições ao seu (in)consciente dispor leva ao desespero da integração do mais vulnerável tipificado em grupos cuja normatividade seja mais coadunada com a ideia de "instituição total".

Das duas, uma. Ou a fenomenologia praxística tende a uma tradição ostentada ao costume e ao usus, ou radicará no tipo de instituição total, semelhante aos fenómenos de integração ocorridos na Inglaterra, no pós - Waterloo. "Instituições" criadas por demanda popular que, também paradoxalmente, culminaram com a adopção de normas rígidas, super-imperiais, adopção de uniforme, localização isolada, sistema administrativos hierárquicos, códigos de conduta severos, frequência ( compulsiva) aos conselhos dos "notáveis", etc etc etc.

Como acredito na teoria da relatividade de Albert Einstein, creio que estejamos ainda presos, no tradicionalismo, ao século XIX.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Prosas da Questão Coimbrã

Bom Senso e Bom Gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho (excerto).


"(...). V. Ex.ª aturou-me em tempo no seu colégio do Pórtico, tinha eu ainda dez anos, e confesso que devo à sua muita paciência o pouco francês que ainda hoje sei. Lembra-se, pois, da minha docilidade e adivinha quanto eu desejaria agora podê-lo seguir humildemente nos seus preceitos e nos seus exemplos, em poesia e filosofia como outrora em gramática francesa, na compreensão das verdades eternas como em outro tempo no entendimento das fábulas de La Fontaine. Vejo, porém, com desgosto, que temos muitas vezes de renegar aos vinte e cinco anos do culto das autoridades dos dez; e que saber explicar bem Telémaco a crianças não é precisamente quanto basta para dar o direito de ensinar a homens o que sejam razão e gosto. Concluo daqui que a idade não a fazem os cabelos brancos, mas a madureza das ideias, o tino e a seriedade; e, neste ponto, os meus vinte e cinco anos têm-me as verduras de V. Ex.ª convencido valerem pelo menos os seus sessenta. Posso pois falar sem desacato. Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Ex.ª passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas cousas que saem dele confesso não me merecerem nem admiração, nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. Ex.ª precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.
É por estes motivos todos que lamento do fundo de alma não me poder confessar, como desejava, de V. Ex.ª."

Coimbra, 2 de Novembro de 1885


Nem admirador nem respeitador
Antero de Quental

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Canção aos Desertos d'Aquém-Mar

Levanta,
levanta a cabeça.
Mito da ausência desmentido
grisalho da idade,
fala-me. Caminha comigo.
Não vos sei as cores,
nem as vozes destiladas,
nem os olhares que dobram os medos
frases etéreas
sons de espectro.

Levanta,
levanta a cabeça.
Severo chamamento
deixa vacante o trono e
retalha a miséria.
Nem a dor te cobiçará!
Um fim tão próximo
que já se lhe saboreia
o sangue.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Afirma o homem médio

- Temo a opacidade do Desconhecido.

Como pode ele temer o Desconhecido se o Desconhecido é tudo aquilo que conhece?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Defunto

O Homem humaniza-se pela abdicação. Mormente quando abdica da essência para sentir o físico-estar dos que já não são.

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Monserrate, a Portugal, aos Portugueses



'Childe Harold's Pilgrimage', canto I, XVIII

Poor, paltry slaves! yet born midst noblest scenes -
Why, Nature, waste thy wonders on such men?
Lo! Cintra's glorious Eden intervenes
In variegated maze of mount and glen.
Ah me! what hand can pencil guide, or pen,
To follow half on which the eye dilates
Through views more dazzling unto mortal ken
Than those whereof such things the bard relates,
Who to the awe-struck world unlocked Elysium's gates?

Lord Byron

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do comunismo incomum

Muito por causa ( e efeito) de meu amigo Sousa Dias ( in Grandeza de Marx; por uma política do impossível) aprendi que, hélas, O cogito proletário é um espectro.

E, mesmo a "espectralidade do espectro" comunga do por vir. O poder comum é uma falácia, conquanto que a sua transcendentalidade teórica comunga do im-possível, do eterno vir-a-ser, do eterno in-concreto.

A actualidade de Marx é uma tautologia de (in)concretez; a Lógica do impossível ( Alain Badiou) esbarra contra a fenomenologia da consciência do poder no homem ( auto-poder) e fora do homem ( hetero-poder).

A bondade de Marx ( métrica e alcance de suas Teorias) esbarra com a ausência de altruísmo vigente, em cada humano errante. A grandeza de Marx deduz-se, então, da pequenez cerebral do receptor. De nós, todos, meros incomuns.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Grandeza de Marx - Sousa Dias

convido toda a gente à apresentação do livro da autoria do meu amigo pessoal Sousa Dias ( que apresentou com fulgor e sapiência o meu modesto Réu Vai Nu). apareçam!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

De chegada

A convite, deixarei eu também neste átrio algumas das palavras que a caneta vai descoordenadamente vomitando.

Do eminente Antero:

«A estes tais chamo eu poetas. Porque nos ensinam o bem. Porque são originais e dizem sempre alguma cousa nova à nossa curiosidade de saber. Porque dão com a elevação das vidas confirmação à sublimidade dos escritos. Porque são tão poéticos como os seus poemas. Porque vão adiante abrindo à luz e ao amor novos horizontes. Porque não conhecem ambições nem orgulhos. Porque têm a cabeça do génio e o coração da inocência. É por isso tudo que lhes chamo poetas.»


Ao meu anfitrião, Lourenço.

sábado, 18 de junho de 2011

Dionísicas às Éclogas Universitárias costumeiras ou foraleiras

Falta ao Homem ( e ao adolescente-médio peculiarmente) contemporâneo um quid de inteligência sentiente que Xavier Zubiri profetizava, no cômputo geral de uma continuidade descontínua da metafísica do sec XX.


Uma inteligência que não negligencia a premissa de ser-com-os-outros-no-mundo, no conspectum da alteridade plurisubjectiva-concreta do onthos, complementada pelo Dasein Hedeggeriano que limitará os gestos peculiarmente isolados e de interesse meramente privado (rectius, mero capricho) pela alterância de usus e costumes axiológicos. Falamos, portanto, de Valores Universais, autênticos imperativos categóricos que legitimam mais os actos das pessoas e menos as suas correlativas ( e não, por vezes, menos divergentes) orationes.


Um saber restritivamente enciclopédico pecará, sempre, quer pela indefinição de sensibilidade imputada ao sujeito que a auspicia , quer pela rejeição da necessidade-sociabilidade pela autoproclamação de uma auctoritas, que nem os Clássicos se arrojavam de possuir. Cairemos num lugar comum aos Déspotas Esclarecidos ou, mais remotamente, aos que se legitimavam por , cumulativamente, dominus et deus serem.


Não possuímos nenhum ius respondendi ex auctoritate principis, nem nenhuma Sacrosanctitas que nos permita ( aos olhos dos demais cidadãos) viver da desalternância egoística ética.


No fundo, essa representação ( a par da finitude e da solidão) torna-se fattispecie de deselegância moral disfarçado dum mecanismo que o ego, esse faminto instituto individual ininterruptamente recalcado e recalcante, capta para cortar um atalho-vis rumo à autonomia de consciência individual: a desconstrução do Gestalt no seu conteúdo mínimo-ético de Cortesia e de Bom-senso, enquanto ordem valorativa-axiológica que constitui o animus de qualquer futuro bonus paterfamilias.


Falaremos, conquanto, de valores que poderão, pela sua importância, revogar certos legalismos de Magdala. Valores que se aprendem em comunidade, códigos de ética, autênticos pactos de não-agressão fundamentados em prismas axiológicos, e portanto, comuns a quem felizmente os soube aprender em sociedade(s), e confusos a quem, por temeridade divina, não lucrou de seus irreversíveis benefícios.


Os senhores ( e principalmente Donzelas) que criaram uma polícia escolástica ( permitam-me a tête de chapitre) para impedirem outrém de copiar em exames não deixam de estar certos quanto aos motivos ( resta saber se individuais ou por amor à nobre causa comum ou comunista), não deixando, contudo, de exagerar quanto aos fins usados, violando o excesso dos meios. Mas, pior do que esses Savignystas ( esperemos que não codifiquem tais iura) são aqueles que traem os próprios colegas, demonstrando crueldade no modo como encaram esse egoísmo ético uma cabeceira-bíblica digna de leitura pré-onírica repetitiva e perpétua, ao ponto de a terem motivado, como se ( de iure constituto) o pudessem fazer.


São esses senhores (e, repito, Donzelinhas) a quem me dirijo, na convicção de espectador não ferido pela Prevenção Geral que pretendem impor, legitimada pela magna auctoritas, coercito, e exemplo incorruptível que transmitem à nossa domus sapientiae: deixarei, prontamente de ler o Método, haverá pois clareza e distinção de maior no universo estudantil da muy nobre Faculdade de Direito da Universidade do Porto?


Os professores da casa não terão culpa, já que (quando muito) estarão a receber ordens severas para apertar com as vigilâncias. Agora, não deixa de ser hermético o facto da causa deste Policiamento mordaz ter sido a fraca vontade de um senhor ( ou Donzela, repito), que ferido(a) nos seus calcanhares dourados por estudantes cabulescos que passam com um 10 às cadeiras, decidiu colocar o princeps à perede com ameaças lesivas da sua virtude ( uma autêntica capitis diminutio lhe aconteceria, decerto).


Freud , certamente,encontraria um caso paralelo onde não faltariam referências a uma postura "libidinal minor", mas talvez só disso não seja feita a massa que nos envolve a carne. Pior do que isso está quem quer fazer uma prova na "paz do Senhor": levar com marcação apertada, quando "nem devem, nem temem", e com constantes avisos intercalares, contra-avisos, questões prejudiciais, etc. Desormé, com isso podemos nós, os alunos que não copiam mas que não se importam que uns malogrados possam passar a uma cadeira para poderem bater-pé com um(a) aluno(a) de 16 num futuro que não passou.


A questão, perdoem-me os civilistas arreigados no seu juspositivismo obtuso, não está na ilicitude do acto, mas na incompetência moral de quem causou este motim. Seja ele senhor ou Donzelinha, fosse no seminário onde eu estudei e seria o primeiro estudante não plagiador a dar o primeiro golpe de purificação, para veicular estes tais laços invisíveis que separam a individualidade ( egoística) da alternidade subjectiva concreta. A praxe ( neste ponto concordo) veicula este espírito de união. Antevendo que não será ninguém de tais meios ( nem tampouco tenha andado em seminários, como triste eu) , resta esperar por fumo branco.


Que estas éclogas dionísicas, que demarcam o fumus do fogo dissipem algumas mágoas a alguns que, possivelmente arrependidos de seus actos, possam fazer um breviter juízo de consciência quanto à ética e axiologia de seus propósitos. A Justiça clamará por pessoas íntegras que afastem a concorrência com métodos substantivamente lícitos, mas essencialmente imorais.


Esta é a minha opinião acerca do fumus que alega haver um grupo de alunos do 3º ano da FDUP que coordena uma brigada anti-plágio nos exames, com o pretexto de estar a trabalhar para o currículo. Desta vez, não posso calar. Impõe-se uma Démarche! Não pela legitimação de um plágio, não pela legitimidade de métodos fraudulentos, mas pela consciência colectiva ferida pela obstipação dessa inteligência sentiente que tanta falta faz hoje à contemporaneidade ultra-liberal.


Deus, nosso Senhor, e Maria sua ( e nossa ) Mãe nos ajudem nestes santos e vigiados exames. Amen


domingo, 12 de junho de 2011

Recomendação mensal de leitura filosófica

Javier Hernández-Pacheco, Friederich Nietzsche: estudio sobre vida y trascendencia; Barcelona Editorial Herder, 1990.

Um estudo do Professor Catedrático de Filosofia da Universidade de Sevilha declinando temas convergentes em Nietzsche: breviter, Existência Trágica, Trancendência e culpabilidade, vontade de viver, inversão axiológico-normativa e vontade de poder, Actualidade, Trancendência religiosa e transcendência aristotélica.

Recomendo aos amantes de Filosofia e curiosos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fernando Nobre

A maioria das pessoas até simpatizaram com a virtude deste senhor. Contudo, o que ele fez demonstra efectivamente que a Política não cessa de surpreender pela elasticidade das convicções, e rigidez de oportunismos.

sábado, 9 de abril de 2011

O Desvalor da Moeda ( Sátira)

A Moeda poderá comprar-nos um presente
Mas, decerto, vender-nos-á outro futuro
Tudo é dinheiro! Tudo é Moeda! Tudo é Capital!
Prostituem-se (até clérigos) por dinheiro!
Ah, Moeda, O Diabo é o eterno Banqueiro
cobrando juros a cada alma que o deteste gastar,
sem amor. Tudo é quantificável e mensurável,
sem virtude, mas com um preço! O dinheiro, meus caros!
( Afinal, é de dinheiro que falamos não é?)
Que Deus partilha sua casa com o eterno cornudo
a seu lado, contando eternamente suas moedas? Seus oiros?
deram a César o dinheiro de Deuses, para vir com um diabo
taxado a preço de um escravo? O Demónio está nos desamores
que a ilusão do poder ilegitimamente cria, sob o fausto da Posse.
Onde haverá dinheiro, sobrará poder! E tudo, de novo, será Moeda!
Mas, dois demónios estão quando Belzebu semeia o eterno vício
que o homem tem de superar o seu vizinho, criando espécies de Oasis
financeiros! Só para parecer bem, faustoso, imperial, Persa...
Endivida seus próprios filhos, hipotecando-lhes o pão e a educação
que hão-de encontrar nas leis das Ruas.
Quantos pecados cobrará o diabo por um Porsche?
E onde estão os garantes de Deus?
Sim, aqueles cujos sapatos são Prada ou Gucci,
e extremamente valiosos para calçar o pé de Belzebu?
O Cornudo adora dinheiro, mas decerto não calçaria Gucci.
Onde estão os garantes do Socialismo, do materialismo dialéctico, do mutualismo
do Cristianismo, do populismo, Do DIREITO? Da soberania Popular?
Onde estão, merda?

( Calam-se, porque podem cortar-lhes o eterno dinheiro)

( Calam-se porque são fracos ... sem dinheiro, e se há coisa que se não possa comprar é efectivamente uma consciência cívica)

(calam-se porque têm medo de saber falar)

( calam-se porque são medíocres, porque se o não fossem, justificavam-no com acções dignas de
louvor e honra)

( calam-se porque não são inteligentes; são espertos, e sabem que para chegar ao cume do everest monetário, é necessário queimar muitos dedos sem dar um grito)

(Calam-se, porque há-de chegar a vez deles mandarem calar)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em demanda de um Fundo Axiológico Internacional

Vinte e quatro horas após o anúncio do FMI, o Primeiro-Ministro Medina Carreira prometeu que a nossa camarada Alemanha irá interceder por nós, no que concerne ao que é designado de "input moral" à Nação.

O Fundo Axiológico Internacional, quiçá inspirado no idealismo alemão, irá assim ser muitíssimo útil aos Portugueses, que já expressaram o seu contentamento, numa sondagem realizada pela TVI, e adiantada pelo Prof.Marcelo Rebelo de Sousa, algures perdida a folha num livro do Professor Bambo.

Após cinco intensos minutos de negociações com a oposição no café Luanda, Bairro Alto, Medina Carreira convenceu Alexandre Frota e Pedro Mantorras a solicitar o Pacote de medidas morais.

O FAI terá como principais objectivos ensinar aos Portugueses a dizer "obrigado" a tudo o que venha de nossos amigos, e ,como a amizade é ter "um espírito em dois corpos", dizer "olá" sempre que nos queiram cumprimentar cordialmente, e nunca, nunca um fadista "Adeus". Um "até breve" choca menos nossas amizades, não nos torna indelicados, e revela que teremos todo gosto em que venham visitar-nos com alguma regularidade e delicadeza!

O Presidente da República, Tony Ramos, não se pronunciou sobre o sucedido, mas espera-se que amanhã dirija uma mensagem ao país, directamente do centro de Depilação, no Bairro do Aleixo. Além disso, consta-se que virá um novo pacote mais light para pessoas sexualmente sensíveis, do qual apenas se sabe que se designará de FF.

( Notícia em acompanhamento Vip, patrocinado por Reinaldo Teles)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

La Fleuve, L'Histoire et les Gendarmes: La Génération 500 euros

Quand l'environnement nous touche sensiblement,

Quand l'histoire des massacres à la mémoire des faibles

se cache sur le lit des épouvantables pouvoirs,

Nous ne sommes pas, sans doute, l'Histoire

Nous ne serons, même pas, la Mémoire!



Les Gendarmes d'aujourd'hui

débarrassé de préjudices

Esclaves de leur propre liberté!

(dûment réexaminée au fond de la raison,

apparemment hissé vers le ciel)

ont vécu à ses intérêts et identités.



Nous ne vivons plus, certainement,

de ces remparts anciens

Nous sommes ces fleuves qu'émanent de l' absence d'eau

L'histoire qui survit de l'absence de rien,

de motivations et d'événements!

Une génération de "gendarmes" sans peau.






sábado, 12 de fevereiro de 2011

Repensar a FDUP- Acto Primeiro

Afastado e desgastado de algumas apoquentações isoladas quanto ao (dis)funcionamento da nossa domus sapientiae, vieram-me às vãs memórias algumas dissonâncias longínquas, após uma conversa com dois alunos, do primeiro e segundo anos, da licenciatura de Direito.

Em tempos, houve uma tentativa inglória e fracassada de refundamentar alguns vértices sobre os quais se nidifica a nossa vida académica, rectius, alguns aspectos que necessitam de ser rapidamente repensados pela Maioria dos estudantes que compõem a FDUP. A Faculdade de Direito da Universidade do Porto, não obstante algum progresso na matéria, está longe de ser considerada uma máquina perfeitamente oleada.

Quanto à fenomenologia da Avaliação de Conhecimentos:

Após estas apoquentações dionísicas, saltou-me à vista uma RGA onde foi deliberado um avanço quanto à vexata quaestio das Melhorias Por Escrito ( MPE). Houve efectivamente um sinal claro da insatisfação dos alunos quanto a esta matéria, que constará inclusive em acta.

A esmagadora maioria dos alunos achará insólito que a nossa FDUP seja a única faculdade do País com este sistema deturpante de Melhorias por Oral.

O critério da escolha entre um e outro modelo parece-me a via mais democrática, em paridade com o modelo vigente na "licenciatura-irmã" de Criminologia. Eis o primeiro tópico que precisa urgentemente de ser rebatido e questionado por todos!

Destarte, e quanto a esta matéria, cabe-me ainda perguntar o que é feito do inquérito feito aos alunos nesse ano, e qual a reacção do Pedagógico quanto a esta matéria. Quais os seus argumentos, etc etc.

Por Um Novo Regime de Avaliação: Crise ou Paradigma?

Esta exposição é meramente pessoal, e fruto de uma reflexão intensa, com experiência de modelos integrados no estrangeiro, nomeadamente ao nível das Universidades.

A nossa FDUP dispõe de meios suficientes para ser paladina da transparência e da Imparcialidade ( dois princípios-quadro da Democracia, segundo os seus Mestres).

Para além disso existe o eterno lusitano medo das represálias. Claro, pois, o eterno medo das notinhas, como se não pudéssemos rebater nada, porque eles têm a faca e o queijo na mão.

Para ultrapassar esse impasse, solucionaria o seguinte:

Um modelo de avaliação anónimo.

Porquê e em que termos?

Ponto 1 - É um modelo mais eficaz para promover a aequitas, a imparcialidade e a transparência, bem como a confiança na instituição.

Ponto 2- É um modelo que, contrariamente ao que a maioria das pessoas julga, não acarreta muitos encargos económicos! E para isso temos os nossos engenheiros, que irão finalmente ter um desafio interessante, além de passarem o tempo todo a protribuirem passwords de um servidor bacoco.

Ponto 3- O Sistema Cria uma grelha numérica aleatória para cada exame. E O Professor Corrige o exame de um número. O Professor dá a nota a um número.

Ponto4- O Serviço de Engenharia competente, vincula o enunciado à grelha adequada, et voilà!

Ponto 5- As pautas serão afixadas com a grelha do exame e a nota, possibilitando a cada um ver a sua nota, e desconhecer a dos outros, que é uma matéria por vezes acessória.

Ponto 6- Em suma: Os professores terão o mesmo trabalho, Os engenheiros terão enfim trabalho, e os alunos eliminarão esta onda de incredulidade quanto ao funcionamento do Regime actual de Avaliação.

Em jeito de súmula referencial, este método é utilizado em muitas universidades, e entre nós, nos exames Nacionais, não havendo conhecimento de qualquer malefício ou disfuncionalidade malévola.

Outra questão: O Café Odisseia não critica por criticar, nem se autoproclama sábio nem omnisciente, muito longe disso! Apenas dá ideias, sugestões, e as pessoas que o compõem ouvem os alunos e sabem o que eles realmente desejam. E todos desejamos uma faculdade mais transparente, mais eficiente!

Será um vexata quaestio imprescindível para reconfigurar alguns hábitos, a nosso ver, obsoletos e demasiadamente descaracterizados.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Juristas pós-Bolonha: Principezinhos ( e não Raposas)

Existem boas maneiras de conjugar Direito e Literatura. É um facto indubitável, já que a Literatura é Universal, há-de contender com a ars boni nalgum vértice referencial.

Após algumas leituras na matéria, ficou-me, no entanto, uma apoquentação hilariante: serão os juristas hábeis Raposas? Ou serão Principezinhos? Eu optava mais pela segunda opção, discordando, permitam-me, da auctoritas dos Magnos Mestres.

Neste sentido:

1- As Raposas são demasiadamente espertas e lutam pelo seu território. /

O principezinho andava com uma coroa aos pulos pelos territórios dos outros;

2- As Raposas são de difícil trato, e resmungam /

O principezinho era ingénuo, e corava facilmente. Raramente soltava um som.

3- As Raposas não perdem tempo a cativar /

O Principezinho adora ser cativado, sem nada fazer para ser, primo, reconhecido por algo;

4- As Raposas são animais que se fecham em grupos restritos, constituídos po vínculos quase monopolistas /

O Principezinho adora deambular pelos grupinhos das fofocas jurídicas ( tipo Cláudio Ramos Justiceiro )

5- As Raposas aprendem com o tempo, e quanto mais velhas, mais espertas.

O Principezinho fica muito confuso com a andar dos ponteiros, e quanto mais aprende, menos pensam que sabe;

6- As Raposas tinham mais tempo para serem adultas ( 5 anos) e tinham despesas consideráveis com a sua alimentação ( Pão e Vinho)

O Principezinho é semi-adulto após 4 anos, semi-macho após 6 ( 4+2) e realmente viril após Doutoramento, quando deixa de comer pizzas do Mini-Preço.

7- Até lá vira-se o Principezinho para a Raposa:

Principezinho:
-" Oublá, o que é realmente cativar ( o mercado)?

Raposa:

-" Paga as tuas propinas, que quando acabares, dir-te-ei"


BOLONHA é apenas um pretexto para criar Principezinhos, já que muitas Raposas juntinhas dão sempre barraca. Hilariante não?

Quod Scripsi, Scripsi


sábado, 29 de janeiro de 2011

Disfuncionalidade Institucional

Quando falamos de uma Instituição de Sapiência, ou aliás, uma tentativa de uma domus sapientiae, como deveriam ser efectivamente adjectivadas estas nossas Universidades, salta-nos logo à memória que essa Sapiência é um quid exteriorizável, mas, muito acima disso, um quid internamente subjectivizado.

É um quid institucionalizado, programático, ad omnium, rigorosamente científico, e por conseguinte, longe dos devaneios "aportuguesados" de afirmação/superação intelectual. Tenta-se com um ensino Superior ( longe, em longevidade e carácter,da minor sapientiae do Secundário), a hegemonia intelectual do indivíduo que, perante uma sistematização e rigor de conteúdos, tente abarcar o sentido de tais pressupostos metodológicos, e tente ir mais além de si, nesse iter, com vista a construir uma sólida percepção do mundo e de si, e que, nesse intuito, traga algo de "revolucionário" a esta Societas, já que o consenso dos sábios não avança a Ciência, e é no discenso que dialeticamente o conhecimento ou gnose, e todos os pressupostos ontológico-gnosiológicos que o moldam, progridem.

Com isto, sendo apenas uma opinio singularis, creio que Aníbal esteja efectivamente às nossas portas. Muito embora Aníbal ( Cavaco Silva?) já esteja há algumas décadas à porta da desvirtude, bastará questionar o fumus que emana desta quaestio: que Contra-Aníbal produzirá a nossa mente para trancar nossos portões? Qual o anti-corpo?
Não será portanto verosímil ou vetusto alicerçar opiniões e constituí-las dogmas, mesmo que a maioria da Ciência o refute. Creio, pro bono, que usaremos ( e abusaremos) em demasia dos tais argumentos ad hominem, mesmo que, por inconsciência, sejamos premiados pelo labor, pese embora a qualidade e quantidade de pressupostos disfuncionais a partir dos quais partimos para uma sistematização à la Palice.

É tipicamente Português, que Aníbal esteja às nossas Portas, que nos leve, aliás, as fechaduras, que nos tranque em nossos armários dantescos e nos deixe caminhar no ordo do estoicismo, que nos garantirá o pão em nossas Portas. Aguentem-se e abstenham-se de questionar o questionável, de pensar o repensado, de comer e calar. Aí criar-se-ão homens-ford, aí criar-se-ão as bases de uma sociedade surda, cega e muda. Estóicos na parada, em conclave, para largar fumos brancos de suas negras e pálidas mãos.

Odiosa Restringenda esta, de compactuarmos com Aníbal, e de trairmos nossa consciência, quando, no íntimo do cordium, até o adoramos.

domingo, 10 de outubro de 2010

o fim.

Mudei-me, definitivamente, para aqui.
Foi uma honra servir-vos. Até mais logo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

oprimir a torto e a direito

peço a vossa atenção para este manifesto da modernidade, dos mais belos querubins da Boa Nova dos Amanhã que Cantam. Cada um destes jovens é uma sorridente lobotomia

Os oprimidos são os trabalhadores precários, são as mulheres, são os homossexuais, são os jovens, são as minorias étnicas, são os assalariados, são os estudantes e os professores, são os desempregados, são os imigrantes (e os consumidores, os pandas, os transsexuais, e toda, toda a gente, menos os padres e os gajos da extrema-direita fascista ultra-neo-liberal). Todos os que não detêm o poder político ou económico (ou seja, toda a gente menos os empresários e os ministros são gente oprimida). Todos aqueles que deixaram de ter espaço numa realidade social que os exclui. É chegada a hora de uma nova Revolução, de um novo paradigma.

Mas somos os Inválidos do século XXI e a nossa Revolução deve ser conduzida com armas próprias dos nossos tempos. Abandonemos os fuzis e os canhões do séc. XVIII (deixem-nos cair ao chão!pim!): as nossas armas são as nossas ideias, os nossos pensamentos e opiniões — estamos armados pela liberdade de expressão e pela convicção dos nossos ideais (not the best tactic, but ok...).
Este blog reúne as convicções de alguns destes Inválidos. Somos jovens que expomos aqui aquilo em que pensamos e acreditamos, as nossas opiniões (não necessariamente concordantes: revemo-nos no pluralismo de opiniões[desde, claro, que não difiram seriamente das nossas]). O blog é, portanto, o nosso Arsenal. É aqui que expomos e guardamos estas armas, aguardando o dia em que elas serão suficientes para derrubar o status quo e despoletar uma nova sociedade.
Uma nova sociedade. De puta madre.

O Mundo Cheio d'Eles

Vá ter à próxima secção, que eles lá tratam de si.

Enquanto não receber o formulário, eles não lhe mandam isso.

Não está a funcionar. No entanto, caso seja algo importante, de certeza que eles mandam vir alguém.



Espere até lhe sair a nota. Depois mande-lhes os papéis.

Se não estiver isto até segunda-feira, eles não lhe dão os documentos que precisa.

Se fizer isso, eles vêm ai e fecham-lhe o negócio.



Não lhes diga isso.



Diga-lhes que não, depois cá nós nos arranjámos.

iniciativas do vazio da vaca

estimular a conversa da treta e os sonhos de "rivolíção" permanente de alguns sodomitas

Os Inválidos

Estas crianças traumatizadas deixaram um link no blogue para as suas deambulações embriagadas.
Além das confusões entre movimentos políticos de reforma fiscal e movimentos políticos de purificação racial, estas pobres vítimas de uma cultura de esgoto atiram-se a alguns dados históricos localmente registados para assentar umas ideias pré-concebidas contra os inimigos do costume de toda esta ganapada.

É favor alguém ligar à Segurança Social porque os pais desta canalha não cumprem a sua função.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

vais ser tu pra mim

Hobbes e Lange


Hobbes não marcou a filosofia através na sua negativa e profundamente errada concepção da Natureza Humana (a inerência malévola do Homem).
Hobbes marca o pensamento actual como um dos principais pilares do contratualismo e por tal do Liberalismo e do Socialismo.
O Estado de Natureza animalesco do homem só é contraposto, por Hobbes, pela angélica visão do Estado e da Sociedade. Pondo de lado qualquer concepção de Bem ou Mal, Hobbes defende que a criação do Estado fica-se a dever à conciliação dos vários interesses dos indivíduos.
Presos nas suas vontades e na concepção maquiavélica de Hobbes, os Homens não têm possibilidade de outro tipo de cooperação que não os "contentores de poder" nem de compreender algum tipo de transcendentalismo em relação à vida de sociedade.

Com a morte do homem espiritual, Hobbes cria um protótipo de sociedade criada somente por uma insondável e inacessível conjugação de interesses.

O típico erro de perspectiva que os economistas socialistas padecem. Quando Mises argumentou que o cálculo económico racional necessita a percepção de perda e lucro (algo somente obtido pela produção privada dos bens) Oskar Lange, um académico socialista de topo, respondeu que, embora Mises estivesse correcto, o Estado poderia facilmente gerar preços observando a procura de certos bens.
Mises e mais tarde Hayek rebatem definitivamente o argumento, arrumando definitivamente o socialismo económico. É simplesmente impossível a qualquer tipo de agente do mercado (e especialmente o Estado) possuir ou obter informação suficiente para gerar um preço "do nada", visto que numa economia complexa e próspera são tomadas milhões de decisões demasiado complexas para um pleaneador central compreender.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ir à Festa do Avante

Samuel de Paiva Pires

Se sabem o que é/foi o comunismo, então são também estúpidos por participarem nesta festa. Se não sabem, deveriam tentar fazer algo para colmatar a ignorância. Quando forem à Festa do Avante e disserem que não são comunistas, lembrem-se que estão directa ou indirectamente a contribuir para suportar um Partido que desvaloriza a vida humana, defende regimes tenebrosos onde campos de concentração, maus tratos, assassinatos e genocídios foram ou são um hábito regularmente praticado, e que, no nosso país, defende apenas e só (por via da CGTP e de um velho acordo obtido em sede de Concertação Social), a geração dos direitos adquiridos cujos salários e regalias são pagos com os impostos do vosso mísero ordenado ganho nos call-centers e lojas de roupa. Gente pouco ou nada letrada, que mal sabe ligar um computador, que apenas causa entropia na Administração Pública, que tornou as gerações mais jovens reféns dos seus direitos adquiridos, ou que em virtude de a antiguidade ser um posto, são pouco ou nada produtivos nas empresas onde jovens trabalham em condições precárias a recibos verdes, sem qualquer garantia a não ser a de serem praticamente extorquidos dos seus míseros ordenados, por via dos elevadíssimos impostos.

Não se esqueçam de ir à Festa do Avante, mesmo que vos tenham negado abonos ou bolsas de estudo, que tenham fechado centros de saúde ou maternidades, em virtude de cortes orçamentais, enquanto os velhinhos e conservadores comunistas continuam a defender aqueles elevados salários na Função Pública, em comparação com a média da Função Pública dos restantes países europeus, ou com a média dos salários no sector privado em Portugal, nem sequer hesitando em continuar a pedir aumentos quando são pedidos sacríficios a todos - afinal, como verdadeiros comunistas, olham primeiro para o seu umbigo, e a comunidade que se dane.

Se preferem continuar ignorantes acerca do comunismo e continuar a ir à Festa do Avante, não se esqueçam, pelo menos, que estão a contribuir para manter um Partido que na prática defende a manutenção dos jovens na precariedade, reféns dos direitos adquiridos das gerações mais velhas, ou seja, o status quo. Não se esqueçam que estão a contribuir para um partido que defende a sujeição da vossa liberdade e do vosso futuro às regalias dos direitos adquiridos.

sábado, 31 de julho de 2010

Requiem pelos vivos

Um calor trespassou a neblina petrificada sob o esquecimento de um híbrido luar, sangrado de uníssonos e calvos monólogos ultra-romantescos. Acordam vozes gritantes uns velhos caquéticos que, trespassados sob suas memórias, acalentam o cantar das gaivotas na baixa da cidade liberal. Algoritmos dialéticos prendem os passos duns desorientados que vão a caminho do sono, enquanto o ar impele à inalação do rejuvenescimento matutino. Carlos pousa o jornal na mesa, enquanto deambula um cigarro pre-mortem, pronto a consumir a chama que o acende e a alma penada que o há-de findar. Acabara de acordar com o pensamento convergente na conversa da anterior noite. Henrique tinha razão. Melhor, uma ponta de razão, pois os vintes apenas se protribuem a deus, os dezanove ao seu filho, os dezoito a si, e os dezassete aos amigos. Era puro pensamento escatológico, e apesar da contenda, Henrique lá merecia o seu 13 por ter sido pouco amigo com sua respeitabilidade e digníssima virtude. Afinal a cidade não dormia, dormiam sim os homens que corroíam os egos zombies. Matilde, luante, leva duas metades de uma torrada ao estômago afim de fingir a apoquentação.
- Quer café ou uma meia-de-leite?
A sujeita, de vestido tribal e com aspecto de quem não acabou a noite, levava consigo os restos do pequeno almoço de ambos, enquanto Carlos mantinha hirto o pensamento no Público.
- Este jornalismo... Estes Ultra-Liberais querem dar uma machadada no Estado Social. Diderot e Voltaire tremem em copas no fosso.
- Um café.
- E a conta por favor.
Saíram, e à entrada do café, Carlos acendeu misericordiamente un cigar.
Galoparam então da Rua Galerias de Paris aos Aliados, mantendo a mesma distância tumultuosa, quase hermenêutica, quase profética, quase jesuíta, que, ao mínimo barulho de uma buzinadela, o homem de barbas e estilo londrino franzia o capitólio uterino da mágoa cessante, e esquecendo o decoro contemporâneo, protestava:
- Andar a pé faz-nos bem Matilde. Olha o que te disse o Dr António do Santo António.
Matilde, mecanicamente, retorquiu que sim, era efectivamente uma dádiva de deus terem pernas para andar, apontando na direcção da Irgeja de S Bento onde um pedinte amputado tentava desesperadamente andar e também obter esmola. - Deus o guarde-, e ouviu-se um breve tilintar de cinquenta cêntimos de euro na chapa velha do malogrado.
- É para a droga, já o sabes. Eu cá não caio nessa, ora pois!
- A caridade não liga motivações a factos. São como as tuas aulas, querido... E riu-se tremidamente mas com zelo.
- Pois, se o Direito fosse uma esmola, ouvirias o eco do tilintar durante uma eternidade.
Dito isto, pouco tempo para cinismo teve, já que havia chegado destino.
- O i, por favor.
- São um euro e sessenta cêntimos.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Café Odisseia sempre se distinguiu pela luta feroz ao pensamento politicamente correcto da sociedade, e pela sua posição corajosa contra o activismozinho pateta que os nossos colegas estudantes herdam, com menos pomposidade e definição que o curso de Direito virá a fornecer, do ensino secundário e do partidarismo parvinho.
É ainda para quem o lê e me confessa nos corredores da Faculdade de Direito do Porto e nos emails que trocam comigo, um raro sítio de verdadeira independência de pensamento.
O Café foi um veículo de aprendizagem para mim e para os meus colegas, os que participaram e não participaram. Para aqueles que não arriscaram cair na preguiça do facilitismo intelectual.
As amizades e os conhecimentos por aqui feitos marcaram-me.
Muito Obrigado.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Facebloco

O grupinho dos bem intencionados pelos cinemas Medeia, a nova sensação da esquerda/direita-caviar da cidade do Porto, está a reunir uma alcateia para tomar de assalto a Câmara Municipal do Porto. É uma medida de protesto que, dizem os meninos, interessa à comunidade.

A solução da falida Medeia passa, aparentemente, por alguns discursos políticos, algumas promessas de apoio, alguns milhares de euros dos contribuintes gastos em "planos de estudo", "acções de consciencialização", "reuniões à porta fechada com as entidades responsáveis".
Tudo à pala e com as melhores intenções.

Se algum dos querubins se lembrar em procurar patrocinadores, arranjar formas baratas e eficientes de marketing e ajudar a situação económica da firma, para isso usando os seus meios, tempo e dinheiro, o desfecho desta história até se pode alterar.
No entanto, tenho a certeza que a maioria fica-se pelos grunhidos frente à Câmara, que acabam por ajudar somente os partidocratas juvenis que se inserem nessas "causas".

sábado, 26 de junho de 2010

[IX, 33] Todo o nosso conhecimento tem uma dupla referência: primeiro, uma referência ao objecto e, em segundo lugar, uma referência ao sujeito.O primeiro aspecto refere-se à representação; o último, à consciência, condição universal de todo o conhecimento em geral.


Immanuel Kant, in Lógica (IX,33)





A constituição fundada, primeiro, segundo os princípios da liberdade dos membros de uma sociedade (enquanto homens);

em segundo lugar, em conformidade com os princípios da dependência de todos em relação a uma única legislação comum (enquanto súbditos); e, em terceiro lugar, segundo a lei da igualdade dos mesmos (enquanto cidadãos), é a única que deriva da ideia do contrato originário, em que se deve fundar toda a legislação jurídica de um povo – é a constituição republicana


Immanuel Kant, in A Paz Perpétua, um Projecto Filosófico, secção segunda, título II.





O fim (Ende) de todas as coisas que passam pela mão dos homens é, mesmo nos seus fins (Zwecke) bons, uma loucura: é o uso de meios para fins que a estes são directamente contrários. A sabedoria, isto é, a razão prática na adequação das suas medidas cabalmente correspondentes ao fim último de todas as coisas, ao bem supremo, só existe em Deus; e só o não agir visivelmente contrário à ideia dela é que se poderia chamar, mais ou menos, a sabedoria humana.

Mas a garantia contra a insensatez, que o homem só pode esperar alcançar por tentativas e pela frequente alteração dos seus planos, é mais «uma jóia que até o melhor dos homens só pode perseguir a ver se, porventura, a conseguirá agarrar, mas nunca deve ter a persuasão egoísta de a ter alcançado e, muito menos ainda, proceder como se dela já se tivesse apoderado.Daí também os projectos que se modificam de época para época, muitas vezes contraditórios, de meios convenientes para tomar mais pura e ao mesmo tempo mais poderosa a religião num povo inteiro, de tal modo que se pode bem exclamar: Pobres mortais, nada em vós é estável a não ser a instabilidade!


Immanuel Kant, In O fim de todas as coisas






Um dever é o que num ser corresponde aos direitos de outrem. Onde nenhum direito existe também não há deveres. Por conseguinte, dizer a verdade é um dever, mas apenas em relação àquele que tem direito à verdade.Nenhum homem, porém, tem o direito a uma verdade que prejudica outro.” O proton pseudos encontra-se aqui na proposição: “Dizer a verdade é um dever, mas só em relação àquele que tem direito à verdade.”Importa, em primeiro lugar, observar que a expressão “ter direito à verdade” é uma palavra sem sentido.

Deve antes dizer-se: o homem tem direito à sua própria veracidade (veracitas), isto é, à verdade subjectiva na sua pessoa. Pois, no plano objectivo, ter direito a uma verdade equivaleria a dizer que depende da sua vontade, como em geral no tocante ao meu e ao teu, que uma dada proposição deva ser verdadeira ou falsa o que proporcionaria en tão uma estranha lógica.

Ora a primeira questão é se o homem, nos casos em que não se pode esquivar à resposta com sim ou não, terá a faculdade (o direito) de ser inverídico. A segunda questão é se ele não estará obrigado, numa certa declaração a que o força uma pressão injusta, a ser inverídico a fim de prevenir um crime que o ameaça a si ou a outrem.



Immanuel Kant, in Sobre um suposto Direito de Mentir por amor à Humanidade




quinta-feira, 24 de junho de 2010

pausa para café #1

A próxima luta dos órgãos estudantis passa por direccionar as armas do associativismo (temíveis armas, as do associativismo) contra a descida das bolsas que aí vem.
Durante anos a matéria da sustentabilidade do regime de bolsas de estudo foi considerado um tabu ideológico. Discutiu-se a acção social nas Universidades, obrigações para aqui e garantias para acolá, e as bolsas tornaram-se lentamente num subsídio social, corrupto, burocrático, que tantas vezes afastava aqueles que mais precisavam, enquanto pagava as férias e as aulas de muita gente que não precisava e não merecia.
Enquanto as coisas correram loucas, sem fiscalização e sem critério que não o do arranjinho, poucos se atreveram a propor divulgar e até denunciar os filhos de empresários, funcionários e profissionais liberais que usavam dos seus conhecimentos da máquina do regime (que aprenderam, muitos deles, nas faculdades públicas) para conseguir as borlas para os filhos.
Com tanta ética republicana na UP, e ademais na Faculdade de Direito do Porto, o chibanço nunca nos passou pela cabeça.
O problema do Estado Social português é precisamente este. Incute-nos a ideia que o dinheiro distribuído pelos burocratas dos serviços de secretaria da Segurança Social não pertence aos cidadãos, não veio do seu bolso, dos seus descontos, dos seus impostos.
É óbvio que o Governo não corta bolsas devido à pouca vergonha que alguns alunos têm. O país está bem enterrado, e é pelas coisas de cultura e estudo que os governantes começam por cortar.
Tal como não me impressiona nada em ver os militantes das obras públicas e das despesas e do Interesse Público na linha da frente deste combate infrutífero - porque o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, terá muita força - visto que é tradição portuguesa inculcar nas jovens mentes dos partidos dos pequeninos a ideia de que os meios são infinitos e o dinheiro ilimitado.

Se possível, vejo com bons olhos a resistência a esta decisão, que considero inevitável.
A questão não passa por reforçar o Estado Social na educação, devido a todos os erros e vícios que isso causa em todos os sectores da sociedade, que por aqui já nos fartamos de provar.
Soluções como os vouchers de transporte e materiais escolares, a meio caminho para uma maior eficiência, podem muito bem constituir um entrave aos exageros. Um tecto máximo de bolsa, que não ultrapasse o valor da propina, seria outro. E o corte definitivo das propinas em tempos de férias.
Estas medidas não são liberais, nem têm em conta as dinâmicas de mercado. No entanto, são uma opção de caminho entre o que temos agora e o que podemos não ter amanhã.

adenda 1: compreendo o post do RBR. Infelizmente o diálogo político, mesmo numa Monarquia Radical, é feito por compromisso e evolução. É infrutífero ser liberal em Portugal se a linguagem comum dos estudantes (a maioria dos leitores deste blogue) passa por um intervencionismo estatal enorme, sem paralelo e sem limites, onde o Estado não é um meio da sociedade mas um Fim em si mesmo. A ordem que nasce dos antagonismos exacerbados nunca é uma Ordem, é uma Guerra Fria.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

De mortuis nihil nisi bene

Morreu Saramago. As "elites" não cessam de perorar sobre o Nobel. Enquanto bebia um café e comia um pastel de nata, desfilavam na tv, ao vivo e ao telefone, derramando sobre o dito cujo tanto quanto nunca se derramou sobre escritores maiores do que Saramago como, por exemplo, Jorge de Sena. Há uns anos Saramago entrou nos curricula liceais do regime e varreu a possibilidade de os meninos e de as meninas conhecerem literatura portuguesa aproveitável ou sofrível. A "oficialização" cultural de Saramago começou quando, estupidamente, lhe proibiram um livro num concurso qualquer. O Nobel, festejado pela paróquia provinciana como uma vitória internacional no futebol, acentuou o carácter quase místico da figura que, daí em diante, passou a tratar abaixo de cão qualquer poder politico que não o bajulasse adequadamente. O que afinal subsistiu em relação a Saramago foi o velhinho temor reverencial de um país com lamentáveis "tradições" culturais que, entre outros, fez de Saramago um "símbolo". E é esse que vai ser exibido por estes dias. Poucos ou nenhuns recordarão o pequeno tirano do Diário de Notícias ou a seca vaidade vingativa da criatura. "A morte absolve tudo", como ensinavam os latinos, mas nem tudo é absolvível pela morte. Paz à sua alma.

in Portugal dos Pequeninos

sexta-feira, 11 de junho de 2010

the Burkean

The Burkean is fundamentally about maintaining good order and the permanence of tested institutions as the best way to safeguard human liberty - the disorder we see in Greece and to a more limited degree in the United States, is not because a loose cannon of radio talkshow hotheads are revolting over the airwaves and egging on their followers, it is because the governments themselves are destabilizing our societies through their own reckless behaviour. The Burkean is not anti-government, but neither is he slavishly pro-government; we should be as concerned as the Tea Party about what is going on, and what this will collectively mean for us in the years to come.

in The Monarchist

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ensaio sobre teísmo e ateísmo pela concretez da Vontade Inalienável

Muitos têm debatido, apud facebook,a situação de revolução quanto ao estado do casamento, nomeadamente no que concerne à viabilização, e legalização do casamento homossexual. O critério jus-filosófico em questão nunca poderá ser o do " os outros têm eu também quero", embora pareça liminarmente uma tendência socialista do modus operandi politicae. Nunca poderá ser pela aresta da dogmática que as coisinhas se resolvem. Não creio ser este o caso, permitindo que a imagem do " puto mimado sem brinquedo que faz birra só porque o outro tem" legitime, pela inveja, a obtenção de um direito. Isto é uma falácia.


O primordial motivo centra-se, a meu ver com o conspectum da autorealização da vontade humana. E entenda-se vontade como representação do concreto em si mesmo, e não com alcance mental, como fazem os críticos de Direito. Será mais um postulado de aproximação filosófica do que meramente legal, sendo que existirá forçosamente uma dialética indissociável para se concretar o pleno usus deste direito. a autorealização concreta diferencia-se, a meu ver, da autorealização impossível ou ilusória. A primeira implica uma conjunção de factores que possibilitem a viabilidade da plena efectivização do concreto em si. A segunda, impossibilitada pelo suporte das condições necessárias e indispensáveis para a plena concretez da autorealização humana plasmada na capacidade de gozo do direito, implicará um apurar de todas as condicionantes que, apuradas entre si dialeticamente, serão apenas uma ilusão, ou uma breve falsa partida, sendo entendidas como ponto de partida, maxime etapas, para a consumação efectiva do postulado da autorealização rígida e objectivamente observada in loco, in tempore, in homo.


O casamento, enquanto conspecto relacional, tem de ser dificilmente digerido in tempore, sabendo que é, prima visio, uma tarefa complicadíssima, porque neste preciso instante temos a bagagem toda, e estamos no século XXI. É natural que para estarmos neste ponto de evolução, tivemos de vir do quase-nada. O Critério histórico-sociológico-psicológico pauta diacronicamente a acção humana, pelo que, atendendo às circunstâncias de facto, devamos separar as que nos afastam o facto da circunstância das que nos repelem a circunstância do facto. O Casamento é, antes de tudo, acção humana. sendo actio, implicará uma vontade enquanto representação concreta de dois agentes ( casamento monogâmico). Apurada a inverossímil vontade enquanto garante da concreta humanidade de si, completados todos os requisitos formais ou legais, vale desde já a vontade enquanto preenchimento ontológico. Não importando o sexo, case-se o Homem, case-se a Vontade, Case-se o Ser enquanto Ser e não a Forma enquanto Forma.


Isto, embora atrapalhadamente e desmetodicamente, congrega-nos para a Figura da Mulher no teísmo, que neste caso concreto é a Religião Católica Apostólica Romana. A Igreja Católica discrimina a mulher, segundo muitos. É em parte verdade, e em parte uma não-verdade, ou uma meia-verdade. Na realidade, há, nos alicerces da Doutrina Cristã um aparente conflito de visões entre a Mulher-Diabo e a Mulher-Anjo. Um aparente, porque o arrependimento salvou Maria de Magdala. Existindo arrependimento que mate, não olvide o arrependimento que cura. Maria é o Paradigma da Mulher-Nova. Mesmo no seio da Doutrina Catholica, a mulher tem um aspecto preponderante: e é preponderantemente paradoxal neste sentido que vou tentar dissecar. Primo, Eva é o ícone do Pecado, no A.T; a posteriori, Maria é o ícone e paradigma da perfeição. A Igreja Católica sempre teve em Maria uma "pedra angular", início-fundamento e vector-último daquilo a que muitos chamam de Santidade ( que quanto a mim é um tema bastante controverso carecendo de aproximação anti-dogma).


A Questão da violação de direitos fundamentais não deve ser imputada a Cristo mas aos Cristãos. Não à Igreja-Alicerce, mas à Igreja-Licerce. Tal como isso, não é Imputada a Cristo e ao Cristianismo alicercal a Inquisição. E porquê? Simplesmente porque a confusão entre o poder temporal e o poder espiritual ditou que a Inquisição rezasse à história os horrores da dita santa crueldade. O Cristianismo viveu séculos com a Descristianização. A Igreja foi e é uma Dialética a se. No tempo de Cristo, dar-se-ia a César a temporalidade da potestas para granjear o sumo angelical da espiritualidade da fides. Hoje é impensável pensar a Igreja enquanto contra-poder. Mas, e nomeadamente entre nós, o grande teólogo ( e amigo meu) Prof.Doutor António Pinheiro, Teixeira, a "Teologia Revanchista" pretende a redimensão da Cristandade às origens, a Cristo. Para ser fim, Cristo tem de ser Origem, e antes de ser Origem, Ordem. A Mulher nunca seria discriminada se Cristo eliminasse da humana Igreja a humana discrepância da vontade e contra-vontade. A Igreja mantém a sua ortodoxia relativamente a muitos assuntos, mas não obriga ninguém a ser Cristão. É uma escolha que implicará um juízo concreto de que ser Cristão não é fácil, é um compromisso ético-moral-de-acção com Jesus Cristo, e com Pedro ( figura Papal) e toda a Doutrina.


O casamento como realidade relacional não pode dissecar o carácter de relação ( e as suas implicações adjacentes) sem se aliar da sua sensata realidade, que traduz o desenvolvimento humano como um fio condutor construtivo ( a priori, havendo contudo rupturas e contra-rupturas).Não estou a dizer, com isto, que a imagem-tipo de mulher serva de seu lar é valorativamente correcta, nada disso. Que seria do homem sem a Mulher? Olhemos ao argumento pela ausência do termo concreto. Seria complicado, digo eu...



A meu ver, homofobia é censurar católicos só porque o são, quando na realidade os católicos deveriam abster-se de censurar os não-católicos só porque o não são. Cada um é livre e tem autodeterminação essencial e de juízo para efectivamente se "tornar naquilo que é" ( F.Nietzsche), sendo que o "Homem é um fim em si mesmo", como referiu oportunamente Emmanuel Kant. Já Feuerbach, e Schelling, Heidegger colocam o compromisso ético religioso do Homem como corolário da autodeterminação da Vontade, como representação do concreto, ou seja a Razão está no compromisso de vontade. O que implicará dizer que, não obstante razões que a cada religião se confinam, o respeito será o mínimo indispensável para a sã convivência do homem enquanto ser transcendente em si mesmo pela emanência concreta.


E é aqui que entra o grande Dilema: O que é a Não-Religião? Hans Urs von Balthazar apela para a religiosidade do ateísmo. Parece paradoxal, mas o paradoxo aproxima-nos às vezes da gnose, e realmente mesmo o não-ser convoca a religação pela negação, implicando a existência do aspecto negado. O não-Deus apela para a existência de Deus, e, racionalmente, por um processo lógico-dedutivo pelos contrários em si, teremos de assumir que o ateísmo clama pela existência de Deus. Diferentemente do agnosticismo que declama uma invariável e opaca lacuna de ratio que possibilite irrenunciavelmente e com plena noção de factum, conhecer Deus, o que também não implica a forciori que Ele não exista. Portanto, creio que a transcendência do Homem pode dar nisto: ou o homem se religa ( de religio) a Deus, ou se afasta d'Ele ( ateísmo).


Não existe não-Religião no simples ataque de uma única Religio, mas, numa rejeição de qualquer Religação. Qualquer ateu que se preze deve, a priori conhecer para julgar qualquer crente, e isso implicará um trabalho demorado de gnose para legimitimar a sua opinião dada pelo conhecimento de facto. O ateu deve saber a Bíblia de trás para a frente. É mais um paradoxo, mas o crente é livre de se julgar indignado só porque o não-crente, pelo desconhecimento de facto ou porque atira pedras sem rumo, decide atacar a base religacional-moral mais antiga de sempre, com uma cultura ética, cultural e humanista imedível. Eu sentir-me-ia ofendido se um sujeito criticasse Cristo sem primeiro O conhecer. Mas a Grande lição, a primeira nem é de Cristo, vem de Sócrates (Cognosce te ipsum). Depois de alguém se conhecer a si como se de sua direita mão se tratasse, poderá conhecer tudo o resto no plano emanente, e só depois no plano metafísico, o que implicará dizer que quem afirma a "morte" de Deus está a ressuscitar o suicídio do Homem.


Impõe-se aqui o chamado "respeitinho" que Manuel António Pina tanto invoca. Apesar das discórdias pessimistas de uma Filosofia/Teologia/Sociologia quase ultrapassada, teremos de nos preocupar com causas maiores, e por isso teremos de lutar Cristãos e Não-Cristãos contra algo que há milénios nos assombra: a inércia.


Lourenço


03:15, dia de Camões, ano da graça de 2010.

terça-feira, 8 de junho de 2010

viajar para longe desta insípida época

para outras paragens, mais dignas, mais cavalheirescas.

"O conceito de valor “humanidade” ainda é perfeitamente mantido por Marx. (...) A expressão ‘humanismo real’, com que inicia o prefácio de A sagrada família, é abandonado na Ideologia alemã, em conexão com a rejeição do último resto da democracia burguesa, com a obtenção do ponto de vista proletário revolucionário, com a criação do materialismo histórico dialético. (...) Quanto mais científico o socialismo, mais concreta é justamente a sua preocupação com o homem como centro, e a anulação real de sua auto-alienação como alvo."


Ernst Bloch in Princípio Esperança,I, pp. 260- 261

meias-Pessoas

Os tontinhos dos direitos vivem no Mundo Encantado das Garantias, onde nada tem início e nada conhece um fim.

O Direito não conhece um início e a comunidade não tem um fim. O único agente com objectivos é o Estado, e critérios para os meios que conduzem a esse fim deixam-se ficar pelo mais básico hedonismo.

O erro dos tontinhos é assumirem que a Norma auto-justifica-se. Que um princípio plasmado na Constituição é um princípio porque está lá.
Como se a vida, a propriedade, a liberdade nos fossem possíveis de desfrutar apenas porque uns agentes políticos, há uns 30 anos atrás, na total posse do Estado (de má fé, diga-se de passagem) resolveram enumerar os nossos "cans" e "cannots" num livrinho oficial.

A norma jurídica não se auto-justifica na Norma Constitucional, porque esta não está provida de nenhum tipo de autonomia filosófica.
Atirar um artigo 13º no meio de uma discussão tem tanta validade como a proibição dos latifúndios.

No entanto, a gentinha que governa a malta dos direitos, esses pobres néscios, sabe muito bem o que quer fazer.
A malta dos direitos sonha no mundo das garantias. Garantida a internet, o sexo, o combustível, o carinho, etc.
Ora, a quem controla este rebanho sabe que não há oferta possível para satisfazer todos estes mandos e desmandos.

Quando a malta dos direitos estiver bem anestesiada, terão direito somente àquilo que terão acesso, convenientemente racionado: meia-educação, meio-amor, meia-saúde, meio-direito.

Enfim, meias-Pessoas.
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