quinta-feira, 17 de maio de 2007

Batuques



Estou no café Damira, em Ermesinde.
Tomo uma Cola, bebida oficial dos liberais, e dois bons croissants, magistralmente preparados, quentinhos como só os anjos sabem aquecer, com o seu angélico modo de usar o forno. A Damira é, na minha opinião, a última porta do paraíso na Terra, e abrem-na sempre que me fazem croissants. Estou sozinho, já tomei café noutro sítio qualquer, a namorada está ocupada no trabalho, os amigos estão terrivelmente aborrecedores, ou eu terrivelmente aborrecido, e a única coisa que me une ao mundano é, entre a Coca-Cola de conotações políticas e o croissant celestial, este caderno de História.
Escrevinho umas coisas nas últimas páginas...surge, começo a escrever à séria. Ora vejamos...acontecimentos da semana: França, Lisboa, Madeleine, estou a ler o "Three men in a boat", rio-me porque me lembro do livro, a senhora que toma café ao meu lado muda de mesa, assustada, eu coro e volto às letras.
A França, pátria da liberdade e de coiso, igualdade, fraternidade e viaturas carbonizadas, protesta contra Sarkozy, a juventude sempre prefere a esquerda, e esta prefere Ségolène, Ségolène não se sabe o que prefere, talvez lá lhe queimem a viatura e lhe surjam algumas ideias. Tão habituada está a polícia francesa, já tinha disposto baldes de água perto de cada parque de estacionamento em Paris, e tão espertos são os jovens franceses, que decidiram incendiar as lojas da cidade, e atirar os baldes para cima da polícia. Entraram três raparigas no café. Ui, parecem do tipo tagarela. E vieram logo sentar-se aqui perto.
Enfim, mas Sarkozy mete-as na ordem, não às três raparigas, às juventudes da França, e lá elegeu o seu ministrozeco, Monsieur qualquer coisa em francês. Averiguo o nome depois, quando postar o texto, penso. As miúdas falam de uma amiga, que engana um tal de Miguel com um tal de Pedro, e vice-versa. Talvez eu consiga fazer com que falem mais baixo agora que estou prestes a fazer um som gutural com a garganta, enquanto aceno com o livro, como quem diz, olhem que está gente aqui no café a querer escrever, ok?, ok, ai vai então. Humhum. Humhum.Huhuhum. Nada. Nem sequer olharam. Vem o empregado perguntar-me se quero uma pastilha para a tosse. Não, obrigado, está tudo bem. Coro mais uma vez. Parece que a tal rapariga que engana os dois se queixa de ser virgem, ainda, necessita talvez de um terceiro, porque só dois mostra ser pouco. A coisa de chegarem mais rapidamente à maturidade só leva às mulheres a dizer disparates mais cedo que os homens. Falando em oferecidas e rejeitadas, Lisboa está bem pior. Parece que ninguém quer aquele buraco, principalmente depois daquela história do túnel, que veio a trazer-lhe muita má fama. Ouvi dizer que alguns partidos se viram tão aflitos para achar candidatos para a câmara, que o PSD teve de efectuar buscas nas casas dos seus militantes, e aqueles que não foram a tempo de se barricar nas casas de banho, de se fechar em caves, sótãos e bunkers, só tinham uma opção, ou Lisboa ou o chicote de pontas, e recusaram-se a ser misericordiosos e dar-lhes com o chicote de pontas.
Dizem agora as três miúdas que não são virgens. Felizmente fazem-no alto suficiente para que a senhora do café que fugiu à pouco da minha beira possa ouvir descaradamente a conversa.
De Madeleine nem fogo de vista, nem fumo, nem Miguéis nem Pedros, que andam perdidos como a tal miúda.
Como não a encontraram ainda ultrapassa-me, já vi tantas vezes a sua foto nos meios de comunicação e naqueles que se colam nas paredes, que já a identificava mais depressa que a minha própria irmã, caso a perdesse.
Parece que o Miguel visitou o hi5 da tipa, que é Ana, ou Catarina, ou as duas, e descobriu que existe um Pedro na vida da sua delicada amada, e parece não estar muito contente. A ciumeira nos homens sempre me pareceu coisa efeminada. Claramente essa tal de Ana, ou Catarina, ou as duas, acha-se nascida para ser partilhada. Eu, pessoalmente, acho-a nascida para ser um pouco pêga.
Eu não estou interessado, eu nunca quis estar interessado, acaba o texto, deixa as galinhas do lado.
Enfim, para resumir, França está a normalizar-se e isso, Sarkozy nomeou aquele ciumento do Miguel para ministro do hi5 da Ana, ou Catarina, ou as duas, arre porra que já cansa a piada, que parece ser todo provocador e resolve tomar como prioridade o assunto da virgindade da Turquia, que parece que mandou uma mensagem à outra, a segunda das três, que é muito amiga dela e já perdeu a sua Madeleine, assim como as outras duas.
Como as raparigas são capazes de prestar atenção a estas coisas, ultrapassa-me.
Vou pagar a conta, já não há paz para escrever.

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