terça-feira, 1 de maio de 2007
O Dia em que Hemingway Tentou Destruir-me
Certos dias acordam-nos enervados. Lá serão coisas "deles".
Este dia foi um "daqueles". Dizem que um rigor sobre a nossa psicologia pode prevenir essas maleitas, o chamado "dia em que somos picados por ácaros", mas eu já não acredito em psicólogos, tentem dizer isso a uma mulher sensata, ela responde-vos com uma gigantesca palavra-pista "TPM" e vocês compreendem logo, se não compreendem não perguntem, não fossem os homens tão burros e pensavam bem menos, e não proibiam de pensar as mulheres, em certos países.
Acordei com um estômago em desalento, e qualquer sinal de vida terrestre era suficente para tornar a minha alegre existência num ataque de pânico destrutivo. Não sei sequer como saí da cama sem sequer destruir, lá está, o relógio electrónico, qual fúria assassina imparável.
Resolvi praticar auto-terapia, que já que estudo psicologia posso fazer a minha, e abri um livro. Estava à mão a televisão, o computador, a aparelhagem, o mp3, até o discman, sim, eu tenho um discman ainda, incapaz de funcionar por se encontrar em avançado estado de fossilização, o iPod, e podia, que acho que alguém cá em casa tem, mas não quis. Hoje de manhã, tudo o que fosse invenção do século XX pareceu-me estridentemente pervertido e diabólico, vade retro ò satanás, coisas a pilhas e baterias, xuu, escomungo-vos. Até amanhã, sim?
Abri assim um livro, e resolvi começar a ler Hemingway, uma compilação de contos intitulada "As neves de Kilimanjaro", considerada por muitos críticos como uma das obras da literatura moderna.
Hemingway é um bom escritor. Mas não bom suficiente para escapar ao meu enegrecido sentido de humor.
Ao longo da sua fantástica vida o escritor combateu nas duas grandes guerras, toureou em Espanha, foi toureado por Espanha quando os locais fartaram-se, e os touros, prendeu nazis, libertou a cidade de Paris, fez safaris em África, claro, onde mais podia ser, e matou leões, elefantes, girafas, veados, leopardos, ou eram chitas, tinham pintas, dois negros da tribo Masai que estavam no lugar errado à hora errada, ameaçou a mulher com uma caçadeira, "voltas a chamar-me de bêbado e encho-te de chumbo, tás a ouvir", e ela não ouviu e voltou a chamar e ele resolveu atingir o lavatório, bichos danados esses, não sem antes alarmar a gerência e a segurança, que nunca tinham visto alguém caçar um lavatório daquela forma, mesmo estando bêbado, coisas que África nos ensina.
Impressionante fazer notar que Hemingway é que chegava a fazer muitas destas coisas num só dia, excepto Paris e o lavatório, tanto que não se libertam Parises por aí à mão de semear, nem os há assim lavatórios, enquanto não se disparou sobre a mulher foi o Deus-dará.
As suas personagens, principalmente as principais, os heróis, os que possuem bonitas mulheres ou que montam em touros, esquisita esta fixação de Hemingway por touros, são todos uma cópia psicológica e física do maior herói do escritor: ele próprio. Modestamente, revestia os seus personagens de nomes e nacionalidades diferentes da sua, mas todos sabem que eles são ele, ou que ele era eles, e ele não o escondia, estava mais que subentendido. Dessa maneira, Hemingway envolveu-se com as divas do seu tempo, Pauline Pfeiffer, avó da nossa Michelle Pfeiffer, Hadley Richardson, Sister von Kurowsky e ainda tentou abordar a mulher do amigo Scott Fitzgerald, chiça que ao homem nem as galinhas escapam, azar o dele que esta última, de nome Zelda, achava-o um emproado machista e homofóbico, e acusava-o de partilhar intimidades com certas partes de Scott, que ele, de facto, tinha.
E pronto. Agora se procurarem coisas sobre Hemingway, digam que o conhecem.
A mim, irritou-me. Emproado de merda.
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