sexta-feira, 29 de agosto de 2008

no Brasil como em Portugal


Apesar de se definirem pelo seu contrário, como na foto do post abaixo, os jovens socialistas brasileiros conhecem o fascismo mais como xingamento do que como teoria. Não duvido que muitos deles se identificariam com o fascismo caso sua literatura fosse apresentada sob outro nome. Preparando o solo europeu para receber os cadáveres de milhões, Mussolini escreveu em La dottrina del fascismo:

Anti-individualista, a concepção fascista é pelo Estado; e é pelo indivíduo enquanto este coincide com o Estado, consciência e vontade universal do homem em sua existência histórica. É contra o liberalismo clássico, que surge da necessidade de reagir contra o absolutismo e exauriu sua função histórica quando o Estado se transformou nessa mesma personificação da consciência e da vontade popular. O liberalismo negava o Estado em nome do indivíduo particular. O fascismo reafirma o Estado como a realidade verdadeira do indivíduo. E se a liberdade deve ser o atributo do homem real e não desse fantoche abstrato pensado pelo liberalismo individualista, então o fascismo é pela liberdade. Pela única liberdade que tem um valor sério: a liberdade do Estado e do indivíduo dentro do Estado.

Não é esse mesmo individualismo liberal que Che Guevara combatia?: “O individualismo, na forma da ação individual de uma pessoa solitária no meio social, deve desaparecer em Cuba. No futuro, o individualismo deve ser a utilização eficiente de todo o indivíduo para o benefício absoluto da coletividade”.

E enquanto Mussolini se opõe ao “socialismo que interpreta o movimento histórico como a luta de classes e ignora a unidade do Estado no qual a classe se funde em uma única realidade econômica e moral”, ele entende que o fascismo consegue atualizar as aspirações socialistas no Estado:

“Dentro da órbita do Estado, o fascismo reconhece a verdadeira exigência que dá origem ao movimento socialista e sindicalista e os faz valer no sistema corporativo dentro do qual os interesses se conciliam na unidade do Estado”.

Nesse sentido, é muito apropriado chamar o fascismo de nacional-socialismo. Meu medo é que muitos jovens brasileiros já sejam fascistas sem perceber.

in Ordem Livre

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

a paz armada


Após a queda do muro de Berlim, mais uma ameaça caminha para perturbar a paz europeia, e mais uma vez ela aproxima-se vinda de Oriente. Ao longo da história da civilização ocidental, vários têm sido os perigos que muitas vezes levaram a uma calamidade total. Invasões, epidemias, massacres. O rápido crescimento da civilização ocidental deu-se, em grande parte, devido a estas catástrofes. A expansão ultramarina, o conceito de democracia, de estado de direito, o progresso industrial e bélico, formaram-se todos na necessidade de se defenderem e ripostar contra um oriente que tantas vezes o entusiasmava e tantas vezes o amedrontava.
Assim, cedo começou a formar-se um equilíbrio difícil entre as potências ocidentais, principalmente europeias, de forma a ver qual delas era a mais poderosa e maior representante dessa mesma civilização.O século XX viu o delicado equilíbrio de forças desaparecer, e assistiu a uma guerra anunciada que traria a destruição de toda a Humanidade, não fosse a mesma cultura da ocidentalidade, a sua maior força, a deter a ameaça do comunismo e da sociedade totalitária.
Hoje, no século XXI, o perigo afigurou-se ultrapassado, e os esforços para preservar a liberdade externa tão carinhosamente preservada pelos nossos antecessores não foram revigorados.
Tudo indica que o século XXI será o século dos autoritarismos, tanto pela herança do século anterior, como pela necessidade que surgirá dentro das sociedades ocidentais e ocidentalizadas em combater esse mesmo perigo.Forma-se agora, a leste, uma situação que lembra a europa do Imperialismo alemão, a Europa da ameaça prussiana.
Estamos perante uma paz armada, entre democracias temerosas e ditaduras fortalecidas pelo jogo diplomático.

ambiguidade internacional

"Muchos estados se solidarizaron con el Tíbet desde la invasión china. India acogió a la mayor parte de los emigrados y ofreció tierras para construir monasterios e establecer la nueva sede del Dalai Lama. Varios países europeos, Australia y Japón abrieron oficinas para alojar representaciones del Gobierno Tibetano en el Exílio. Nepal y Estados Unidos incluso apoyaron a la resistencia local con armas, entrenamiento y servicios de inteligencia. Sin embargo, ningún estado ha reconocido al Gobierno Tibetano en el Exílio. En cambio, todos han ratificado la soberanía china."

in Historia y Vida, nº481

domingo, 24 de agosto de 2008

o seio repleto

ao meu colega Ary F. Cunha, adversário e aliado de tantos debates, professor em part-time, em resposta ao seu texto publicado no blogue da Sociedade de Debates

No Brasil, o Presidente Lula da Silvas criou uma bolsa família especialmente destinada aos habitantes do Nordeste, cujo PIB per capita era somente 28% do equivalente ao Sudoeste.
O Programa foi desempenhado com sucesso, gerando uma descida nos índices de miséria do povo brasileiro daquelas partes.
Tomado como exemplo por parte de alguns analistas económicos nova-iorquinos, e mesmo por parte da ONU, o Bolsa Família tem alguns condicionalismo relevantes que são, na sua maioria, relegados para segundo plano.
De facto, proporcionam às zonas "esquecidas" do Brasil um rendimento extra, fundamental para que haja algum desenvolvimento na área. O problema é que esse desenvolvimento é pago com o trabalho da restante população brasileira que, a meu ver, não tem passado tão bem nas duas últimas décadas.
Estes condicionalismos não estão a ser fiscalizados pelo governo convenientemente, apesar dos esforços federais em manter bem investido o seu dinheiro, vigiando os cidadãos com satélites e métodos afins, considerados igualmente de exemplares.

"Quando se usa um cartão de crédito, a empresa responsável é comunicada sobre o quanto deve pagar ao comércio por um sistema que utiliza linha telefônica. Em locais sem essa estrutura, a comunicação pode ser feita via satélite ou rádio", afirma Nina Farnese, técnica do projeto pela Caixa Econômica Federal, uma das entidades que faz parte do acordo de cooperação técnica assinado entre os dois países. - in Terra Magazine.

Assim, o Bolsa Família tornou-se, como era de prever, no rendimento per se dos nordestinos mais pobres. A educação não aumentou o que se esperava, apesar de o número de faltas às aulas ter diminuído o rendimento escolar continua nas ruas da amargura, e o dinheiro não serviu de incentivo para novas oportunidades, criando-se mais uma epidemia de "subsídio dependência".
Portanto, qual é a grande diferença entre o nordestino antes do subsídio, e este nordestino engordado pelo subsídio?
É que dantes, os grandes terratenentes ou latifundiários empregavam facilmente mão-de-obra barata e desprezada pelas autoridades, que jogava corruptamente com esta tradição de labor.
Agora os terratenentes mal empregam qualquer tipo de mão-de-obra, porque ninguém quer trabalhar. Agora, os preços dos alimentos por todo o Brasil, com especial repercussão no Rio de Janeiro, aumentam a cada mês, e um dia em que essa maminha gordinha e redondinha que é o Estado secar, o Nordeste ainda vai ter mais dificuldades, porque os grandes empresários já terão, por essa altura, investido as suas poupanças noutros sítios. Sim, porque o estado dá e tira. Isso determinará o fim do mercado agrícola que enriquece as cidades de Pernambuco e Baía e Recife, que terão de viver do pululante turismo sexual que se faz naquela zona. Estas são as consequências de um Estado que, em vez de abrir as economias das regiões e esforçar os seus meios na defesa das liberdades do cidadão, se limita a distribuir "equitativamente" recursos, algo que é muito fácil, é como disfarçar a ferida com, vá lá, cosméticos. Cosméticos capazes de também caçar votos.

Outros problemas da recondução Estadual podem ser vistos por aí fora, no mundo. De facto, o Estado não só contribui para a obesidade do cidadão, como também lhe acabará por programar um "reduce fat fast". De facto, comida está mais cara, não é? Vejam lá o vídeo e depois prossigam.

Nos EUA, o candidato presidencial que planeava a política social que entrou em grande voga e mediatismo está agora a atrasar-se nas sondagens.
De facto, um sistema de duas rondas tem destas coisas, os cidadãos começam a pensar melhor se querem um presidente que não só vai criar mecanismos de saúde mais flexíveis, mas que pensa em criar outros sistemas de subsídio estadual que serão o problema de outros presidentes no futuro, e que vai obrigar a classe média americana a pagar a vida de outras pessoas, contribuindo assim para a dead end que é a actual Segurança Social Europeia.
Infelizmente a alternativa a Obama é, nas palavras de Stiglitz, o representante de um velho corporativismo em trajes novos.

Em Portugal, o RSI aumenta 427% em relação aos números de 2004, mantendo-se Portugal com os piores índices de pobreza na União Europeia.
União Europeia que acordou para os problemas das políticas passadas.
A Suécia acordou para os malefícios da política social até aí seguidos, e já mudou o Executivo social-democrata para um executivo de Direita.
A restante Escandinávia fez ou está em vias de fazer o mesmo mesmo.

De facto, todos este "limousine-liberals" têm meios complexos de ver o actual estado de Portugal. O que não é muito difícil, pois está riscado de estradas vazias e desnecessárias, temos actualmente a rede de estradas mais prolífica da Europa, o que seria bom caso o país não fosse tão pequenino, e temos uma educação que custa os olhos da cara ao Estado, e que não apresenta o mínimo de resultados.
Faz-nos pensar se seremos todos assim tão libertários ou anarco-capitalistas, ou apenas liberais à moda antiga.

sábado, 23 de agosto de 2008

Liberdade e Mercado - Rodrigo Adão Fonseca

Um liberalismo bem estruturado não sacraliza imediatamente o mercado: o mercado é, do ponto de vista liberal, uma construção mediata, uma consequência objectiva daquilo que é a sua componente subjectiva, ou essência, daquilo que lhe é prévio: a tradição liberal preocupa-se, sim, com a pessoa e com a protecção da sua esfera de vontade, do seu exercício de liberdade e arbítrio. O “mercado” mais não é do que uma sobreposição de espaços difusos, onde os cidadãos/pessoas/indivíduos/agentes (ou como lhe quiserem chamar) projectam as suas escolhas, mais ou menos livres, mais ou menos informadas, mais ou menos medidas, mais ou menos racionais, mas sobretudo, onde realizam os seus anseios, e onde, obviamente, recolhem - ou antes, deveriam recolher - os benefícios, ou sofrem - ou antes, deveriam sofrer - as consequências dos seus actos e decisões. Os mercados são, nesta perspectiva processualista, neutros, porquanto não têm capacidade volitiva própria; os mercados amplificam apenas os ecos de milhões de actos e decisões individuais.

Mas, afinal, os que tanto criticam a actuação livre nos mercados, o que têm em mente? Obviamente, uma outra forma de mediar as relações entre os cidadãos/pessoas/indivíduos/agentes, ou como quiserem chamar-lhes. Limitando, ou até agregando, a tutela do arbítrio. Retirando ao máximo a subjectividade do processo de decisão.

Não sejamos, porém, ingénuos. Se os mercados por vezes projectam decisões que penalizam cirunstancialmente uma boa parte dos seus agentes, será que o cidadão comum ficará mais protegido pela limitação/supressão do arbítrio individual, transferindo-o/agregando-o em decisores tipicamente estatais, os tais que optarão por nós, “para o nosso bem”? Miguel Portas, esta semana, na Visão, dizia que continua “(…) a pensar que é possível ao Homem construir uma sociedade de abundância, em que o Estado seja dispensável e em que a sociedade seja capaz de se organizar e de se auto-administrar, distribuindo essa abundância de forma igualitária, para que cada um possa seguir os seus caminhos sem atropelar o próximo (…) é possível um outro mundo assente, não na propriedade, ou no que se tem, mas no que se pode ser (…)”. Será que a generalidade dos cidadãos comungam desta forma de estar, desta crença numa sociedade pós-materialista, será que estão dispostos a alienar a sua liberdade individual, o seu arbítrio, ainda que possa por vezes este acarretar consequências negativas, para se entregar na busca desta sociedade “auto-organizada” e “auto-administrada”, paradoxalmente pretensamente abundante, na ausência de propriedade?

As sociedades mais livres são aquelas que, ao longo da História, têm conseguido, em substância, na escassez - que não é um dado extrínseco, mas um estado intrínseco ao homem, resulta da sua própria natureza uma permanente insatisfação (e que a Utopia de Miguel Portas ignora) - produzir abundância, as sociedades bem sucedidas são as que correm riscos, as que libertam os cidadãos, as que dispensam as mediações, e promovem a regulação como ideia subsidiária. São as que apostam nos cidadãos, e potenciam a sua capacidade criativa e de decisão. O que nós precisamos é de cidadãos mais preparados, mais activos, mais capazes, mais inventivos, mais autónomos, que saibam governar-se, enfim, substancialmente mais livres, precisamos sobretudo de melhorar a nossa subjectividade para nos afirmarmos num mundo cada vez mais aberto e, por isso, mais competitivo, e não avançar para soluções que objetivem a pessoa, desperdiçando e concentrando as suas capacidades em entes colectivos, necessariamente aprisionáveis, necessariamente vulneráveis à captura dos que perseguem Utopias que desprezam os valores do cidadão comum.

Prefiro existir num “mundo imperfeito”, que valorize a subjectividade, o risco, a incerteza, os valores do trabalho e do mérito, a inovação, e acarrete a penalização do fracasso, ainda que tenha, por viver em sociedade e na relação com os outros, que sofrer as consequências de fracassos que não são os meus, do que perseguir, subjugado, o “Paraíso na Terra”, e alienar-me, na crença de uma pretensa abundância igualitária.


esta foi direitinha para a secção de livres leituras...

uma rapariga de doze anos levar-nos-á à revolução

O Mundo só vai melhorar quando pararmos de olhar para os desprivilegiados como posters.

Como fardos somente sustentados pela nossa caridade.

Quando começarmos a olhar as pessoas como se fossem pessoas, e a dar-lhes responsabilidades que exigimos aos restantes adultos.

Quando nos atrevermos a olhar para além da estatística.


Ver o site:
The Girl Effect
para mais informações.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

os números do RSI - autora convidada

"É patente que os beneficiários do RSI têm vindo a aumentar consideravelmente, podendo apontar-se a causa para a actual crise económica, que indubitavelmente tem-se reflectido numa alta de preços crescente, situação à qual nem todos reúnem “instrumentos” necessários para subsistir sem o apoio social. A atribuição do RSI é, ou pelo menos deveria de ser presidida por um plano de reinserção social, cujo principal objectivo é possibilitar o acompanhamento do beneficiário rumo ao seu ingresso no mercado de trabalho, de modo a encurtar o quanto possível a sua situação de dependente do rendimento social de inserção. É notório que a execução destes planos de reinserção ficam muito aquém do desejável, mostra-o os cerca de 312 mil beneficiários registados em Dezembro de 2007, aos quais se juntaram na primeira metade deste ano mais 23 mil, que tornam os números ascendentes num curto espaço de tempo.

De facto a lógica do RSI está desvirtuada. É necessário proceder a um rigoroso levantamento das lacunas que inviabilizam os projectos de reinserção, atentando eu que não será difícil. Qualquer um reconhecerá como situação inexequível, o caso de uma assistente social com cerca de 200 processos de utentes, realizar um trabalho frutífero no que toca aos planos de reinserção do RSI. E nesta lógica atrevo-me a enumerar um dos males.

Voltando aos números do RSI, estes agravam-se ao ter em conta que deles fazem parte uma quantidade inconcebível de jovens e, quando digo jovens, não só me refiro às idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos (período em que deveriam apostar fortemente na carreira profissional), mas como também aos inúmeros casos de menoridade.

As facilidades inerentes à aquisição do RSI, bem como em mantê-lo ao longo dos anos tornou-se numa não procura por alternativas por parte das classes mais desfavorecidas. Afinal, quando nos concedem um salário quase como oferenda a alternativa já foi encontrada à muito! Repito que o panorama toma proporções avassaladoras quando falamos em jovens menores que se deitam nos panos quentes do RSI, caso cujos planos de reinserção se tornam insuficientes para reverter tais situações num futuro a longo prazo.

É necessário rever o modo como a politica social do RSI está a ser empregue e se os objectivos que lhes são subjacentes estão a ser concretizáveis, de outra forma estar-se-á a hipotecar não só os contribuintes, bem como a autonomia dos próprios beneficiários.

A assistência não está em dar esmole indiscriminadamente!"

Vânia Patrícia Almeida Oliveira, também publicado no Entrelinhas.

domingo, 17 de agosto de 2008

humor perigoso - a opinião de um mestre

O Risco como facto de aceitação.

The humor that makes me laugh hardest is the material I know would offend or insult someone else. Apparently I am not alone in this view because my entire career is based on that universal law. The Dilbert comics that work best are the ones you can imagine your boss or coworker looking at and saying, "Uh-oh. I think that's me."

But offending isn't enough. The audience gets more out of humor if the messenger is putting himself in danger. When Dilbert first launched, I was still working my day job. Readers loved knowing that I was on the verge of getting fired every day. The order to fire me was actually given at one point, but in the end my employer decided to give me hopeless assignments and wait for me to quit. They figured it would look better.

Dilbert is still a dangerous job. This week I got a bunch of angry letters because of a comic where Alice says she realized her job was like a dung beetle trying to mate with an epileptic cow. I think I was added to a few extra death lists. If you laughed at that comic, it's probably at least partly because you knew I was taking a risk in creating it.

ver o resto aqui, no Scott Adams Blog

porto blue jazz

Há noites que começam muito bem. Já tinha conhecimento que a Porto Lazer estava a cultivar os habitantes da Invicta com boa música, e após perder os concertos de Herbie Hancok e Mário Laginha (que parece que brilhou na sua noite), resolvi ser um cidadão digno e ir ver o que se passava nos jardins do Palácio de Cristal.
E comigo, foram as minhas cidadãs favoritas, a minha mãe e a minha irmã, que dançou comigo após alguma insistência minha.
Começou levemente, com um solo de sousaphone (desconhecia o que era um sousaphone) de Sérgio Carolino, e depois entrou o saxofone de Mário Marques, a dar o mote para Rúben Santos deslumbrar no trombone.
Foi o caraças para anotar os nomes, mas valeu a pena.
Na bateria estava um senhor que, bem me parecia tê-lo visto antes, mais não era que o baterista Michael Lauren.
The Postcard Brass Band.
E depois? Depois... depois foi Jazz, Blues, uma variada mistura de influências, muitas reminiscências de épocas passadas, autores famosos, filmes vistos, obras contempladas.
Hoje diverti-me.

Pontuação final: 7/10. Comentário: next time, i'll pay to see this guys.

PS: Alguém se lembra daquele grande filme, o Swing Kids? Não me parei de lembrar deles durante o show... Eu devia ter nascido nesses tempos.

domingo, 3 de agosto de 2008

crónica do reino dos algarves (causas da queda desta província)

Depois de 15 dias de descanso nas praias da cidade de Albufeira, 15 dias de inutilidade, votadas ao descanso, à leitura, aos gelados e aos franguinhos da Guia, estou de volta ao meu caos familiar.
Não trago fotografias nem grandes lembranças. Fui acompanhar a minha mãe e irmãos numas férias bem merecidas, depois de um ano difícil mas bem vencido.
De facto, não aprecio muito o Algarve enquanto destino de turismo de praia. O Algarve é um sítio belíssimo, fantástico, se fugirem das praias.
Aconselho a todos uma visita a Silves, cujas muralhas guardaram, em tempos, uma das últimas grandes cidades islâmicas na Europa, do ponto de vista cultural e social e económico. Eu próprio já lá fui umas 2 vezes, e sempre encontrei coisas novas. Faro é uma cidade muito bonita também, onde se come bestialmente, se soubermos procurar e aguentar a morrinhice dos algarvios, os piores serventes de mesa à face da Terra.
Sagres é um grande montão de calhaus, e por muito que procurem a escola do Infante, o mais provável é ficarem com a sensação que aquilo não é porra nenhuma, e não passa de um pseudo-esquema para atrair turistas desejosos de uma mística de um Império que nunca existiu.
Castro-Marim, Vila Real de Sto. António, a própria Albufeira, a belíssima serra algarvia, se conseguirem ficar lá hospedados um dia para apreciar a flora única, são locais de visita obrigatórios e esquecidos do Algarve. Mas isso não vem nos panfletos.
De facto, o turismo do Algarve é uma valente merda.
Por muito que se tenha lutado contra os abusos descontrolados da urbanização descontrolada, o Algarve continua a perder a corrida contra a descaracterização cultural.
Depois de se tornar o pousio para a classe média baixa do norte da Europa, o Algarve procura elitizar-se antes de ficar com o nome manchado com o rótulo de destino turístico barato.
O Algarve sofre por estar cheio de algarvios, e esses algarvios não têm poder nenhum sobre a sua terra.
Tornou-se o Algarve numa espécie de Egipto dos tempos romanos, uma região portuguesa especialmente cuidada e tratada pelos Governos centrais. As cenas do Allgarve e todos os abusos consequentes vêm daí. O poder local, subserviente e dependente, é formado por uma classe de filhinhos da putinha, gente muito rasca, fruto de cruzamentos incessantes entre a população, mantendo aquela insuspeição mourisca e uma certa anti-portuguesice.
Esse poder local, que precisa de Lisboa, porque aprendeu, aquando da última crise económica que varreu o Algarve, que precisa de Lisboa para chamar os portugueses para o esforço patriótico de encher o hotéis e pensões algarvias, surpreendentemente abandonadas pelos cidadãos ingleses e alemães, fartos das crónicas subidas de preço. Agora, que tudo voltou ao normal, o Algarve já retomou o caminho, pensa-se.
Eu penso que não.
Se querem ser servidos rapidamente num restaurante, na área de Faro a Albufeira, procurem um restaurante brasileiro, chinês, ou cujos funcionários sejam morenos o suficiente para se ter a certeza que não são portugueses do Algarve. O único algarvio simpático, alegre, competente tanto na cozinha como na arte de bem receber, era um que havia nascido em Trás-os Montes.
A polícia algarvia é constituída por dois tipos de homens. O primeiro, homenzinhos pequeninos com barretes da GNR, serve para pedir indicações caso precisem saber onde é a praia. Caso queiram saber onde fica a rua onde se vende bugigangas para comprar para toda a gente lá em casa, eles já não conseguem. Não lhes pagam para isso, peço muita desculpa.
O outro tipo é formado por gorilas de boina, que vestem de fato-macaco preto, cuja única função é andar de um lado para o outro a falar numa língua desconhecida (o algarvio é, de facto, um dialecto) e que servem para nos escondermos atrás deles quando um inglês nos ameaçar com uma garrafa quebrada.
O comércio algarvio é em tudo igual ao do restante país, excepto na proporção. De facto, a qualidade dos produtos é duas vezes pior, e duas vezes mais caro. Abundam os senhores das tatuagens temporárias, os marroquinos dos bonecos luminosos, com cenas de néon na boca que os fazem parecer retardados a mastigar pirilampos, as pretinhas das tranças, adoro essas pretinhas, levaram-me 10 euros por uma merdice que puseram no cabelo da minha irmã, que eu próprio voltei a pôr quando aquilo se descolou. Há também os pretões dos óculos, senegaleses fundamentalistas, sendo que um deles chegou a amaldiçoar-me quando eu o mandei dar uma volta, irritado de negar a décima tentativa de negócio. A dada altura, oferecia-me a irmã e 30 camelos, se eu aceitasse comprar um par de óculos por 10 euros. Recusei, obviamente, por os óculos serem feios e por não ter espaço para pôr 30 camelos.

No centro de Albufeira, um senhor muito barbudo (estilo Karl Marx), apresentava num pequeno pavilhão patrocinado pela Câmara de Albufeira, com uma mensagem a dizer qualquer coisa contra a globalização (aquelas frases feitas) num painel de cartão forrado a latas de refrigerantes.
Como eu estava há vários dias sem discutir com o Francisco Noronha e a Daniela Ramalho, pessoas a quem eu gosto de chatear como o caralho, resolvi soltar umas boquinhas àquele Pai Natal dos sovietes.
"É a Globalização que lhe permite comprar todas essa latas de refrigerante" disse eu, e pensei, "fodi-o".
"Não, é a Globalização que me obriga a comprá-las" e pronto, agora fica tudo a pensar que o velhinho me encurralou. Eu acho simplesmente que o ancião podia muito bem ter comprado uma água Luso, em vez de gastar o dinheiro da Câmara para comprar Coca-Colas e Fantas. E depois, ainda fiquei arrependido de não lhe perguntar se não era a globalização que trazia todos aqueles turistas à sua cidade que lhe compravam todas aquelas pulseirinhas capitalistas que ele vendia à má rês a par da exposição. Pior, ainda foi o homem que me disse "Sabe ao certo o que é a globalização? Sabe o que é concretamente? É as empresas virem pra cá, comprarem tudo, e depois despedirem toda a gente".

É que o Algarve não sofre apenas de políticas governamentais estúpidas, de autarcas idiotas, de um turismo burro e dos turistas idiotas. O Algarve agora tem manifs anti-globalização.
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