segunda-feira, 30 de março de 2009

Cena do Ódio

Novamente Almada Negreidos, desta feita, por Mário Viegas:






Encontram aqui o poema completo.

o argumento destruidor dos homofóbicos

Para Miguel Vale de Almeida, todos os homofóbicos que, estando "contra o acesso ao casamento civil por parte de casais de pessoas do mesmo sexo" usam o argumento "de que tal mudança implicaria logicamente a permissão do casamento incestuoso e poligâmico", fazem-no pela simples razão de serem um bando de homofóbicos. Ao usarem tal argumento, mal sabem eles, caiem na falácia anti-Jugulariana, própria de quem é homofóbico, que é o facto de que "(...)o "argumento" prossegue a mesmíssima "lógica" do mais radical reaccionarismo homofóbico(...)". Viu a lógica? Se não, não se preocupe o leitor, porque para MVA, "as transformações políticas e as garantias dos direitos não decorrem exclusivamente ou sequer principalmente da lógica".
Depois diz umas parvoíces sobre o casamento com animais, que não se percebe muito bem, parvoíces essas que necessitam uma leitura rápida do Código Civil Português.

No fim de contas, Miguel Vale de Almeida explica porque razão não há argumentos que contrariem o casamento "gay": todos os argumentos que contrariem o casamento "gay" são, inerentemente, homofóbicos.

domingo, 29 de março de 2009

A Religião do Látex


Grassou entre nós, recentemente, um escárnio mesquinho que reavivou ódios antigos e discursos de moralidade esquerdófila. Toda a Ordem do Bem-Dizer e Pensar Fácil resolveu-se a guinchar alto e bom som após as declarações africanas do Papa da Igreja Católica.

Surgiram frases de tablóide flamejantes, gritando ao mundo sofredor a realidade cruel de um Homem que parecia defender uma Utopia tão insólita como perigosa.

Acima de tudo, o ateísmo militante e os eternos donos da Moral e Verdade soltaram os seus sonoros "É de rir!" e "Parece impossível!", ou até mesmo o famoso "Já nada me impressiona vindo destes tipos...", gorgolejando todas as frases em uníssono e em harmoniosa concordância.


O caso ficaria aqui, se tudo isto se tivesse passado num micro-cosmos tão redutor e acéfalo como o Portugal Intelectual. No entanto, os acontecimentos à escala global, como tudo o que se faz em matéria de globalização, accionaram os mecanismos da livre troca de ideias e surgiram, por entre a bruma ideológica deste mundo tão uniforme, Opiniões. Essas opiniões partiram de pessoas que realmente sabiam e sabem o que se passa em África, porque possuem o bem mais precioso que o situacionismo e a esquerdofilia não têm: a experiência, mãe de todas as coisas.


Assim provaram os homens de verdadeira sabedoria que a monogamia, a ideia protegida pela Igreja Cristã e pelo Papa (e não a abstinência, a Igreja não pede dos crentes aquilo que só pede aos clérigos) é de facto uma prática social que as organizações humanitárias que trabalham no continente africano têm procurado disseminar, e cujo apoio religioso do Papa transforma numa realidade extensa. A posição da Igreja em África, ao invés de trazer o holocausto preconizado por alguns desmiolados, fará pelos povos de África algo que a inteligentsia e a nomenklatura intelectual ocidental nunca fizeram, farão, nem querem fazer.


É de facto aborrecido ter de aturar, de tempos a tempos, o levantamento ridículo que as classes comodistas, as verdadeiras comodistas, fazem. Não se lida com África da mesma maneira com que se lida com um doente, ou com uma obra de caridade. Lida-se com os africanos como se lida com os homens e mulheres responsáveis que eles são. Procuramos métodos racionais, discutimos políticas e encontramos soluções para os problemas.


No meio disto tudo, fica ainda o pesar de a Igreja Católica ainda não defender o uso do preservativo, apesar, ao contrário da opinião maliciosamente geral, a Igreja não proibe o preservativo.

Mais que provado está que preservativo não é o meio único para prevenir a SIDA, nem será tão eficaz como se quer comprovar, neste texto de um verdadeiro entendido na matéria, que disponibilizou o seu parecer no blogo Insurgente.


A propaganda trêfega da comunicação social, todo este desprezo votado a sectores da sociedade tão bons como qualquer outros, o discurso das elites intelectuais de um país tão burro como desmoralizado, fazem deste navio à deriva chamado Portugal um sítio difícil para viver, se se quer ler e ouvir com alguma imparcialidade e razão. Sejam os novos traços do país, que já duram há pelo menos dois séculos, seja quiçá um novo anti-clericalismo em gestação, ou simples idiotice, cada vez mais é dificil ficar cá, para ficar com estes portugueses. Imigrar será a solução, solução que este lodaçal sempre deu aos que melhor vontade têm de nele viver em paz, progresso e sossego.


Fontes:





"Dizia ela: - Nunca mais tirarei os olhos de ti. Vou olhar para ti ininterruptamente.
E, depois de uma pausa: - Tenho medo quando o meu olho pisca. Mede de que, durante esse segundo em que o meu olhar se apaga, se introduza no teu lugar uma serpente, uma ratazana, outro homem.
Ele tentava erguer-se um pouco para lhe tocar com os lábios.
Ela abanava a cabeça: -Não, só quero olhar para ti.
E depois:- Vou deixar o candeeiro aceso toda a noite. Todas as noites."

A Identidade, Milan Kundera.

Abraço.

Carta aos Eleitores do Círculo Eleitoral de Sintra - Alexandre Herculano


Quereis encontrar o governo central? Do berço à cova encontrai-lo por todas as fases da vossa vida, raramente para vos proteger, de contínuo para vos incomodar. Nada, a bem dizer, se move na vida colectiva do povo que não venha dc cima o impulso, ou que pelo menos o governo se não associe a esse impulso. Entrai, por exemplo, no presbitério da primeira aldeia que topardes. Vereis aí um homem enchendo a pia de água benta, apagando ou acendendo as velas, arrumando os ciriais. É o governo central. O sacristão, exornado com o título pomposo de tesoureiro, e seu funcionário; é a mão dele estendida até ao gavetão das vestimentas. Essa personagem tem carta pela secretaria de Estado.
Isto é impossível que, seja racional, sensato. Essa imensa tutela de milhões de homens por seis ou sete homens é forçosamente absurda. Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade.
Não receeis que a descentralização seja a desagregação. O governo central há-de e deve ter sempre uma acção poderosa na administração pública; há-de e deve cingi-la; mas cumpre restringir-lhe a esfera dentro de justos limites, e os seus justos limites são aqueles em que a razão pública e as demonstrações da experiência provarem que a sua acção é inevitável. O âmbito desta não deve dilatar-se mais.
A centralização, na cópia portuguesa, como hoje existe e como a sofremos, é o fideicomisso legado pelo absolutismo aos governos representativos, mas enriquecido, exagerado; é, desculpai-me a frase, o absolutismo liberal. A diferença está nisto: dantes os frutos que dá o predomínio da centralização supunha-se colhê-los um homem chamado rei: hoje colhem-nos seis ou sete homens chamados ministros. Dantes os cortesãos repartiam entre si esses frutos, e diziam ao rei que tudo era dele e para ele: hoje os ministros reservam-nos para si ou distribuem-nos pelos que lhes servem de voz, de braços, de mãos; pelo partido que os defende, e dizem depois que tudo é do país, pelo país, e para o país. E não mentem. O país de que falam é o seu país nominal; é a sua clientela, o seu funcionalismo; é o próprio governo; é a tradução moderna da frase de Luís XIV - l' état c'est moi, menos a sinceridade.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Leitura Ordenada pelo Partido Odisseu

"No passado dia 13 fiquei admirado com a aprovação pelo nosso Parlamento de uma lei limitando a quantidade de sal no pão, com o objectivo de nos tornar mais saudáveis. Sexta-feira 13 é dia de pouca sorte, pensei, e os nossos deputados deviam era estar quietos. Então eles é que decidem se devemos ou não ser saudáveis e como? É a partir de agora que passarão a ser conhecidos como os pãezinhos sem sal da democracia portuguesa, excepto aquele deputado que foi insultado há uns dias, que será mais conhecido como o pão com chouriço"
"Outro tema em grande voga, que provoca um verdadeiro êxtase PC, é o do casamento homosexual.Aqui os argumentos são simples, com suficiente mérito de ambos os lados. A favor, salienta-se a igualdade de direitos; no oposto, o simbolismo da família tradicional e a criação de uma figura idêntica ao casamento, vulgarmente chamada "união civil", como existe em França e Inglaterra.Porém, como sempre, os "bem pensantes" pró-casamento gay entram rapidamente na invectiva e na estridência. Por exemplo, na cerimónia dos Óscares, o conhecido actor e activista, Sean Penn, declarou no discurso de agradecimento, em tom emocional, que os opositores deviam ter "vergonha". Podia ter salientado o valor da ideia; preferiu vilipendiar quem se opusesse. Do mesmo modo, cá na terrinha, no conhecido programa "Prós e contras", a que assisti, fiquei impressionado com a vociferação de apoiantes e pouco surpreendido do modo como rapidamente estavam a acusar os oponentes de "homofóbicos". Típico."

Pedagogos, Humanistas e Joguetes

Há pouco mais de uma semana noticiou-se que cinquenta alunos ciganos (romani para ser mais preciso), em Barcelos, haviam sido isolados, em quarentena forçada, num barracão afastado das puras criancinhas não ciganas – livre-se a contaminação, cá não há misturas. Ora, não bastando, Margarida Moreira, directora da DREN (acrónimo para drenagem linfática), fez questão de afirmar que a questão está a ser zelosamente tratada, até é uma “discriminação positiva”. Descobriu-se, em seguida, que afinal há mais seis escolas em similar regime. Mas a trama segue, frame por frame, e a Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, da Assembleia da República, refere num documento com mais de cinquenta páginas, que é aceitável a existência de turmas exclusivamente para crianças romani.
Bom, se tanta gente, gente com estudos, veja-se, concorda, então alguma valia hão-de ter. Vejamos tais premissas.

Ora, diz-nos Margarida Moreira, que os ciganinhos não têm com que se queixar, até estão a ser discriminados positivamente. Discriminação positiva significa uma situação de vantagem fundada, e como tal a fundamentação não se fez esperar, de todo o lado, de todos os pedagogos hippies que até justificariam o mau génio de Mussolini. Assim sendo, dizem-nos, as crianças romani têm muita dificuldade na aprendizagem, são pouco assíduas, quezilentas, e reprovam tantos anos que se torna incomportável a convivência com os meninos não ciganos mais novos. E há resultados, bradam, os pais ciganos estão contentes, os meninos agora aprendem muito melhor! Boas verdades nos fretam, senhores. Contudo, os odisseus são cavalheiros da mais pura água, difíceis de contentar, preocupados com subtilezas discursivas.

Agora a nossa refutação. Não duvidamos que os ciganos são uma dor de cabeça para alguns autarcas e restantes homens das lides políticas; o nosso propósito não é deambular pelos meandros da apropriação ilícita de terrenos nem do Rendimento Social de Inserção, não, vamos centrar-nos nas crianças.

Certo é não ser salutar a convivência de qualquer criança recém-chegada ao Ensino Básico com um jovem que já deveria frequentar o 3º Ciclo. Todavia, se o que se trata é de minorar o risco da convivência de crianças de idades tão díspares, se a idade é a razão de tal algazarra, não nos venham falar de crianças romani e não romani. Se o factor de instabilidade das turmas é a idade de certos alunos, se a convivência é insalubre de parte a parte então, estes alunos, os mais velhos, independentemente da etnia, seriam colocados em turmas separadas. Seriam colocados em turmas separadas em razão da idade, não da etnia, sublinhe-se.

Mais, se a razão das turmas separadas se prende não só com a idade mas com possíveis atrasos de aprendizagem, então, após sensíveis progressos dos meninos, estes seriam reconduzidos a turmas sem distinção étnica, terminando assim o apartheid. É sabido que isso dificilmente ocorrerá, em Portugal as turmas-piloto almejem outros voos.

Continuando, se as turmas-piloto se destinam a escoar alunos com dificuldade de aprendizagem ou com uma idade mais mais avançada, daqui resulta a inadmissibilidade da colocação de crianças ciganas recém-chegadas às escolas em tais turmas. Isto se considerarmos que uma criança não cigana e outra cigana, da mesma idade, na primeira classe, tem as mesmas capacidades – a DREN parece discordar. De facto, deve considerar, tal como Platão, que as crianças são distintas pelo metal que lhes corre nas veias (umas ouro, outras prata, e bronze para as ciganas); parece que a DREN reconhece uma incapacidade intrínseca a estas crianças, são naturalmente mais lentas. É aviltante pensar que uma criança, com tantas capacidades como qualquer outra e que até quer aprender (sim, há ciganos que não querem ser feirantes), vê tal possibilidade velada por uma turma que não lhe fornece os estímulos necessários, uma turma com um ensino “especial” que lhe ata os membros.

Acresce a todo este arrazoado grotesco que, para além de aulas em separado, estas turmas (em algumas das escolas) também possuem tempos de intervalo distintos, evitando contacto com outras crianças. Este facto talvez seja de mais sui generis justificação, custa a crer que o motivo seja uma qualquer coincidência na feitura dos horários. Porventura, neste pormenor esteja impregnada a motivação da escolha pedagógica – segregação pura e simples.

Como tal, tudo visto e ponderado, discordamos de Margarida Moreira – não estamos perante um caso de discriminação positiva, não estamos perante uma situação de vantagem fundada, aliás, estas crianças encontram-se sim numa situação de desvantagem inadmissível, o que representa, portanto, no nosso entender, uma violação do Principio da Igualdade (artigo 13º da Constituição da República Portuguesa), bem como do Direito à Educação (artigo 73º nº2 da CRP).

(por economia de espaço este artigo será rematado posteriormente)

quinta-feira, 26 de março de 2009

cheese

Infecção Manu Chao

O Odisseia oferece pequenas doses de "imunização Manu Chao", para quem gosta, para quem detesta:

Processo de Socialização em Curso (o Odisseia também merece ser salvo)

"Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto."

José Mário Branco, FMI

Segunda parte:

haja prioridades...

Jorge Sampaio critica a propensão da Nação para discutir temas de importância duvidosa ou periférica, que vão desde a suposta arbitragem fraudulenta de um jogo de futebol ao caso do Provedor de Justiça.
Não tenho grandes dúvidas em contradizer o ex-presidente, afirmando, do alto dos meus leigos botões, que da suposta arbitragem fraudulenta de um jogo de futebol, ao caso do Provedor de Justiça, vai uma distância muito grande. E parece-me igualmente importante que a Nação se procure informar melhor sobre a enorme falta de consideração e respeito a que a classe política submeteu um orgão da República.

segunda-feira, 23 de março de 2009

l'autre

ruialbuquerque, n' O Insurgente.
O pensamento socialista parte de um pressuposto radicalmente pessimista sobre o género humano: não acredita que os homens possam, por si mesmos, em sociedade, estabelecer os vínculos necessários e suficientes à harmonia e ao desenvolvimento. O socialismo partilha da convicção hobbesiana de que se deixados a si mesmos, os homens propendem para a destruição e para o abuso de posição dominante. A sua crítica ao liberalismo está enfermada deste raciocínio. A sua defesa do estado e da intervenção pública também. No fim de contas, o socialismo desconfia da espécie humana.
O socialismo não acredita no outro. O outro é aquele que não conhecemos, que nos é estranho, e que a mentalidade socialista coloca sob reserva e suspeição. Na cosmologia socialista, o outro é o adversário, o inimigo potencial donde todos os perigos são expectáveis. O “patrão”, o “explorador”, o “incumpridor”, o “faltoso”, o “abusador”. O universo socialista está cheio de inimigos públicos, de adversários da “sociedade”, indevidamente identificada com o estado. Esta mentalidade admite mais facilmente o conflito do que a cooperação. Não acredita na livre composição de interesses, e julga que da liberdade incontrolada só pode resultar o caos.

Morte ao Cavalo Fascista

Rosinés, filha do bom Chefe de Estado venezuelano, ainda na idade dos porquês, perguntou ao paizinho por que raio o cavalo do escudo da república estava com a cabeça voltada para a direita. Ora, Chávez, perplexo com tamanha falha da Administração, revolveu repor a ordem revolucionária: na semana seguinte, o Congresso tratou de voltar a cabeça equina para a esquerda.
Em 2005, o jornal venezuelano Tal Cual, decidiu parodiar o episódio já de si ridículo. O resultado foi uma multa de cinquenta mil dólares, fundada na violação da "Lei de Protecção ao Menor".
Nada escapa ao fervor revolucionário, democrata e humanista de Chávez.

domingo, 22 de março de 2009

Que o País Seja Governado Pelo País


"Queremos que a vida local seja uma realidade, para que o Governo Central possa representar o pensamento do país. Detestamos todas as tiranias, seja qual for o nome com que se disfarcem, seja a tirania dos reis contra os povos, dos privilegiados contra a plebe, da capital contra as províncias, de uma facção contra o país ou de uma oligarquia de especuladores políticos contra a totalidade dos cidadãos. Por isso detestámos a exageração centralizadora da França e de todos os países que a imitam, centralização cujos deploráveis resultados estamos vendo, e que é a negação viva do progresso, porque em vez de conduzir os povos ao melhoramento sucessivo, não faz senão arremessar-los às cegas entre a anarquia e o despotismo.
Posto que menos fatal num país pequeno como o nosso, a centralização administrativa não deixa de ser hoje entre nós exagerada.

Nós não nos envergonhamos de procurar as tradições da nossa escola nos países clássicos da Liberdade, nos países municipalistas e não centralizadores, chamados a Inglaterra e os Estados Unidos da América, antes do que nas teorias dos Reis de Paris, reis da rua ou reis do palácio, reis pela anarquia, reis pela tradição, reis por emboscada, reis ou imperadores pelo sufrágio universal."

Alexandre Herculano

Não devia sonhar com isto...

Das aulas de Finanças e Fiscal lembro-me das não raras vezes em que a professora apontava a sua crítica ao conservadorismo? Talvez inoperância? Defeito de coragem? Pouca arrogância? Aquelas seis palavras "os nossos políticos são muito velhos".

O sono é relaxante e sonho transcendente e o meu desta noite remonta à Antiguidade Clássica; sendo directo, à República de Platão. Nele, Platão fala-nos de umas palavras de Sólon: "Estou Velho, mas ainda ensino muitas coisas". Até pode ser que ensine, mas consegue correr? Das palavras de Platão em concreto não me recordava, mas decidi abrir o livro nessa parte para aqui as partilhar; "quando diz que um velho pode ensinar muitas: é menos capaz de ensinar do que de correr; os grandes e múltiplos trabalhos competem aos novos".

Abraço.

Mama Call

The Latest Contender (quando eu morrer, já sabem o que pôr a tocar...)

Franz Ferdinand - Darts Of Pleasure, Live at Vieilles Charrues

sábado, 21 de março de 2009

Mais ou Menos Assim

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro,
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!

Mário de Sá Carneiro


Abraço.

Quem não come sou eu

Dias conturbados vive Nascimento Rodrigues. Entre nós, eu também não gostaria de estar mais 8 meses que o previsto e devido no desempenho de uma função. Vocês o desejariam?

Órgão independente, é nomeado pelo Assembleia da República. O que se passa é que o titular que "desempenha uma função privilegiada com o parlamento", que a executa por meios mais informais (ou menos formais?), quem assume um papel de supra importância na defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, quem muito pode contribuir para a aproximação da administração á população, quem muito suscita questões de inconstitucionalidade, tem sido objecto de desrespeito profundo e grosseiro pelas próprias instituições democráticas. Vejamos o que se passa.

Não é virgem a discórdia no concernente à existência, em primeiro lugar, do Provedor, nem tampouco aquilo que seja o seu papel. Se tal influi neste impasse que a actualidade nos apresenta, nenhuma certeza se afigura com total % de verosimilhança, mas que contribuiu para sub valorização que os partidos têm, não me restam dúvidas. Foi esta uma das questões tratadas recentemente, nas aulas de fundamentais, lembram-se?

A apropriação das palavras "eles comem tudo" também tem que se lhe diga. A edição do Púbico de hoje traz um quadro dos membros "eleitos para cargos externos". Nascimento Rodrigues aparece a laranjinha, talvez a mesma cor do seu "o ps come tudo".

O que é mister discutir é o entendimento existente e que permanecerá, como é claro, que a sociedade da meritocracia exige de cada um de nós sacrifícios, lutas, conquistas, quando, das mesmas bocas que a apregoam saem as suas distorções mais bárbaras. Não aceito ouvir um Sócrates ou uma M. F. Leite dizerem que tenho de estudar e batalhar para ser alguém um dia e no outro se arrogarem no direito de poder escolher amiguinhos para altos cargos públicos. O entendimento que o Provedor de Justiça alternará entre PS e PSD (o mesmo para situações similares) é prova de um sistema corrupto de fraca qualidade, corrupto, atrofiado é à deriva, no qual o amigalhaço triunfa. O mérito qualidade do fraco, esquecido e, quando crítico, oprimido ou, não rara qualificação, do sonhador.

Com vorazes apetites como estes, foge foge bandido.

A última palavra merece-a o prof Jorge Miranda que, sem culpa, se viu envolvido em querelas partidárias de gentalha sem valor ( a carneirada de que o Pedro tanto gosta).

A fraca atenção no tratamento das matérias são reveladoras de uma autor estafado após 5 horas de estudo de história do direito e desgostoso por a sua equipa sofrer neste preciso momento um golo. O mesmo reconhece que a matéria exige sanidade mental, pelo que a voltará a abordar adequadamente.

Abraço.

Ofício Pago a Jorna, Os Jornaleiros

A excelência do jornalismo, na excelência de conteúdos que é a Sic Notícias”. Assim se despede Mário Crespo dos telespectadores, todas as semanas, no programa 60 Minutos – nada a apontar. No entanto, hoje, a Sic, seguida pela Sic Notícias, emitiu um noticiário de péssima qualidade, desrespeitando a inteligência dos pobres diabos que se deram ao trabalho de o assistir. Quarenta minutos dedicados à final da Taça da Liga (Benfica – Sporting), dez minutos de intervalo, e cinco de peças compactadas e desnecessárias.
E isto no dia em que se discute a possibilidade de Jorge Miranda substituir o actual Provedor de Justiça; Hugo Chávez deitou por terra um negócio de dois mil milhões de euros com Portugal; o Papa Bento XVI proferiu um discurso digno de nota, etc.
O jornalismo português há muito se acomodou a uma mediania que lhe lassa os membros. Apesar disso, ainda se agiganta, guloso por honrarias que não merece.

Liberdade de Imprensa ou Ode ao Mau Gosto


Longa Manus Comunista

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Mundo sem Fronteiras - Um Problema de Nacionalidade ou Cidadania?


Se há tema que une duas doutrinas opostas como o Liberalismo e o Socialismo Democrático (pelo menos o que é defendido pelo Bloco de Esquerda) é o tema das fronteiras e da livre circulação de pessoas.

Há, no entanto, que afirmar que as recentes políticas de abertura aos cidadãos não têm ido totalmente ao encontro das teorias correntes liberais.

Os sectores de Esquerda consideram os imigrantes um assunto de Estado, um problema a ter em conta, uma camada populacional que se deve proteger. A visão Liberal trará a discussão deste assunto para uma perspectiva privatística.

Assim, sabemos que o Estado Social/Providência é um dos maiores atractivos de imigração nos países ocidentais. O investimento estatal, criando situações artificiais de bem-estar, criam também a ilusão de um permanente estado de graça, que funciona como isco para as populações que se deslocam para países diferentes. Essas populações, reagindo à queda do Estado Social, marginalizam-se. As populações autóctenes, reagindo à queda do seu Estado Social, xenofobizam-se. Atribuem-se os males do país à presença indesejada de estrangeiros à procura de trabalho. O Estado, bem intencionado e apostado em manter o seu carácter providencial, exerce uma pressão coerciva para com os seus próprios cidadãos, legislando activamente contra a discriminação e contra certos direitos de propriedade, afectando as bases da sociedade e criando situações de desigualdade e prejuízo, que advém sempre deste tipo de acções. Toma-se aqui por príncipio que é impossível, através de um acto legislativo virado para situações quase-concretas, não criar situações injustas.

Assim, a política da Esquerda adepta das Fronteiras Livres é uma política Estatal, assente no controle governamental do Estado sobre os cidadãos, através de medidas de redistribuição e coerção.

De um prisma diferente partirá a visão liberal. Numa verdadeira democracia liberal, o magneto atractor de Imigração não será o Estado Providência, mas sim a situação económica real do país receptor, a qualidade dos salários e trabalho, a liberdade aí usufruída e a existência de um Estado de Direito que garanta ao indivíduo uma forte protecção dos seus direitos à vida, à propriedade, à livre expressão e à livre iniciativa.

A descentralização, que é um movimento cada vez mais corrente na Europa, permitirá a poderes cada vez mais localizados ter mais opção de escolha em relação à sua disponibilidade de fronteiras. Assim, a reacção natural das sociedades regulará, "invisivelmente", a distribuição da Imigração, sem exercer controlo coercivo sobre nativos e imigrantes.

Assim, a oferta de trabalho deixará de aparecer pervertida por políticas nacionais e passará a ser tratada ao nível local, facilitando a circulação de pessoas, diminuindo as situações em que se frustram as esperanças dos emigrados, criando situações em que as populações não têm de sustentar socialmente outras populações marginalizadas.


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quarta-feira, 18 de março de 2009

A Teoria do 8

Leio hoje no artigo de Rui Tavares que Portugal tem graves problemas de desigualdade. Os 20% mais ricos são 8 vezes mais ricos que os 20% mais pobres. Isto não é surpreendente. Reparem:
1. Oito vezes é a relação aproximada entre uma reforma de um trabalhador de topo da administração pública e o trabalhador médio do sector privado.
2. Oito vezes é a relação aproximada entre o rendimento de Lisboa, onde se centra a administração pública, e o rendimento no vale do Ave onde se centra parte da indústria exportadora.
3. Oito vezes é a relação aproximada entre o custo de uma obra pública em Lisboa e o custo de uma obra pública no Porto.
4. Oito vezes é a relação aproximada entre os salários de topo da administração pública e o salário de um licenciado em início de carreira.
5. Oito vezes é a relação aproximada entre o rendimento dos assistentes sociais e o rendimento das pessoas que eles supostamente ajudam.
6. Oito vezes é a relação aproximada entre o rendimento do eleitor típico do BE e o rendimento do eleitor típico do PSD no Vale do Cávado, Vale do Ave e Vale do Sousa.
Como explicar a ubiquidade desta relação de oito sabendo-se que o Estado Social consome 50% do rendimento nacional? Creio que a resposta é evidente:o Estado Social consome 50% do rendimento nacional.

O Aluno da Última Fila

Manuel Alegre, quase-herói de Abril, encafuado na Argélia, num exílio dandy, a pedir notícias ao vento:

Trova ao vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

terça-feira, 17 de março de 2009

Porque Morreu Nino Vieira?

Tem corrido um pouco por toda a imprensa nacional e internacional sérias interrogações sobre a identidade dos autores do crime que vitimou o último Chefe de Estado da Guiné-Bissau e quem poderá ter conspirado tal fim, cru e impiedoso, a um homem cujas mãos estão manchadas com o derramamento de muito sangue, talvez o suficiente para remir o derrame do seu.

A pergunta que faço é, a meu ver, mais construtiva para a análise das verdadeiras causas que movem a sociedade guineense e o equilíbrio político que actualmente existe na antiga Guiné Portuguesa.

Quem quer que tenha destruído Nino Vieira, tenha-o feito para vingar a morte do General Twagmé ou para evitar o crescimento do poder político de Nino Vieira às custas da morte deste, vai certamente sair impune. O Ministério Público da Guiné enfrenta enormes entraves à investigação, e mesmo que se chegue a algum resultado, há ainda a obstinação do Exército em proteger os seus oficiais. Não há também interessados, entre os partidos políticos, num desfecho judiciário exemplar deste caso. Porquê?, pergunta o leitor.

É aqui que voltamos há pergunta, e consequentemente achamos a resposta. Nino Vieira morreu devido a um sentido de Justiça, tão tribal quanto próprio da impetuosidade de África. Nino Vieira morreu porque, ao contrário do que se pensa, a sociedade não é um organismo homogéneo, mas é orgânica na maneira como actua. Partamos do ponto de vista da espontaneidade de que esta última possui, como vemos em Hayek, ou da simples soma das reacções das forças sociais em causa, a sociedade é também capaz de purgar e expulsar os elementos nocivos. Tal como o casal Ceausescu, do qual o senhor Ceausescu era o ditador da Roménia, foi assassinado sem cerimónias num golpe de estado, Nino Vieira morreu por um sentido de Justiça. Parte de uma geração de políticos que nunca reagiu bem em relação à confirmação popular do seu direito ao poder, Nino Vieira recebeu o Poder, tal como outros membros do PAIGC, da forma mais injusta possível.

Um grupo de descolonizadores, sem a competência reconhecida pelo seu povo enquanto representantes da nação, tratou de iniciar um processo de independência com líderes e membros de partidos marxistas, homens da selva, bárbaros assassinos, senhores da guerra. E é isso que as antigas colónias portuguesas têm tido. No entanto, a sociedade tem conseguido, lentamente, substituir essas gerações de guerrilheiros. A Guiné-Bissau eliminou, há dias, um desses senhores da guerra. Um dos homens com quem Mário Soares negociou a entrega de todo um povo. E o povo da Guiné, felizmente, deu um passo em frente para a paz. 30 anos depois da negociata.

se fosse uma presidenta, gostavas mais dela

mas se ela fosse presidenta, não dava para gostar tanto dela.

totalmente de acordo. Os encantos de uma rainha, os encantos de uma monarquia.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Emendando a Mão

Agora sim, a Bella Ciao com alma partigiana:

explica-me como se eu tivesse 13 anos...

explica-me o que é ser Conservador...

domingo, 15 de março de 2009

vandalismo de Estado

salvem o Museu dos Coches- assinem a petição:

Infusões Vocacionais

Um povo menino, um povo criança tal Cesariny o descrevia: o povo português. Um retrato sociológico do Portugal que temos afigura-se tarefa extenuante, um mero apanhado, uma aproximação já é quanto baste.
O país está transformado num enorme lodaçal de inaptos. Centrando a atenção nas novas gerações algo grotesco nos salta à vista. Canalha, canalha sem objectivos, apática, embotada numa monotonia viciosa.
Agora é outra coisa, noventa canais e Wikipédia para suprir qualquer dúvida, sites de apontamentos e trabalhos nota vinte prontos a imprimir. Agora é outra coisa, crianças com computadores no Ensino Básico e calculadoras que os impedem de desenvolver o raciocínio lógico e aritmético. Agora é que é bom, um Plano Nacional de Leitura que colhe frutos, com obras apelativas para os meninos: injecções de Sophia de Mello Breyner para os mais petizes; Luís de Camões dos quinze aos dezoito anos. Sim, continuemos, a média nacional de Matemática A ronda dos treze valores. Incrível, um povo menino e genial!
O ensino português falha rotundamente: péssimos programas; horários sobrecarregados; discrepâncias qualitativas entre os professores. Todavia, a principal razão do insucesso do nosso ensino prende-se com a falta de exigência. As matérias são cada vez mais sintetizadas, prensadas mecanicamente pelas novas pedagogias, as verdades insofismáveis que os psicólogos apregoam a cinquenta euros a consulta.
Os estudantes portugueses terminam o Ensino Secundário sem saber falar inglês ou francês; os conhecimentos de história são uma miséria (assim como o programa da disciplina); não se conseguem expressar correctamente na língua materna; e claro, não sabem efectuar os mais simples cálculos. E como se este descalabro não fosse suficiente, ainda se pondera acabar com as reprovações no Ensino Básico, e com disciplinas importantíssimas para a formação pessoal como filosofia.
Em Portugal não se lê. Basta entrar numa qualquer livraria e ver o catálogo de obras disponíveis. Não, aqui não se lê, passa-se os olhos por umas coisas com capa e contracapa de cores quentes, de título apelativo, como por exemplo “A décima sinfonia que Beethoven compôs para a franco-maçonaria norte-americana enquanto desenterrava a arca da aliança”.
Os estudantes saem das escolas a conhecer e a detestar meia dúzia de autores portugueses, literatura estrangeira é que nem vê-la. Nos Estados Unidos estuda-se Shakespeare, Truman Capote, Edgar Allan Poe, Walt Whitman, Dostoiévski, Tolstoi, Albert Camus, etc. Justifica-se plenamente a criação de uma disciplina de literatura que substituísse inutilidades como Área de Projecto e Estudo Acompanhado.
Há muito se perdeu a capacidade crítica das novas gerações, reprimida por professores mal formados que não toleram criatividade, e umas quantas doses de uniformização intelectual. E os estudantes até estudam mais, os desgraçados querem todos ser médicos - há umas escolas que os ajudam e uns medicamentos óptimos para a concentração. Sim, estudam mais, memorizam a matéria tal uma lengalenga - depois esquecem tudo. O Ensino Superior é outra chaga, mas esse sobra para uma próxima vez.
Que fique, então, bem presente, está cumprido o sonho de André Breton: um país de iletrados!

Goldberg Variations

Para Miguel de Unamuno, Bach deve ser comparado a Santo Agostinho e a São Tomás de Aquino, enquanto doutrinador do catolicismo:

"Que Almada Negreiros não é um génio — manifesta-se em não se manifestar"


O iconoclasta Almada Negreiros assim escrevia no primeiro número da revista Orpheu:

A Taça de Chá

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas. E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com elle a advinharem-lhe o fim. Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas. E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.

Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:--Chorar não é remedio; só te peço que não me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardíns a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.

Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.

A estampa do pires é igual.

Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'

sábado, 14 de março de 2009

a prole

as fragas nos montes, ao pé da minha casa,
escondem, segundo as lendas dos povos da baixa serra
as sepulturas de reis antigos,
que percorreram a terra quando esta era jovem.

estes reis de granito e erva
mais não são que os atlantes perdidos,
filhos do Prometeu Dador do Fogo
raça amada pelos deuses, educadores dos Homens

navegaram eles os domínios de Poseídon
e combateram ao lado dos Olímpios
a fantástica Guerra dos Titãs
onde a Mãe Gaia viu os seus filhos despedaçarem-se

cansada a Raça Grande,
extenuado o úbere espírito navegador,
entregaram-se ao Oceano,
deixando sós os seus soberanos em repouso.

destes túmulos de pedra, de uma sabedoria perdida
nos dias dos primeiros reis da Terra,
está conservada a energia antiga dos Dias Primevos.
em que os Deuses falavam com os Homens de igual para igual.

nisto acreditava Torga, O Adormecido
e viu Pessoa, O Mensageiro,
pressagiou-o Bandarra, O Que Não Existiu, filho do Existente Vieira
quando expirou o sonho de Um Império de Consciência.

Post Scriptum:
Feliz o doce sacrifício do povo alvo e ardente
poupado ao esforço deste poeta agoniante.
Antes desaparecer de vontade, a ser forçado residente
da mesquinha prole de extinta raça Gigante.

sexta-feira, 13 de março de 2009

a gritaria do século

"Mal chegou à estrada, deparou logo com os ruídos e a gritaria do século. Um bando de rústicos excitados corria com baldes e forquilhas: era uma grande quinta isolada que ardia, incendiada por um desses anabaptistas que pululavam por ai e confundiam o ódio aos ricos e poderosos com uma forma muito especial de amar a Deus. Zenão sentia uma desdenhosa comiseração por esses visionários que saltavam de uma barca apodrecida para outra que mete água, e de uma aberração secular para uma nova mania: mas o nojo que a grosseira opulência que o rodeava lhe metia colocava-o, mau grado seu, do lado dos pobres. Um pouco mais adiante, sucedeu-lhe cruzar-se com um tecelão que, tendo sido despedido, tomara o alforge de mendigo para procurar subsistência algures e sentiu inveja daquele pediante, por viver menos subjugado do que ele."

A obra ao negro, Marguerite Yourcenar

quarta-feira, 11 de março de 2009

Liberdade Económica e as Verdades Universais do Café Odisseia

Lamento muito perturbar alguma assistência, mas não podia deixar de salientar isto:

Portugal scores less well in government size, fiscal freedom, and labor freedom. Total government spending remains high, despite efforts at fiscal consolidation that have reduced chronic budget imbalances. Reforms in public administration that are intended to reduce the budget deficit are ongoing. The labor market is restrictive, discouraging employment growth.

só para bater na tecla mais um bocadinho, ainda há quem não tenha percebido...

Via Novo Século

PS: Já agora, portugueses e portuguesas, parabéns pelo honroso 53º lugar no indíce de liberdade económico. A ver se para o ano conseguimos ultrapassar a Jamaica, de vez.

DIE WELLE

Caros odisseus, trago-vos hoje a história do filme alemão, realizado por Dennis Gansel e que esteve nos cinemas do Arrábida em 2008 mas que, ficou um pouco na sombra dos gigantes de Hollywood. Faça-se justiça:
Tudo se passa num liceu alemão, numa turma igual a tantas outras.
Identifiquei-me profundamente com aqueles jovens, com anseios e fragilidades tão próximas das minhas. Queixavam-se do facto da nossa geração, filha de uma democracia já instituída, beneficiar de tudo o que este sistema tem de bom para oferecer, mas de nunca ter tido de lutar por tais privilégios. Não damos o verdadeiro valor que a democracia merece pelo simples facto de que nunca termos tido de sofrer por ela. Ouvimos falar do salazarismo, vociferamos as nossas opiniões contra os governos e contra os partidos, assinamos petições via internet, em favor dos direitos dos povos oprimidos mas, depois destes dias ofegantes de luta, voltamos para o conforto dos nossos lares. O que os alunos daquela escola se queixam é de que falta, aos jovens de hoje, uma causa comum, algo pelo qual valha a pena lutar. Mas vamos ao que interessa: No sistema educacional anglo-saxónico uma das últimas semanas de aulas é dedicada a um projecto. Os estudantes escolhem o tema que mais lhes interessa e assistem a aulas menos convencionais. É duma destas semanas que o filme trata. O tema é as autocracias. O professor é um jovem por quem a classe estudantil nutre grande simpatia. A turma insere-se nos quadros típicos de uma sala de aulas numa secundária pública: alunos de todos os estratos sociais, com ideias e posturas diferentes. Era mais o que os separava do que o que os unia.
Como não conseguiam compreender como pode o Homem submeter-se a um regime totalitário o professor propôs um tipo de aula diferente. Ele seria o líder autocrático e eles os membros daquela comunidade. Expôs-lhes brilhantemente as faces bonitas das ideias autocráticas – sozinhos somos fracos, unidos somos mais fortes – e os meios para alcançar a sociedade perfeita: - o poder pela disciplina (os alunos teriam de pedir autorização para intervir e, ao fazê-lo, teriam que se levantar, falando alto e incisivamente); e, mais importante, - a uniformidade (todos levariam uma camisa branca e calças de ganga para as aulas).
Os estudantes foram assaltados por uma onda de entusiasmo que nunca haviam sentido. Finalmente, deixavam de parte o que os separava, criando fortes laços entre os membros do projecto – ou da ONDA – como decidiram chamar-lhe. Encontraram nela uma resposta aos problemas das suas vidas pessoais, uma causa comum, uma nova força que abraçaram com enorme excitação, típica dos seus espíritos jovens. A turma estava mais unida que nunca. Mas é aqui que a face negra das ditaduras se revela. Na busca desta sociedade perfeita o Homem tem de ser Um só, caminhando decidido e falando em Uníssono. Nestas sociedades não é admitida a diferença. O diferente, aquele que entrava este caminho, terá de ser esmagado. Os membros da Die Welle sentiram, naqueles que não partilhavam do seu entusiasmo, uma ameaça à sua causa; um obstáculo àquela felicidade louca – obstáculo esse que, persistindo, tornaria essa felicidade demasiado fugaz. Rapidamente a onda passa para lá dos portões da escola e uma nova onda, de violência e ódio, inunda as ruas da cidade.
Die Welle é um filme jovem que, ao som dum rock musculado, transporta-nos para um mundo assustadoramente próximo do nosso: um mundo de miúdos, onde a ideologia fervilha no seu sangue e que anseiam desesperadamente por algo, algo que quebre a monotonia das suas vidas e os faça sentirem-se parte de alguma coisa. Esses jovens não são mal intencionados, mas como o seu carácter ainda não está totalmente formado, dificilmente aceitam um não.
Ah! Ia-me esquecendo de dizer: A Onda é baseada numa história trágica e real que nos alerta para os perigos dos fascismos. Estes, embora enfraquecidos por meio século de liberdade, não foram ainda derrotados. Estão antes adormecidos, prontos a despertar ao mínimo sinal de fraqueza da nossa parte.

Comunicado da Administração

O Café Odisseia contará, a partir de hoje, com um novo elemento. Francisco Cameira Matos junta-se, então, aos actuais administradores, desejoso de contribuir para o crescimento deste projecto.
A qualidade do novo administrador pode ser aferida nos textos que nos cedeu, como autor convidado (Admirável Mundo Novo e Crónicas de um Português Amargurado).

Angola ou O Bastião Democrático


Soldado angolano a abrir caminho para a democracia...




terça-feira, 10 de março de 2009

Chegou o Rei de Angola. Viva El-Rei de Angola!

Manuel Alegre é um historiador exemplar...


Já se percebe melhor o que é para ele "abrir caminho para a democracia".


Viva Angola e as suas múltiplas instituições democráticas, bem como as suas cidades opulentas de cólera, raiva e SIDA!


Falta uma coluna vertebral nesta República...

Música de Revolucão II

O Odisseia lembra a gloriosa existência dos jovens partisanos franceses


Nous Sommes les Noveaux Partisans!
Viva o Partido Comunista Francês!

Música de Revolução

O Odisseia relembra a Resistência italiana (partigianos) na II Grande Guerra.

Fica a tradução possível:

Bella Ciao

"Acordei de manhã
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
Acordei de manhã
E deparei-me com o invasor
Ó partigiano, leva-me embora
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
Ó partigiano, leva-me embora
Porque sinto a morte a chegar.
E se eu morrer como partigiano
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E se eu morrer como partigiano
Tu deves sepultar-me
E sepultar-me na montanha
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E sepultar-me na montanha
Sob a sombra de uma linda flor
E as pessoas que passarem
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
E as pessoas que passarem
Irão dizer-me: «Que flor tão linda!»
É esta a flor
Minha querida, adeus, minha querida, adeus, minha querida, adeus! Adeus! Adeus!
É esta a flor do partigiano
Que morreu pela liberdade"

domingo, 8 de março de 2009

outras coisas

Sou de outras coisas
pertenço ao tempo que há-de vir sem ser futuro
e sou amante da profunda liberdade
sou parte inteira de uma vida vagabunda
sou evadido da tristeza e da ansiedade

Sou doutras coisas
fiz o meu barco com guitarras e com folhas
e com o vento fiz a vela que me leva
sou pescador de coisas belas, de emoções
sou a maré que sempre sobe e não sossega

Sou das pessoas que me querem e que eu amo
vivo com elas por saber quanto lhes quero
a minha casa é uma ilha é uma pedra
que me entregaram num abraço tão sincero

Sou doutras coisas
sou de pensar que a grandeza está no homem
porque é o homem o mais lindo continente
tanto me faz que a terra seja longa ou curta
tranco-me aqui por ser humano e por ser gente

Sou doutras coisas
sou de entender a dor alheia que é a minha
sou de quem parte com a mágoa de quem fica
mas também sou de querer sonhar o novo dia

Fernando Tordo

Dia da Mulher? É quando o Homem quiser

Diz-me com quem andas...

"Prefiro simpatizar mil vezes com o meu bom amigo Fidel Castro e o meu bom amigo Hugo Chávez, a declarar-me, nos EUA, como o melhor aliado dos norte-americanos... Isso sim é uma vergonha para a política equatoriana!"

declarações do presidente equatoriano, Rafael Correa, referindo-se às palavra do seu opositor político, o ex-presidente Lucio Gutiérrez.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Logro Utilitarista


“A eutanásia pode parecer horrível, desumana, mas os seres humanos que já não podem cuidar de si e cuja vida é um sofrimento devem ser ajudados; esta opinião não é desumana. Nunca pensei que isto fosse contrário à ética ou à moral.”
Sedutores argumentos oferece, em cabazes natalícios gratuitos, o populismo de esquerda. E de bom grado os comem os incautos votantes. Mas os leitores do Café Odisseia são de outro quilate, pensadores reflectidos e abertos ao diálogo. Como tal, hoje trago-vos morte a rodos, para vos alegrar.
O trecho supracitado que, estou em crer, muita gente conquistou; poderia até ser slogan do Bloco de Esquerda; foi proferido por Karl Brandt, a 4 de Fevereiro de 1947, no Tribunal Internacional de Nuremberga. Brandt, Comissário para Saúde do Reich, dirigiu o processo de implementação da eutanásia na Alemanha. Na letra da lei podia ler-se que a eutanásia serviria para libertar “pela morte, as pessoas que, dentro do julgamento humano e depois de aturado exame médico, sejam declaradas incuráveis”. O resultante foi repugnante: milhares de doentes mentais e velhos assassinados.
Com este exemplo pretendo demonstrar como esta questão é movediça, permitindo, sob vestes humanistas, criar os maiores atropelos à dignidade da pessoa humana.
A Ordem dos Médicos já referiu a necessidade de um debate público sobre o tema. De facto, tudo indica que na sequência dos temas fracturantes de esquerda (aborto, casamento entre homossexuais), este seguirá o cortejo. Creio que o “debate transversal à sociedade” nada terá de sério, de ponderado e diversificado – em suma, não será honesto! Adivinha-se uma imprensa parcial e inclinada, pois é tão fácil, para a “Morte com Dignidade”. Adivinha-se uma imprensa cega a valores e a opiniões contrárias.
Vou mais longe, considero um embuste a inocente questão: concorda com a eutanásia? Uma temática com tantas cambiantes e passível de originar desvios grotescos não se pode simplificar a nível atómico, não se pode empacotar e servir ao almoço na pré-escola.
Fundamentar a eutanásia na cultura ocidental é uma tarefa complexa. Poderíamos vasculhar a antiguidade clássica, poderíamos meter o nariz na Idade do Bronze, e o mais que teríamos seriam umas quantas ideias de honra homérica, uma honra dependente de humores pouco heróicos, com tendência a resvalar para o choro medricas e desertor. Não somos samurais e aqui não há harakiri! Aliás, o nosso sangue latino rapidamente criaria anticorpos para a disciplina japonesa.
Como tal, chega a ser imbecil lutar pela eutanásia e negligenciar os cuidados paliativos. Deveríamos, isso sim, defender um forte investimento na Medicina da Dor, melhorando as condições de vida daqueles que, mesmo incapacitados, desejam viver e não aceitam que a sua vida seja quantificada por critérios de proporcionalidade. Quem poderá dizer que a vida de uma pessoa acamada vale menos do que a de uma saudável? Pelos vistos a “tábua de conversão do valor da vida” circula pelas mãos de muito boa gente.
O cúmulo é achar natural que terceiros possam pôr e dispor da vida de pessoas em coma, como aconteceu com os pais da menina italiana que, fartos de carregar o empecilho, decidiram por cobro à situação. Compreendo que a minha linguagem áspera choque os leitores, peço desculpa pela dureza dos factos que não tento toldar.
Marcel Proust, no momento da sua morte, viu uma senhora gorda vestida de negro aos pés da cama, era a Morte. A “Morte com Dignidade”, a discutir brevemente, será bem mais sedutora, de belos trajos, bem maquilhada; será um gigantesco logro.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Livro de Horas


Aqui, diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
possesso
das virtudes teologais,
que são três,

e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.

Me confesso
o dono das minhas horas
O das facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.

E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
do tal céu que Deus governa;
de ser um monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!


Miguel Torga

quarta-feira, 4 de março de 2009

Lei de D. Afonso V

A milhor das vertudes porque o mundo se sostem, rege-se hy aquello por que cada huu à o seu, e porque a cada huu he aguardada sa onra, he mantehudo no seu estado, e esta vertude he a justiça.

**

hoje, na vida real

Finalmente conheci o Luís a.k.a. Estudante de Direito, "ao vivo".

terça-feira, 3 de março de 2009

Del sentimiento trágico de la vida


Espanha contorce-se numa crise social gravíssima que, há uns meses atrás, ninguém adiantaria. Os desempregados ascendem já aos 3,3 milhões. Em Janeiro 198 838 indivíduos perderam o emprego. Para termos uma noção da gravidade do problema, vejamos a distribuição geográfica do desemprego nesse mês: as regiões mais afectadas foram Catalunha e Valência (32 525 e 31 021 desempregados); segue-se Andaluzia, a região espanhola mais pobre, que perdeu 25 578 postos de trabalho; em seguida temos Madrid, com 23 923. O sobranceiro País Basco, dos menos afectados, perdeu, ainda assim, 9456 postos.
Os dados são dramáticos, contudo, a animosidade popular, que tantas vezes se materializa em greves ainda não se fez sentir. Chovem acusações aos sindicatos: são ineficazes, coniventes, pouco socialistas.
Enfim, a inércia dos sindicatos nota-se quando eles são mais necessários. Em tempo de vacas gordas podemos ver os dirigentes sindicais acotovelarem-se para ver quem redige em tempo record imaginativas exigências; podemos admirar a arte com que distorcem o mercado e levam lentamente a empresas a situações insustentáveis (como agora se verifica).
No caso português, não é racionalmente possível negociar com um sindicato; é inútil tentar comunicar com quem se agacha numa trincheira comunista previamente insonorizada. No caso espanhol o diálogo também não é possível, os sindicatos decidiram ausentar-se por tempo indeterminado.
A bolha da construção civil explodiu; milhares de trabalhadores imigrantes ficaram subitamente encurralados num estado improdutivo; cresce a xenofobia; o Governo não tem meios para dar resposta à situação, ademais, atola-se em dívidas resultantes de péssimas escolhas políticas (subsidiar a saída dos trabalhadores estrangeiros, por exemplo); a esquerda nada resolve; a direita está exausta…
Perante o exposto não admirará ninguém que o descontentamento popular venha a adquirir laivos pouco amistosos e, nesse caso, uma grave crise institucional estará lançada.

domingo, 1 de março de 2009

Reflexões sobre Individualismo e Colectivismo – A armadilha do Colectivismo.

No contexto histórico, o colectivismo é recentíssimo. A tentativa de engenhar um Estado Perfeito, baseado na partilha institucionalizada e na distribuição dos rendimentos do Trabalho Colectivo pode ser baseado nos microcosmos dos antigos mosteiros cristãos ou das congregações religiosas asiáticas, na obra de Platão até, mas o ponto de vista para a Colectivização parte de um pressuposto técnico-científico inventado nos séculos XIX por intelectuais de inspiração positivista.
O Comunismo e o Socialismo, enquanto recriações sociais de uma realidade específica, não são mais do que produtos de laboratório, com uma base já “a priori” afastada da realidade e das necessidades dos indivíduos. Talvez por isso, por não passarem de raciocínios imaginativos complicados, tenham tanto sucesso entre as elites intelectuais do nosso país.
O pressuposto base para estas teorias é o Colectivismo, o mesmo que inspirou Platão, Marx e Engels.
O Colectivismo é redutor em relação ao Fim da acção do Homem. Para os colectivistas, é a colectividade e o Bem Comum o Fim último da existência humana. É depreendida de início (a priori, mais uma vez, o Colectivismo é basicamente primário em todas as suas premissas) a colaboração laboral do Homem para o Estado. É próprio do raciocínio colectivista a repugna por pessoas colectivas cujo fim não seja o bem comum, e antes a prossecução de actividades ditas “egoístas”. E não lhes deve ser criticada tal assumpção. De facto, a partir do momento em que se encara a sociedade como um elemento orgânico dotado de personalidade e interesses próprios, quando se personifica o Colectivo com o objectivo de o dotar de uma vontade homogénea, é natural negar a individualidade e a iniciativa singular.
Não obstante, sintomas de Colectivismo também são palpáveis nas democracias liberais ocidentais, reflexos destas teorias totalitárias. Os métodos usados pelo colectivismo apelam aos sentidos básicos da racionalidade humana, direi até da irracionalidade humana, centrando-se nos instintos vulgares do Homem, os mais atractivos para aqueles cujo espírito é menos cultivado.
Usa o Colectivismo o apelo a instintos como o sexual ou o divinatório. Frisa-se o total apoio à destruição de normas morais da sociedade e preconiza-se a satisfação rápida dos sentidos. Estas normas, alvos tão fáceis, cedem de forma absurdamente fácil perante exigências de indivíduos que, alegando o respeito por escolhas individuais, ajudam os colectivistas da dinamitação das suas liberdades e da sua capacidade de resposta. Este apelo ao instinto sexual prende-se a um sentido freudiano, não à liberdade sexual, que é algo positivo, claro. No entanto, é parte da política hábil dos partidos de extrema-esquerda relativizar o sexo, e diminuir ao primitivismo animalesco o papel do Homem e da Mulher na relação sexual. Este mal, no entanto, é causado pelo esforço da colectividade tanto nos países individualistas como nos colectivistas, por razões diferentes.
Cria também o colectivismo forças divinas, “queridos líderes” e dota-os de centros de poder centralizados que tornam a actuação dos governantes um factor decisivo para a estabilidade dos cidadãos. O martírio de antigos revolucionários é também uma arma inteligente dos colectivistas, criando nas massas uma confusão de emoção e simpatia que contrariam as situações históricas nas quais esses líderes martirizados se encontraram nos seus tempos (caso de Símon Bolívar e Che Guevara).
A transmissão de propaganda também é comum nestes sistemas. A falsa ideia da razão da maioria, tão cara aos socialistas, não passa de uma engenhosa artimanha que deita por terra a acção dos liberais do século XVIII e XIX na criação de “um trono rodeado de instituições republicanas”. A separação de poderes, tão cara ao Estado de Direito, bem como o esforço dos antigos constitucionalistas em criar um sistema de pesos e freios eficaz, foi abandonada nas Constituições Sociais do século XX, especialmente na Constituição da IIIº República Portuguesa, de 1976. Podemos, numa generalização algo perigosa, ligar todos os males passados neste século passado à ideia transmitida pelos colectivistas de que é a vontade comum que governa.
Estabelece também o colectivismo a unidade do indivíduo como lema principal. Falham totalmente neste ponto os socialistas, comunistas, e outros que tais. A Unidade centra-se na integração na totalidade da existência, usando como ponto de partida e mantendo como característica principal a ontologia de cada Homem, a sua profunda individualidade. O que o colectivismo consegue é a Uniformidade, ou seja, centra-se na supressão das características individuais.
Os meios do colectivismo para prosseguir estes fins são a destruição do sistema, pelo menos na medida em que o pode reconstruir à sua imagem e figura. Para isso usa a inveja social, o confronto egoístico entre classes e fomenta o ódio corporativista, tornando a nação não na manta de retalhos individuais preconizada pelos liberais, mas na manta de retalhos colectivos que se guerreiam entre si e partilham sentimentos de ódio, com a particularidade de terem os meios e a força tribal capaz de provocar graves revezes na estabilidade frágil em que se encontram todas as sociedades baseadas no indivíduo, enquanto ser necessitado de liberdade para a prossecução da felicidade, e na acção desses mesmos indivíduos, enquanto manifestação consciente do comportamento do Homem.


"O que sempre fez do Estado um verdadeiro Inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso."
F. Hoelderlin

LibreMente

É o nome do blogo da semana. É um sítio ligado ao Instituto Cato, da Universidade de Chicago, que é especialista em analisar os problemas da América do Sul (problemas esses sempre analisados com especial cuidado no Café Odisseia) de uma perspectiva livre e liberal.
O pormenor e o cuidado com que a situação política nesta região instável fustigada por intervencionismos internacionais e socialismos regionais é retratada talvez possam elucidar muitos dos nossos autores para uma leitura dos factos por nós mesmos preconizada, leitura essa que se desenvolve nas premissas da Liberdade Individual, do Governo Limitado, dos Mercados Livres e da Paz.
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