terça-feira, 30 de setembro de 2008

gostava de tomar um café com estes cavalheiros


Salvador Dalí e Man Ray

une société non utopique, moins "parfaite" et plus libre

Les utopies apparaissent comme bien plus réalisables qu'on ne le croyat autrefois. Et nous nous trouvons actuellement devant une question bien autrement angoissante: "Comment éviter leur réalisation définitive?..." Les utopies sont réalisables. La vie marche vers les utopies. Et peut-être un siécle nouveau commence-t-il, un siécle oú les intellectuels et la classe cultivée rêveront aux moyens d'éviter les utopies et de retourner à une société non utopique, moins "parfaite" et plus libre.
Nicolas Berdiaeff

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

um gajo dorme a tarde toda e fazem-lhe uma destas

CONGRESSO NORTE-AMERICANO CHUMBA PLANO PAULSON

e está o Vitorino na RTP1 a tratar de espalhar o pânico pelo rebanho. Depois do resto da sesta eu exlico-lhe o que é uma renegociação...

domingo, 28 de setembro de 2008

a casa da lavoura

Hoje fui almoçar a uma casa de lavoura. Para quem não sabe, uma casa de lavoura é muito diferente de uma casa de campo. Para começar, as pessoas ricas não têm casas de lavoura. Têm casas de campo. Os lavradores, os que vivem do campo, têm casas de lavoura.
A casa de lavoura onde eu fui hoje estava muito desarrumada, estava semeada de tralha por cada canto. Vivem lá dois tios meus muito antigos. Prefiro dizer antigo a dizer velho, porque velho, hoje em dia, quer dizer gasto, e eu não considero as pessoas sujeitas ao gasto.
Ao contrário de uma casa de campo, a casa de lavoura não está hermeticamente limpa. A casa de campo é feita para agradar a nós, pessoas da cidade, que lemos blogs e comemos sushi em estabelecimentos aprovados pela ASAE. A casa de lavoura tem cães grandes e maus, tem gatos grandes e matreiros. A casa de campo tem "labradores" dóceis e hormonalmente disfuncionais, e gatos pequeninos. É que uma casa de lavoura serve para dar dinheiro da lavoura. E a lavoura protege-se. No campo, o que não falta é campo.
Continuando o relato do meu dia, na casa de lavoura comi um assado de coelho como não se verá nos próximos tempos. Cozinhar como a minha tia E. não é para qualquer um. E um coelho assado não é trabalho para as mãos fragéis de um chef. É preciso cozinhar com amor e bruteza. E depois apreciar um resultado que, o que não tem de divinal, tem de belamente humano.
O meu tio C., que está muito velho, ainda vai atirando uns piropos à tia E., que não leva a bem. Não gosta que digam bem dela. Gosta de me ouvir falar, sabe que eu estudo Direito, que tenho muita razão, e dá-lhe gosto saber que está a alimentar um pelintra como eu. Porque podemos levar todos muito facilmente de engano, mas à tia E., advogados do mundo desafio-vos. Mas ouvir piropos e historinhas, não. Gosta de mim porque sabe que sou um pelintra que não mente nem bajula, e por isso fala comigo.
Sentada, depois do café, com as grossas mãos sobre a mesa, em postura de jogar cartas, põe a conversa em dia comigo. Falamos no curso. Ela interrompe-me, a mim que dizia alguma coisa superficialmente inteligente e que seria tomada no meu grupo de conhecimentos como algo mais que aceitável e interessante, e apontando para o meu tio C. diz-me:
- Aquele, aquele sim é um bom homem. Um bom homem tem sempre as contas em dia. Nos tempos da Sociedade, e ele era presidente, apesar de mal saber escrever, Manel, ele negociava com os Doutores vender um pipo de vinho por "xis" dinheiro. E passando dois dias vinham-lhe dizer , "oh senhor C., olhe que o pipo está mais caro" e ele mesmo assim recusava-se a mudar a palavra dada. Dizia ele que o dinheiro valia menos que a palavra. E dito isto, lá ia ele para a lavoura com os 50 homens da sociedade, e mesmo ganhando menos dinheiro, ele trabalhava para cumprir a palavra dada. E quando lhe vinham falar sobre faltar uma vaca, ou um boi, um cavalo, ele dizia-lhes para irem ver ao Livro, o Livro onde os Doutores registavam as coisas, e ver que estava tudo lá anotado. Um homem que faz as suas contas é um homem honesto.
O meu outro tio, o do Brasil, que é mais português que eu, diz nessa altura:
- No negócio lá no Rio, teve um cara que me enganou num negócio e voltou atrás com a palavra dada. Nunca mais eu lhe vendi nada. Agora passa a vida atrás da gente para comprar e vender, e eu nunca lhe dou bola. Perdeu um cliente, não é? Porque não soube manter a palavra.
E de facto o tio do Brasil tinha toda a razão. Remata assim a tia E.:
- Até ao final da profissão o tio C. sempre cumpriu a palavra. Sempre fez as suas contas, homem de poucas palavras, mas sempre recto. E por isso as pessoas ainda gostam dele. Porque ele nunca enganou ninguém. E se todos os Homens fossem assim, podes acreditar que hoje em dia não haveria guerras por esse Mundo fora.
Após este discurso, que eu temo ter embaraçado qualquer leitor que se preza a passar por este meu espaço público e feito para coisas do fôro público, pode-se perguntar qual a lição a tomar daqui.
Eu tive uma educação priveligiada. Andei em colégios privados, e conheci professores que não só me ensinaram a ser interessado, como deram asas à minha sempre precoce ânsia de saber. Na escola pública, onde andei os 3 anos antes de entrar no ensino superior, encontrei professores que, não só se tornaram amigos, como verdadeiros guias.
Na minha faculdade conheci e conheço homens e mulheres magníficos, todos eles fruto do estudo de uma vida inteira em procura da sabedoria. Muitos deles nem sequer são professores, são alunos como eu.
E naquele dia, uma mulher com quase 70 anos, e com menos do que a 3º classe, era capaz de lhes dar uma aula a todos, sobre coisas que eles já sabem, mas que poucos tiveram o privilégio de ouvir da forma que eu, toscamente, tentei reproduzir aqui.
E é por causa disto que eu mantenho a minha crença firme em não aceitar, para modelo de organização da sociedade dos homens, qualquer tipo de ideia utópica ou perfeccionista. Acho que, sem dúvida, a minha tia E. tem mais razão que Marx, Friedman, Freud ou Popper. De facto, se todos os homens mantivessem a sua palavra da mesma maneira que o meu tio C., não haveria guerras nem sequer fome neste mundo.
PS: Nestas terras de casas de lavoura, pouco interessa o nome que nos dão. Importa mais o nome que levámos. E esse nome não é atribuido pela família, mas antes pela casa em que nascemos e somos criados. E assim as características que a precedem são seguidas por essas pessoas, como é o caso dos Orfãos, que é uma dessas alcunhas lá da terra em que as pessoas são levadas, e que faz com que todos saibam que os Orfãos são descendentes de uma família de pessoas solitárias e soturnas na maior parte das vezes. A alcunha que o meu tio C. levava era a de Catão. Os Catão, homens bons na gíria popular, são aquilo pelo qual são chamados. Se há alguma relação com o Catão romano, esse antigo homem bom, isso não sei. Mas que as semelhanças são muitas, isso são.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Francisco Lucas Pires

A esperança, porém, é que, apesar de tudo, o conteúdo socialista, já de si indefinido, tende a auto-reprovar-se economicamente e a esbater-se politicamente cada vez mais, e que, ao mesmo tempo, a forma democrática da Constituição, essa sim objectiva, cada dia mais conta como decisivo e mais eficaz princípio constitucional. (...) Constata-se, pois, que a Constituição, enquanto projecto global da sociedade e do Estado no nosso país, se reinterpreta constantemente. Não há nada de ilícito ou de antijurídico em admitir isto! A Constituição é originariamente um contrato. Só em termos marxistas, ou em geral de poder absoluto, a poderíamos considerar um estatuto. E um contrato é um processo multilateral e dinâmico. A Constituição não é a superiora da democracia, é, sim, um meio serviçal da democracia. De outro modo estaríamos apenas perante mais uma barricada: a barricada institucional.
Manifestações de desagrado do PS e do PCP.
Só são incompreensíveis e contraproducentes neste contexto evolucionista o rigidismo e a pretensão de inalterabilidade da Constituição, por um lado, e a concepção dos órgãos de controlo da constitucionalidade como órgãos de repetição da Constituição e defesa militar do status quo, em vez de como órgãos de actualização e regulação político-constitucional.
Manifestações de desagrado do PS e do PCP.
Quanto ao rigidismo do poder de revisão, dá a ideia que a Constituinte teve ciúmes de que o poder de revisão futuro tivesse mais força conformadora do futuro do que a força conformadora que ela própria teve perante a Revolução. Quanto à concepção dos órgãos de controlo como repetidores da Constituição, dir-se-ia que este sistema de garantia valoriza mais a memória do que a inteligência ou a sensibilidade políticas! E tudo isto inspira, afinal, mais a autoridade da força do que a da competência, mais a conservação do que o progresso. Apesar de se saber que aquilo que a autoridade hoje precisa em Portugal não é de rigidez, mas dessa virtude, só aparentemente próxima, que é a concentração.No mundo de hoje, os problemas, mesmo os políticos, são sempre novos e a razão só se esclarece e perfila claramente perante os problemas. Por isso, é preciso deixar-lhe sempre, à razão, uma grande porta aberta. Cada vez mais, de resto, decidir é, em democracia, decidir com o povo e não apenas em nome do povo. A Constituição, ela própria, não é um rochedo, é também um barco, um barco maior, é certo, mas que não é insensível nem às ondas nem ao vento.Já se compreende porque é que o CDS votou contra o projecto global da Constituição.
Risos.
Deixou-se compreender também porque, apesar da modificação tácita do espírito constitucional, voltaríamos hoje a votar contra o mesmo projecto constitucional. Não foi contra a Constituição que votámos, aliás, como se tem dito, foi, sim, apenas contra um projecto de Constituição, que só depois de votado poderia ter validade e existir. Consideramos até que o nosso não foi, aliás, de algum modo referendado pela sociedade portuguesa.
Risos.
O socialismo constitucional, apesar de querer ser mais sociedade, não uniu mais a nossa sociedade, mas, pelo contrário, dividiu-a mais.A mesma sociedade pensa e procura hoje tanto mais a escola e a economia privada quanto mais se acentua a falência dos modelos de economia e de escolas públicas. O nosso não evitou, aliás, que a aprovação da Constituição de 1976 tivesse tido o estilo plebiscitário, embora agora de via reduzida, que revestira a da aprovação da Constituição de 1933. Ao votar não, o CDS foi, além disso, o intérprete de grande parte de uma sociedade, que nós, com o nosso voto, não quisemos deixar democraticamente desamparada e fora da luta pela Constituição democrática de Portugal. A função das Assembleias é, há-de ser, ecoar perante o Estado as preocupações da sociedade e não agir apenas em função da razão do Estado e do equilíbrio do Poder.Também por isto o CDS não anda com a Constituição às costas! Cumpre-a integralmente, isso sim! O direito que emana num contrato-social-democrático e livre tem para nós o valor supremo e incondicional. Mas por isso mesmo, porque é o contrato-social originário e fundamental, a Constituição tem de ser assumida em consciência por todos os portugueses neste sentido. Que para nós essa consciência é uma consciência preocupada e crítica, que procurará aliás influir activamente no sentido de uma interpretação anti-restritiva e antidogmática da Constituição.Queríamos desta maneira contribuir para desafogar o nosso horizonte colectivo, para evitar a sufocação ideologista ou o afunilamento metodológico da vida democrática portuguesa e da nossa História moderna, para possibilitar a final redefinição de um projecto político maioritário e concreto, para alargar a possibilidade de acção política e de iniciativa e enriquecimento económico nacionais. Queremos aproximar-nos mais do sentido da História num espaço político e economicamente liberto, como o europeu, e num tempo que, como o do espírito de Helsínquia, será também o do Livre-cambismo ideológico e do intercâmbio ilimitado entre todos os homens.Não podíamos, aliás, partilhar a ilusão de que um qualquer absolutismo constitucional, tão tentacular como um polvo, resolvesse, por si só, os problemas políticos e económicos fundamentais. É que, diria para terminar, também em política, a salvação não virá só pela palavra, mesmo que seja a da Constituição. A salvação só chegará pelas obras...Tenho dito.
Aplausos da CDS e protestos do PS e do PCP, bem como de alguns Deputados constituintes.
O Sr. Cunha Simões (CDS): - Marxistas complexados!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

as várias formas de se proibir

Luís Lavoura escreve no blog do Movimento Liberal Social uma referência ao comunicado do Instituto Superior Técnico, satisfeito com a atitude tomada pelo tal instituto.
Diz assim o seguinte comunicado:

"Na sequência da carta enviada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior [...] repudiando de forma veemente a prática das
praxes académicas infligidas aos estudantes que ingressam no Ensino
Superior, e dando conta da intenção de responsabilizar civil e
criminalmente, por acção e por omissão, os órgãos próprios da
instituição sempre que se demonstre a existência de práticas ofensivas
para os estudantes
, fica decidido:

1) Não reconhecer legitimidade a qualquer auto-denominada comissão de
praxe, proibindo as actividades que neste momento lhes estão associadas nos campi [...];

2) Proibir a prática de praxes académicas nos campi [...], qualquer que seja a forma como são organizadas.

Qualquer violação a esta directiva deverá ser comunicada ao Conselho
Directivo da Escola, que agirá em conformidade, não estando excluída a possibilidade de abertura de um processo disciplinar ao(s) elemento(s) prevaricadore(s)."

(os sublinhados são do Luís)

Esta decisão do Instituto, e a carta do Ministro da Educação parecem-me absurdas e castradoras. O Ensino Superior tem capacidade e o dever de possuir alguma autonomia, e apadrinhar as organizações estudantis, acolhê-las e responsabilizar-se por elas, sempre que elas o peçam ou o requeiram. Faz parte de um elo Estudantes-Administração que eu julgo não estar confinado à esfera intervencionista do Estado ou do Ministério, antes a um contrato entre os frequentadores da Academia.
Penso que os mesmos que vêm na liberdade de expressão um refúgio para criticar e discutir as Tradições Académicas deviam, igualmente, aceitar o carácter académico delas e o seu lugar entre a comunidade estudantil.
Infelizmente, dentro e fora da Academia, não faltam entre nós os que querem impor as suas opiniões sobre os outros.

sobre as críticas de Daniel Sampaio ao Ministério, hoje

texto de Helena Mota, no Torreão Sul

Hoje de manhã, à conta das causas habituais dos engarrafamentos de trânsito (chuva, segunda-feira, três meses antes do Natal...) ouvi mais rádio do que o costume em horário não habitual. Assim, calhou de escutar o comentário do psicólogo/pedagogo do regime, o Dr. Daniel Sampaio, questionado sobre a decisão de uma escola ou do Ministério (se o blog não fosse escrito a lápis, ia pesquisar e estabelecer a devida ligação, assim...) de atribuir um prémio monetário ao aluno melhor classificado. Pois o Senhor Doutor não concorda. Para além de não gostar do número (500 euros) que entende entrar no imaginário dos adolescentes com o estigma do emprego mal remunerado (sem comentários...), o senhor doutor discorda mesmo é destes prémios atribuídos assim, só pelas boas notas, sem avaliar o esforço dispendido pelos alunos e sem avaliar as condições de partida dos mesmos, isto é, se são oriundos de famílias organizadas ou disfuncionais (nem quero saber quais seriam os critérios propostos pelo senhor doutor para aferir dessa organização....), se têm livros em casa ou não, se há computador ou não, etc, etc.

O aluno de "boas famílias" (o senhor doutor acaba por confessar o preconceito subjacente a tudo isto) é presumido como não tendo feito esforço nenhum mesmo que tenha tido óptimos resultados. Mesmo que se tenha matado a estudar. Mesmo que tenha lutado contra a eventual falta de afecto parental ou a disfuncionalidade emocional da sua família organizada, onde não faltam livros, computadores e internet. Mesmo que não seja possível senão à custa de muitos erros, injustiças e preconceitos, aferir o bom rendimento escolar e premiá-lo por outro critério salvo o dos resultados positivos. E esquecendo que o objectivo destes prémios é tão somente o de dar o exemplo e criar a ambição e provocar os mais fracos - intelectualmente, emocionalmente, fisicamente- a superarem as suas dificuldades e, se calhar, serem como o bom aluno e menino rico que tanto invejam.

P.S. Noutro contexto, isto faz-me lembrar aquele episódio que se contava do saudoso Otelo S.C que em visita à Suécia disse a Olof Palm: - "Nós lá (em Portugal) também vamos acabar com os ricos"-. Ao que o sueco terá respondido: -"Mas nós cá queremos é acabar com os pobres!!!".

domingo, 21 de setembro de 2008

UN keeps it real

Já me tinha esquecido deste vídeo. Penso que representa com fidedignidade o actual estado da ONU. Os ataques perpetuamente concentrados contra Israel, enquanto os grandes tiranos de África, Ásia e América do Sul levam a sua alegremente avante.
O discurso foi, obviamente, banido, no melhor interesse da união dos povos e do discurso apaziguador, e considerado um atentado ao debate dos direitos humanos, que aparentemente só podem ser violados em certas partes do mundo, e por alguns sujeitos só.

sábado, 20 de setembro de 2008

regula-me, baby - os genéricos e o mercado português



publicado a 20 de Setembro n'O Terceiro Anónimo, adaptado para o Há Discussão e reeditado de acordo com essa adaptação



Como muitos já terão ouvido na TV, ou terão o prazer de ficar a saber pelo serviço informativo do Terceiro Anónimo, os genéricos vão baixar cerca de 33%, por deliberação governamental.
A grande ideia é diminuir os encargos com a saúde dos cidadãos e aumentar a quota de mercado dos genéricos, que levam assim um empurrãozinho jeitoso por parte dos socialistas.Esta notícia, no entanto, não está a ser acompanhada com o mesmo tipo de positivismo e contentamento pelas próprias empresas farmacêuticas que se dedicam à produção destes mesmos genéricos.
Para continuar este tema, vale a pena aprofundar um pouco a questão dos genéricos.
Quando um laboratório descobre a fórmula de um novo medicamento, detém direitos sobre essa fórmula (obtém, assim, uma patente). Os direitos do laboratório sobre esse produto duram cerca de 20 anos, nos casos mais comuns. Ou seja, mais nenhum órgão oficial ou empresa pode fabricar esse medicamento ou fornece-lo no mercado, pois a fórmula que o constitui pertence, a título de exclusividade, ao laboratório que primeiro o criou.Findo o período de patente, é a vez de a fórmula entrar no mercado, e passar a ser domínio público. Assim, começam outros laboratórios a fabricar esse mesmo produto, com as mesmas máquinas, com os mesmos métodos, com os mesmos produtos. No entanto, e vá-se lá saber bem o porquê, esses medicamentos não são reconhecidos como originais, mas antes como genéricos. Esses genéricos têm a sua situação regulada pelo Estado (em alguns países de forma mais leve, noutros mais pesada).
No caso português, até dia 1 de Outubro deste ano, os genéricos devem custar, no mínimo, 35% em relação ao custo do medicamento anterior. Agora, os 33% vão ser acrescentados a este valor.Os genéricos possuem, no nosso mercado, uma quota de pouco mais de 13% (e não 17% como se tem dito).A ideia do Governo do Partido Socialista é aumentar esta quota, para a fazer acompanhar as de outros países mais ricos e menos despesistas em relação à saúde, como o caso do Reino Unido, cujos genéricos já controlam 65% do mercado.No entanto, quais pobres e mal agradecidas, as empresas de genéricos queixam-se da nova regulamentação, e dizem que todo o desenrolar desta questão é ilegal.De facto, não podemos ser muito cruéis com as farmacêuticas, essas empresas capitalistas selvagens e comedoras de bebés.O que os Socialistas se parecem esquecer a toda a hora é do sentido de compromisso de Governo, que é um dos fundamentos da ética republicana que qualquer Executivo deve ter. É o chamado princípio da segurança.
E essa segurança foi prometida, anteriormente, pelo Governo de Sócrates que acordou com as empresas não baixar os preços e agora resolveu dar às de "daqui dEl-Rei" e frustrar todas as promessas à indústria farmacêutica, que vai ter de suportar os custos do esforço para manter a viabilidade económica, e vai fazer-lo à custa do emprego de muitos e do investimento que mantém o emprego de outros muitos. A única forma de isto não acontecer, é levarmos esta "regulamentação" um pouco mais avante, e nacionalizar as empresas de genéricos (ironia, ironia).No entanto, após a intervenção desajeitada do Estado, mais um mal se levantou daquele pântano de sanguessugas que nós temos apelidado, erroneamente, de Ministério da Saúde.
E esse mal é o Proteccionismo. O proteccionismo, arma favorita dos governos em desespero, revela-se quando o governo afirma que os valores da comparticipação de medicamentos se manterão inalterados para os medicamentos originais (ou seja, não vão acompanhar a descida dos genéricos).Ou seja, apesar do preço de referência dizer respeito ao genérico mais caro, este genérico baixou 30% mas o preço que serve de referência para o originador mantém-se, não perdendo este a comparticipação do Estado. Mais uma vez, puro proteccionismo aos medicamentos mais caros.Num país onde os genéricos lutam contra o império inegável dos grandes laboratórios, onde se procura aumentar as quotas, dá-se este fenómeno. Dificulta-se o trabalho dos laboratórios de genéricos, e protege-se os rapazolas grandes.
É o Socialismo dos Ricos.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

sou de direita...

O Socialismo não é obrigatório, por André Abrantes Amaral

"Sou de direita, mas a direita não se reduz à defesa de ‘valores’, às políticas ‘humanistas’ e à crença que a justiça social se consegue tendo o estado como árbitro.

Recordo-me de alguém ter dito que muitas pessoas que votavam no CDS eram socialistas. Ainda viam a sociedade como estando de um lado a Igreja e do outro os não crentes, com o estado no meio. Ainda hoje o socialismo cristão me choca pela forma como se encobre.

Sou de direita porque acredito na pessoa que cada um de nós é. Acredito no seu discernimento quando não massificado. Na sua capacidade de ligação com os outros, através da família a que pertence e constitui, das amizades que cultiva (e que o leva a inúmeros actos de generosidade), das relações de vizinhança que estabelece, das ligações profissionais que mantém, na confiança que deposita nos negócios que faz (apesar de os tribunais funcionarem mal, a actividade económica continua porque há confiança na palavra) e também devido à entreajuda e trabalho de voluntariado que pratica.

Acredito que é a pessoa quem cria os ‘valores’, os ‘princípios’ e que ao estado não cabe ser regulador dos comportamentos nascidos do livre entendimento humano.

Se querem falar de humanismo, nesse caso, o humanismo reduz-se a isto. Não cabe na decisão fria de um poder centralizado. Acredito na pessoa que cada um é, mas não na capacidade sobrenatural de saber da vida de todos. Ao contrário do socialismo, com ou sem fundo cristão, não acredito na omnipotência do homem.

É esta crença que me faz ser de direita. Da mesma forma, são os limites da capacidade humana que me fazem desconfiar da bondade estatal. Venha ela de onde vier.

Não consigo reduzir a conversa à luta pelo poder do estado para que decida de acordo com uma determinada tendência política. Ora é a esquerda que está no poder e o estado protege os seus princípios, ora é a direita não liberal que se arroga do estado para fazer valer os seus valores. Para mim, a política é bem mais que isto.

Vem este ‘post’, tal como o de ontem, a propósito de textos como este que classificam de teleológicas as teorias não socialistas. Na verdade, não chegam a tanto. São demasiado humanas."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

o Estado islâmico

in RightSideNews

Some Islamist apologists who remain ignorant of the threat of the Islamic state argue that the ascendancy of political Islam in the Muslim world is the better of “other evils” that could arise. Many Muslims and non-Muslims alike across the world, however, believe that it is self-evident that the ascendancy of political Islam will remain a significant security threat to the United States and to the West for decades to come as it has been so obviously so for anti-Islamist Muslims and non-Muslims alike in the Middle East.

A real debate over political Islam will only occur when we engage the ideas they present to their Arabic audience, as well. The English version of their message plays a mere peripheral cosmetic role based out of London. The Arabic version stems from deep within their soul and reflects their home base of operations. The major difference between them reflects their dissimulation and hypocrisy. Thus, true anti-Islamist activity must center on their deeply engrained ideologies which are expressed in Arabic.

In Qaradawi’s description of the Islamic state in his July 13, 2008 column on his website, he in detail describes how leaders in the Islamic state are selected “by influential people.” He tries to imply that they are democratically elected but it is clearly an oligarchy. He uses examples of the first Caliph in Islamic history and discusses concepts of “shura” as being equivalent to democracy. This is quite insulting to any Muslim living in a real democracy in the United States. Yet, he implies that shura is a consultation just among the scholars or “ulemaa” alone and makes no mention whatsoever of how such a system preserves the equality of every citizen.

Um novo perigo emerge para o Estado de Direito de estilo Europeu.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

músicas

Silence is Violence - Aime Allen

o pessoal do Ordem Livre foi desmascarado

Publicado no jornal A Nova Democracia

"Alargar os parâmetros de debate de política pública significa fazer lobby em prol da instrumentalização da administração pública para atender os objetivos das grandes empresas privadas. Governo limitado quer dizer que o Estado só deve intervir na realidade sócio-econômica para punir os trabalhadores insurgentes ou para mudar as regras do jogo capitalista, sempre a favor da burguesia. Por fim, quando se ouve ou lê um think tank falando em "paz", trata-se da espécie de "paz" que os ianques tentam levar ao Iraque, por exemplo.

O Cato Institute tem até um braço no Brasil, chamado Ordem Livre. É uma espécie de subsidiária nos trópicos comandada por jovens e engomados executivos brasileiros, formados nas escolas de gestores mais apreciadas pelos seus gurus ianques, e sempre prontos a cumprirem à risca a tarefa que enche seus bolsos de dinheiro e sua dignidade de lama: a de enraizar a cultura empresarial e os interesses do capital no seio das administrações públicas."

sublinhados meus

Ver a reacção da Ordem Livre, esse antro de fascistas ianques, aqui.

domingo, 14 de setembro de 2008

ai que bom, ai-que-bom-ai-que-bom-ai-que-bom


O Glorioso Governo do Partido Socialista veio a Chaves, cidade medieval e histórica do nosso interior, para inaugurar um progressista e revolucionário Casino.
A ideia do nosso Glorioso Primeiro-Ministro (que é injustamente apelidado de ignorante acéfalo e hipócrita rançoso pelo capitalista autor deste blogue) em assinalar com o seu importante cunho de Chefe de Executivo da República Portuguesa este investimento privado (pensámos nós) foi de não deixar passar ao lado esta oportunidade de mostrar aos portugueses (que precisam de perceber que tudo o que o Governo faz é para o bem deles e que eles vão merecendo se se portarem bem) como tem vindo a progredir o investimento neste país.
Alguns grupos de associações de reaccionários criticam esta nobre iniciativa dizendo que o Primeiro-Ministro expõe-se de forma indigna para o cargo que desempenha, principalmente os ditos liberais, que são justamente acusados pelos nossos camaradas de ter definições muito próprias de liberalismo, pois toda a gente sabe que o liberalismo é uma prática reaccionária que intende ferir os direitos atingidos pela classe trabalhadora, que agora rege este saudável país, e pretende permitir aos patrões dominar, para todo o sempre, a vida sexual dos seus empregados. Entre outras coisas.
O Casino de Chaves irá atrair a nata do turismo espanhol vindo da Galiza, e enriquecerá a cidade de forma tão exponencial que se crê que, em 2015, todos os habitantes de Chaves vão usufruir do uso de aviões Setna atribuídos pela enriquecida autarquia para circular pela estrada e pelos ares à volta de Chaves. Tal será o progresso trazido pelo Casino, que fontes estatísticas do Nosso Glorioso Partido afirmam que a cidade mudará de nome, e passar-se-à a chamar Socratópolis. Com toda a Justiça, digamos. Viva o nosso Primeiro-Ministro, Viva o Partido, viva o Socialismo! Morra o Presidente reaccionário e metam-se os criminosos fascistas no Campo Alegre!

sábado, 13 de setembro de 2008

crónicas dos Bragas - boas vindas às ideias

Sobre o que se escreveu relativamente a este assunto. Sublinho que nada do que estava planeado era intencionalmente anti-Praxe. De facto, parece haver na FDUP uma enorme apetência a aparecer coisas anti-Praxe, ou um enorme medo de coisas anti-Praxe, parece-me mais certo. De facto, numa faculdade assim, ideias novas não são bem-vindas de certeza. Penso também que se pode criar, ainda, algo novo. O Almanaque pode vir a ser de grande uso, penso que a comunidade académica interessada na comunicação directa com os alunos do primeiro ano (sendo que "directa" não implica uma posição hierárquica baseada em pressupostos relativos à Tradição) traz coisas maravilhosas ao desenvolvimento intelectual.
Seria um grande contributo, e vale a pena começar desde logo a incentivar a capacidade argumentativa dos Caloiros (que vem do grego kalogeros, ou seja, estudante de disciplinas preparatórias) de, na sua Faculdade, escolher os meios pelos quais se quer desenvolver enquanto estudante e pessoa. A interacção saudável e descomprometida com alunos mais experientes parece-me um bom caminho a seguir para estes objectivos. No final de contas, penso que se requer um pouco mais de pragmatismo, e um pouco mais de criatividade para este trabalho que aquele que é desenvolvido por qualquer outro meio preparado para o efeito presente na nossa faculdade.
Não está a lidar o leitor com um revoltado. Querer contribuir com o que se tem de valor não é somente sinal de revolta. O pessoal do Almanaque não é uma cambada de Revoltados. Por muito que os discordantes fiquem revoltados com esse facto.
Aprecio o adjectivo de desafiante. Se, de facto, alguém considera um desafio aquilo que os autores do Almanaque querem fazer, acho que é bom sinal. Eu acho que um pouco de competição não faz mal a ninguém. Situações de monopólio criam sempre sociedades viciadas e estúpidas. Penso que a nossa Faculdade agradece sempre um pouco de desafio adicionado à enorme carga competitiva que Ela já tem.

Por último, refiro-me mais uma vez (e a última) a esse factor de anti-praxofobia. Ao que parece, teme-se um grupo de "forças vivas" puramente anti-Tradição. De facto, é verdade que eu penso que a Tradição consegue ser indescritívelmente idiota. E porquê? É muito fácil. A Tradição é a mistura do elemento oral, escrito, e sobretudo, simbólico (não serão as palavras puros símbolos?) Assim, os Símbolos representam uma valente parte de qualquer definição da Tradição.
Esta Tradição, no entanto, não deve ser a personificação de uma "mente simbólica". Os símbolos não servem para ser seguidos cegamente. São guias de aprendizagem, são elementos instrutivos de um significado interior. A Tradição mantém-se através do significado que é interiormente dado pelos Símbolos. Deste modo, qualquer fobia para que o fim de uma Tradição aconteça é, regra geral, insustentável e desnecessário, visto que o fim do seu uso implica ou o fim da Tradição ou a manutenção idiota da mesma.
Se os ingleses respeitam a sua Casa do Parlamento, é porque lhe atribuem o significado que ela tem para eles, como a democracia, a liberdade, a história dos ingleses enquanto povo. Na mesma página pode se considerar outra qualquer Tradição, como a Praxe. Enquanto alguém lhe vir significado, e se servir dos seus valores e símbolos como guias e não apenas elementos físicos, não há que ter medo. A não ser que alguém largue bomba-atómica no Jardim da Cordoaria, no dia da Serenata.
Pela mesma razão, não se deve temer o fim efectivo das Tradições. Assim que os Símbolos perdem o seu significado, o que acham que lhes deve acontecer? E às tradições respectivas?
Mais uma vez, peço para procurarem as respostas nos ingleses. Eis o que eles fariam caso o Parlamento deixasse de ser um local de democracia e liberdade, e passasse a ser só uma fachada simbólica:

a terra prometida

texto de Jacob, editado no Há Discussão

Abafado, momentaneamente, este assunto delicado da ordem do dia israelita devido a uma recente vaga de infanticídios, Olmert pode recobrar o fôlego, nem que seja a custa de criancinhas afogadas pelos pais. Todavia, o actual primeiro-ministro há muito perdeu a serenidade à medida que as suas declarações caíam em saco-roto e os holofotes se voltavam para a sua ministra dos negócios estrangeiros, Tzipi Livni. Perante uma judia loira, de olhos azuis, e apoiada interna e externamente, Olmert bem tem de se conformar.
Veremos, então, se Tzipi Livni alcançara o poder, se tem coragem política para revitalizar Israel, coragem essa que será necessária se pretender atenuar a componente bélica da Terra Prometida; também se poderá dar o caso de não passar de mais uma burocrata, uma oportunista empenhada em enriquecer (a título de exemplo Ehud Barak, Benjamin Netanyahu e Olmert).

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

esgotaram-se as palavras


Para falar de um dia que mudou, para sempre, o seu século. E talvez, toda a história da Humanidade.
Restam as imagens, e todas as opiniões que podemos tirar das causas e consequências dos trágicos acontecimentos desse dia.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

quem sabe...

texto de Francisco Proença de Carvalho no Blogue Atlântico

A alternativa do PSD

“(A prioridade do PSD no plano económico) é reduzir a fiscalidade ligada à criação de emprego.” Manuela Ferreira Leite no discurso da Universidade de Verão.

Generalizou-se a opinião de que entre PS e PSD não há diferenças. A vox populi até diz que é tudo a mesma m….
Não tem que ser! Muito menos o PSD se pode convencer disso ou conformar-se com essa ideia.
É um facto! Há questões em que não têm que existir divergências entre os dois únicos partidos com capacidade e ambição de governar, como por exemplo, a segurança e a política externa. Mas há outras em que é fundamental que o PSD crie e explore essas diferenças. Só assim terá condições de ambicionar uma vitória eleitoral já no próximo ano.
Não obstante a coragem e espírito reformista do seu líder, o PS continua a ser um partido marcadamente estatizado (provavelmente para lamento de José Sócrates). As suas reformas estão quase sempre envoltas no intervencionismo do Estado. É assim na Saúde, na Educação e, em larga medida, na própria Economia. Ora, a única hipótese do PSD ser uma alternativa, é arriscar, é mostrar que as reformas podem ser feitas numa perspectiva diferente. O PSD de Ferreira Leite é o único partido com meios e capacidade para explicar aos Portugueses que políticas verdadeiramente liberais libertam o Estado para funções sociais, tão necessárias em momentos de crise. Infelizmente, o CDS não existe. Sobrevive entre tendências liberais e tendências democratas cristãs (o que quer que isso signifique) e está amarrado a um líder com mérito, mas que, por seu lado, também vive amarrado ao seu próprio passado.
Muitos perguntam (com razão): Face ao seu historial político, terá Manuela Ferreira Leite condições para protagonizar uma mudança liberal? Não seriam Passos Coelho e até Menezes mais liberais?
Talvez! No entanto, é preciso entender a Ministra Ferreira Leite à luz das circunstâncias em que exerceu a governação. O que fez e pensou no passado, não tem forçosamente que se repetir no presente. Neste momento, tem, pelo menos, uma grande vantagem em relação aos outros líderes: credibilidade. Ainda merece crédito e confiança dos Portugueses. Deveria aproveitar esses factores para marcar a diferença em relação ao PS. E essa diferença só pode ser liberal.
Haja esperança e coragem…

domingo, 7 de setembro de 2008

Sarah Palin - uma definição definitiva

Texto de Priscilla Santos
Imagem de Henrique Monteiro

Nascida em Idaho, Sarah Palin (/ˈpeɪlɪn/), 44 anos, é mãe, esposa atenciosa, técnica do time de basquete local e republicana não-alinhada. Sua indicação à vice presidência está para, entre outras praticidades, afastar a imagem de J. MacCain da do impopular governo Bush, figurando como elemento surpresa - e polêmico - capaz de dar novos ares a campanha do partido, que andava parecendo a programação do Bloomberg quando posta ao lado das aparições mtv-messiânicas de Barack Obama. Assim, sedutoramente tem lançando lânguidos olhares aos eleitores democratas, rancorosos com a derrota da senadora Clinton e sobre os indecisos a respeito do candidato democrata, tudo ao mesmo tempo que acena com propostas reformistas. Para tudo isso, usa sua principal arma: a posse de uma vagina. Surgem aí requentados os discursos feministas que iam meio apagados desde a separação das Spice Girls.

Não abandona a essência, de todo modo. Palin é conservadora até os ossos; procura se dizer uma cidadã comum, dona de casa comum, que adora sapatos de grandes estilistas comuns e que trabalha fora, como uma governadora comum. Por causa disso nos conta que conheceu o marido Todd na escola secundária (ele, campeão de corridas com carros de neve e operador de produção na anglo-persa BP Oil) e que tiveram cinco filhos. Patrioticamente, informa que o mais velho desde o ano passado serve ao exército americano no Iraque e, cristãmente, que o mais novo é um bebê com síndrome de down. Conclama assim suas três principais convicções numa estocada só: a família, a ocupação americana e sua posição anti-aborto. Sim, tudo oportunismo político, mas usa-se e resulta.

Vejam que os jornais anunciaram esta semana a gravidez de sua filha Bristol, de 17 anos, um bebê já com cinco meses: lá estava a família perfeita maculada... Um escândalo. Mas, como não existe marketing ruim, Sarah Palin foi a imprensa mais uma vez defender a vida doméstica norte-americana e angarriar novas simpatias; a filha nunca faria um aborto, os pais a apóiam de modo incondicional e a moça se casará com o pai da criança imediatamente. Ruim mesmo é só processo administrativo que corre contra ela por ter demitido o cunhado de um cargo público após este ter se divorciado de sua irmã.
É uma família animada e dela tem se feito um bom e velho uso pop típico dos republicanos, topam tudo por poder e disso não têm o menor pudor. A escolha de Palin têm surtido efeitos favoráveis não-imaginados, como se pôde ver no discurso de quarta-feira na Convenção Republicana, um recorde de audiência, mais assistido que a abertura das Olimpíadas de Pequin. Todavia os rivais prosseguem dando ênfase no que é inegável na beldade que é a sua inexperiência política. Corre à boca pequena que, se ela não conseguiu controlar a própria filha, como controlaria um país? E o que haveria de conservador em ser a mãe da Juno? Sarah Palin rebate: a diferença dela como mãe e um pit-bull é somente o batom. Por tudo isso e mais uns bocados é que, até novembro, os olhos, lentes, microfones e links do YouTube estarão atentos aos passos de MacCain-Palin para descobrir o desfecho dessa corrida à Casa Branca. Duo improvável, mas os republicano não são ingênuos e sabem que mesmo os amigos podem se converter em devoradores. Não se devem esquecer as situações extremas. Nem prever até quando as boas intenções e otimismos de Obama conterão a cultura do medo que se instaurou entre os norte-americanos desde aquele setembro.

no obvious

pede-se uma discussão vagarosa, pausada, e ampla

Aparentemente abri a caixa de Pandora dos textos sobre as presidenciais americanas.
No Sociedade de Debates, Pedro Ary escreve que "não podia discordar mais veemente" das coisas que eu digo, em relação a Palin e a Obama, no meu texto.
A primeira discordância, penso eu, reverte para as causas da aposta em Palin. A segunda, para o carácter da vice-presidência.
O discurso do Ary para criticar Palin é, como se pode ver com o mínimo de cuidado, baseado em pressupostos que foram adoptados por toda a opinião Democrata.
De facto, já ouvi todo o tipo de críticas a Sarah Palin, e gostava até de juntar um role de acusações à lista dos terríveis actos desta senhora, que pelos seus actos corresponde, obviamente, a uma Jack Estripadora:
Sarah Palin acredita que o Mundo se fez em 7 dias e vai fazer com que as pessoas reconheçam isso (aparentemente, não é bem assim)
Sarah Palin tem uma filha grávida, e é conservadora.
Sarah Palin acredita em Deus.
Sarah Palin levou McCain a ver o seu serviço Vista Alegre, ao que este respondeu muito admirado, "a senhora é mais rica do que eu".
Sarah Palin, escreve o Ary, é contra os preservativos (oh Deus, gosta de quecas ao ar livre e vai obrigar TODA a gente a fazer sexo da forma que ela quer).
Sarah Palin é a favor da abstinência, e tem cinco filhos, portanto pode ser que, ou ela se refira de abstinência de sexo antes do casamento, ou seja tudo uma grande treta da propaganda Democrata.
Sarah Palin fez alguma coisa ao gajos da MoveOn.org, visto que estes fazem uma data de acusações à senhora nos emails que mandam para todos os seus membros (entre os quais estão muitas das críticas apontadas pelo Ary, inclusive a tal ponte que não dá para lado nenhum).
Penso que, se a discussão eleitoral cair no mesmo jogo sujo que republicanos e democratas fazem, com as suas acusações mesquinhas e relegadas ao foro pessoal, não haverá discussão que se conseguirá manter. No entanto, penso que os que levam o estandarte Democrata avante, se em Portugal procurassem o mesmo sucesso com o mesmo esquema, não o iriam conseguir. De facto, todas as tentativas usadas por adversários políticos em Portugal para denegrir a imagem pessoal do rival passam despercebidas pelo povo português. Uma prova disso foi as campanhas do PS para atacar Francisco de Sá Carneiro por causa do seu relacionamento com Snu Abecassis terem acabado em complet insucesso. De facto, os portugueses vão mantendo um certo bom gosto que falta já ao público americano. E depois da novela de Sarkozy e Bruni, penso que é algo que também é partilhado por franceses.
Enquanto nos pudemos manter de vista clara e sem intrusões mediáticas podemos observar a realidade tal como ela é, sem filtragens do jornalismo americano. Sarah Palin tem, sem dúvida, mais provas dadas que Obama.
Obama pode muito bem ser advogado. E parabenizo-o por isso. Mas na verdade, nunca exerceu advocacia (ele orgulhou-se disso para atacar Hillary).
Para além de Senador do Estado do Illinois e dos EUA, Obama não tem mais experiência executiva ou legislativa. De facto, isto costuma ser a grande causa da derrota dos candidatos que foram senadores. E assim, em factos concretos, adicionando o facto de Obama ter sido Professor temporário, a experiência de Obama acaba por aqui.
O que Obama fez como senador é, por isso, a sua maior cartada. O Ary fala em legislação pela Saúde e medidas para baixar impostos e combater a corrupção. De facto, Sarah Palin fez isso tudo. E tem provas feitas no Alasca, que parece estar um sitio arrumadinho. Além do mais, a mulher reduziu o próprio salário e reduziu o imposto sobre a propriedade em 60%! A própria acusação contra Palin da sua extremosa religiosidade não vei muito longe, devido às intimidades que Obama partilhou com o Pastor Richards, o pastor mais racista da América.
Por isso, já vai tarde a demonização de Palin. Já vai tarde porque os republicanos não foram anjinhos e aprenderam a mexer-se. Ao lado da sacralizada figura de Obama, está uma Palin forte, cujos pontos de vista sobre a sua inexperiência estão todos comprovados como falaciosos. O que resta é o ataque pessoal. E é o que se tem feito, agora com menos intensidade porque a Obama interessa-lhe os votos das "hockey mom's" e com o andar dos seus apoiantes, arrisca-se a perder esta importante minoria.
Já expressei o meu ponto em relação a Palin antes, e não sou um apoiante. Mas como também não tenho simpatia por Obama no presente momento, não me parece justo ficar calado quando o Páis engole todo o tipo de patranhas vindas do lado de lá. Talvez me tenha tornado insensível à procura de heróis, mas nos dias que correm todo o cuidado é pouco, e os heróis dos tempos antigos não se revelavam em meses, eram antes homens normais e mortais, que estiveram lá quando a situação o exigiu. Obama é somente um candidato endeusado por um país necessitado de símbolos, de significado para as suas instituições. Isto deve-se talvez ao facto de as posições dos republicanos se terem extremado, e com eles a política local americana, e por os democratas se terem elitizado.

PS: Palin que se aconselha votar está aqui



textos relacionados:
Sobre a Loucura que se ouve do outro lado - Manuel Marques Rezende

Ela, de facto, desancou Obama - Manuel Marques Rezende

ela, de facto, desancou o obama

Como se pode ver neste vídeo aqui em baixo:


Palin suscitou na blogosfera de Direita uma reacção em cadeia, que me parece virada para um exagerado apoio. De facto, a blogosfera liberal ou conservadora faz aquilo que os partidos de Direita não fazem, porque não se sentem constrangidos a fazer: pronunciam-se sobre coisas.
Penso que grande parte deste novo chinfrim se deve ao artigo do Telegraph que compara Palin a Margaret Tatcher e a Ronald Reagan. Penso ser tudo muito exagerado. Por muito que Palin fale no governo reduzido, na descida de impostos, no combate às forças centralizadoras de Washington, não podemos esquecer, analisando o seu partido e o seu programa, que Sarah serve uma ideologia assente no conservadorismo, com um recente historial na expansão do governo, do comprometimento em guerras não-oficialmente declaradas e intermináveis, e em violações dos direitos individuais e humanos. Por muito bem intencionada que seja a senhora, o Partido Republicano parece-me o mesmo ninho de cobras de sempre.

ver textos relacionados:
no Atlântico - por Miguel Morgado
n'O Insurgente - por Bruno Garschagen
no 31 da Armada - por Henrique Burnay
no Diário de Notícias - por João Miguel Tavares

sobre a loucura que se ouve do outro lado

O Mundo, mais até do que os EUA, está agora a acompanhar com a máxima atenção a corrida vice-presidencial americana. A escolha de Obama foi, obviamente, discreta e passou quase despercebida, o que se entende, não iam os Democratas expor-se ao perigo de ter uma pessoa carismática que fosse ofuscar um pouco que fosse a luz do prestígio de Obama.
A escolha de McCain pareceu-me uma necessidade, um novo sopro para a campanha republicana, no esforço de contrapor os pesos da balança. Não penso que tenha sido uma escolha mal-feita, não no sentido de ter sido feita apenas com valor mediático em conta. Até pelo contrário, ao que parece Palin é uma mulher eficiente que tem feito algum bem no Alasca (e não Alaska, ouve aportuguesamento da palavra). Tenho pena que a carreira de Palin esteja, a meu ver, arruinada daqui para a frente. De facto, por muito que se pense que ela está na corrida a um dos maiores postos de Poder da Humanidade, o que lhe espera no futuro, ganhe ou não, é uma vida de submissão aos valores do Partido para sobreviver, visto que esta catapulta cedida por McCain levou-a directamente para o jogo dos Big Dogs, e aqui não há os privilégios e as liberdades da "pequena política".
Mesmo assim, insiste-se em fazer um espectáculo à volta de Sarah Palin. Procura-se saber quais são as competências dela, discutem-se as competências da senhora como nunca se discutiu as de Obama (que me parecem inferiores) e já se faz da corrida McCain-Obama uma corrida Obama-Palin. O que me parece, de facto, um grande espectáculo de deplorável mesquinhez. A comunidade blogueira em Portugal tem sido pródiga nesta discussão, sendo que entre os poucos locais que se mantiveram "limpos", a meu ver, desta discussão suja, foi o Sociedade de Debates, que eu faço parte enquanto autor e muitas vezes orador.
Também não vou ser eu a borrar a pintura. A situação deve ser exposta em poucas palavras. É Palin indicada para a vice-presidência? Claro. Até porque as funções do vice-presidente, no constitucionalismo americano, não estão assim tão claramente expostas como todos têm vindo a pensar. As responsabilidades do vice estão ligadas ao Senado, que no entanto tem passado muito bem, em pelo menos 18 ocasiões, sem vice-presidente. Quer me parecer que os americanos estão a discutir a quem querem pagar vários milhares de dólares por ano para fazer algo não muito bem definido e que só terá algum tipo de utilidade caso Obama ou McCain morram.
Não tivesse a política americana evoluído para um espectáculo milionário de democracia, e Democratas e Republicanos poderiam concluir que seria mais económico e mais inteligente não incluir um vice-presidente de todo.

Também publicado na Sociedade de Debates.

sábado, 6 de setembro de 2008

modern concepts of Property



o pão e o circo não fazem mal a ninguém. quem faz mal é quem o dá

O Tiago Ramalho, um dos autores do blogue Sociedade de Debates, tem vindo a deixar extensos e informativos textos sobre o estado da comunicação social em Portugal e no Mundo, muitos dos quais eu subscrevo totalmente. Subscrevo menos quando o Tiago insiste num diálogo à Daniel Oliveira, que eu já critiquei aqui, e que me parece contraproducente. De facto, tudo aquilo que aponto de verdadeiramente negativo no Quarto Poder é exactamente o facto de, afinal, não ser Poder coisa nenhuma.

"Após a proibição da transmissão duma tourada, em Junho, vem hoje a ERC declarar deliberar que as touradas podem ser transmitidas, porque não são má influência para as crianças.

Num país decente, o que não provoca alarme social poderia ser transmitido por quem quisesse como quisesse. Num país decente, caberia aos pais decidir o que é bom e o que é mau para os seus filhos, e controlar o comportamento de televisionamento da canalha, em consequência.

Cá não. Cá (não é só de Portugal que falo) têm que vir uns tecnocratas que ninguém sabe bem quem são, mas cuja apetência para o controlo comportamental é evidente, decidir.

Obrigadinho…"

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

o caos não é neutro! - parte II - entre a ciência e a política.

Modelo Social Europeu em Crise - Pedro Soares

O grande problema do Marxismo-Leninismo, enquanto ideologia, é fundamentar-se somente num livro e nunca numa experiência real. Apesar de contrário à doutrina socialista, e a todo o tipo de doutrinas não-individualistas, concordo sempre com o argumento esquerdista de que a experiência do socialismo e do comunismo nunca foram efectivamente realizadas. A grande razão está no facto de apesar de eu conseguir , eventualmente, desenhar uma vaca com asas, não querer dizer que eu algum dia hei-de ver uma. Muito provavelmente irei magoar umas poucas vacas pelo caminho, ao tentar incluir-lhes essas características aplicáveis só aos pássaros.
De facto, muitas pessoas parecem-se surpreender com o facto de o Marxismo-Leninismo ter sido, até agora, aplicado por regimes que acabam por desembocar em autoritarismos.
O problema, a meu ver, não está nos homens, ou melhor, não está apenas nos homens que são encarregues de construir os sistemas. Não creio que a situação na Rússia após a morte de Lenine tivesse melhorado ou transformado caso Estaline não tivesse derrubado Trotsky.
Não, o mal do Marxismo está no Livro. Quando alimentámos uma ideologia política apenas com uma fonte, ela deixa imediatamente de ser política. De facto, o Liberalismo, além de uma teoria económica com vários autores, é uma ideologia política inserida nas sociedades ocidentais que conheceu igualmente vários autores, alguns colocados à esquerda, outros à direita. O mesmo se passa com a Social-Democracia, que em alguns casos até vai beber inspiração ao prórpio Marx. Assim, o trunfo do capitalismo estará sempre na sua base empirista e plural. O socialismo, na sua inspiração Marxista-Leninista, está destinado a falhar porque não assume a pureza de uma ideologia política. E porquê? Porque quando se cria algo cuja fundamentação é uma teoria, uniformizada e não uma forma de vida ou filosofia colectiva ou comunitária, baseada em aspectos da antropologia humana, está-se a criar uma Ciência. E é isso que o Marxismo-Leninismo é. Não uma forma de política, mas uma Ciência. Porque não permite a transgressão dos seus princípios, e tal como as ciências, não é regida por opiniões individuais, mas sim por Leis científicas. Leis baseadas numa teoria e comprovadas de acordo com ela, e teorias baseadas em leis e comprovadas de acordo com elas.
Este é o cerne da questão, esta é a causa da falha do combate do socialismo contra o capitalismo. Não podemos esconder-nos sob a desculpa de que o socialismo nunca se cumpriu. Esta não é a sua maior desculpa. É antes a maior razão para o rejeitarmos.
O debate, introduzido pelo Professor Pedro Soares, foi a meu ver muito confuso, e conheceu uma fundamentação algo questionável.
Pedro Soares, reconhecido Marxista-Leninista, é no entanto uma pessoa de discurso fácil e de boa discussão, parece ser um bom professor, e é a prova de que os homens são mais do que aquilo que pensam, são aquilo que fazem ao ouvir o que os outros pensam.
A sua apresentação começa com um recuo histórico ao surgir do Wellfare State. A menção aos 30 anos gloriosos. No final da apresentação, eu e Pedro Soares concordámos que esses 30 anos Gloriosos tiveram um custo muito especial que mais tarde se iria notar, e de que maneira. O seu primeiro erro, no entanto, foi o facto de introduzir o Estado Providência como algo caído do céu. Faltou uma menção ao Plano Marshall, mas como é habitual aos europeus mandar à fava os americanos não me impressionei muito, temos uma comum tendência de nos esquecermos da ajuda deles. Acompanhando a exposição do Professor, chegámos ao fim dos 30 anos Gloriosos. Aí desenvolve-se outra falácia. De facto, os 30 Gloriosos parecem sucumbir à crise petrolífera dos anos 70 (1973 para ser mais preciso). Nada mais falso, nada mais comprovado ser falso. Interessa muito à doutrina socialista mais acirrada demonstrar a queda do capitalismo causada pelos seus pilares, ou seja, o mercado. Uma conturbação inesperada do mercado, como foi o caso da crise petrolífera, parece uma óbvia desculpa para derrotar as pretensões dos capitalistas quando afirma que conseguem manter um modelo de estado social com uma economia de mercado. Conseguiram assim os comunistas e os socialistas uma forma de dar uns bons safanões aos sociais-democratas naquela altura. Ora, a crise dos anos 70 começa antes do ano de 1973.
A contradição das teorias Keynesianas aparece quando surgem elevados níveis de desemprego, quebras nas produções industriais, e falências de empresas. Estes factos acontecem já, com alguma relevância, a partir de 1968. Não seria de estranhar mais uma possível controlada crise de recessão económica, não coexistissem na altura certas manifestações tradicionalmente irreconciliáveis: elevada inflação e consumo, ao mesmo tempo de uma quebra produtiva e desemprego. Nos EUA, em 1971, rebenta a crise monetária, a impossibilidade de converter dólares, devido ao esgotamento do crescimento europeu e japonês e ao falhanço das políticas de pleno-emprego. Assim exposto, com calminha e cabecinha, tudo fica a parecer muito menos Naomi Klein.
Passa assim o Professor para o chamado "neoliberalismo" que nem na altura era suportado pelos próprios liberais, pelo menos na generalidade. Um liberal não é apenas uma máquina de calcular, não é só uma teoria económica. Há mais em Friedman do que números. E se Reagan e Tatcher muitas vezes se sustentavam em políticas económicas baseadas em autores como Milton Friedman, eles não eram liberais, eram antes Conservadores, Tories, eram actualmente CDS-PP.
Após a diabolização de Tatcher, fala-se na queda do Sistema de Segurança Social na Grã-Bretanha, que ficou gravemente comprometido. Em defesa da pobre senhora, que está quase a bater a bota, eu resolvi intervir mais tarde para dizer que não foi só o Sistema de Segurança Social que caiu. Foi a própria produtividade. A indústria mineira britânica conheceu o seu grande rombo, após um coma expensivamente mantido. Criou-se no entanto as condições para um já reconhecido crescimento económico, que foi mantido nos governos posteriores. Por muito que culpemos Tatcher da crise, ela fez algo que a Europa faz agora, e que previne o Reino Unido de estar a passar o mau bocado que os Continentais, por cá, passam.
Mais tarde Pedro Soares apresenta um gráfico que continha números sobre o investimento público em vários países da UE. Assinalou as descidas "gravíssimas" de 0,3% na Suécia e na Irlanda, mas esqueceu-se das subidas de 7% em Portugal e no Reino Unido, bem como na restante grande maioria dos países europeus.
Concluindo, penso haver na Esquerda (radical ou revolucionária, como lhe queiram chamar) portuguesa vários preconceitos para com as estratégias económicas da actualidade. O perigo do "neoliberalismo" é difuso e parece encontrar-se em todo o lado. Tanto pode estar na política de mercado de Reagan como no corporativismo poderoso de Bush. A verdade é que as políticas económicas dos dois presidentes diferem e são, a meu ver, erróneamente comparadas.
O outro grande bicho está nas teorias económicas que envlvem aparelhos de Estado mais amplos e mais intervencionismo, mantendo a efectividade do sistema. A tal flexi-segurança, que tão bons resultados deu no Norte da Europa, parece-me também a mim um sistema difícil de adaptar por cá. Mas o medo há volta dele é injustificado. A partir do momento em que decorram maiores facilidades à economia de mercado e se criem capitais, tais políticas poderão ser seguidas por cá, à imagem do que os países escandinavos fizeram.
Não reconheço no Marxismo-Leninismo as capacidades de retirar o País da actual crise. De facto, este mesmo país já sofreu bastante com homens que insistiam em ler um só livro, seja ele o "Das Kapital" ou "A Bíblia". No caminho de uma sociedade plural e livre, os cidadãos terão a possibilidade de escolher, nas urnas de voto, entre uma política virada para o mercado ou uma mais colectivista ou colectivizadora.
O propósito Marxista de uso do Estado para reprodução e redistribuição de capitais, mantendo esta a sua função principal, é um fundamento caduco e utópico, que já demonstrou as suas graves consequências à Humanidade. É apenas uma novela a repetir-se por muitos e largos anos devido à atracção que impele ao imaginativo dos jovens, sedentos de um igualitarismo absoluto e um estado uniformizado.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

adeus céu azul



Agora que tenho 19 anos, vou-me dedicar a ser um pouco mais como este gajo, este, e estes.
E dedicar-me, definitivamente, a mandar este à merda.

hoje sinto-me assim


porque amanhã faço anos

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

o caos não é neutro! - parte I - dogmas e verdades em homens de um só livro, no Socialismo 2008

Manipuladores Manipulados – Comunicação Social e Jornalistas (Daniel Oliveira)

Nada é verdade e Tudo é permitido. Estas foram as últimas palavras de um líder dos Ismaelitas (islâmicos) antes de morrer e ser levado para o Inferno, como diziam os seus inimigos que o acusavam de ser um líder de uma seita herética. Também é o título do livro de John Geiger sobre a vida de Brion Gysin. Este lema, antigo e inspirado nas velhas escolas filosóficas clássicas, não envolve apenas o caminho para a liberdade, caso assim fosse era apenas um lema anárquico, mas antes procura inspirar um caminho livre para a sapiência, o caminho para a análise independente e racional.
O Bloco de Esquerda conta, apesar da sua breve história de sucesso político, com um dos males que afectam os grandes partidos políticos e que mais se afasta destes princípios. A divinização de ideias e pessoas. Podemos dividir este pequeno partido numa hierarquia religiosa, sendo que as únicas mentes pensantes estão na chefia e por trás segue-se uma multidão prostrada e pronta a obedecer ao apelo das armas. Não só se batendo pela igualdade, o Socialismo 2008 consegue também que todos os seus frequentadores pensem igual ou com métodos semelhantes.
O dia 30 deste último mês, Sábado que passa, o Bloco fez um pequeno convívio na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, frequentado pelas suas principais figuras, que consistia na apresentação de várias temáticas ligadas ao mundo actual, sendo que a maior parte delas eram apresentadas com o forte cunho ideológico do Bloco, como se esperava naturalmente num convívio deste tipo.
Interessado no alimento do espírito, eu, a Vânia Oliveira do ISSSP e vários alunos da FDUP, a Daniela Ramalho, a Sara Morgado, o Pedro Jacob e o Tiago Ramalho, combinámos ir juntos para assistir e tomar parte nos debates que aí se iam dar. Mal sabíamos nós que esse sábado ia ter muito pouco de debate.
O meu primeiro contacto com o Socialismo Bloquista (uma amálgama ideológica pouco firme, pouco sustentada, que se baseia em factos contornados de romantismo trotskista, marxista reformista, e outros -istas) deu-se, para meu prazer, com o Jornalista Daniel Oliveira, cujas crónicas eu vou acompanhando no Expresso com marcado interesse em ler uma pessoa muito convicta dos seus botões a falar não poucas vezes de coisas que parece perceber muito pouco.
Daniel Oliveira, do alto da sua moralidade bloquista, revoltava-se com as notícias da TV, o excesso da exposição da criminalidade. Mostravam-se uns números, uns vídeos que fizeram a alegria da multidão bloquista, formada de Patinhos-Feios muito seguros de si e pródigos em risadas de professor, como quem observava o desenrolar de uma sociedade constituída de pessoas que ainda não possuíam o mesmo nível intelectual que os frequentadores do Bloco, santificados ateus que têm, no entanto, a divina presença de ideias divinas.
Após a introdução de Daniel Oliveira, suficientemente grande para causar à assistência menos tendenciosa uma hemorragia nos ouvidos e suficientemente vazia para corresponder às expectativas dos bloquistas, abriu-se o espaço de participação da audiência.
Apesar de ter escrito uma página inteira de possíveis perguntas a Daniel Oliveira, sendo que uma delas era a famosa "E agora que disse isso tudo, qual é novidade?" ou então a menos conhecida "A sua apresentação é capaz de me ter causado um derrame cerebral, é capaz de chamar o 112?", notei que a assistência revelava-se igualmente interessada em debater o assunto, por isso resolvi fazer uma selecção de dúvidas. Qual foi o meu espanto quando vi que o mesmo cuidado não tiveram os bloquistas. As perguntas, com a sua natural complexidade, podiam ser todas resumidas numa única, que podia ser apresentada assim "Daniel Oliveira, pá, tu sabes que és o melhor (os bloquistas tratam-se todos por tu porque são todos pais do mesmo filho e filhos do mesmo pai, como nessas novas religiões americanas, aparentemente). Nós todos gostamos muito de ti, e eu queria perguntar-te se tu, sendo uma maravilha de um gajo e tendo essa barba muito socialista, és bestial ou só genial. (e agora vem a amostra intelectual que não pode faltar no discurso bloquista) Ah, e não te esqueças que o Caos não é Neutro!"
Após cada pergunta deste tipo, a sala silencia-se para ouvir a resposta de Daniel Oliveira, que resmunga qualquer coisa, ele próprio sem aparente paciência para os seus crentes.
Quando chegou a minha vez, temi de facto que o "Alarme Anti-Reaccionário" se activasse, e eu fosse ejectado da sala no preciso momento. Inocentemente perguntei ao Daniel se a imprensa não estaria só a reportar o aumento de criminalidade, que era inexistente de acordo com os números do Daniel, mas antes a violência exponencial dos crimes, que é de facto prevalente. Antes de acabar a minha pergunta já se tinha levantado o murmurinho na sala. O Alarme soara, um reaccionário encontrava-se entre as puras gentes do bloco, e fazia perguntas, a besta sádica!!!
Não posso incluir aqui a resposta do Daniel por várias razões: para além de uma resposta desmembrada e desarticulada, com a preciosa pérola do "Mas então porque é que eles não reportam a violência do Darfur, que também é valente?" (talvez por se passar a quilómetros daqui Daniel, e por cá haver problemas que cheguem, e ser uma coisa TOTALMENTE diferente) o Daniel fez questão de tentar me ridicularizar, quando eu referi a Geórgia no clube de nações oprimidas violentamente. Sim Daniel, é verdade que a Geórgia não é massacrada há tanto tempo como o Darfur. Mas convido-o a abrir a Wikipédia e ver a relação amistosa que este país manteve ao longo da história com o seu actual e amistoso ocupante.
O dia apresentava-se muito longo, e eu já estava algo desiludido. Não fosse a exposição sobre História do Mediterrâneo de Miguel Portas, ainda assim suficientemente tendenciosa, teria entrado em séria crise de melancolismo. De facto, fiquei a aprender poucas coisas sobre Daniel Oliveira, mas muito sobre o Bloco.
Sobre o Daniel, descobri que ao vivo a barba não lhe fica tão bem como nas fotos do Expresso. Além de uma justa defesa de Marco Fortes, pouco mais se pode indicar de positivo. Foi fraco, foi cliché. A TV, para ele, é uma maníaca-depressiva, que vive de euforia e repressão, e pressões. Os bloquistas queixam-se que a TV dá sempre a mesma coisa. Eu aconselho os bloquistas a deixar de ver TV, porque podem ficar ainda mais gordos e sebosos, e a pegar em bicicletas ou fazer amor. Os bloquistas não querem ver notícias de portáteis roubados em pleno tribunal, após o arrombamento de uma caixa multibanco ocorrido no mesmo. Os Bloquistas, e o Daniel Oliveira, sabem muito bem o que deve passar na TV. Só não nos dizem porque nós, comuns mortais, não íamos compreender. Deve passar aquilo que eles, e o Daniel Oliveira, muito bem entenderem. E só com a supervisão destes anjos mediáticos, se poderá atribuir notícias diferenciadas a cada estação, quer elas queiram quer não.
De facto não me impressionou reparar que as palavras mais usadas para solucionar o estado da nossa Televisão fossem estas duas pérolas: Denunciar e Controlar.
Estava à espera de mais deste debate com Daniel Oliveira na mesa. Marcado de um discurso dramático, excessivamente esquerdista, pseudo-revolucionário, manteve acima de tudo, acima da racionalidade e do poder da argumentação, o desejo de parecer um rapazinho traquina. E foi missão cumprida.
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