domingo, 31 de maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

Pai

Um pai faz muita falta.
Estudos norte-americanos provam que há uma relação provadíssima entre o número de famílias monoparentais (mães solteiras, neste caso) e os números da Gravidez Adolescente.
Desde o início do século XX, na continuação da tendência já criada no século XIX, o papel da família foi sendo afectado e transformado, através de políticas sociais e movimentos de contra-cultura.
O liberalismo individual vem libertar a família da influência tradicional e religiosa, lentamente e ao longo das décadas.
Nascem nos gloriosos dias desse século de Ouro, o século XIX, as ideias primordiais do indivíduo que se realiza pelos seus próprios meios, sem limites que não os impostos pelo respeito da liberdade do seu próximo. O capitalismo individualista e liberal, no entanto, condena-se ao passo que vai isolando da comunidade e da família os factores tradicionais e religiosos que formaram os seus ancestrais hábitos culturais e morais.
Enquanto que nas sociedades europeias esta tendência liberal deu-se morosamente, nos outros pontos do mundo onde se repercutiram as ideias do capitalismo, toda a estrutura social ancestral ruiu. Nos EUA, o país que sustentava, orgulhosamente, o governo mais pequeno e limitado do mundo do século XIX, constituiram-se as maiores fundações de solidariedade e apoio social do mundo que aprofundaram o estudo das relações humanas. Estes movimentos estavam ligados à cultura do self-made man e da obrigação moral que o cristianismo impõe aos mais ricos das "boas obras".
Na América Latina, o liberalismo radicalizou-se e expulsou as confrarias religiosas, deixando um vazio entre os distribuidores da solidariedade social, vazio esse que tardou a ser preenchido.
Isto propiciou a que se criassem movimentos colectivistas, inspirados não raras vezes em ideiais religiosos (veja-se a semelhança do culto de Che Guevara com o de Jesus Cristo nas zonas setentrionais da América do Sul).

A sociedade individualista dos países do Norte criou as ciências sociais e humanas, como a psicologia e a sociologia, com as quais o Estado do século XX construiria o seu sistema de Segurança Social.
Tornou-se a solidariedade e o apoio social uma política governamental em vez de uma acção da sociedade civil.
Destes avanços do Governo sobraram, após a queda dos Modelos Sociais Europeus e Americano, ruínas da engenharia social falhada. Ruínas essas que mantêm na pobreza os mais pobres.
A família viu-se despejada da sua função educativa, social e económica.
O Estado apropriou-se da educação dos jovens. Aprendemos, desde muito pequenos, a aceitar como o melhor para nós aquilo que um grupo de supostos peritos dos Ministérios da Educação nos querem ensinar. Poucos de nós tiveram uma independência personalizada ou acompanhada pelos pais.
O Estado, tornando-se o principal empregador, tornou-se também o principal moralizador. Define também, cada vez mais abertamente, quais as prerrogativas morais a obedecer, e até a forma de melhor educar os mais jovens. O papel exemplar do Pai e da Mãe são cada vez mais renegados para segundo plano.
Mas pudera. Como vai a criança do bairro social, inserida numa família problemática, sentir necessidade de abandonar o baby-sitting estatal, se os pais são, também, bebés extremadamente cuidados pela caridade social do Estado?
O último crime do modelo social foi despojar a família do seu elemento económico.
Quando o chefe de família (homem ou mulher, mas principalmente homem) depara-se com a oportunidade de ser sustentado por subsídios que lhe atribuem benefícios e rendimentos superiores aqueles que obteria enquanto trabalhador assalariado, que moralidade se lhe pode pedir?
No entanto, este estado de coisas é apoiado por muitas pessoas da Nova e Velha Esquerda. Esquecem-se os sociólogos que o exemplo paternal é por demasiado, importante.
O pai trabalhador é um fenómeno que transmite segurança e admiração.
Tanto para rapazes como para as meninas, regra geral, a Mãe é a pessoa para quem nos viramos quando queremos amor.
O Pai é para quem nos viramos quando queremos Segurança, aquele sentimento confiante que nos dá o Exemplo.
O problema do Estado Social não está em ser maior ou menor. Deve ser o suficiente, apenas, para deixar o Pai ser Pai.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

como derrubar o socialismo em Cuba? derrubando o embargo

ou, pelo menos, é o que diz Óscar Espinosa Chepe, um cubano formado em economia que esteve com Fidel nos momentos mais dificeis da luta de guerrilha e da alegre e marxista fruição do poder político na formosa ilha cubana, ao Washington Street Journal

Serviu o país na Coreia do Norte, para onde foi enviado para estudar o modelo norte-coreano de socialismo. Esta experiência vacinou-o contra o virus da economia planificada.

Chepe describes North Korea as being even then a "terrible, crazy, awful
place," where the people ate grass and leaves. Kim, having decreed that his
country folk were all vegetarians, imported cattle from Cuba for his own
personal consumption.

durante a sua atribulada vida política, Chepe enfrentou por 2 vezes o dogma do estado socialista cubano. Por duas vezes enfrentou os castigos laborais e teve de ser reabilitado.
Continua, no entanto, muito convicto na sua mensagem

What does he think of Castro? "Fidel Castro is just an enormous ego," says Chepe. "He sees communism not as a movement to aspire to, but as a great tool to accomplish what he wanted to achieve, which is everlasting power and, if possible, to rule the world. He isn't ideological -- he just wants the power."

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Lapsus Linguae

Tiago Ramalho, na Sociedade de Debates, sobre a frase da campanha eleitoral do BE "Pertencemos à primeira geração que vai viver pior do que os seus pais"

Ou o sistema de ensino está muito mau, e a lição histórica só começa no pós 74 ou data análoga, ou sou eu, por meu lado, que caio em erro. Terá a geração que apanhou as duas guerras mundiais vivido melhor, ou ao mesmo nível, que a dos seus pais? Ou, no ocaso do império romano, friso, no ocaso, as gerações terão vivido sucessivamente melhor? E na parte negra, negra, da idade média...viver-se-ia melhor do que no fulgor do período clássico? Talvez. Talvez as regras da lógica permitam que uma sucessiva melhoria das condições de vida de cada geração redunde numa diminuição das condições de vida de um povo no seu conjunto. Talvez, embora eu não acredite.

revolução Torie.

Em vez de redistribuir riqueza, o lema Trabalhista tão conhecido por cá, David Cameron faz aquilo que só os Tories sabem fazer: redistribuir o poder, a todos.

Ontem, nas páginas do "The Guardian", Cameron enunciou os princípios daquela que será a "mais dramática mudança política na era moderna". Escreve Cameron: "Acredito que o objectivo principal da nova política que procuramos só pode passar por uma maciça e radical redistribuição do poder. Do Estado para os cidadãos; do governo para o parlamento; de Whitehall para as comunidades. Da União Europeia para o Reino Unido; dos juízes para as pessoas; da burocracia para a democracia." E como é que isso se faz? "Através da descentralização, da transparência e da fiscalização, temos de trazer o poder da elite política para o homem e para a mulher comum". Numa crítica feroz ao que considera ser a deriva "Orwelliana" da política britânica, um governo liderado por Cameron vai atacar a fundo um sistema social que tem promovido a "infantilização" dos britânicos.

obra monumental

The Tale of How

coisas do meu email

Numa pequena vila no sul da França, a crise sente-se:
Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas.
Subitamente, um rico turista russo chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de 100 € sobre o balcão, pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar.
O dono do hotel pega na nota de 100 € e corre ao fornecedor de carne a quem deve 100 €, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar 100 € que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os 100 € a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito.
Esta recebe os 100 € e corre ao hotel a quem devia 100 € pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.
Neste momento o russo rico desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100 €. Recebe o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescentado. Contudo, todos liquidaram as suas dividas e os habitantes da pequena vila encaram agora optimisticamente o futuro.

Velhas ideias agora em Bloco

Vem de longe a posição anti-NATO que o eurodeputado Miguel Portas defende. Ainda não existia Bloco e a extrema-esquerda já se engalfinhava em arrojos anti-imperialistas. Durante muito tempo não lhes conveio limpar o pó aos velhos retratos de família. Agora, em tempos de destemperança, de pouca presença de espírito, dispõem de terreno arável e fértil para cultivar tais ideias, muitas vezes à custa de jovens (aqueles de 16 anos que Francisco Louçã quer que votem) que não fazem a mínima ideia de onde surgiu o Bloco e o julgam, por isso, muito avant-garde.
Nova esquerda! Pois bem, um conjunto de marxistas, trotskistas e maoístas pode ser muita coisa, mas não é nova esquerda. O designativo mais correcto talvez fosse “os velhos extremistas agora em Bloco”, isto se quisermos chamar as coisas pelo nome.
Enfim, anti-Nato porque queremos menos despesismo? Talvez resultasse mais justo anti-Bloco porque queremos menos despesismo! Enfim, o partido que deseja aumentar subsídios, distribuir medicamentos gratuitamente, nacionalizar tudo o que mexe, e enquanto isso, construir um aeroporto e o TGV, indigna-se agora com as despesas do Estado.
Miguel Portas argumenta que Portugal é um "país pequeno", sem nenhum inimigo, e sem “pretensões imperiais” (o que quer que isso seja). Ora, sendo tudo isto verdade gostaria que o eurodeputado elevasse a fasquia e defendesse a reestruturação do exército português, seguindo o exemplo da Suíça que também é um país pequeno, sem inimigos ou “pretensões imperiais” – um exército residual.
Quanto ao “corpo europeu de soldados de paz”, não me parece necessário, uma vez que a NATO realiza operações de manutenção da paz (KFOR por exemplo), tal como a ONU e os seus mediáticos “capacetes azuis”. Acresce que esse “corpo europeu de soldados de paz”, para além de desnecessário, certamente não resultaria de geração espontânea e, assim sendo, mais não seria que uma nova despesa para substituir a da NATO.

pessoas em caixinhas

Nara Leão - Little Boxes

terça-feira, 26 de maio de 2009

Palavras, Palavras, Palavras

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, prontamente reunido de emergência em Washington, após o teste nuclear na Coreia do Norte, já se pronunciou. Os Estados com assento no Conselho mostraram-se maçados com a situação, mais, revelaram-se até preocupados e prometem tomar uma séria atitude, farão… coisas.
Ban Ki-moon (Secretário-Geral das Nações Unidas) também partilha a séria preocupação com o incidente e apela ao diálogo.
É assim que a ONU trabalha, meus caros, faz lembrar aqueles indivíduos estranhamente solícitos que à última da hora desmarcam os compromissos. Certamente o Secretário-Geral e os Membros do Conselho se desdobrarão em reuniões, conferências e comunicados à imprensa, até que a batata arrefeça e o mundo perca a curiosidade (como aconteceu com o Darfur, o Paquistão, Zimbabué, Tibete, etc.).

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Alexandra

O caso Alexandra será o passatempo favorito das televisões portuguesa e russa nos tempos que aí vêm. Do lado russo, o espanto da permissividade da Justiça portuguesa. Do lado português, a habitual resignação com a qualidade dos nossos Juízes.
Como podemos ler no blog do José Milhazes, que é basicamente a pessoa com quem se vai falar quando surge nos media algo relacionado à Rússia, não era esperada uma decisão do Tribunal que fosse favorável à mãe russa.

Talvez por pressões diplomáticas ou puro nervosismo do Juiz ao lidar com um caso internacional, nem os depoimentos dos amigos e próximos da família adoptiva nem até as reportagens sobre o caso que já na altura circulavam na imprensa russa couberam na decisão do Juiz.
Se tudo correr mal, como parece que vai, e se recorra a todos os meios legais possíveis, quem é que se vai responsabilizar pela falta de atenção dada ao caso, cá?
A Segurança Social Portuguesa, ou a Justiça Portuguesa?

Belas Vistas

O percurso dos 'coitadinhos' que vandalizam as Belas Vistas e as Quintas das Fontes é sempre o mesmo. Na escola, o 'coitadinho' bate na professora, mas como é 'coitadinho' nada lhe acontece. Na rua, o 'coitadinho' rouba uma criança 'não-coitadinha', mas como é um 'coitadinho-menor' fica impune. Quando chega a casa, o 'coitadinho-filho' repara que o 'coitadinho-pai' não paga a renda, a luz e a água. Ainda por cima, o 'coitadinho-filho' vê que este comportamento compensa, dado que o 'coitadinho-pai' continua a receber o cheque mensal do RSI. Ora, se as diversas faces do Estado (escola, polícia, município, segurança social, etc.), tratam estas pessoas como crianças durante o dia, então elas vão agir como crianças durante a noite: daí a destruição dos carros dos vizinhos, daí a queima de caixotes do lixo, daí os ataques a bombeiros e polícias - os desportos noctívagos dos cidadãos-crianças.

Henrique Raposo no Expresso

The White Ribbon

A Palma de Ouro da 62ª edição do Festival de Cinema de Cannes foi para o realizador austríaco Michael Haneke (recordem-se de A Pianista ou de Funny Games), pelo seu The White Ribbon, uma "observação solene, filmada a preto e branco, de um microcosmos do Mal, uma aldeia no norte da Alemanha, em vésperas da I Guerra, onde acontecem misteriosos rituais punitivos - são as sementes da violência, do nazismo".

Arena em Cannes

A Palma de Ouro para a melhor curta-metragem foi atribuida a Arena de João Salaviza:

Michael Nyman - The Heart Asks Pleasure First

Um dos maiores compositores ainda em actividade:

domingo, 24 de maio de 2009

Life, Liberty and the pursuit of Happiness


"Porque haveríamos de subsidiar a curiosidade intelectual?”
Ronald Reagan, num discurso proferido durante a campanha eleitoral de 1980




“Não há nada que mais mereça o nosso apoio do que a promoção da ciência e da literatura. Em todos os países, o conhecimento é a base mais segura de felicidade pública.”
George Washington, discurso ao Congresso de 8 de Janeiro de 1790

Novas Concepções de Jornalismo (II) – A Consagração

António Lança, Director do Serviço ao Cliente da Whirlpool Portugal, desarma Manuela Moura Guedes com argumentos que nem esta é capaz de rebater. Esta foi a única discussão que a infalível jornalista perdeu:

Novas Concepções de Jornalismo – Os Inatacáveis

Já vem de longe a obstinação de Manuela Moura Guedes. Vem de longe e com laivos de frustração, notória na ferocidade animal com que ataca os entrevistados e leva por diante argumentos caducos que interlocutores boquiabertos não têm a frieza de ânimo para contrariar.
Um jornalismo de botequim que, de tão seguro se julgar, adquire matizes de autoritarismo – fontes obscuras, sondagens suspeitas e entrevistas ridículas.
Manuela Moura Guedes, quase-jurista, deputada peculiar, vendedora de Ariel, artista de variedades, agora, infant terrible do jornalismo português, rock star dos noticiários, detentora de uma verdade muito própria, e ainda bem, eu não necessito dessa verdade para nada.

Catolicismo, protestantismo e capitalismo

no Instituto Ludwig von Mises - Brasil

E isso me leva à segunda grande influência dos católicos escolásticos - a teoria das leis e dos direitos naturais. Certamente o direito natural era um grande obstáculo ao absolutismo estatal, e começou com o pensamento católico. Schumpeter mostrou que o direito divino dos reis era uma teoria protestante. A teoria das leis e dos direitos naturais também fluiu dos escolásticos até os filósofos morais franceses e britânicos. A conexão foi obscurecida pelo fato de que muitos dos racionalistas do século XVIII, sendo amargamente anti-catolicismo, se recusaram a reconhecer seu débito intelectual para com os pensadores católicos. Schumpeter, de fato, afirma que o individualismo começou com o pensamento católico. Assim: "a sociedade foi tratada (por Santo Tomás de Aquino) como uma questão completamente humana, e mais ainda, como uma mera aglomeração de indivíduos que ocorre por causa de suas necessidades mundanas... o poder do monarca derivava-se do povo... por delegação. O povo é soberano e um monarca indigno poderia ser deposto. Duns Scot chegou ainda mais perto de adotar uma teoria do contrato social do estado. Este... argumento é notavelmente individualista, utilitarista e racionalista ..."[2] Schumpeter também enfatiza a defesa da propriedade privada feita por Tomás de Aquino e menciona em particular o espírito anti-estatizante do escolástico Juan de Mariana, 1599. Ainda sobre eles, Schumpeter também fala sobre a adoção do preço de mercado como sendo essencialmente o preço justo, a teoria da utilidade, o valor subjetivo, etc. Ele diz que, enquanto Aristóteles e Scot acreditavam que o preço normal de concorrência era o preço justo, os escolásticos tardios espanhóis identificavam os preços de mercado com qualquer preço concorrencial, como no caso de Luis de Molina. Eles também tinham uma teoria para o padrão-ouro, e se opunham ao enfraquecimento da moeda. Schumpeter ainda diz que de Lugo desenvolveu uma teoria sobre os riscos dos lucros empresariais, a qual, é claro, só foi completamente desenvolvida na virada do século XX e depois.

da democracia em Portugal


Muitos pontos na teoria de Pedro Arroja da cultura da condição democrática dos povos, ou pelo menos é assim que eu ponho em termos materiais e resumidos a teoria das suas palestras e escritos recentes, estão preenchidos de um interesse e uma exactidão quase científicos.

A premissa maior passa pela incapacidade dos católicos exportarem, na totalidade pelo menos, as instituições republicanas e democráticas dos países de cultura protestante.

Troque-se a palavra católico por latino e protestante por anglo-saxónico/germânico, e continuaremos com um sentido muito próximo da realidade.

A democracia liberal, a de raiz protestante, resulta de uma fissura nas bases. É a divisão a nível local que propicia o ambiente político da Grande Política. Ou seja, é a grande diversidade de culturas e a rivalidade de interesses entra as diferentes populações, essa enorme heterogeneidade protestante, que cria a tendência liberal dos órgãos de soberania, que aparecem como contra-ponto na balança. A solução democrática surge, nos países nórdicos, como condição necessária à liberdade, como apaziguadora da rivalidade de interesses, como prévio fim de conflito.

A democracia liberal, como tem sido implementada em alguns países católicos, como Portugal, é o enxerto desproporcional na sociedade, enxerto esse comprado no mercado protestante.

O ambiente homogéneo da sociedade latina, a integração cultural activa e a maior comunidade de valores e tradições, assim como de costumes, leva a que os problemas sejam, desde muito cedo, tratados a nível local, com desembaraço e sem necessidade de poderes centrais ou garantes por parte destes poderes. No entanto, a Grande Política é muitas vezes relegada para as elites ou para um grupo social dominante. A maneira inteligente da democracia lidar com o desinteresse das populações latinas pela Grande Política seria criar um sistema onde esta não interferisse tanto com a vida comunal das freguesias e dos povos. Os modelos exportados não são os melhores para estes efeitos, criando situações em que a discussão à volta de um assunto se prolonga de tal maneira, que o assunto morre ou queda inutilizado.


O socialismo em Portugal tem vindo a tratar de forma semelhante a questão da descentralização do governo do país. O socialismo, no entanto, é também um fruto da tradição protestante.

Nascido de um sentido de classe predominantemente desfavorecida dos países industrializados do Norte da Europa, sendo que esse grupo, não raras vezes, era predominantemente católico, ao longo da sua evolução o socialismo exagera e recrudesce a sua orientação igualitária e uniformizadora.

Surge como uma hiperbolização das encíclicas papais do séc. XIX que demonizavam o lucro. A igualdade católica é agora transformada na igualdade social, numa igualdade forçada e violenta.

Esse militarismo igualitarista e homogeneizador falha redondamente nos países civilizados, mas quando ganha raízes nos países católicos, mesmo aos mais abertos ao espírito de iniciativa, ganha adeptos entre a população por causa das óbvias semelhanças ao credo católico.

No entanto a sociedade católico implementa a sua influência homogeneizante de forma cultural e tolerante, calma e macilenta, procurando a observância das leis e da paz social. O socialismo vem militarizar a política e o ambiente social.

Enquanto que no Catolicismo os homens devem amar o próximo como a si próprios, tendo como modelo Jesus Cristo, o único que, acima dos seus próprios interesses observou e garantiu os da Humanidade, no Socialismo/Comunismo todos os homens devem amar mais ao próximo que a si mesmo, devem sacrificar-se continuamente pelo Estado e pelo Bem Comum. O Catolicismo prega ideias como a Verdade e a Justiça, cultivando o respeito pelo Próximo. O Socialismo exige, acima de tudo, o Sacrifício por uma Causa maior que o Homem. É essa Causa Maior que o Homem/Indivíduo que marca o seu carácter e o torna numa degeneração perigosa do Cristianismo.


A democracia liberal tem futuro nos países católicos, ou de cultura marcadamente católica. Tem é de ser racionalmente implementada, e fundada nos ideiais de Justiça e Cidadania, pedras angulares e comuns do Liberalismo e do Cristianismo. Justiça para com cada Homem, dando a cada um o que lhe compete e o que ele merece, os frutos do seu trabalho e do seu mérito.

Cidadania, porque o funcionamento da sociedade só se dá quando os Indivíduos sentem a necessidade de respeitar a propriedade dos outros e os costumes do Próximo quando sabe que são os direito dos seus semelhantes que lhe garantem os seus direitos.

1:26

Para acompanhar um gelado de stracciatella ou um vianetta, merece sempre a boa sobremesa uma cobertura caseira de chocolate. Ora isso é perfeitamente acessível aos mais sovinas.
Basta encher quase até à borda uma pequena tacinha (daquelas de servir salada de fruta, por exemplo) com chocolate em pó.
Deitar algum leite, meio gordo, de modo a apenas salpicar. Não deixar que fique em papa.
À mistura, para que fomente a consistência do molho, um pouco de óleo ou azeite.
Levar ao microondas, 2 minutos criteriosamente vigiados.
et voilá, Molho de Chocolate à Pinto de Rezende.

sobre o choque de titãs da TVI

Sobre as acusações de péssimo jornalismo que Marinho Pinto fez a Manuela Moura Guedes, pouco mais tenho a dizer que o que já tem sido discutido um pouco por toda a blogosfera nacional.
Penso, no entanto, que Marinho Pinto não compreende muito bem a posição de MMG. O novo buldogue do jornalismo português é a TVI. As campanhas suicidas que este canal tem vindo a executar, qual grupo de furiosos kamikazes, são uma receita lucrativa proporcionada pelo actual estado de coisas. As pessoas não gostam ou não querem ouvir falar da coisa pública, e a TVI filtra a mensagem de maneira a passar só a crítica mais arrojada e as declarações mais punjantes. Os alvos a abater são selecionados criteriosamente, e os falsos testemunhos e as confissões "furísticas" são o pão nosso de cada dia.
Haverá sempre alguém como Manuela Moura Guedes. Esse alguém não está à espera de ganhar o pullitzer ou ser referenciado com honras nas galas RTP. É apenas jornalismo que precisa e quer ganhar dinheiro com as fraquezas dos órgãos públicos. E é isso que as pessoas querem.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

San-tsun-gin-lian - sobre o costume chinês

“O seu grande valor residia, porém, nos pés enfaixados, chamados em chinês “lírios dourados com oito centímetros” (san-tsun-gin-lian). Significava isto que caminhava “como um tenro rebento de salgueiro numa brisa primaveril”, no dizer tradicional dos connoiseurs chineses sobre mulheres. A visão de uma mulher a caminhar vacilantemente sobre uns pés enfaixados tinha supostamente um efeito erótico sobre os homens em parte, sem duvida, porque a vulnerabilidade dela despertava em quem a via um impulso protector.
Tinha a minha avó dois anos quando lhe enfaixaram os pés. A mãe, que também tinha os pés enfaixados, começou por enrolar-lhe à volta dos pés uma tira de pano com cerca de seis metros de comprimento, dobrando todos os dedos, excepto o grande, para dentro e para baixo da planta. Depois pôs-lhes uma grande pedra em cima, para esmagar o arco. A minha avó gritou de dor e suplicou-lhe que parasse, e a mãe teve de meter-lhe um pano na boca, para amordaçá-la. A infeliz desmaiou diversas vezes, devido à dor.
O processo demorava anos. Mesmo depois de os ossos terem sido partidos, os pés tinham de continuar enfaixados, dia e noite, em tiras de pano, pois no momento em que fossem libertados, tentariam recuperar. Durante anos a minha avó viveu cheia de dores terríveis e constantes. Quando suplicava à mãe que lhe tirasse as faixas, ela chorava e dizia-lhe que isso arruinaria toda a sua vida futura, e que fazia aquilo pela felicidade dela.
Naqueles tempos, quando uma mulher casava, a primeira coisa que a família do noivo fazia era examinar-lhe os pés. Uns pés grandes, ou seja, uns pés normais, traziam vergonha para a casa do marido. A sogra levantava a orda da comprida saia da noiva e, se os pés tivessem mais de oito centímetros, deixava-a cair, num claro gesto de desprezo, e afastava-se, deixando a pobre rapariga sujeita a olhares críticos dos convidados, que lhe miravam os pés e murmuravam insultuosamente o seu desdém. Por vezes, uma mãe apiedava-se da filha e tirava-lhe as faixas. Mas quando a criança crescia e tinha de enfrentar o desprezo da família do marido e a reprovação da sociedade, acusava a mãe de ter sido demasiado fraca.
O costume de enfaixar os pés foi introduzido na China há cerca de mil anos, segundo se diz por uma concubina do imperador. Além de a visão das mulheres a coxear sobre uns pés minúsculos ser considerada erótica, os homens excitavam-se a acariciar os pés enfaixados, que permaneciam sempre escondidos nuns sapatinhos de seda bordada. As mulheres não podiam tirar as faixas mesmo depois de adultas, pois os pés começariam a crescer novamente. Só à noite, na cama, lhes era possível aliviar temporariamente o tormento, afrouxando um pouco as tiras de pano. Calçavam, então, uns sapatos de sola macia. Os homens raramente viam nus uns pés enfaixados, que estavam geralmente cobertos de carne apodrecida e exalavam um cheiro horroroso quando se retiravam as faixas. Lembro-me de, em criança, ver a minha avó constantemente cheia de dores. Sempre que regressávamos das compras, a primeira coisa que ela fazia era meter os pés numa bacia de água quente, suspirando de alívio.”

Em, “Os cisnes Selvagens – três filhas da China” de Jung Chang

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sobre o Militante

O militante, por exemplo, opõe-se ao sistema político de uma forma muito mais profunda. Não o aceita enquanto sistema que é quase justo ou que o é de uma forma razoável; acredita que ele está muito afastado dos princípios por si definidos ou que a concepção de justiça do sistema é inteiramente errada. Embora a acção seja, nos seus próprios termos, feita em consciência, ele não apela ao sentido de justiça da maioria (ou daqueles que têm poder político efectivo), visto que pensa que esse sentido é errado ou que não produz quaisquer efeitos. Em vez disso ele busca através de acções militantes bem orientadas, de perturbações e de resistência, atacar a visão de justiça prevalecente ou forçar um movimento numa direcção desejada. Assim, um militante pode tentar esquivar-se à pena que lhe cabe pelos seus actos, dado que não está disposto a aceitar as consequências jurídicas da sua violação da lei; isso seria não só colocar-se nas mãos das forças em que ele crê que se não pode confiar mas também expressar o reconhecimento da legitimidade da constituição à qual se opõe.

John Rawls, Uma Teoria da Justiça

terça-feira, 19 de maio de 2009

O Anticristo de Lars von Trier

Estalou a polémica em Cannes com o último filme de Lars von Trier, o realizador que se descreve como "o maior cineasta do mundo".

Requiem

Os Mil Insurrectos

Quando foi construído, o Bairro da Bela Vista em Setúbal, não seria um paraíso, mas tinha condições de qualidade de vida muito razoáveis, muito acima do que os que para lá foram viver estavam habituados e muito próximo daquilo que de melhor um país que não é rico pode fazer por comunidades desfavorecidas. Nem a crise actual nem o desemprego ou a exclusão social podem justificar que, na Bela Vista, como em outros 'bairros sociais' construídos de raiz e com condições mais do que aceitáveis, ao fim de pouco tempo tudo esteja escavacado pelos seus habitantes. Não é porque alguém está desempregado ou se sente marginalizado socialmente que tem o direito de rebentar com o elevador do prédio, pintar e sujar as paredes, vandalizar os espaços verdes ou ficar meses sem mudar uma lâmpada fundida.

Miguel Sousa Tavarem in Expresso

A Capacidade Que Vai Faltando

Na Universidade de Chicago também tive a sorte de fazer parte do programa educativo concebido por Robert M. Hutchins, em que a ciência era apresentada como parte integrante da deslumbrante tapeçaria do conhecimento humano. Era considerado impensável um aspirante a físico não conhecer Platão, Aristóteles, Bach, Shakespeare, Gibbon, Malinowski e Freud – entre muitos outros. Na aula de Introdução à Ciência, a perspectiva de Ptolomeu segundo a qual o Sol girava à volta da Terra foi apresentada de uma forma tão atraente que alguns alunos começaram a pôr em causa a sua confiança em Copérnico. O estatuto dos professores no curso de Hutchins não tinha quase nada a ver com a investigação que faziam; curiosamente – ao contrário do que se passa nas universidades americanas nos nossos dias – eram avaliados pelo ensino que ministravam, pela sua capacidade de informar e de estimular a geração seguinte.


Carl Sagan, Um Mundo Infestado de Demónios

Cristo Perante Anás


Olha os meus olhos e vê quantos demónios
os teus olhos vêem. Sendo tu que os vês,
estes demónios sendo meus são teus.
Sendo teus os demónios que tu vês
são os teus olhos que tu vês nos meus.
E assim há-de ser para todo o sempre

Amadeu Baptista, Antecedentes Criminais

segunda-feira, 18 de maio de 2009

sobre a Taxa Única para todos os países da UE

Digging a Hole For Europe. The former EU Commissioner Mario Monti now claims that the only way to save the single market is tax harmonization. But one cannot defend a free and open market against protectionism by giving in to something equally bad.
The fact that European countries compete for better policies is our main path to prosperity. Harmonising taxes destroys that competition.
The single market on the other hand enhances it, which explains a lot of why Europe has improved so much in recent years. We need more of the single market, not least in welfare services and education. That would make us leave the recession stronger rather than weaker.

domingo, 17 de maio de 2009

A Verdadeira História da Revolução Cubana (III)

“Hemos fusilado; fusilamos y seguiremos fusilando mientras sea necesario. Nuestra lucha es una lucha a muerte. Nosotros sabemos cuál sería el resultado de una batalla perdida y también tienen que saber los gusanos cuál es el resultado de la batalla perdida hoy en Cuba.”

Ernesto Che Guevara: Obra revolucionaria. México, Era, 1967, pp. 479-488.
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El abogado José Vilasuso, hoy día exiliado, figuraba entre los que trataron los expedientes de los hombres condenados por la Comisión Depuradora. Así comenta las instrucciones dadas por Che Guevara:
“No demoren las causas, esto es una revolución, no usen métodos legales burgueses, las pruebas son secundarias. Hay que proceder por convicción. Es una pandilla de criminales, de asesinos. Además, recuerden que hay un tribunal de Apelación.”
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He alcanzado a ver a un hombre al que habían puesto ya en el paredón de fusilamiento. Detrás de las galeras, yo vi que había tres palos, tres postes clavados allí, y vi que llevaron a uno, le amarraron las manos hacia atrás y le pusieron una venda. Yo veía a ese hombre vivo, que empezaba a implorar por su madre, por sus hijos, que empezaba a corregirse y a orinarse. Vino un cura y yo me decía: “¡Coño! ¿A qué carajo viene el cura, si lo van a matar?” Le di la espalda y me fui. No he podido ver eso nunca. Cuando le tiran y le meten la descarga, se me estremece el cuerpo. A mí se me vuelve la carne de gallina. No sé si es miedo. Yo he sido sin embargo un guerrero toda la vida, y hay gente que cree que un guerrero mata a sangre fría, que la muerte es para él un alimento. Para mí, no.”

No GEES - A Cara Oculta de Che - Os Fuzilamentos

Teenagar - Pony

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A 12ª Câmara de Shaolin

Ele (Hugo Monteiro) foi à recôndita província de Henan aprender, com os melhores mestres, a mortífera técnica do murro da morte.

A defesa da Monarquia - reflexões sobre a exposição de Paulo Teixeira Pinto na FDUP


O último rei dos nossos tempos é o Presidente dos EUA


Tenho deixado para as calendas gregas o resumo da conferência que Paulo Teixeira Pinto ofereceu aos alunos da Faculdade de Direito da UP. A causa principal é a recolha de informações e alguns comentários às notas que tirei de frases soltas e argumentos que nessa pequena exposição foram ditos, tanto por professores como por alunos.

A instituição real foca-se, obviamente, na pessoa do Rei (ou Rainha), que são a personificação de outra instituição, a Coroa. A importância destes dados tornar-se-à mais clara à medida que se desenrola o texto.

O Rei não governa, mas reina. Este princípio é fundamental para compreender a Monarquia Constitucional e os contornos da forma de Estado a que se chama Monarquia.

Ao Reinar, o Rei não desempenha uma simples tarefa simbólica ou nostálgica/nacionalista - Reinar é incorporar a realidade colectiva que é conhecida pelo Reino, é um acto de representação nacional que vai além dos vínculos que tem a soberania popular para com o poder político.

Muitos estados não adoptaram a forma de estado (e não de governo) monárquica porque não se lhes proporcionou tal necessidade histórica, porque a sociedade desenvolveu quase espontaneamente uma forma de Estado diferente (como é o caso dos EUA). Outros Estados não têm sequer uma identidade nacional suficiente forte/presente para conseguir sobreviver ou manter um governo estável. É o caso da Irlanda do Norte, dependente da Coroa Inglesa, que seria palco de funestas manifestações entre independentistas e integracionistas na República da Irlanda caso a Coroa Britânica prescindisse dos seus direitos sobre aquela faixa norte da ilha irlandesa.


Outra questão abordada na discussão é a suposta vantagem das repúblicas sobre as monarquias, ao apresentar o seu carácter electivo do Chefe de Estado.

Este teorema é facilmente desmontável. Os PR's nem sempre são eleitos por sufrágio universal e directo. Há até, na maior parte dos casos europeus e monárquicos, um ritual de eleição que pode ser só ritualesco, ou mesmo passar por uma reflectida decisão parlamentar. Há, portanto, Reis eleitos.

O argumento do acesso aos órgãos públicos de soberania dificilmente pode ser usado duradouramente pelos republicanos. Há vários órgãos de soberania que carecem de votação, como os magistrados e os juízes. Isso não lhes confere poderes ditatoriais, se bem que, em alguns casos, possa fugir à res publica o controle das suas funções.

O que Paulo Teixeira Pinto se esqueceu de fazer notar, a meu ver, é que o Rei não é um Cargo Público. O Rei não interfere directamente nos assuntos públicos, para o que precisaria, de facto, de legitimidade democrática. Nos países onde prevalece o Estado de Direito de matriz Ocidental, o Rei ocupa funções mitigadas no que toca à apreciação da legislação parlamentar. Pedir ao Rei para governar, seria desvirtuar o seu carácter incorporador da tal realidade colectiva -Reino.

Esse carácter agregador, a representação subtil da união da comunidade numa instituição apolítica é o trunfo estabilizador que as Monarquias Constitucionais oferecem aos países e às nações.

Deste ponto até provar que as Monarquias e as Ditaduras são altamente incompatíveis, é fácil a progressão dos argumentos. Só a Monarquia Constitucional permite o parlamentarismo, evitando que este se esvaia na crescente anarquia partidária, como aconteceu nos anos da Iº República.

Este poder derivado da comunidade funciona como coercivo psicológico aos governantes eleitos democraticamente. Os interesses dos povos são salvaguardados por esta neutralidade real, que impõe o respeito institucional aos sucessivos governos, impedindo-os de realizar muitos desastres governamentais a que nós estamos habituados por cá. Pode parecer uma ideia improvável, mas é o que acontece na prática. O elevado respeito das sociedades pelo Rei, que se dá em todos os países monárquicos, tornam este personagem temível para os governos. Esse temor não é possível quando exercido por um Presidente da República, não raras vezes vindo do mesmo meio dos restantes políticos, que guardam dele as memórias dos tempos menos preciosos da sua carreira.


A restante exposição de Paulo Teixeira Pinto baseou-se na perenidade de Estado, na constante necessidade de mudança que os tempos trazem e, com base nestes argumentos, a crítica à imutável Constituição da República Portuguesa de 1976.


Lança-se o repto a uma nova constituição. Não uma da República, uma de Portugal. Uma que não hipoteque o futuro das gerações seguintes.

Uma Constituição de Portugal. E se a Monarquia vier, não será por meios de balas nem tanques nem revoluções. Virá naturalmente, tão naturalmente como o suave correr dos dias, manifestada implicitamente na vontade natural dos povos.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Evolucionismo pela Igreja Católica Apostólica Romana (I)

Perante um véu opaco que vai, passo a passo, toldando a consciência colectiva, incutindo-lhe mentiras e deturpações - um véu que aumenta a resistência mental de indivíduos manifestamente mais influenciáveis, por um lado, e que, por outro, impede os interessados de alcançar o merecido esclarecimento – urge prestar alguns esclarecimentos atinentes à relação da Igreja com as ciências positivas, nomeadamente, com as teorias evolucionistas da biologia (a quem esteja disposto a recebê-los, que por cá nunca foi nosso fito pressionar ou utilizar falácias para conquistar a adesão do auditório - veja-se que nunca abusámos das categorias clássicas do Ethos, Phatos e Logos).

Assim, para obviar uma imprecisão gravíssima, nota da difundida ignorância que povoa círculos académicos que se queriam sobranceiros, peço a atenção dos possíveis leitores. Falo do criacionismo, aquilo que muitos julgam ser a posição oficial da Igreja Católica, e mais não é do que, sejamos honestos, uma grande treta! É uma parvoíce e não é ciência. Todavia, não queiram acusar, sem mais, a Igreja, pois esta é a primeira a negar tal “teoria”.

Aliás, o criacionismo surgiu nos E.U.A., em alguns Estados, pela vontade de meia dúzia de pais escandalizados por estarem a ensinar aos pobres filhinhos que o homem e o macaco tiveram um antepassado comum e bem peludo (é conhecida a fobia norte-americana à pilosidade corporal) – que fique bem claro, desta vez, a Igreja e a CIA nada tiveram que ver com o caso!

Ora, para calcificar a minha argumentação achei por bem transcrever três pontos de uma Encíclica do Papa Pio XII, denominada Humani Generis. O documento data de 12 de Agosto de 1959, o que atesta a sobriedade e esclarecimento do Vaticano à data.

Um primeiro ponto sobre a relação geral da Doutrina Católica com as ciências positivas:
“35. Resta-nos agora dizer algo acerca de algumas questões que, embora pertençam às disciplinas a que é costume chamar positivas, entretanto, se entrelaçam mais ou menos com as verdades da fé cristã. Não poucos rogam insistentemente que a religião católica tenha em máxima conta a tais ciências; o que é certamente digno de louvor quando se trata de factos na realidade demonstrados, mas que hão-de admitir-se com cautela quando se trata de hipóteses, ainda que de algum modo apoiadas na ciência humana, que tocam a doutrina contida na sagrada Escritura ou na tradição. Se tais conjecturas opináveis se opõem directa ou indirectamente à doutrina que Deus revelou, então esses postulados não se podem admitir de modo algum.”

Agora quanto ao evolucionismo:
“36. Por isso o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são directamente criadas por Deus), segundo o estágio actual das ciências humanas e da sagrada teologia, de modo que as razões de uma e outra opinião, isto é, dos que defendem ou impugnam tal doutrina, sejam ponderadas e julgadas com a devida gravidade, moderação e comedimento, contanto que todos estejam dispostos a obedecer ao ditame da Igreja, a quem Cristo conferiu o encargo de interpretar autenticamente as Sagradas Escrituras e de defender os dogmas da fé.(10) Porém, certas pessoas, ultrapassam com temerária audácia essa liberdade de discussão, agindo como se a própria origem do corpo humano a partir de matéria viva preexistente fosse já certa e absolutamente demonstrada pelos indícios até agora achados e pelos raciocínios neles baseados, e como se nada houvesse nas fontes da revelação que exigisse a máxima moderação e cautela nessa matéria.”

(Continua...)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Si usted esta leyendo este mensaje...

"Si usted esta leyendo este mensaje es que yo Rodrigo Rosenberg Marzano fui asesinado(...)".
Rosenberg Marzano, advogado guatemalteca, gravou este depoimento no sexto dia do presente mês - foi assassinado quatro dias mais tarde perto de sua casa por vários indivíduos armados que o esperavam. Por não duvidar que a sua morte não tardava ordenou a distribuição do vídeo e respectivos textos (onde culpa o Presidente da Guatemala, o seu secretário pessoal, bem como um empresário com ligações à presidência) no dia do seu funeral à imprensa.
Deixo os vídeos e os textos:







Primeiro texto
Segundo texto
Terceiro texto

Quando os Credores Perderem a Paciência

Daniel Bessa in Expresso

"A classe política, e os portugueses em geral, têm-se ocupado a discutir a solução governativa a partir de Outubro próximo. Com todo o respeito, parece-me um devaneio primaveril. Um país que deve ao exterior mais de 100% do seu PIB anual (sim, caro leitor, cerca de 20.000 euros cada um de nós, ainda que por interpostas pessoas), e se endivida à razão de dois milhões de euros por hora (10% do PIB anual), pode até escolher Governo (os executantes) mas já não tem escolha de políticas.
Eu sei, como o leitor, que há uma única solução condigna: produzir mais e exportar mais. Só que já não há tempo para essa solução e, nos tempos mais próximos, já não há alternativa a gastar bastante menos (nós todos, Estado, empresas e famílias). Infelizmente. Podemos até fingir que nos esquecemos desta dura realidade. Não importa. Lá para Novembro, quando começar a aproximar-se o Inverno, os credores imporão, primeiro a política e, se necessário, os próprios executantes. E quanto mais 'marialvas' nos mostrarmos, mais depressa nos obrigarão a gastar menos.
O FMI tratou do assunto em 1977 (Governo PS-CDS) e em 1983 (Governo de Bloco Central). Em 2010, os credores far-se-ão representar pela Comissão Europeia. Votemos, entretanto."

terça-feira, 12 de maio de 2009

em 1853 como em 2009

"Defendemos a propriedade porque vemos aumentar irreflectidamente a despesa pública, e já pressentimos a mão do fisco, entrando pela bolsa dos contribuintes, sufocar o desenvolvimento da riqueza dos particulares, que é a riqueza do país."

Herculano, em 1853

A Verdadeira História da Revolução Cubana (II)

Na continuação deste trabalho, apresento novos dados que contrariam as ideias gerais que foram propagadas pela máquina de propaganda de estudiosos pouco importados com uma acertada interpretação dos factos.
A História, ou a sua Ciência, baseia-se nos documentos e nos factos, mas implica, para o seu salutar estudo, um nível de subjectividade que é inerente ao seu estatuto de Ciência Social e Humana.
Esta subjectividade, contudo, não é carta branca para promover a instabilidade científica no seio dos investigadores. É antes um critério a ter em conta no estudo da história e na análise das obras. É um convite a apreciar as diferentes partes singularmente, e não imediatamente pelo Todo.
O enorme desrespeito por estes prismas causam, a meu ver, o enorme desleixo e a baixa qualidade do estudo da História em Portugal e a ignorância mental e desonestidade intelectual que possuem a maior parte dos interessados.

Quem foi Fulgêncio Baptista? Um conservador? Um neo-liberal?
Um activista de extrema direita?

Quem afirmar estes pontos desconhece, de todo, a personagem, o cenário político cubano, e a tendência política da América do Sul nos anos 40, 50 e 60.

A instabilidade política em Cuba catapulta Baptista para o poder, através de um golpe militar. Em 1940, através de eleições que se julga terem sido efectuadas por métodos de perseguição política à oposição e fraude eleitoral, Fulgêncio ganha democraticamente as primeiras eleições livres (?) desde há muito tempo. Isto não dá ao homem, como decerto reparam aqueles que lêem o Café Odisseia, que são pessoas com um sentido de democracia que vai além do atribuído ao que sofrem de esquerdismo claustrofóbico, qualquer tipo de legitimidade de exercício das suas funções.

Nos dias de hoje, Fulgêncio Baptista seria admirado por vários dos potenciais eleitores do Bloco de Esquerda e até do PCP.
Baptista favoreceu os sindicatos nas suas medidas, e impôs reformas que limitaram grandemente a iniciativa privada, sendo zeloso, à boa maneira marxista, nas suas regulações.

Tanto sucesso no seu governo executivo deu-lhe a ideia de prolongar, para além das vicissitudes do cumprimento da legalidade constitucional, o seu mandato.
E para isto foi apoiado pelo Partido Comunista e pelos sindicatos cubanos que favoreceu.

A partir de 1944, Baptista manteve-se nos bastidores da política cubana, voltando anos mais tarde, em 1952. Nessa altura, Cuba mantinha-se um país longe do socialismo, apesar dos sucessivos governos de esquerda. O crescimento económico, apesar de ter estagnado, manteve-se. No entanto, uma nova Constituição, intervencionista, obrigava aos cubanos a suportar um Estado em crescimento.

A princípio suportado pelos EUA, Fulgêncio Baptista mostrou-se cada vez mais violento e ditatorial, sendo sujeito, nos últimos anos, a um embargo comercial sério por parte dos americanos.

Admirado, em tempos, por Fidel, que o considerou um político que havia esquecido o que era a Revolução, Fulgêncio Baptista é o típico político da América Latina. Virado ao Marxismo Leninismo, seja qual seja a sua inclinação política, com fortes tendências ditatoriais e açambarcadoras de poder. Disciplinou os seus concidadãos através da repressão que era efectuada pelos membros da MAFIA que prosperavam em Havana.

Castro falhou em reunir os elementos activistas da oposição de esquerda para o seu lado. Contava apenas com a ajuda de jovens partisanos e revolucionários, dos tempos de Faculdade.
Quando subiu ao poder, provou ser mais instável, autoritário e perigoso.
Fechou os jornais da oposição e nacionalizou as estações de rádio e televisão. Sem alguma vez ter obtido o seu caminho para o poder através de sufrágio, Castro assumiu, desde cedo, uma atitude que os Estados Unidos não conseguiram, nem podiam, tolerar.

No entanto, 6 dias após o golpe de Estado que trouxe Fidel Castro ao poder e levou Baptista ao exílio, os EUA reconhecem o seu governo.
Começa aí uma relação muito estranha entre os dois países...

Continua...

Fontes:
Still Stuck on Castro: How the press handled a tyrant's farewell.

Fascistas Neo-Liberais em Gaia!

Encontrei o Rodrigo Lobo d'Ávila no clube dos pensadores, no Gaia Hotel, enquanto ambos ouvíamos a promissora palestra do Medina Carreira.
Ainda deu para chalaçar um pouco o Carlos Santos, depois de umas valentes patranhadas que ele enfiou por.

Ficamos a saber que o País gasta 2 milhões de euros por hora, em média, desde 2000 (urra!) e que o crescimento acelerado do Estado não está a ser acompanhado montante de impostos arrecadado. Ou seja, é preciso, para manter o estado actual do Estado, aumentar os impostos.
Força.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Menos Prozac, Mais Saúde

Aqui estão os últimos indicadores económicos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Os resultados são temperados: forte abrandamento económico para os E.U.A., Alemanha, Japão, Brasil, Canadá, Índia e Rússia. Pausa no abrandamento do Reino Unido, França, Itália e China.
Jean-Claude Trichet afirma que a economia mundial se encontra "num ponto de inflexão".

O Homem que Sabia Demasiado

"Em matéria de segurança o PS é incompetente, o PSD é mole, e a extrema-esquerda é lírica".

“A autoridade da polícia tem de ser defendida pelo Estado, pois não é aceitável que seja atacada com cocktails molotov por bandos organizados que sequestram a liberdade dos cidadãos”.

"Há em Portugal uma maioria silenciosa de portugueses que está farta de ver a polícia ser atacada e depois justificarem os delinquentes.”

"Há bairros sociais onde se consegue reduzir a toxicodependência e o abandono escolar e aumentar a auto-estima pela habitação social e há outros em que o Estado julga que, dando o rendimento mínimo a quem não quer trabalhar, resolve os problemas”.

“Há muita gente com dificuldades e pobre que nunca roubou nada a ninguém e nunca incomodou ninguém e dedica a sua vida a fazer um esforço para viver com dignidade”.

Paulo Portas
Presidente do CDS-PP

domingo, 10 de maio de 2009

A Verdadeira História da Revolução Cubana (I)


Quem estuda a história de Cuba, sobretudo se influenciado pelas fontes traduzidas em português, depara-se com teorias e posições demarcadamente ideológicas.
Sejam comentários, documentários, resumos passados em revistas e canais de televisão, há pouco historiadores em Portugal que tomaram nas suas mãos o estudo da Revolução Cubana usando de um método científico que procurasse tomar ilações sobre o carácter psicológico e as intenções que os principais líderes revolucionários tinham, à data do golpe.

Faço esta intervenção antes do texto, porque há muito boa gente que pensa saber muito de Cuba, quando não sabe nada. Que desconhece que muitos dos factos apresentados servem como justificação do golpe revolucionário e das acções de nacionalização de empresas, sem estudar devidamente as fontes.
Ora, a boa história faz-se de factos e interpretações, é verdade, mas é a qualidade dos primeiros que assevera a certeza dos segundos.

Retornando ao tema da isenção ideológica, há portanto muito que dizer. Em quase todas as exposições da história da revolução, assiste-se a uma dicotomia muito interessante : a má vontade da potência neocolonial, os EUA, e a necessária reacção violenta dos voluntariosos cubanos. É normal. Considera-se que o socialismo isolacionista de Cuba é o efeito (e não a causa) do bloqueio americano, que falhou em tolerar a mudança de regime na ilha. É perfeitamente não censurável este prisma, visto que vários políticos norte-americanos aproveitaram-se desta falácia para obter vantagens nas urnas, entre eles, o mais famoso, John F. Kennedy.

Ora, é mister elucidar algumas mentes transviadas da verdade dos acontecimentos.
Primeiro, analisar as relações EUA-Cuba antes da Revolução. Sabe-se que a política cubana era influenciada pelo poder de empresas americanas, principalmente as do sector agrícola. No entanto, nos últimos anos de Fulgência Baptista, o regime atingiu níveis de instabilidade muito grande, devido ao crescimento fraco da economia, resultado de medidas económicas que visavam o egualitarismo económico, medidas essas que provocaram tal desconforto que já os EUA recorriam a certas restrições comerciais antes de Fidel Castro entrar na cena política. O apoio das centrais sindicais a Fulgência Baptista, que se manteve até ao fim, era uma das principais causas de atrito entre este e a classe média do país, no que tocava a implementação de políticas autoritárias.

É preciso ver que o principal apoio a Fulgência Baptista partiu dos sectores comunistas da sociedade cubana. Antes do complôt que o conduziu ao poder, Cuba era uma das nações mais avançadas da América Latina.
Tinha um poderoso sector industrial, e a tradição do bom sector médico era já antiga. Cuba, em 1940, era a nação com mais licensiados em Medicina per capita.

A ilha tinha a taxa de mortalidade infantil mais baixa do mundo. Antes de Fulgência Baptista, Cuba tinha o 4º nível de literacia mais alta do mundo. Todos estes dados, e muitos outros, que são hoje usados como arma de propaganda pelos socialistas cubanos, provam que as infra-estruturas já existiam na ilha, foram até desleixadas pelos castristas.

A agricultura cubana, supostamente explorada pelos capitalistas americanos, era riquíssima. Os salários dos agricultores eram superiores aos da Dinamarca e da França.

As mudanças sociais prometidas por Fulgência Baptista, contudo, tiveram efeitos perversos que atrasaram a economia, aumentaram o descontentamento dos já descontentes, e defraudaram as aspirações da classe média.
À altura da sua queda, com Fulgência só estavam os sectores esquerdistas mais radicais. Os comunistas originais de Cuba mantiveram-se com ele.
A maioria da população apostou na força de uma mudança revolucionária na corrupção que grassava na administração do governo cubano. Fidel e Companhia eram uma solução aparentemente viável.

Continua (...)

fontes:

Cuba Before Fidel Castro, da Magazine Contacto
Cuba: The Unnecessery Revolution, por Adolfo Rivero Caro
Heroic Myth and Prosaic Failure, no The Economist
Cuba on the Eve of the Socialist Transition: A Reassessment of the Backwardness-Stagnation Thesis, por Eric N. Balaknoff

Pasta do Interior

O Relatório Anual de Segurança Interna referente ao ano de 2008 traça um retrato interessante da variação da criminalidade violenta. Especula-se muito na imprensa mas dados concretos nem vê-los. Portanto, ficam alguns apontamentos, estes sim, dignos de apreensão.





Descidas em relação a 2007:
-Furto/roubo por esticão – 5.357 (menos 67 casos em comparação com o ano anterior)

-Extorsão – 190 casos (menos 21 casos)
-Pirataria aérea e outros crimes contra a segurança da aviação (nenhum caso!)
-Resistência e coacção sobre funcionário – 1.571 casos (menos 170)

Subidas em relação a 2007:
-Homicídio voluntário consumado – 145 casos (­mais 12 que no ano anterior)
-Ofensas à integridade física graves – 760 casos (mais 98)
-Rapto, sequestro e tomada de reféns – 493 casos (mais 51)
-Violação – 317 casos (mais 11)
-Roubo na via pública – 10.171 (mais 511)
-Roubo a banco ou a estabelecimento de crédito – 230 casos (mais 122)
-Roubo a posto de abastecimento de combustível – 471 casos (mais 230)
-Roubo a motorista de transportes públicos – 228 casos (mais 10 casos)
-Outros roubos – 4.226 casos (mais 1.484)
-Associações criminosas – 29 casos (mais 6)
-Motim, instigação ou apologia pública do crime – 5 casos (mais 4).

São estes os dados governamentais. Afirmar se encobrem ou não a criminalidade juvenil seria, da minha parte, puro exercício de adivinhação. Qualquer pessoa, desde que honesta, verifica que a fatia de aumento em comparação com 2007 é significativa, mas, assim não fosse, os dados seriam na mesma preocupantes – retirado o aumento de 2008 os números continuam a ser insustentáveis. Tenhamos também em conta que muitos crimes permanecem incógnitos, já que nem toda a gente apresenta queixa, o que poderia aditar nova soma aos casos de roubo na via pública, violação, ofensas à integridade física graves, rapto e sequestro. Assim sendo, apenas podemos analisar o lado solar do problema.

sábado, 9 de maio de 2009

Como o Governo desmantelou todas as redes de carjacking

Após uma chamada de atenção da Direcção-Geral da Política de Justiça, o Director-Geral da PSP decidiu proibirqualquer utilização verbal ou escrita em intervenções ou documentos oficiais das expressões "carjacking" e "homejacking"”.
Respiremos de alívio, por ora está resolvido o problema da criminalidade violenta!

Kebab em Calais (II)

Ainda a respeito da temática da imigração ilegal e da lei francesa L622-1, deixo o manifesto de um cidadão francês que se opõe vigorosamente a estes “crimes de solidariedade”. De nome Pierre Falk (Mister Pierre para os seus protegidos), é gerente de uma discoteca (empresário da noite, em bom português) e não tem receio de admitir que aloja imigrantes ilegais numa das casas que possui, situada em Boulogne-sur-Mer.

«Não tenho verdadeiramente muito para dizer nem justificar. É assim e não de outro modo; não estou certo de ter razão, mas a minha vida e a minha participação na evolução do mundo são assim. Não me considero acima das leis, mas penso que podem ser transgredidas em alguns casos. Não me considero um justo, um Militante, um Humanitário, um Defensor dos Direitos Humanos ou sei lá que mais. Não sou crente, não procuro elogios, não actuo por piedade nem por bons sentimentos, não sou a Honrada França, não tenho nenhum orgulho nem proveito do que faço, é mesmo um ponto de honra nunca pedir qualquer comparticipação nas despesas. Sou apenas um ser humano à face da Terra que tem um pouco mais de sorte do que aqueles com que se cruza... Então: SIM, há mais de seis anos, tento ajudar quanto posso as pessoas, outros cidadãos do mundo, a sobreviver melhor momentaneamente, alojando-os e pondo a funcionar a minha velha máquina de lavar roupa, por exemplo.

A minha casinha representa um tempo de pausa e de repouso, onde são possíveis coisas elementares e vitais: sentar-se a uma mesa para comer, dormir a contento em lençóis lavados, lavar-se, tomar duche, ir a uma casa de banho, cuidar de si, pentear-se, maquilhar-se, barbear-se, proteger-se da chuva, do frio, da angústia e do stress quase permanentes, olhar para um mapa, trocar informações, falar, encontrar(-se), dizer, criar relações, cozinhar, brincar, rir. Por estes escassos momentos de vida roubados à adversidade, não me considero um delinquente, talvez um desobediente.

A eles, não os considero uns indocumentados, ainda menos delinquentes. Está bem que estão ilegais, clandestinos, mas são, acima de tudo, imigrantes que não têm escolha senão fugir dos seus países em guerra, de opressores ou crises económicas endémicas, sonhando com uma vida melhor. Após travessias de países, desertos e mares, pelo menos muito difíceis, chegam aqui, a esta espécie de beco sem saída armado em masmorra... Ficam várias semanas, ou mesmo vários meses, em condições de vida que não se desejam a ninguém. E é verdade que há aldrabões, pessoas pouco recomendáveis, máfias que prosperam à custa deles, um sistema gerado pelo dinheiro todo-poderoso; mas também é evidente a imensa fractura Norte-Sul, a ausência de uma política migratória aberta, digna, respeitadora, e a hipocrisia inglesa, e a nossa.

Não alinho de facto nessa maneira exagerada, desproporcionada (mas que pode até ser produtiva) de apontar o dedo ao elo mais fraco, de fazer acusações de fascismo ou comparações que não têm razão de ser. A detenção de que fui alvo, agora e nas vezes anteriores, passou-se bem, confrontei-me com uma polícia correcta, que faz o trabalho que se lhe pede para fazer.

Os interrogatórios foram urbanos e profissionais. Talvez este bom trato se deva ao facto de ter a minha situação regularizada, ser um cidadão europeu, branco, normal... Só me irritam um bocado os sorrisinhos trocistas: 'Ah caro Senhor Humanista, o senhor é um sonhador, o mundo é como é e não está nas suas mãos mudá-lo.' Mas revoltam-me e fazem-me sempre reagir as práticas indignas, inadmissíveis, injustificáveis! Perante aquilo de que somos acusados, nós, os voluntários – solidariedade, cumplicidade –, não serve de muito pôr-nos sob escuta telefónica, deter-nos, utilizar procedimentos intimidadores, ainda por cima dispendiosos. Apesar de não andar por aí a fazer alarde disso, sei o que faço e saberei o que responder se me voltarem a interpelar.

Se voltar a cruzar-me com uma jovem que quer alindar-se ou um homem com uma perna quebrada, a minha casa permanecerá aberta.»


Esta é uma tradução da revista Courrier Internacional. Para quem prefira, aqui se encontra o texto original.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Kebab em Calais (I)

« Toute personne qui aura, par aide directe ou indirecte, facilité ou tenté de faciliter l’entrée, la circulation ou le séjour irréguliers, d’un étranger en France sera punie d’un emprisonnement de cinq ans et d’une amende de 30 000 Euros.

Sera puni des mêmes peines celui qui, quelle que soit sa nationalité, aura commis le délit défini au premier alinéa du présent article alors qu’il se trouvait sur le territoire d’un Etat partie à la convention signée à Schengen le 19 juin 1990 autre que la France.

Sera puni des mêmes peines celui qui aura facilité ou tenté de faciliter l’entrée, la circulation ou le séjour irréguliers d’un étranger sur le territoire d’un autre Etat partie à la convention signée à Schengen le 19 juin 1990.

Sera puni de mêmes peines celui qui aura facilité ou tenté de faciliter l’entrée, la circulation ou le séjour irréguliers d’un étranger sur le territoire d’un Etat partie au protocole contre le trafic illicite de migrants par terre, air et mer, additionnel à la convention des Nations unies contre la criminalité transnationale organisée, signée à Palerme le 12 décembre 2000.

Les dispositions du précédent alinéa sont applicables en France à compter de la date de publication au Journal officiel de la République française de ce protocole. »

Este é o texto da lei francesa L622-1, que pune penalmente quem prestar auxílio a imigrantes ilegais. Altamente polémica, espelha o endurecimento das políticas de combate à imigração ilegal. Apesar de muito questionável (pune crimes de solidariedade, vai-se dizendo), poucos indivíduos foram detidos ao seu abrigo (ao longo dos últimos seis anos) – o que, porventura, reflectirá o descontentamento dos magistrados.
A questão da imigração ilegal atinge proporções de titã em Calais (cidade francesa mais próxima do Inglaterra), onde milhares de indivíduos vindos, maioritariamente, do sul da Europa, e aproveitando a livre circulação de pessoas, depressa chegam a França. Chegados a Calais tentam entrar em solo britânico.

Convém prestar alguns esclarecimentos: em 1999 abriu, em Calais, o campo de refugiados de Sangatte, que chegou a albergar mais de 2000 indivíduos (curdos, afegãs, iranianos, etc.). Daqui resultava que Sangatte (apesar das condições inumanas das instalações) servia de escala para os imigrantes tentarem a sua sorte na travessia do Eurotúnel. Sarkozy decidiu então encerrar Sangatte, pressionado pela rápida deterioração das relações com o Reino Unido, que já acusava França de não se empenhar no controlo policial de Calais.
O resultado fez-se sentir a a breve trecho, os migrantes diminuíram consideravelmente. Contudo, o refluxo foi breve – actualmente dados oficiais apontam para 1000 indivíduos espalhados pelas ruas da cidade. Mais, depois do fecho do campo, França e Reino Unido assinaram um acordo sui generis: Calais possui agora uma zona de controlo que, embora pertencendo territorialmente a França, é abrangida pela jurisdição inglesa; no outro lado do canal da Mancha, em Dover, verifica-se o contrário, jurisdição francesa em território inglês. Daqui resulta, em termos técnico-jurídicos, uma valente salgalhada!

Acresce ao exposto que, devido às leis sobre asilo político, França vê-se manietada, não podendo enviar a maior parte dos indivíduos que se encontram em situação ilegal para o seu país de origem, uma vez que aí seriam perseguidos (muitos pertencem a minorias étnicas ou religiosas).
Mas os franceses e os ingleses, munidos de séculos de experiência em tornear leis, tiveram um brilhante lampejo (este inteligível): abrir um centro de detenção na zona de controlo britânica, já que aí vigora um estatuto jurídico binacional extremamente ambíguo! Assim sendo, temos duas soluções possíveis: ou os indivíduos são presos em terra de ninguém (zona de controlo) e são repatriados à revelia das leis inglesas e francesas – o que me parece improvável e impraticável; ou então, servirá para pressionar os detidos a pedir asilo político em França (a maioria preferia no Reino Unido) ou, se não o pedirem, enviá-los directamente para a sua terra natal.

Avizinham-se tempos instáveis, inflamados por ódios nacionalistas e organizações humanitárias descontentes que, se não forem devidamente mitigados, poderão causar grave mossa numa União Europeia que ainda não encontrou uma matriz comum para a questão da imigração ilegal.

sobre o tipo que tinha, até há bem pouco tempo, legitimidade de exercício

Between 2002 and 2004 millions of Venezuelans signed petitions calling for a vote to remove Hugo Chavez from office. Signatories were not anonymous and during the petition campaign Chavez supporters hinted darkly that there would be retaliation. Chavez was in fact forced into a recall election, but unfortunately he won (not one of democracy's better moments). After the election, the list of signatories was distributed to government agencies in an easy-to-use database. The database included the names and addresses of all registered voters and whether they had signed an anti-Chavez petition. Technology thus provided Chavez supporters the information they needed to retaliate.
Technology cuts both ways, however, and in a truly remarkable paper, Hsieh, Miguel, Ortega and Rodriguez match information in the petition database to another database on wages, employment and income. What the authors find is shocking, albeit not surprising. Before the recall election, petition signatories and non-signatories look alike. After the election, the employment and wages of signatories drop considerably, about a 10% drop in wages relative to non-signatories. Survey evidence conducted by the authors is consistent with retaliation by Chavez supporters especially in the form of job losses in the public sector. The authors estimate that the retaliation was so widespread, many workers were pushed into informal employment, that the Venezuelan economy was significantly damaged.

Alegrem-se, chegou o Salvador...

Salvador Dali tem o prazer de vos oferecer um workshop de publicidade:





A crise ideológica

por João Cardoso Rosas, no novíssimo i.

Na esquerda socialista, muitos olham para a crise actual como uma manifestação das "contradições insanáveis" da economia de mercado, a que preferem chamar "capitalismo", recorrendo assim à linguagem marxista, embora se tenham esquecido já da teoria geral na qual essa linguagem fazia sentido. Assim, as medidas que preconizam para combater a crise são também antimercado: estatizar, nacionalizar, planear. Em suma, medidas para "superar" a economia de mercado, mas sem dizer aquilo a que essa "superação" dará lugar.

Outros, na direita conservadora, vêem na crise o soçobrar dos valores tradicionais que deveriam sustentar o desenvolvimento da economia de mercado. Eles continuam a usar uma linguagem moralizante e pouco atenta à dimensão institucional dos problemas. Por isso a sua solução para a crise nada apresenta de novo: ela resume-se à ideia de responsabilizar os agentes económicos, de lhes exigir padrões éticos mais elevados, como alternativa à restrição do mercado livre mediante a intervenção do Estado.

Estas visões ideológicas, da esquerda e da direita, as leituras do mundo que implicam e as soluções que projectam, são igualmente pobres e ingénuas. A economia de mercado não é algo que seja superável por alguma utopia socialista. O mercado é o único modo eficiente de produzir e trocar tudo aquilo que é essencial à vida. Mas a natureza dos agentes do mercado ou, se quisermos dizer, a natureza humana, também não é maleável ao moralismo conservador. A pobreza ideológica das duas visões aqui exemplificadas não permite compreender a crise e não permitirá enfrentá-la. Nós não podemos mudar a natureza do mercado e ainda menos a da própria humanidade. Aquilo que precisamos de mudar é a nossa percepção ideológica do mundo. A isso mesmo consagraremos as nossas crónicas.
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