Muitos pontos na teoria de Pedro Arroja da cultura da condição democrática dos povos, ou pelo menos é assim que eu ponho em termos materiais e resumidos a teoria das suas palestras e escritos recentes, estão preenchidos de um interesse e uma exactidão quase científicos.
A premissa maior passa pela incapacidade dos católicos exportarem, na totalidade pelo menos, as instituições republicanas e democráticas dos países de cultura protestante.
Troque-se a palavra católico por latino e protestante por anglo-saxónico/germânico, e continuaremos com um sentido muito próximo da realidade.
A democracia liberal, a de raiz protestante, resulta de uma fissura nas bases. É a divisão a nível local que propicia o ambiente político da Grande Política. Ou seja, é a grande diversidade de culturas e a rivalidade de interesses entra as diferentes populações, essa enorme heterogeneidade protestante, que cria a tendência liberal dos órgãos de soberania, que aparecem como contra-ponto na balança. A solução democrática surge, nos países nórdicos, como condição necessária à liberdade, como apaziguadora da rivalidade de interesses, como prévio fim de conflito.
A democracia liberal, como tem sido implementada em alguns países católicos, como Portugal, é o enxerto desproporcional na sociedade, enxerto esse comprado no mercado protestante.
O ambiente homogéneo da sociedade latina, a integração cultural activa e a maior comunidade de valores e tradições, assim como de costumes, leva a que os problemas sejam, desde muito cedo, tratados a nível local, com desembaraço e sem necessidade de poderes centrais ou garantes por parte destes poderes. No entanto, a Grande Política é muitas vezes relegada para as elites ou para um grupo social dominante. A maneira inteligente da democracia lidar com o desinteresse das populações latinas pela Grande Política seria criar um sistema onde esta não interferisse tanto com a vida comunal das freguesias e dos povos. Os modelos exportados não são os melhores para estes efeitos, criando situações em que a discussão à volta de um assunto se prolonga de tal maneira, que o assunto morre ou queda inutilizado.
O socialismo em Portugal tem vindo a tratar de forma semelhante a questão da descentralização do governo do país. O socialismo, no entanto, é também um fruto da tradição protestante.
Nascido de um sentido de classe predominantemente desfavorecida dos países industrializados do Norte da Europa, sendo que esse grupo, não raras vezes, era predominantemente católico, ao longo da sua evolução o socialismo exagera e recrudesce a sua orientação igualitária e uniformizadora.
Surge como uma hiperbolização das encíclicas papais do séc. XIX que demonizavam o lucro. A igualdade católica é agora transformada na igualdade social, numa igualdade forçada e violenta.
Esse militarismo igualitarista e homogeneizador falha redondamente nos países civilizados, mas quando ganha raízes nos países católicos, mesmo aos mais abertos ao espírito de iniciativa, ganha adeptos entre a população por causa das óbvias semelhanças ao credo católico.
No entanto a sociedade católico implementa a sua influência homogeneizante de forma cultural e tolerante, calma e macilenta, procurando a observância das leis e da paz social. O socialismo vem militarizar a política e o ambiente social.
Enquanto que no Catolicismo os homens devem amar o próximo como a si próprios, tendo como modelo Jesus Cristo, o único que, acima dos seus próprios interesses observou e garantiu os da Humanidade, no Socialismo/Comunismo todos os homens devem amar mais ao próximo que a si mesmo, devem sacrificar-se continuamente pelo Estado e pelo Bem Comum. O Catolicismo prega ideias como a Verdade e a Justiça, cultivando o respeito pelo Próximo. O Socialismo exige, acima de tudo, o Sacrifício por uma Causa maior que o Homem. É essa Causa Maior que o Homem/Indivíduo que marca o seu carácter e o torna numa degeneração perigosa do Cristianismo.
A democracia liberal tem futuro nos países católicos, ou de cultura marcadamente católica. Tem é de ser racionalmente implementada, e fundada nos ideiais de Justiça e Cidadania, pedras angulares e comuns do Liberalismo e do Cristianismo. Justiça para com cada Homem, dando a cada um o que lhe compete e o que ele merece, os frutos do seu trabalho e do seu mérito.
Cidadania, porque o funcionamento da sociedade só se dá quando os Indivíduos sentem a necessidade de respeitar a propriedade dos outros e os costumes do Próximo quando sabe que são os direito dos seus semelhantes que lhe garantem os seus direitos.
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