Perante um véu opaco que vai, passo a passo, toldando a consciência colectiva, incutindo-lhe mentiras e deturpações - um véu que aumenta a resistência mental de indivíduos manifestamente mais influenciáveis, por um lado, e que, por outro, impede os interessados de alcançar o merecido esclarecimento – urge prestar alguns esclarecimentos atinentes à relação da Igreja com as ciências positivas, nomeadamente, com as teorias evolucionistas da biologia (a quem esteja disposto a recebê-los, que por cá nunca foi nosso fito pressionar ou utilizar falácias para conquistar a adesão do auditório - veja-se que nunca abusámos das categorias clássicas do Ethos, Phatos e Logos).
Assim, para obviar uma imprecisão gravíssima, nota da difundida ignorância que povoa círculos académicos que se queriam sobranceiros, peço a atenção dos possíveis leitores. Falo do criacionismo, aquilo que muitos julgam ser a posição oficial da Igreja Católica, e mais não é do que, sejamos honestos, uma grande treta! É uma parvoíce e não é ciência. Todavia, não queiram acusar, sem mais, a Igreja, pois esta é a primeira a negar tal “teoria”.
Aliás, o criacionismo surgiu nos E.U.A., em alguns Estados, pela vontade de meia dúzia de pais escandalizados por estarem a ensinar aos pobres filhinhos que o homem e o macaco tiveram um antepassado comum e bem peludo (é conhecida a fobia norte-americana à pilosidade corporal) – que fique bem claro, desta vez, a Igreja e a CIA nada tiveram que ver com o caso!
Ora, para calcificar a minha argumentação achei por bem transcrever três pontos de uma Encíclica do Papa Pio XII, denominada Humani Generis. O documento data de 12 de Agosto de 1959, o que atesta a sobriedade e esclarecimento do Vaticano à data.
Um primeiro ponto sobre a relação geral da Doutrina Católica com as ciências positivas:
“35. Resta-nos agora dizer algo acerca de algumas questões que, embora pertençam às disciplinas a que é costume chamar positivas, entretanto, se entrelaçam mais ou menos com as verdades da fé cristã. Não poucos rogam insistentemente que a religião católica tenha em máxima conta a tais ciências; o que é certamente digno de louvor quando se trata de factos na realidade demonstrados, mas que hão-de admitir-se com cautela quando se trata de hipóteses, ainda que de algum modo apoiadas na ciência humana, que tocam a doutrina contida na sagrada Escritura ou na tradição. Se tais conjecturas opináveis se opõem directa ou indirectamente à doutrina que Deus revelou, então esses postulados não se podem admitir de modo algum.”
Agora quanto ao evolucionismo:
“36. Por isso o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são directamente criadas por Deus), segundo o estágio actual das ciências humanas e da sagrada teologia, de modo que as razões de uma e outra opinião, isto é, dos que defendem ou impugnam tal doutrina, sejam ponderadas e julgadas com a devida gravidade, moderação e comedimento, contanto que todos estejam dispostos a obedecer ao ditame da Igreja, a quem Cristo conferiu o encargo de interpretar autenticamente as Sagradas Escrituras e de defender os dogmas da fé.(10) Porém, certas pessoas, ultrapassam com temerária audácia essa liberdade de discussão, agindo como se a própria origem do corpo humano a partir de matéria viva preexistente fosse já certa e absolutamente demonstrada pelos indícios até agora achados e pelos raciocínios neles baseados, e como se nada houvesse nas fontes da revelação que exigisse a máxima moderação e cautela nessa matéria.”
(Continua...)
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