domingo, 10 de maio de 2009

A Verdadeira História da Revolução Cubana (I)


Quem estuda a história de Cuba, sobretudo se influenciado pelas fontes traduzidas em português, depara-se com teorias e posições demarcadamente ideológicas.
Sejam comentários, documentários, resumos passados em revistas e canais de televisão, há pouco historiadores em Portugal que tomaram nas suas mãos o estudo da Revolução Cubana usando de um método científico que procurasse tomar ilações sobre o carácter psicológico e as intenções que os principais líderes revolucionários tinham, à data do golpe.

Faço esta intervenção antes do texto, porque há muito boa gente que pensa saber muito de Cuba, quando não sabe nada. Que desconhece que muitos dos factos apresentados servem como justificação do golpe revolucionário e das acções de nacionalização de empresas, sem estudar devidamente as fontes.
Ora, a boa história faz-se de factos e interpretações, é verdade, mas é a qualidade dos primeiros que assevera a certeza dos segundos.

Retornando ao tema da isenção ideológica, há portanto muito que dizer. Em quase todas as exposições da história da revolução, assiste-se a uma dicotomia muito interessante : a má vontade da potência neocolonial, os EUA, e a necessária reacção violenta dos voluntariosos cubanos. É normal. Considera-se que o socialismo isolacionista de Cuba é o efeito (e não a causa) do bloqueio americano, que falhou em tolerar a mudança de regime na ilha. É perfeitamente não censurável este prisma, visto que vários políticos norte-americanos aproveitaram-se desta falácia para obter vantagens nas urnas, entre eles, o mais famoso, John F. Kennedy.

Ora, é mister elucidar algumas mentes transviadas da verdade dos acontecimentos.
Primeiro, analisar as relações EUA-Cuba antes da Revolução. Sabe-se que a política cubana era influenciada pelo poder de empresas americanas, principalmente as do sector agrícola. No entanto, nos últimos anos de Fulgência Baptista, o regime atingiu níveis de instabilidade muito grande, devido ao crescimento fraco da economia, resultado de medidas económicas que visavam o egualitarismo económico, medidas essas que provocaram tal desconforto que já os EUA recorriam a certas restrições comerciais antes de Fidel Castro entrar na cena política. O apoio das centrais sindicais a Fulgência Baptista, que se manteve até ao fim, era uma das principais causas de atrito entre este e a classe média do país, no que tocava a implementação de políticas autoritárias.

É preciso ver que o principal apoio a Fulgência Baptista partiu dos sectores comunistas da sociedade cubana. Antes do complôt que o conduziu ao poder, Cuba era uma das nações mais avançadas da América Latina.
Tinha um poderoso sector industrial, e a tradição do bom sector médico era já antiga. Cuba, em 1940, era a nação com mais licensiados em Medicina per capita.

A ilha tinha a taxa de mortalidade infantil mais baixa do mundo. Antes de Fulgência Baptista, Cuba tinha o 4º nível de literacia mais alta do mundo. Todos estes dados, e muitos outros, que são hoje usados como arma de propaganda pelos socialistas cubanos, provam que as infra-estruturas já existiam na ilha, foram até desleixadas pelos castristas.

A agricultura cubana, supostamente explorada pelos capitalistas americanos, era riquíssima. Os salários dos agricultores eram superiores aos da Dinamarca e da França.

As mudanças sociais prometidas por Fulgência Baptista, contudo, tiveram efeitos perversos que atrasaram a economia, aumentaram o descontentamento dos já descontentes, e defraudaram as aspirações da classe média.
À altura da sua queda, com Fulgência só estavam os sectores esquerdistas mais radicais. Os comunistas originais de Cuba mantiveram-se com ele.
A maioria da população apostou na força de uma mudança revolucionária na corrupção que grassava na administração do governo cubano. Fidel e Companhia eram uma solução aparentemente viável.

Continua (...)

fontes:

Cuba Before Fidel Castro, da Magazine Contacto
Cuba: The Unnecessery Revolution, por Adolfo Rivero Caro
Heroic Myth and Prosaic Failure, no The Economist
Cuba on the Eve of the Socialist Transition: A Reassessment of the Backwardness-Stagnation Thesis, por Eric N. Balaknoff

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