segunda-feira, 1 de setembro de 2008

o caos não é neutro! - parte I - dogmas e verdades em homens de um só livro, no Socialismo 2008

Manipuladores Manipulados – Comunicação Social e Jornalistas (Daniel Oliveira)

Nada é verdade e Tudo é permitido. Estas foram as últimas palavras de um líder dos Ismaelitas (islâmicos) antes de morrer e ser levado para o Inferno, como diziam os seus inimigos que o acusavam de ser um líder de uma seita herética. Também é o título do livro de John Geiger sobre a vida de Brion Gysin. Este lema, antigo e inspirado nas velhas escolas filosóficas clássicas, não envolve apenas o caminho para a liberdade, caso assim fosse era apenas um lema anárquico, mas antes procura inspirar um caminho livre para a sapiência, o caminho para a análise independente e racional.
O Bloco de Esquerda conta, apesar da sua breve história de sucesso político, com um dos males que afectam os grandes partidos políticos e que mais se afasta destes princípios. A divinização de ideias e pessoas. Podemos dividir este pequeno partido numa hierarquia religiosa, sendo que as únicas mentes pensantes estão na chefia e por trás segue-se uma multidão prostrada e pronta a obedecer ao apelo das armas. Não só se batendo pela igualdade, o Socialismo 2008 consegue também que todos os seus frequentadores pensem igual ou com métodos semelhantes.
O dia 30 deste último mês, Sábado que passa, o Bloco fez um pequeno convívio na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, frequentado pelas suas principais figuras, que consistia na apresentação de várias temáticas ligadas ao mundo actual, sendo que a maior parte delas eram apresentadas com o forte cunho ideológico do Bloco, como se esperava naturalmente num convívio deste tipo.
Interessado no alimento do espírito, eu, a Vânia Oliveira do ISSSP e vários alunos da FDUP, a Daniela Ramalho, a Sara Morgado, o Pedro Jacob e o Tiago Ramalho, combinámos ir juntos para assistir e tomar parte nos debates que aí se iam dar. Mal sabíamos nós que esse sábado ia ter muito pouco de debate.
O meu primeiro contacto com o Socialismo Bloquista (uma amálgama ideológica pouco firme, pouco sustentada, que se baseia em factos contornados de romantismo trotskista, marxista reformista, e outros -istas) deu-se, para meu prazer, com o Jornalista Daniel Oliveira, cujas crónicas eu vou acompanhando no Expresso com marcado interesse em ler uma pessoa muito convicta dos seus botões a falar não poucas vezes de coisas que parece perceber muito pouco.
Daniel Oliveira, do alto da sua moralidade bloquista, revoltava-se com as notícias da TV, o excesso da exposição da criminalidade. Mostravam-se uns números, uns vídeos que fizeram a alegria da multidão bloquista, formada de Patinhos-Feios muito seguros de si e pródigos em risadas de professor, como quem observava o desenrolar de uma sociedade constituída de pessoas que ainda não possuíam o mesmo nível intelectual que os frequentadores do Bloco, santificados ateus que têm, no entanto, a divina presença de ideias divinas.
Após a introdução de Daniel Oliveira, suficientemente grande para causar à assistência menos tendenciosa uma hemorragia nos ouvidos e suficientemente vazia para corresponder às expectativas dos bloquistas, abriu-se o espaço de participação da audiência.
Apesar de ter escrito uma página inteira de possíveis perguntas a Daniel Oliveira, sendo que uma delas era a famosa "E agora que disse isso tudo, qual é novidade?" ou então a menos conhecida "A sua apresentação é capaz de me ter causado um derrame cerebral, é capaz de chamar o 112?", notei que a assistência revelava-se igualmente interessada em debater o assunto, por isso resolvi fazer uma selecção de dúvidas. Qual foi o meu espanto quando vi que o mesmo cuidado não tiveram os bloquistas. As perguntas, com a sua natural complexidade, podiam ser todas resumidas numa única, que podia ser apresentada assim "Daniel Oliveira, pá, tu sabes que és o melhor (os bloquistas tratam-se todos por tu porque são todos pais do mesmo filho e filhos do mesmo pai, como nessas novas religiões americanas, aparentemente). Nós todos gostamos muito de ti, e eu queria perguntar-te se tu, sendo uma maravilha de um gajo e tendo essa barba muito socialista, és bestial ou só genial. (e agora vem a amostra intelectual que não pode faltar no discurso bloquista) Ah, e não te esqueças que o Caos não é Neutro!"
Após cada pergunta deste tipo, a sala silencia-se para ouvir a resposta de Daniel Oliveira, que resmunga qualquer coisa, ele próprio sem aparente paciência para os seus crentes.
Quando chegou a minha vez, temi de facto que o "Alarme Anti-Reaccionário" se activasse, e eu fosse ejectado da sala no preciso momento. Inocentemente perguntei ao Daniel se a imprensa não estaria só a reportar o aumento de criminalidade, que era inexistente de acordo com os números do Daniel, mas antes a violência exponencial dos crimes, que é de facto prevalente. Antes de acabar a minha pergunta já se tinha levantado o murmurinho na sala. O Alarme soara, um reaccionário encontrava-se entre as puras gentes do bloco, e fazia perguntas, a besta sádica!!!
Não posso incluir aqui a resposta do Daniel por várias razões: para além de uma resposta desmembrada e desarticulada, com a preciosa pérola do "Mas então porque é que eles não reportam a violência do Darfur, que também é valente?" (talvez por se passar a quilómetros daqui Daniel, e por cá haver problemas que cheguem, e ser uma coisa TOTALMENTE diferente) o Daniel fez questão de tentar me ridicularizar, quando eu referi a Geórgia no clube de nações oprimidas violentamente. Sim Daniel, é verdade que a Geórgia não é massacrada há tanto tempo como o Darfur. Mas convido-o a abrir a Wikipédia e ver a relação amistosa que este país manteve ao longo da história com o seu actual e amistoso ocupante.
O dia apresentava-se muito longo, e eu já estava algo desiludido. Não fosse a exposição sobre História do Mediterrâneo de Miguel Portas, ainda assim suficientemente tendenciosa, teria entrado em séria crise de melancolismo. De facto, fiquei a aprender poucas coisas sobre Daniel Oliveira, mas muito sobre o Bloco.
Sobre o Daniel, descobri que ao vivo a barba não lhe fica tão bem como nas fotos do Expresso. Além de uma justa defesa de Marco Fortes, pouco mais se pode indicar de positivo. Foi fraco, foi cliché. A TV, para ele, é uma maníaca-depressiva, que vive de euforia e repressão, e pressões. Os bloquistas queixam-se que a TV dá sempre a mesma coisa. Eu aconselho os bloquistas a deixar de ver TV, porque podem ficar ainda mais gordos e sebosos, e a pegar em bicicletas ou fazer amor. Os bloquistas não querem ver notícias de portáteis roubados em pleno tribunal, após o arrombamento de uma caixa multibanco ocorrido no mesmo. Os Bloquistas, e o Daniel Oliveira, sabem muito bem o que deve passar na TV. Só não nos dizem porque nós, comuns mortais, não íamos compreender. Deve passar aquilo que eles, e o Daniel Oliveira, muito bem entenderem. E só com a supervisão destes anjos mediáticos, se poderá atribuir notícias diferenciadas a cada estação, quer elas queiram quer não.
De facto não me impressionou reparar que as palavras mais usadas para solucionar o estado da nossa Televisão fossem estas duas pérolas: Denunciar e Controlar.
Estava à espera de mais deste debate com Daniel Oliveira na mesa. Marcado de um discurso dramático, excessivamente esquerdista, pseudo-revolucionário, manteve acima de tudo, acima da racionalidade e do poder da argumentação, o desejo de parecer um rapazinho traquina. E foi missão cumprida.

2 comentários:

TR disse...

Manel, discordo em absoluto. Aliás, ainda hoje postei na SDD a dizer isso (só depois é que li este texto).
Quanto à intervenção do Daniel Oliveira em específico, também discordo. Achei um discurso exactamente na linha da racionalidade e argumentação, e não abaixo ou acima da mesma.

De todo o modo, desenvolverei o tema. Abraço

Francisco disse...

Manel,

As últimas coisas que por aqui tenho lido têm sido para mim uma verdadeira escola introspectiva. Passo a explicar: tenho lido as tuas sapientes prosas, medito um pouco sobre elas e tenho uma vontade esmagadora de te deixar um comentário. Não pelos melhores motivos, confesso.
Todavia, como algumas hostes me têm acusado de mau-trato intelectual, e não querendo eu de forma alguma esfrangalhar relações de amizade que prezo e preservo, tenho feito, todas as santas vezes que leio as rosas que aqui pousas, um esforço e contenção incomensuráveis para me abster de deixar qualquer tipo de opinião. Não porque seja discordante da tua; isso chama-se discussão. Mas apenas porque a minha opinião visaria perigosamente a tua leviana presunção, o teu assutador pretensiosismo (que varia de objecto e aspiração conforme faz chuva ou sol) e a tua arrogância, própria de quem se fundamentou, estudou e meditou pouco ou nada.
Perdoa-me a sinceridade. Espero verdadeiramente que separes a esfera da relação interpessoal com ã da relação enquanto conflito e debate de ideias e visões. Porque enquanto amigos, eu guardo-te como um. Mas de facto, é-me difícil não me dirigir a ti depois de ler linhas como estas. Aliás, foi isso mesmo que explanei ao início: esse meu jogo interior de contenção.
Espero igualmente que percebas que a minha opinião aqui assumida atende apenas a posições meta-intelectuais por ti assumidas. Quando escreveres e mostrares ideias, as minhas palavras também serão outras.

Um abraço,
Francisco

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