Tem corrido um pouco por toda a imprensa nacional e internacional sérias interrogações sobre a identidade dos autores do crime que vitimou o último Chefe de Estado da Guiné-Bissau e quem poderá ter conspirado tal fim, cru e impiedoso, a um homem cujas mãos estão manchadas com o derramamento de muito sangue, talvez o suficiente para remir o derrame do seu.
A pergunta que faço é, a meu ver, mais construtiva para a análise das verdadeiras causas que movem a sociedade guineense e o equilíbrio político que actualmente existe na antiga Guiné Portuguesa.
Quem quer que tenha destruído Nino Vieira, tenha-o feito para vingar a morte do General Twagmé ou para evitar o crescimento do poder político de Nino Vieira às custas da morte deste, vai certamente sair impune. O Ministério Público da Guiné enfrenta enormes entraves à investigação, e mesmo que se chegue a algum resultado, há ainda a obstinação do Exército em proteger os seus oficiais. Não há também interessados, entre os partidos políticos, num desfecho judiciário exemplar deste caso. Porquê?, pergunta o leitor.
É aqui que voltamos há pergunta, e consequentemente achamos a resposta. Nino Vieira morreu devido a um sentido de Justiça, tão tribal quanto próprio da impetuosidade de África. Nino Vieira morreu porque, ao contrário do que se pensa, a sociedade não é um organismo homogéneo, mas é orgânica na maneira como actua. Partamos do ponto de vista da espontaneidade de que esta última possui, como vemos em Hayek, ou da simples soma das reacções das forças sociais em causa, a sociedade é também capaz de purgar e expulsar os elementos nocivos. Tal como o casal Ceausescu, do qual o senhor Ceausescu era o ditador da Roménia, foi assassinado sem cerimónias num golpe de estado, Nino Vieira morreu por um sentido de Justiça. Parte de uma geração de políticos que nunca reagiu bem em relação à confirmação popular do seu direito ao poder, Nino Vieira recebeu o Poder, tal como outros membros do PAIGC, da forma mais injusta possível.
Um grupo de descolonizadores, sem a competência reconhecida pelo seu povo enquanto representantes da nação, tratou de iniciar um processo de independência com líderes e membros de partidos marxistas, homens da selva, bárbaros assassinos, senhores da guerra. E é isso que as antigas colónias portuguesas têm tido. No entanto, a sociedade tem conseguido, lentamente, substituir essas gerações de guerrilheiros. A Guiné-Bissau eliminou, há dias, um desses senhores da guerra. Um dos homens com quem Mário Soares negociou a entrega de todo um povo. E o povo da Guiné, felizmente, deu um passo em frente para a paz. 30 anos depois da negociata.
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