domingo, 15 de março de 2009

Infusões Vocacionais

Um povo menino, um povo criança tal Cesariny o descrevia: o povo português. Um retrato sociológico do Portugal que temos afigura-se tarefa extenuante, um mero apanhado, uma aproximação já é quanto baste.
O país está transformado num enorme lodaçal de inaptos. Centrando a atenção nas novas gerações algo grotesco nos salta à vista. Canalha, canalha sem objectivos, apática, embotada numa monotonia viciosa.
Agora é outra coisa, noventa canais e Wikipédia para suprir qualquer dúvida, sites de apontamentos e trabalhos nota vinte prontos a imprimir. Agora é outra coisa, crianças com computadores no Ensino Básico e calculadoras que os impedem de desenvolver o raciocínio lógico e aritmético. Agora é que é bom, um Plano Nacional de Leitura que colhe frutos, com obras apelativas para os meninos: injecções de Sophia de Mello Breyner para os mais petizes; Luís de Camões dos quinze aos dezoito anos. Sim, continuemos, a média nacional de Matemática A ronda dos treze valores. Incrível, um povo menino e genial!
O ensino português falha rotundamente: péssimos programas; horários sobrecarregados; discrepâncias qualitativas entre os professores. Todavia, a principal razão do insucesso do nosso ensino prende-se com a falta de exigência. As matérias são cada vez mais sintetizadas, prensadas mecanicamente pelas novas pedagogias, as verdades insofismáveis que os psicólogos apregoam a cinquenta euros a consulta.
Os estudantes portugueses terminam o Ensino Secundário sem saber falar inglês ou francês; os conhecimentos de história são uma miséria (assim como o programa da disciplina); não se conseguem expressar correctamente na língua materna; e claro, não sabem efectuar os mais simples cálculos. E como se este descalabro não fosse suficiente, ainda se pondera acabar com as reprovações no Ensino Básico, e com disciplinas importantíssimas para a formação pessoal como filosofia.
Em Portugal não se lê. Basta entrar numa qualquer livraria e ver o catálogo de obras disponíveis. Não, aqui não se lê, passa-se os olhos por umas coisas com capa e contracapa de cores quentes, de título apelativo, como por exemplo “A décima sinfonia que Beethoven compôs para a franco-maçonaria norte-americana enquanto desenterrava a arca da aliança”.
Os estudantes saem das escolas a conhecer e a detestar meia dúzia de autores portugueses, literatura estrangeira é que nem vê-la. Nos Estados Unidos estuda-se Shakespeare, Truman Capote, Edgar Allan Poe, Walt Whitman, Dostoiévski, Tolstoi, Albert Camus, etc. Justifica-se plenamente a criação de uma disciplina de literatura que substituísse inutilidades como Área de Projecto e Estudo Acompanhado.
Há muito se perdeu a capacidade crítica das novas gerações, reprimida por professores mal formados que não toleram criatividade, e umas quantas doses de uniformização intelectual. E os estudantes até estudam mais, os desgraçados querem todos ser médicos - há umas escolas que os ajudam e uns medicamentos óptimos para a concentração. Sim, estudam mais, memorizam a matéria tal uma lengalenga - depois esquecem tudo. O Ensino Superior é outra chaga, mas esse sobra para uma próxima vez.
Que fique, então, bem presente, está cumprido o sonho de André Breton: um país de iletrados!

2 comentários:

Luís Paulo (Estudante de Direito) disse...

Jacob... és um génio!

Alegra-me ler este texto magnífico logo no dia em que eu iniciei a publicação de um artigo sobre o tema da educação no nosso blogue Rua dos Bragas, 223. Digo "iniciei" porque, pela sua extensão, vai ser publicado em vários Posts. Desde já estais convidados à sua leitura.

É uma pena não haver mais trabalhos destes nos blogues da FDUP, voltados para o público em geral, para fora, para a sociedade, e que apelam à reflexão.

A sociedade está a suportar os custos da nossa formação... é bom que ela saiba como está a ser aplicado o seu dinheiro, o dinheiro dos seus impostos.

Quem por aqui passa ficará certamente satisfeito... mas a dúvida da excepção permanecerá nas suas mentes!

Num universo tão largo de estudantes na FDUP só uma dúzia expõe publicamente as suas ideias e, nessa dúzia, meia é para dizer "atchim" quando alguém "pseudo-importante" espirra!

Grande equipa, nesta casa...

Parabéns!

Pedro Jacob Morais disse...

Obrigado pela paciente leitura, Luís. De há alguma tempo a esta parte tenho sentido necessidade de escrever este texto.

Pode parecer àspero, mas sem dúvida é fiel à realidade.

Agora falta uma análise ao Ensino Superior...

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