sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Crónicas de um Português Amargurado - Autor Convidado

Lí, na edição de Fevereiro do Jornal da UP, uma crónica publicada por Daniel Reifferscheid, na qual este autor introduzia (não que defendesse) uma teoria interessante: o cronista citado questionava-se se o patriotismo será um sentimento tanto maior quanto maior é a glória dos povos ou se, pelo contrário (ou também), será característica daqueles que parecem destinados ao fracasso, como um meio de defesa natural para que as populações consigam conviver com a sua própria nacionalidade; não com embaraço ou com um constrangedor sentimento de culpa ou inferioridade, mas com um falso orgulho, com um peito cheio e forte que esconde, na verdade, um espírito insatisfeito e talvez, envergonhado até. Calma! Antes que contestem a minha teoria e me acusem de ingenuidade, deixem-me já dizer que não concordo (totalmente) com ela: basta olha para o caso de países como a América, a Alemanha, ou a Rússia, em que o ser patriota, é uma das características mais nobres e socialmente louváveis. Realizei então uma séria e imediata actividade introspectiva buscando, no âmago dos meu ser, a verdadeira essência deste meu cego orgulho lusitano. Convenci-me (e tranquilizei-me) novamente, tal como pretendiam os manuais de história e essas tão aclamadas leituras obrigatórias, que o português é uma raça de enorme pedigree, e que marcou gloriosamente e para todo o sempre, a história da humanidade com um ousado toque de bravura e ambição que materializaram um sonho impossível e tornaram um país tão pequeno na 5ª língua mais palrada no mundo!!! Mas logo as vozes da oposição ecoaram dentro de mim, lembrando-me o quanto o Homem é capaz de se enganar a sí próprio e da sua incrível capacidade de se fazer convencer daquilo em que quer ou em que precisa de acreditar…
Normalmente o português até é o 1º a dizer mal do seu próprio país, não porque não goste dele mas porque, está cansado deste triste fado lusitano e tem vontade de ver Portugal erguer-se novamente, de ver a concretização das promessas de um 5º império, de ver chegar D.Sebastião e de finalmente ver, essa manhã de nevoeiro dissipar-se e tornar-se numa tarde de céu azul sem nuvens nem aguaceiros, prelúdio de um futuro mais próspero e risonho……….Ora vão-me desculpar: Mas eu já não acredito no regresso de D.Sebastião! Penso que se trata dum mito tão misterioso como as duas taças dos campeões ganhas pelo Benfica ou como o orgasmo feminino. O que direi asseguir vai-me fazer ser expulso do Odisseia tão depressa quanto entrei. Eu sei que um blooger tem responsabilidades sociais, pelo que deve ter um especial cuidado com o que escreve, não ferindo susceptibilidades nem incutindo sentimentos pessimistas, devendo até, trocar aquilo que acha que deve escrever por aquilo que acha que deve ser lido (pelo menos foi isto que me disse o fascista do Manel); mas aqui vai:
- Farto de ver um país atado pelos pés, assolado por injustiças e ineficiências, em que a única resposta dada por quem manda são as já bem conhecidas promessas demagógicas de um futuro melhor, e a única resposta de quem obedece é a habitual greve geral; eu pergunto-me se Afonso o 1º não devia ter estado quietinho quando se lembrou de rebelar à mãe e ao rei espanhol. Muito espanhóis invejam a nossa independência mas, muitos portugueses (acreditem!), já invejam a nacionalidade deles. Provavelmente vou ser acusado de traição e aparecerei no próximo cartaz do PNR em que serei, juntamente com as outras “ovelhas negras”, enchutado para o outro lado do Mediterrâneo, por baixo dum grande título de uma enorme sabedoria bucólica que diz “Portugal para os Portugueses”.
Já sei! Já sei, o que me dirão: Soberania à frente de prosperidade! Ou, como diria José Povinho, espumando de raiva: “ Pobres mas Honrados”! E eu concordo! Mas não deixo de sentir, num misto de inveja, admiração e profunda tristeza, um enorme desanimo ao ver o meu país agarrado à cauda da Europa, com um crescimento que chega, na melhor das hipóteses, a 1% e depois, constatar que as taxas de crescimento dos nossos vizinhos roçam os 4%! Basta atravessar a fronteira para encontrarmos mais emprego, melhores salários, melhores preços, enfim…melhor futuro… e o que explicará (além das óbvias diferenças geográficas que – vão me desculpar – não podem ser desculpa para tudo) que dois países vizinhos, igualmente periféricos e que têm, até 30 anos atrás, praticamente o mesmo ritmo de desenvolvimento, tenham tamanha diferença em qualidade de vida? Será o nosso espírito, contrariamente ao dos nostros ermanos, de tal modo negativista e triste que, nos leva a cantar o fado e a eles os leva a dançar o flamengo? (agora é que vou ter mesmo a minha cabeça a prémio). Bem, terei novamente de citar esse grande sábio de enorme profundidade filosófica: José Povinho – que rematava com uma frase do tipo: “a galinha do vizinho é sempre melhor que a nossa” – e finalizaria com um – “vai mazé trabalhar pah!”…

Francisco Cameira Matos

1 comentário:

Ary disse...

O teu texto surpreendeu-me pela positiva. Vê-se que dominas bem o estilo cda crónica e que esta te dá um certo prazer =). Não querendo desapontar-te gostaria de recordar os leitores que a situação econónmica dos "nossos vizinhos não é melhor que a nossa ... pelo menos se falarmos em crescimento da mesma. Esperemos que essa conjuntura adversa abrande as vbagas iberistas.

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