segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Enterro Prematuro

Dois séculos volvidos sobre o nascimento de Edgar Allan Poe, grande nome da literatura mundial, sobre o seu espólio muitas reflexões terão ainda de ser empreendidas. A nebulosa obra funde-se perfeitamente com a sua vida, não menos misteriosa. Nascido em Boston, a 19 de Janeiro de 1809, viveu uma vida desgarrada, embotada pelo álcool e demais excessos, que o levariam a um enterro prematuro, tinha então quarenta anos (1949).
Numa conferência na Universidade de Belgrano, Jorge Luís Borges refere-o nestes termos: “Poderia dizer-se que há dois homens sem os quais a literatura actual não seria o que é; esses dois homens são americanos e pertencem ao século passado – Walt Whitman – dele deriva o que denominamos poesia civil, deriva Neruda, derivam tantas coisas, boas ou más – e Edgar Allan Poe, que está na origem do simbolismo de Baudelaire, que foi seu discípulo e lhe rezava todas as noites.”
Considero errado referir O Corvo como a sua obra maior. Corvo esse que, não fosse um conto do Charles Dickens, provavelmente seria um papagaio (daí a repetição do never more no final de cada frase). Corvo esse que o próprio Poe desmontou como um jogo de crianças numa conferencia após a publicação.
São os seus inesquecíveis contos que devem ser venerados, monumentos ao insólito, ao sórdido, exercícios do mais puro suspense. Poe criou um género literário, não diria o género macabro ou grotesco, que esse pertence a Lautréamont; diria sim, com Luís Borges, o género policial. Sem ele, provavelmente, não haveria Sherlock Holmes, utilizando sonante exemplo. Ora, este é um inaudito e enorme mérito!
Porém, não só a literatura policial bebe do seu conhaque, peguemos na ponta solta que deixei: Charles Baudelaire. A este autor (outro de inigualável perícia) coube a tarefa de o traduzir para francês, pondo-o a circular rapidamente; por toda a Europa não mais se suspenderam os ecos. Assim, influenciando Baudelaire, caiu no goto de surrealistas, futuristas, e quantos vanguardistas sobrassem no século seguinte.
Hoje, Allan Poe deveria ser mais acarinhado pelos leitores, pois muitos ainda olham as suas obras com desconfiança, como literatura menor. Nada mais injusto.
Ficam algumas sugestões, alguns contos: O Enterro Prematuro; A Pipa de Amontillado; O Gato Preto; Morella; A Esfinge; A Caixa Longa.

3 comentários:

Sara Morgado disse...

O Allan Poe é mesmo surreal e bizarro.
A obsessão dele pelo Gato Preto foi das coisas mais insanas que já li, ou a mulher presa nos blocos de cimento lá de casa e o negócio do amontillado com o amigo :)
E, ao que parece, os escritos em inglês são ainda mais geniais, com rimas e figuras que são impossíveis de passar para português.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

meu deus, que casos línicos que vocês todos me saíram...

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

clínicos*

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