quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Calote



“Nesta casa não se vende fiado!”. É compreensível a exasperação russa após a Ucrânia ter desviado mais de 65 milhões de metros cúbicos de gás natural da pipeline que atravessa o país. Mais clara se torna olhando a situação interna da Santa Mãe: um orçamento de Estado alicerçado no barril de petróleo a setenta dólares (o que há poucos meses representara uma previsão pessimista, note-se bem); o rublo em queda; e o famigerado plano de salvação de certas empresas, escolhidas com minúcia de ourives, por Putin. Com franqueza, o Kremlin não se pode dar ao luxo de entregar, caridosamente, gás natural à Ucrânia, por muita pena que tenha. Ora, não querendo arcar com o prejuízo, Moscovo decidiu cortar no fornecimento ao resto da Europa (graças a Deus, não estamos incluídos!) o exacto volume açambarcado por Kiev. Paga o justo pelo pecador e salva-se a Gazprom, já que a Ucrânia insiste em negar o desvio.
Para além da arte de larápio, Kiev ainda regateia! É certo que a Rússia subiu o valor a cobrar pelo fornecimento, todavia, o preço continua bem abaixo da média europeia.
Na última edição do expresso, Miguel Monjardino, apoiado no Washington Quarterly, sugere um golpe de bastidores: uma empresa obscura (RosUkrEnergo) que, actuando em solo ucraniano, garante biliões de euros pela “porta do cavalo” aos dois Estados; a desavença surgiria, então, das partilhas.
Talvez seja um pouco temerário avançar uma teoria deste quilate. Quanto a mim, prefiro interrogar-me sobre a validade de uma mudança estratégica do gasoduto.

1 comentário:

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

o rublo já desvalorizou outra vez.
será que o gigante tem pés de barro?

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