domingo, 1 de junho de 2008

amo-te woody

Aconteceu uns 10 dias após a publicação do meu artigo sobre a possibilidade de Jesus Cristo ter sido uma mulher que recebi aquela chamada. A princípio pensei que era mais uma ameaça de morte, e preparei-me para desligar.
Do outro lado falavam-me em francês, e foi muito estranho, pois estávamos em Paris.
Perguntou-me se podia falar comigo, era uma voz de mulher. Eu perguntei-lhe quem ela era, e ela disse-me que tal relação se relaciona consigo mesma e tem de ser constituída a si própria. Eu compreendi logicamente que ela estava a citar Kirkegaard, e combinei encontrar-me com ela no "DuBois de Paris", algures em Paris. Nessa altura estava com a renda atrasada em quase dois meses, e com a guerra prestes a assolar a Europa, isso era considerado algo sobejamente negativo. Tinha negociado com o senhorio pagar a a minha renda com textos meus, que ele poderia editar em qualquer jornal da cidade como sendo dele. Acabou por não me dar nenhuma resposta em concreto, além de me ter partido o nariz em 3 sítios diferentes nesse exacto instante, por isso fiquei à espera da sua anuência.
Como em todos os meus encontros com mulheres, levava comigo um livro de Dostoievski, na esperança de conseguir o mítico sexo fácil que o autor proporcionou a todos os intelectuais do mundo.
Ela estava sentada na esplanada, bebericando uma cerveja alemã, magra e cabelo curto, (ela, não a cerveja) muito branca e usando um vestido negro comprido (isto sim, a cerveja). "Olá. podemos realmente conhecer o significado da vida?" era uma pergunta exasperante. "Relaxa miúda" Já é tão difícil perceber o que o Siza Vieira fez na baixa do Porto, quanto mais toda uma pergunta universal? Pedi-lhe para ir mais devagar comigo, e ela resolveu mostrar-me um seio, o que teria sido agradável não estivéssemos nós numa cidade prestes a ser invadida pelo exército nazi.
"Que merda é esta? Se eu soubesse que tinha sido para isto que me tinham convidado, teria ficado em casa"
- E que farias tu em casa? Mais alguma teoria? Mais alguma mentira?
- A que te referes?
- Tu sabes. A tua teoria.O envolvimento do banco federal na morte de Deus. A relação impetuosa de David Hume com o seu guarda-chuva, e todo relativismo daí associado. O meu nome é Marguerite.
Não podia acreditar no que ouvia. Ela falava sobre trabalhos que eu não tinha ainda publicado. Perguntei-lhe o que ela queria de mim, e se me podia pagar o café, visto que o empregado estava especado desde o início da conversa à espera que nós fizéssemos o nosso pedido.
"Quero que partas para África comigo" as raparigas de Paris são sempre as que tem mais sardas, e isso dá-lhes um poder perceptivo inimaginável.
"Eu sou só um rapaz de Direita português," disse-lhe, "o máximo que posso fazer é cantar uns faditos e discutir Kafka". E ela esbofeteou-me depois de eu mencionar Kafka, escondendo finalmente o seio. Tomei aquilo com um sinal, e fui com ela para África. Aterrámos em Timbuctu, também conhecida por Vila Pouca de Aguiar, e dormimos juntos lá. Durante três semanas viajámos numa característica caravana de comerciantes tunisinos, e durante esse tempo eu tocava todos os dias na minha guitarra, para os homens que viajavam connosco uma cantiga que havia aprendido nos meus tempos de amores de estudante, chamada Amores de Estudante, até que chegando ao fim das três semanas os tunisinos cansaram-se e levaram-me atrás de uma tenda e tentaram fazer-me engolir a viola, enquanto juravam que até à 6º geração não voltariam a ouvir fados estudantis. Felizmente fui salvo por uma tempestade de areia que causou 7 baixas, duas delas sendo camelos.
"A realidade têm necessidade de essência, sendo que esta é um pouco mais pequena que a que Hobbes descreveu" disse-me ela.
- Que se foda isso, Marge, as pessoas estão a morrer, porque me levaste para aqui?
- Eu tenho de saber...
- Hobbes era um idiota, que ficou depressivo quando descobriu que não era São Lucas.
- Mas se Descartes diz que"penso logo existo" e isto não passa de...
-Sim, tal como disse Allen, não passa de um aforismo para "Eh! Vem aí a Edna com um saxofone", mas tudo isto está a ficar muito semelhante ao livro dele!
Marguerite desistiu de tudo nesse instante. Fugiu do acampamento e refugiou-se algures em Cáceres, Estremadura Espanhola. Eu apanhei o avião mais rápido para sair daquele local, e esse desespero saiu-me caro. Esqueci-me de averiguar sobe o verdadeiro paradeiro de Marguerite, e o primeiro avião que saia de Timbuctu era curiosamente um que fazia escala em Nova Gales do Sul, Austrália.
Quis dizer-lhe que o ser (Ser) independente de definições teleológicas de existir (Existir) estava separado dessa necessidade (Necessidade), que tal relação (Relação) não se auto-constrói, exige tempo (Tempo) e quem sabe tomates (Tomates). Mas ela fugiu.
Mais tarde descobri que se tinha reservado à devassidão moral, e só acasalava com homens chamados Hernando, e morreu a dançar o fox strot durante a visita oficial do príncipe das Astúrias a um parque temático.

Fomos uma geração queimada. Marguerite morreu com pés cansados e uma dívida de 70 francos a uns tipos da FedEx por causa de um piano.Todas as noites sonho que um tigre verde, com o nome Marguerite tatuado nas espátulas, me assalta duranto o sono e devora-me os genitais, o que me estraga a noite.

16 comentários:

D. disse...

está verdadeiramente genial...está muito de esquerda também. não entendo como pudeste fazer algo com graça, rir é um pecado xD e devido a este texto ia acordar os meus pais, tive de abafar as gargalhadas com as mãos.isto poderia dar um belíssimo livro sobre a verdadeira essência da vida.

Sara Morgado disse...

Isto está mesmo brilhante.

Anónimo disse...

sinceramente, é por estas pérolas retrógradas que muita gente está contra a blogosfera. sinceramente, só mesmo duas pessoas que te conhecem poderiam comentar de forma positivo esta porcaria que escreveste armado em intelectual escritor.
ainda por cima, voltas a armar-te em espertinho e usas um símbolo para todos os estudantes para troçar. pois fica sabendo que eu era capaz de ouvir essa música todos os dias até ao fim da minha vida que nunca me ia fartar: chama-se ter orgulho naquilo que sou.
P. S - tens demonstrado que apenas usas este espaço para meter lixo e para desrespeitar os outros que têm as suas paixões e gostos. és verdadeiramente insuportável.

Anónimo disse...

Repito,
subtilmente rebuscado, atrevidamente perturbador.

As entrelinhas são tendencialmente freudianas. Presumo que com génese num qualquer recalcamento que te denota “polimorficamente perverso”!
Abusivamente delicoso este texto :P Tenta apenas não te esquivares de conhecer o verdadeiro significado da vida.

p.s. Esse anónimo é tão obstinado por criticar cada palavra que escreves, como para as ler. No presente caso diria que sofre do sentido de humor anémico. Patologias!

saudações meu caro amigo.

Francisco disse...

Anónimo,

verdadeiramente insuportável comecas tu a ser. Alias um complexo praxístico-paranóico com uma falta de profundidade humorística preocupante. Só espero que de cada vez que o Manel escreva um texto não venhas aqui deixar um comentário pobrezinho, insultando-o e tentando pegar em coisas que não são para aqui chamadas. Bem, estarás sempre no direito de fazê-lo, é certo. Mas, enfim, é tão dispensável.
Já agora, um "símbolo para todos os estudantes"? Mas qual? É que eu nem conhecia a canção. É porreira?

Manel,
muito engraçado... gostei. "Marge, que se foda isso". Ahah

Anónimo disse...

caro Francisco, eu referia-me aos verdadeiros estudantes, àqueles que sentem na pele todas as tradições e que as vivem. o que não é o teu caso, daí o não entenderes.

Anónimo disse...

é impressionante que mesmo a tentar fazer um texto pseudo-intelectual, consegues ofender pessoas.
de facto devias perguntar-te se o problema não é teu. tal como já te dissemos, sabemos muito bem quem és.

Francisco disse...

Ehehe, este Anónimo é brilhante!
Pelos vistos, andei a enganar-me a mim próprio um ano inteiro... afinal de contas, não sou um "verdadeiro estudante"! Oh anónimo, isto é mesmo para levar-te a sério? Onde está o codex do "verdadeiro estudante" para eu dar uma olhadela?
Já agora, oh "verdadeiro estudante", desbravador de livros e tradições,... quem és? Um "verdadeiro estudante" nunca esconde a sua identidade, creio. Ou será que isto não está no codex? Talvez apenas no "saber conversar"...

Um abraço

Anónimo disse...

o codex é para quem pode, não para quem quer. vais ter de continuar na ignorância.

Francisco disse...

Oh anónimo, tu és mesmo o one man show :)

Nelson Rocha disse...

Manéu fiquei perplexo. Intensamente colado, só te digo, quero mais!!


Abraços

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

;) obrigadão nélso, depois dos exames eu farei mais, se não me vier a musa inspiradora antes.

TR disse...

Estupidamente surrealista! e estupidamente bom. Muito fixe! :)

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

thank you very much, friend :)

Cavaleiros do Apocalipse disse...

Faço uma espécie de som que transmite enorme agrado.
Sucessão de ideias quase caótica, humor a pontapés. Gostei bastante deste texto.

"Já é tão difícil perceber o que o Siza Vieira fez na baixa do Porto"
Acho que o verbo adequado para o dito acto é: matar.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

mesmo matar é dizer pouco. talvez "despojar de alma" seja o mais correcto.

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