Rui Botelho Rodrigues - uma opinião a ter em conta
O reconhecimento de um compromisso de intimidade perante uma instituição, o matrimónio, não nasceu ontem. Se a ideia surgiu das entranhas da Igreja, nada impede que não se possa «libertá-la» e partir do mesmo princípio com regras diferentes (elas, aliás, existem noutras religiões). Os puristas tradicionais não podem, nem devem, impedir a fundação de uma tradição à parte – isso tornaria o seu tradicionalismo numa pura farsa ou numa total incoerência. O que os tradicionalistas puros deveriam estar a fazer, em vez da vã cruzada contra a mudança dos costumes, era a protestar o envolvimento do Estado em assuntos que não lhe competem, como as relações amorosas e o núcleo familiar. Por outras palavras, deveriam estar a defender os direitos dos portugueses, inclusive aqueles portugueses que são homossexuais.
Infelizmente, a Igreja Católica em Portugal tem uma longa história, com poucas intermitências, de colaboracionismo com o Estado. Recorrer à força bruta do Estado para salvar a pureza das tradições é atractivo, mas em vez de as salvar o Estado dissolve-as lentamente numa massa indefinida e inútil – como fez com a Educação ou com o Casamento. Além de que o tradicionalista que recorre ao Estado, só pode ter pouca fé nas qualidades inerentes da tradição que quer salvar.
O casamento tradicional perdeu a sua natureza e o seu apelo não só pela passagem simples do tempo: o envolvimento do Estado, não só no casamento, mas em inúmeras áreas da vida privada e familiar mina permanentemente o papel e a importância da família, da comunidade, da cultura e da solidariedade; destrói a responsabilidade pessoal e a preocupação com o próximo com os seus programas; destrói as escolas e os bairros; subsidia a irresponsabilidade, a corrupção e a delinquência. O grande inimigo da vida tradicional e regrada é o Estado. É pena que os católicos não o consigam compreender.
E é triste porque a Igreja Católica poderia ser uma força decisiva na defesa de um Portugal livre. Infelizmente, continua a preferir fazer parte do Estado.
Adenda:
«Since the third century Christianity has always served simultaneously those who supported the social order and those who wished to overthrow it. (...) It is the same today: Christianity fights both for and against Socialism.» (p. 408)
Ludwig von Mises, Socialism: an economic and sociological analysis (1922)
O reconhecimento de um compromisso de intimidade perante uma instituição, o matrimónio, não nasceu ontem. Se a ideia surgiu das entranhas da Igreja, nada impede que não se possa «libertá-la» e partir do mesmo princípio com regras diferentes (elas, aliás, existem noutras religiões). Os puristas tradicionais não podem, nem devem, impedir a fundação de uma tradição à parte – isso tornaria o seu tradicionalismo numa pura farsa ou numa total incoerência. O que os tradicionalistas puros deveriam estar a fazer, em vez da vã cruzada contra a mudança dos costumes, era a protestar o envolvimento do Estado em assuntos que não lhe competem, como as relações amorosas e o núcleo familiar. Por outras palavras, deveriam estar a defender os direitos dos portugueses, inclusive aqueles portugueses que são homossexuais.
Infelizmente, a Igreja Católica em Portugal tem uma longa história, com poucas intermitências, de colaboracionismo com o Estado. Recorrer à força bruta do Estado para salvar a pureza das tradições é atractivo, mas em vez de as salvar o Estado dissolve-as lentamente numa massa indefinida e inútil – como fez com a Educação ou com o Casamento. Além de que o tradicionalista que recorre ao Estado, só pode ter pouca fé nas qualidades inerentes da tradição que quer salvar.
O casamento tradicional perdeu a sua natureza e o seu apelo não só pela passagem simples do tempo: o envolvimento do Estado, não só no casamento, mas em inúmeras áreas da vida privada e familiar mina permanentemente o papel e a importância da família, da comunidade, da cultura e da solidariedade; destrói a responsabilidade pessoal e a preocupação com o próximo com os seus programas; destrói as escolas e os bairros; subsidia a irresponsabilidade, a corrupção e a delinquência. O grande inimigo da vida tradicional e regrada é o Estado. É pena que os católicos não o consigam compreender.
E é triste porque a Igreja Católica poderia ser uma força decisiva na defesa de um Portugal livre. Infelizmente, continua a preferir fazer parte do Estado.
Adenda:
«Since the third century Christianity has always served simultaneously those who supported the social order and those who wished to overthrow it. (...) It is the same today: Christianity fights both for and against Socialism.» (p. 408)
Ludwig von Mises, Socialism: an economic and sociological analysis (1922)
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