quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

resposta ao leitor

Caro Hugo,
Como o Hugo deve saber, só muito recentemente a Humanidade veio a aprender que Ser Livre é ser responsável consigo mesmo e com os outros - mas é, antes de mais nada, Ser Livre. O Direito Penal desses tempos castrava, matava, queimava homens e mulheres por crimes como sodomia, lesbianismo, etc.
Essas acusações conheceram fundamentos racionais. Não culpe a Igreja Católica por existir num mundo de Homens com graves defeitos.
Já Aristóteles considerava a homossexualidade "contra natura", também o considerou Cícero, e muitos outros grandes filósofos e autores (Marx, Lenine, Lutero, Calvino, por exemplo) que mudaram a forma como entendemos o Homem.
Não se esqueça que conhecidos católicos até foram conhecidos por terem relacionamentos homossexuais. Muitos deles ocuparam cargos altos na Idade Média. De Reis a Bispos, passando por Papas.
Se o seu problema é o caso do aborto, veja que Aristóteles também apoiava o aborto, aliás, era apoiante da exposição dos bebés deformados. É difícil ver, por isso, qual das opiniões é a mais reaccionária.
De resto, não faço qualquer juízo de valor em relação à homossexualidade, nem à heterossexualidade.
O que um Homem faz com o que é seu é da sua conta.
Não sei porque diz que a minha opinião é reaccionária. Já lhe disse que não me interessa qual dos dois métodos o senhor prefere - só me interessa que as coisas sejam discutidas com pés e cabeça.
Não me oponho à união entre pessoas do mesmo sexo. Acredito no Mercado Livre, na Liberdade de Contratar e ser Contratado, na ausência de coação. Não gosto de ver pessoas ser obrigadas a (não) fazer coisas.
Entra aqui o caso do casamento. O casamento é uma instituição pré-estadual, espontânea, que foi adoptada mais tarde pelo Estado como forma oficial de União. Está no seu código genético a dualidade homem/mulher.
Houve uma adaptação à realidade social. Desapareceu a submissão ao marido, acabaram-se os bastardos - mas acabar com a dualidade homem/mulher do casamento seria desfigurar o casamento. Há um rol de detalhes jurídicos ligados a direitos de sucessão, partilha, perfilhação, que separam este instituto de outros tipos de uniões.
O casamento é uma tomada de responsabilidade que é dada à escolha do cidadão. Os termos desta decisão estão formalizados há muito tempo, pelos usos e costumes dos Povos.
Como em tudo, mexer num instituto jurídico como este para o tornar numa espécie de União de Facto 2.0 não me parece algo aconselhável a fazer. Há coisas mais inteligentes a fazer, como se fez na Inglaterra e na Holanda.
Como já disse, o Casamento é apenas uma das formas de constituir família e de se unir com uma pessoa. O que se está a discutir é o alargamento do casamento a uma definição que lhe é estranha. Do ponto de vista lógico, há aqui uma perversão. E tudo por causa de uma forma vaga de simbolismo, que não é juridicamente correcta. Os homossexuais não são cidadãos de segunda por não se casarem. Serão a partir do momento em que serão tratados de forma diferente pelo facto de contrairem um casamento próprio - um casamento que ultrapassa a objectividade Homem Mulher, e passa a a subjectividade Parceiros Apaixonados do Mesmo Sexo.
Seguindo para o casamento poligâmico - não compreendo o problema do incesto.
Ao escolher uma pessoa do mesmo sexo para partihar a sua cama ou duas, a hipótese de lhe calhar um primo ou um irmão no processo é o mesmo.
Não interessa ao estado com quem você dorme.
O Estado não tem de reconhecer diferenças. Não há o Hugo-gay e o Manel-Hetero.
Se 3 ou mais pessoas desejam viver entre eles, podem. Têm a mesma legitimidade que o Hugo e o Manel.
Por razões culturais não reconhecemos o casamento entre várias partes. Talvez pelas mesmas que não reconhecemos o casamento dos homossexuais.
Um terrível erro dos nossos antepassados. Mas se corrigormos um erro, temos de corrigir o outro.
Acabo o meu texto dizendo que não sou a favor do referendo porque acredito piamente que não é por uma Maioria concordar numa posição que essa posição é a mais correcta. A maior parte das vezes é o contrário.
Nada na minha opinião envolve qualquer tipo de ódio ou homofobia.
Sou apenas alguém que não consegue ver juízo nisto, além de uma agenda polítca para "ensinar os reaccionários".
O movimento encabeçado pelo BE e pela JS pelo casamento homossexual não é um movimento pela Liberdade.
Não planeia que haja liberdade contratual, antes prevê a progressiva fragmentização, desinstitucionalização do casamento, de forma a desproteger as pessoas, a descredibilizar os contratos pessoais.

1 comentário:

Lobby Queer disse...

Resposta no meu blogue:

http://natchobox.blogspot.com/2010/01/resposta-cafe-odisseia-parte-ii-ate.html

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