[IX, 33] Todo o nosso conhecimento tem uma dupla referência: primeiro, uma referência ao objecto e, em segundo lugar, uma referência ao sujeito.O primeiro aspecto refere-se à representação; o último, à consciência, condição universal de todo o conhecimento em geral.
Immanuel Kant, in Lógica (IX,33)
A constituição fundada, primeiro, segundo os princípios da liberdade dos membros de uma sociedade (enquanto homens);
em segundo lugar, em conformidade com os princípios da dependência de todos em relação a uma única legislação comum (enquanto súbditos); e, em terceiro lugar, segundo a lei da igualdade dos mesmos (enquanto cidadãos), é a única que deriva da ideia do contrato originário, em que se deve fundar toda a legislação jurídica de um povo – é a constituição republicana
Immanuel Kant, in A Paz Perpétua, um Projecto Filosófico, secção segunda, título II.
O fim (Ende) de todas as coisas que passam pela mão dos homens é, mesmo nos seus fins (Zwecke) bons, uma loucura: é o uso de meios para fins que a estes são directamente contrários. A sabedoria, isto é, a razão prática na adequação das suas medidas cabalmente correspondentes ao fim último de todas as coisas, ao bem supremo, só existe em Deus; e só o não agir visivelmente contrário à ideia dela é que se poderia chamar, mais ou menos, a sabedoria humana.
Mas a garantia contra a insensatez, que o homem só pode esperar alcançar por tentativas e pela frequente alteração dos seus planos, é mais «uma jóia que até o melhor dos homens só pode perseguir a ver se, porventura, a conseguirá agarrar, mas nunca deve ter a persuasão egoísta de a ter alcançado e, muito menos ainda, proceder como se dela já se tivesse apoderado.Daí também os projectos que se modificam de época para época, muitas vezes contraditórios, de meios convenientes para tomar mais pura e ao mesmo tempo mais poderosa a religião num povo inteiro, de tal modo que se pode bem exclamar: Pobres mortais, nada em vós é estável a não ser a instabilidade!
Immanuel Kant, In O fim de todas as coisas
Um dever é o que num ser corresponde aos direitos de outrem. Onde nenhum direito existe também não há deveres. Por conseguinte, dizer a verdade é um dever, mas apenas em relação àquele que tem direito à verdade.Nenhum homem, porém, tem o direito a uma verdade que prejudica outro.” O proton pseudos encontra-se aqui na proposição: “Dizer a verdade é um dever, mas só em relação àquele que tem direito à verdade.”Importa, em primeiro lugar, observar que a expressão “ter direito à verdade” é uma palavra sem sentido.
Deve antes dizer-se: o homem tem direito à sua própria veracidade (veracitas), isto é, à verdade subjectiva na sua pessoa. Pois, no plano objectivo, ter direito a uma verdade equivaleria a dizer que depende da sua vontade, como em geral no tocante ao meu e ao teu, que uma dada proposição deva ser verdadeira ou falsa o que proporcionaria en tão uma estranha lógica.
Ora a primeira questão é se o homem, nos casos em que não se pode esquivar à resposta com sim ou não, terá a faculdade (o direito) de ser inverídico. A segunda questão é se ele não estará obrigado, numa certa declaração a que o força uma pressão injusta, a ser inverídico a fim de prevenir um crime que o ameaça a si ou a outrem.
Immanuel Kant, in Sobre um suposto Direito de Mentir por amor à Humanidade
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