A próxima luta dos órgãos estudantis passa por direccionar as armas do associativismo (temíveis armas, as do associativismo) contra a descida das bolsas que aí vem.
Durante anos a matéria da sustentabilidade do regime de bolsas de estudo foi considerado um tabu ideológico. Discutiu-se a acção social nas Universidades, obrigações para aqui e garantias para acolá, e as bolsas tornaram-se lentamente num subsídio social, corrupto, burocrático, que tantas vezes afastava aqueles que mais precisavam, enquanto pagava as férias e as aulas de muita gente que não precisava e não merecia.
Enquanto as coisas correram loucas, sem fiscalização e sem critério que não o do arranjinho, poucos se atreveram a propor divulgar e até denunciar os filhos de empresários, funcionários e profissionais liberais que usavam dos seus conhecimentos da máquina do regime (que aprenderam, muitos deles, nas faculdades públicas) para conseguir as borlas para os filhos.
Com tanta ética republicana na UP, e ademais na Faculdade de Direito do Porto, o chibanço nunca nos passou pela cabeça.
O problema do Estado Social português é precisamente este. Incute-nos a ideia que o dinheiro distribuído pelos burocratas dos serviços de secretaria da Segurança Social não pertence aos cidadãos, não veio do seu bolso, dos seus descontos, dos seus impostos.
É óbvio que o Governo não corta bolsas devido à pouca vergonha que alguns alunos têm. O país está bem enterrado, e é pelas coisas de cultura e estudo que os governantes começam por cortar.
Tal como não me impressiona nada em ver os militantes das obras públicas e das despesas e do Interesse Público na linha da frente deste combate infrutífero - porque o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, terá muita força - visto que é tradição portuguesa inculcar nas jovens mentes dos partidos dos pequeninos a ideia de que os meios são infinitos e o dinheiro ilimitado.
Se possível, vejo com bons olhos a resistência a esta decisão, que considero inevitável.
A questão não passa por reforçar o Estado Social na educação, devido a todos os erros e vícios que isso causa em todos os sectores da sociedade, que por aqui já nos fartamos de provar.
Soluções como os vouchers de transporte e materiais escolares, a meio caminho para uma maior eficiência, podem muito bem constituir um entrave aos exageros. Um tecto máximo de bolsa, que não ultrapasse o valor da propina, seria outro. E o corte definitivo das propinas em tempos de férias.
Estas medidas não são liberais, nem têm em conta as dinâmicas de mercado. No entanto, são uma opção de caminho entre o que temos agora e o que podemos não ter amanhã.
adenda 1: compreendo o post do RBR. Infelizmente o diálogo político, mesmo numa Monarquia Radical, é feito por compromisso e evolução. É infrutífero ser liberal em Portugal se a linguagem comum dos estudantes (a maioria dos leitores deste blogue) passa por um intervencionismo estatal enorme, sem paralelo e sem limites, onde o Estado não é um meio da sociedade mas um Fim em si mesmo. A ordem que nasce dos antagonismos exacerbados nunca é uma Ordem, é uma Guerra Fria.
Durante anos a matéria da sustentabilidade do regime de bolsas de estudo foi considerado um tabu ideológico. Discutiu-se a acção social nas Universidades, obrigações para aqui e garantias para acolá, e as bolsas tornaram-se lentamente num subsídio social, corrupto, burocrático, que tantas vezes afastava aqueles que mais precisavam, enquanto pagava as férias e as aulas de muita gente que não precisava e não merecia.
Enquanto as coisas correram loucas, sem fiscalização e sem critério que não o do arranjinho, poucos se atreveram a propor divulgar e até denunciar os filhos de empresários, funcionários e profissionais liberais que usavam dos seus conhecimentos da máquina do regime (que aprenderam, muitos deles, nas faculdades públicas) para conseguir as borlas para os filhos.
Com tanta ética republicana na UP, e ademais na Faculdade de Direito do Porto, o chibanço nunca nos passou pela cabeça.
O problema do Estado Social português é precisamente este. Incute-nos a ideia que o dinheiro distribuído pelos burocratas dos serviços de secretaria da Segurança Social não pertence aos cidadãos, não veio do seu bolso, dos seus descontos, dos seus impostos.
É óbvio que o Governo não corta bolsas devido à pouca vergonha que alguns alunos têm. O país está bem enterrado, e é pelas coisas de cultura e estudo que os governantes começam por cortar.
Tal como não me impressiona nada em ver os militantes das obras públicas e das despesas e do Interesse Público na linha da frente deste combate infrutífero - porque o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, terá muita força - visto que é tradição portuguesa inculcar nas jovens mentes dos partidos dos pequeninos a ideia de que os meios são infinitos e o dinheiro ilimitado.
Se possível, vejo com bons olhos a resistência a esta decisão, que considero inevitável.
A questão não passa por reforçar o Estado Social na educação, devido a todos os erros e vícios que isso causa em todos os sectores da sociedade, que por aqui já nos fartamos de provar.
Soluções como os vouchers de transporte e materiais escolares, a meio caminho para uma maior eficiência, podem muito bem constituir um entrave aos exageros. Um tecto máximo de bolsa, que não ultrapasse o valor da propina, seria outro. E o corte definitivo das propinas em tempos de férias.
Estas medidas não são liberais, nem têm em conta as dinâmicas de mercado. No entanto, são uma opção de caminho entre o que temos agora e o que podemos não ter amanhã.
adenda 1: compreendo o post do RBR. Infelizmente o diálogo político, mesmo numa Monarquia Radical, é feito por compromisso e evolução. É infrutífero ser liberal em Portugal se a linguagem comum dos estudantes (a maioria dos leitores deste blogue) passa por um intervencionismo estatal enorme, sem paralelo e sem limites, onde o Estado não é um meio da sociedade mas um Fim em si mesmo. A ordem que nasce dos antagonismos exacerbados nunca é uma Ordem, é uma Guerra Fria.
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