domingo, 23 de maio de 2010

igualdade no catolicismo

Rui Botelho Rodrigues, nesta caixa de comentários:

2) o catolicismo parece-se com o socialismo em dois sentidos. o primeiro é rejeitarem o individualismo metodológico. o segundo é o igualitarismo. ambas têm como origem a tentativa do catolicismo de estabelecer uma filosofia política - algo que considero errado, tanto que acabam alinhados com os socialistas nisto ou naquilo.

O igualitarismo católico e socialista apenas partilham o nome.
Mais correctamente, o igualitarismo católico seria chamado equidade.
A doutrina católica acredita na igualdade perante a Lei de Deus, mas o mesmo não se passa perante a Lei dos Homens, muito menos perante os desígnios niveladores de algum poder tirânico, seja ele de origem despótica ou democrática.
Essa mesma igualdade é também uma igualdade inicial.

Da mesma maneira que no Liberalismo, o catolicismo assume o valor da responsabilidade.
Basta saber que, aos olhos de Deus, São João Baptista e São Pedro não são iguais a Judas.

5 comentários:

Rui Botelho Rodrigues disse...

há que concordar que, à semelhança do socialismo, o catolicismo não vê com bons olhos o «fazer dinheiro» e o sistema capitalista em geral.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

nada mais errado, Rui.

da mesma maneira que os anarco-capitalistas culpam da crise uma economia capitalista viciada pelas intervenções estatais, também o catolicismo critica pelo exacto ângulo.

aconselho, se me permite, a encíclica Mater Et Magistra e Quanta Cura.

vxcvxvc disse...

gosto sempre de lembrar que já fui distributivista (e monárquico) - e sei bem o desprezo que a doutrina católica tem pelo «novo rico», pelo burguês e pelo empresário (criaturas que considera sobretudo protestantes ou - ainda pior - judaicas).

de qualquer das formas, continuo a sublinhar o problema fundamental: a mistura de esferas, nomeadamente da religiosa e da política.

eu, como o Manuel, acredito em pessoas naturalmente superiores, numa aristocracia natural. só não acredito que ela deva ser perpetuada no tempo por uma instituição monopolística - o Estado. sou, como o Manuel, um conservador cultural e um anti-igualitário, anti-multiculturalista e anti-hedonista homossexual ou heterossexual.

sou um anarquista conservador, se assim quiser. e não só acho que é possível conciliar ambas as filosofias, como as acho inseparáveis (se não entendermos «conservador» como maníacos sanguinários que promovem a social-democracia à bomba).

Anónimo disse...

Manel,

À "igualdade inicial" de que falas, chamei eu "igualdade de direito", algo defendido também pelo socialismo democrático e pela social-democracia.

Aliás, fosse professada uma igualdade de facto e onde pararia a providência?


Acho hedionda esta mescla entre o religioso e o político.

Não será um cliché afirmar, por exemplo, que marxistas e socialistas são, na sua generalidade, ateus?

O catolicismo, assim como qualquer outra religião, é um entendimento do chosmos transversal, não uma teoria política mais liberal e menos socialista.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Rui,

o catolicismo é activamente anti-capitalista, se tomarmos algumas definições.
é obviamente contra o Capitalismo de Estado.

mas não deve existir outra religião que seja tão aberta à livre-iniciativa e ao empreendedorismo. alguns sectores do catolicismo até sacralizam o trabalho - a óbvia influência protestante do Opus Dei.

o anti-liberalismo económico que a igreja professou um pouco por todo o século XIX era uma reacção ao liberalismo protestante, o liberalismo sectário, profundamente dado a engenharias sociais e à importação de conceitos dos países nórdicos para os países tradicionalmente católicos.
Penso que tanto Hayek como Rothbard deram razão a essas queixas da Igreja. Pelo menos da parte de Hayek tenho a certeza.

O catolicismo, Rui e Fernando, é uma religião de Absolutos.
Enquanto o Protestantismo relega a religião para o plano privado, o Catolicismo não aceita o meio-Homem.
Isso explica o "coração ardente" dos latinos. Somos povos de Absolutos, não aceitamos viver com meios conceitos.
O Católico não aceita o aborto apenas porque a comunidade votou em maioria para tal.

O Católico obedece à Lei de Deus, que é o respeito pela dignidade da Vida Humana, a Sua Palavra e a Tradição. Muitas vezes, o maior pecador, no mundo católico, torna-se do dia para o outro no maior Santo. Apenas porque a salvaguarda dessa palavra, a entrega a essa palavra, fa-lo cair nas graças do Criador.

Agora imaginem, meus caros, a estes homens e mulheres, sempre os mais bravos e combativos, os mais indolentes e ao mesmo tempo os mais corajosos, que lhes pedissem aquilo que a Maioria lhes impõe.

É claro que certo progressivismo taralhoco nas hostes católica fizeram com que socialismo e catolicismo se tornassem inconfundiveis para os crentes, levando homens inteligentews como o Rui (e tantos outros, antes e depois de si) a ver na Igreja um pilar do Socialismo.

Eu, enquanto católico, não concordo com a socio-economia do Catolicismo que Pedro Arroja tem no prelo.
Do meu parco conhecimento de economia, a Escola Austriaca, de influência escolástica, parece-me aquela que maior felicidade e verdadeira dignidade proporciona ao Homem.

Não sou democrata-cristã porque esses, como disse o Rui, procuram impor o Estado Social à bomba.
No entanto, a Religião tem um papel fundamental no plano político. especialmente na definição do Bem Comum.

O desempenho exemplar de funções não deve ser ditado somente por um amor à República de origem pagã/protestante. Esse não existe ou é excessivamente desumano.

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