Do paradigma da contra-identidade à crise da procura insustentável
A ontologia humana sempre teceu grandes infortúnios aos dissidentes intemporais. São eles as esfoliações sentimentais, as antecedências patológicas do ego, a superveniente cultura imergente e emergente, a fugacidade da ténue partida, sem espólio de conquista, sem sabor na desordem, sem paz à reconquista. Mas, além e aquém de qualquer realidade diagonal, estamos nós, crus e nus, sentados à espera que o mundo nos caia em cima, ou que caiamos em cima dele para nos aconchegarmos paulatinamente, sob pena de adormecermos de vez. A culpa é sempre exteriorizada. Não movemos o universo. E o Universo jamais nos moverá até ao cair do pano. Somos, ad eternum, entes refugiados entre o paradoxo e o heterodoxo.
Não faltam profetas da desgraça; nunca faltaram, e não vivem inimputadamente sem deixar esta pequena semente de pessimismo que nos torna cada vez mais portugueses e tendencialmente menos lusitanos. Temos o nome da Capital no novo tratado da União Europeia. Apetece-me desabafar. Creio nada termos além de um Nome. Um nome?! Uma abstracção sem Conteúdo, versado em simples caracteres. Ninguém questiona as mudanças que são o espelho da exigente temporalidade amortizante. Não criámos nada do nada. Demasiadamente Português. Mesmo depois dos Velhos do Restelo, a praia Lusitana terá sempre mais marés que marinheiros.
Materializam-se quanticamente todas as exaustões. Não vemos, não sentimos, não partimos, não chegamos a deslocar único dedo de qualquer um dos amorfos pés, que sentem a terra cada vez mais dura face à cristalização dos conceitos indeterminados que pautam a ordem actual. Económica, Financeira, Jurídica, Cultural. “ Ai de quem seja apologista do determinismo Biológico, Ético, Estético, Politico ou Gnosiológico”, inalamos nós imunes ao frio que nos cerca o pobre âmago.
Os bons costumes mudam. “ O nosso tempo é que foi duro. Havia a PIDE...” A sociedade muda-os para se galvanizar, demarcando-se da outras épocas. No entanto perante a mudança na diferença haverá sempre uma diferente mudança de aprendizagem quanto ao cerne da última e eterna Ratio. Mais simplesmente: mudamos a roupa e até o corpo, mudam-se até os próprios casamentos, quiçá futuramente a própria adopção, as calçadas de uma rua, as taxas de juro na banca, o estabilizadores macroeconómicos, as técnicas de marketing, o regime jurídico do Divórcio, a crítica ao inevitável e espectável Crash da Segurança Social dentro de aproximadamente 10 anos, mas uma coisa não mudará na Ocidental praia Lusitana: o medo, a fobia pelo futuro, a corrupção no desporto, os políticos com discurso de tópicos e folhas de sebenta, a aversão à matemática e à Filosofia, o desrespeito pela Assembleia da República, altar da Democracia (e ao seu regulamento, que tem implícito, nos trâmites do artigo 84/1 que garante aos deputados uma reacção à “falta de bom senso”, a proibição da ofensa contra a honra).
Mas, mais marcante que todas, roçando a nossa essência e existência paradoxal, é a tendência portuguesa à desconstrução permanente do que é ser-se verdadeiramente Português: evita-se ao máximo o consumo do que é Português, porque o importante é estar na moda, é imitar a movida londrina, é copiar os passos parisienses, a roupa italiana, é beber Irish Cofee, é manusear estrangeirismos. É estudar Inglês antes da apreensão global dos conteúdos linguísticos do nosso português. Podem mudar-nos tudo, podem até obrigar-nos a mudar. Mas nunca conseguirão. Porquê, perguntamos apoquentadamente. Porque estamos viciados pela ilusão e iludidos pelo vício de viciar quem nos tenta, em vão, iludir. “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”, como diria o Teólogo Leonardo Boff.
Recorrer à institucionalização definitiva do Proteccionismo violaria normas da União em muitos tópicos. Mas uma nova mentalidade criaria a tal estabilidade que o nosso Executivo diariamente invoca superficialmente. É exactamente aí que tudo falha: duas palavras para 1/10 de acção ou exemplo. É a acção que cria legitimação.
As PME’s portuguesas bateram de nariz com a crise da Procura, indicador que se abate à medida que a crise esmorece o poder de compra dos consumidores. A premissa é de que quanto mais útil for o bem para um consumidor, mais ele estará disposto a pagar pelo bem. Usaremos Marshall para tentar uma abordagem simplista e generalista. O problema a priori reside na Procura.
Os portugueses não procuram, no geral, bens ou produtos nacionais. As empresas vivem com este peso e com a consciência de que têm de se demarcar pela diferença. E é aí que entram os incentivos do Estado. Ora, continuando o raciocínio, coeteri paribus: face à crise da procura, dada a queda do rendimento dos consumidores, a Oferta vai ter uma reacção espontânea, já que o binómio Procura-Oferta está intimamente relacionado, coordenando-se mutuamente, pelo que alterações na procura afectam a oferta e vice-versa. A oferta vai decair, dada a descida da capacidade produtiva. Esta capacidade produtiva em decréscimo explica assim a queda da oferta para encontrar um novo ponto óptimo com a procura.
O Estado tem de Apoiar o Consumo e então o Consumo apoiará as empresas. O que iria acontecer se o consumo português aumentasse? Se os incentivos versassem os consumidores e não as empresas? Seria uma óptica diferente. Mas como executar isso? Qual a viabilidade? Quais os Procedimentos? Que processo utilizar? Já que somos peritos em “Magalhanizar-nos”...
Há 40 anos havia incentivo, contextualizado politicamente, ao Consumo. Primordialmente ao Consumo. E as empresas portuguesas não faliam, e o emprego não faltava, e a dívida pública mantinha-se nos 15%. Agora está acima dos 80% ( As medidas de combate à crise introduzidas pelo Executivo de José Sócrates ameaçam colocar o rácio da dívida pública portuguesa em 85,9% do PIB em 2010, contra os 70,7% registados no ano passado, estima a OCDE num relatório). Acho que conseguem perceber bem o alcance disto. Estamos nada mais, nada menos a 15% do crash. Sim, 15%.
Fala-se para o Boneco. Mas se daqui a 10 anos os bonecos falarem por nós, será ainda “pior a emenda que o soneto”… Eis o perigo do Liberalismo levado ao extremo: o dilema do votante mediano (Anthony Downs). Falta instrução. Falta consciência no Voto. Falta poder de decisão. Antes uma abstenção consciente do que um paradigma de votantes medianos.
Ser-se português é ter os olhos no chão e os pézinhos na Santa-Virgem-que-nos-acuda. Infelizmente… Em tempos de Crise, quem ganha é a Religião. O homem vê-se novamente na sua pequenez e socorre-se com o auxílio divino de Deus para colmatar a sua insuficiência ontológica. Como disse Ernst Bloch, “ o homem é um ser tendencialmente insuficente com o que é e o que tem” Palavras (demasiadamente) sábias. A religação é uma inconstante metáfora que se reduz a uma caricatura de nós mesmos quando o retrocesso é a única via face à (in)consequencialidade do nosso póstumo e turvo devir.
Lourenço
13 comentários:
Olá senhor POETA ( com todas as letras, e em Maiúsculas)
Queria felicitar-te pelo teu livro de poesia.
Tiro-te o chapéu pela qualidade da tua métrica, e em geral, pelo modo como escreves. Não sabia que tinhas tamanha Obra na gaveta!
Creio, no entanto, que o Povo de Portugal não estará preparado para essa mudança de mentalidade. Tu matas o sentimento na poesia, e os portugueses são lamechas.. Ah, tu não te consideras um português, mas um Lusitano :)
Por vezes, dás a impressão que estás 50 anos à frente do comum dos mortais...
Não sou capaz de assinar o meu nome, porque me conheces, e eu conheço-te mal, apesar de passar muito tempo contigo. ( e de sermos ainda assim "amigos"). Mas, de facto tens uma qualidade que é o mistério. Por onde passas, deixas um rasto de mistério. Ou te odeiam, ou te amam. Ainda no outro dia fiz a analogia entre a tua personalidade e a do Mourinho. E , de facto, também tens a obsessão pela vitória.
E é aí que és perigoso. És um ser que esmaga, maquiavelicamente, os teus oponentes, usando todas as armas de que dispões: até a própria poesia
Acho que há um pouco de ditador em ti. Mas, em tudo o que fazes, acabas por legitimar esse dom que tens.
Eis que, a estas horas, após ter lido e relido esta fantástica obra por 5 vezes ( quanto a mim, superas Pessoa), decidi plasmar aqui a tua personalidade, e desculpa se acerto em tudo!
Isto foi discutido com mais gente, e peço novamente desculpas pelo anonimato. Mas decerto concordarás... Foi tudo entre amigos, mas também entre inimigos...
Assim:
1- És um ser misterioso. Gostas de aparecer pouco para não te chateares com o que vês; detestas aulas, porque para ti, os professores deste século não valem, e estamos fartos de saber que tiveste aulas com um Prof.Dr Magnífico, exmo Teólogo, blá blá. E é por isso que não apareces às aulas, ( mas mesmo a nenhumas). Odeias quem é inferior a ti. Julgas-te acima dos papagaios. mal, a meu ver
2-dás-te ao luxo de não estudar um boi para direito ( e eu sei de fonte segura), estudando apenas, e cito "apenas na noite anterior". Não tiras 18 e 19 como nos cadeirões de Filosofia, mas consegues 14, e ainda assim repudias veemente a fraude nos exames.
3- Antes disso, preferes escrever, ir ao teatro, compor música, sair, ir ao teu barzinho preferido escrever poesia às tantas, estar com a Namoradinha, etc.
Creio que ninguém te achará normal naquela faculdade, mas também ninguém arriscaria fazer o que tu fazes, e sair bem nisso. O pior, é que sei ( também através da fonte mais segura possível), que o fazes por teste pessoal.
4- Eu mato-me ( e matei-me) para tirar 15's e 16's e tu, sem fazer um boi, quase me atinges... Odeio isso... E odeio, por saber que se te aplicasses, serias de longe o melhor aluno daquela faculdade, e de longe muito melhor que Arys e companhias, até mesmo que o Ramalho. Porquê? Porque és um génio, e eles são uns marrões. Eles reproduzem, tu crias. E é aí que eles não te chegam aos calcanhares!
5- a "Legião em Acção" foi um motivo para pores à prova a tua capacidade de marketing, e de luta, contra todo o mundo, o remar contra a maré que cria os grandes ditadores. E de facto, desapareces da fotografia com um resultado fantástico de 98% nos inquéritos, relativamente ao objectivo da legião. Mais uma vez, apesar de odiado, venceste. Não jogaste bem, como Mourinho, mas ganhaste a guerra. Derrubaste o Barcelona FC das estrelinhas da FDUP, com um modesto Inter que nada mais , nada menos era somente a tua pessoa, e alguns bonecos...
6 - Quem te julgue pela média de Direito, olhe primeiro ao teu CV. O Resende diz que é a educação europeia. Eu reitero, e acrescento que é a dos grandes ditadores ( Salazar, estaline, etc) ou a dos Grandes Filósofos ( que tanto gostas).
7 - A tua Poesia é algo que não se faz em 3 ou 4 anos. É um conceito, como aliás dizes, que trabalhas desde os 11 anos... Contando que começaste a escever aos 7 ( e tens provas disso num caderno da primária!). Como é que ainda manténs a humildade de te sentar ao lado daquele bando de otários na faculdade? Como fazes questão de não aparecer na SDD só para não dar malha neles? Os que te acusam de arrogância, descansem, porque não te conhecem. Antes te acusem disso, para bem da sua sanidade mental.
8- E, para quem te conhece bem, és um ser de boas causas: parecendo que não, vais à missa com a mamã; és amigo; emprestas dinheiro; vais fazer voluntariado; tens gatos que adoptaste, e estavam abandonados; etc etc etc etc... Tens um enorme coração.
9, no entanto, és daqueles seres que a sociedade portuguesa teme: 1º porque pensas por ti, tu crias pensamento, tu és pensamento; 2º, porque crias inveja, já que apesar de seres intelectual não és nerd e tens enorme fama entre as mulheres; 3º tens o perfil de um ditador. E temo, que o venhas a ser....
10- Achei por bem dizer aqui, o que não te posso dizer na cara. talvez um dia, quem sabe, quando fores famoso, to diga!
Perdão pela exposição pública.
De quem realmente te conhece!
Excelentíssimo,
Pode deixar essa ironia amorfa e fácil, e passar ao âmago da questão. Em primeiro lugar, não gosto que falem da minha vida privada. Reservo-me ao direito de a defender, como deve saber e bem, já que tem 15's e 16's em Direito. Os meus parabéns! Vai ser mais um burocrata da coacção, ou talvez um estagiário das fotocópias.
Anyway, o seu comentário quase me iludiu!
Mas calma, eu tive Lógica, e sei perfeitamente, e estou certo nestes pontos, que passo a especificar:
não é meu amigo. Se o fosse, facilmente descobriria que deixaria de o ser.
Noto os bluffs todos aqui patentes: primo, o senhor não leu a obra ( queria era que eu desconfiasse dos meus, uma destabilização); secundo, não passa tempo comigo, e secalhar nem nos vemos; apenas teve um informador seguro, que aliás desconfio quem seja. Tertio, a sua ironia é fácil. Quarto- o senhor ou menina, é um(a) frustrado(a);
Quinto - Não me compare com o Mourinho.
Sexto- Não sou ditador.
SÉTIMO- QUEM LHE DERA TER UMA "NAMORADINHA" COM UM CORAÇÃO TÃO PURO COMO A JOANA OLIVEIRA. AINDA IRÁ OUVIR FALAR MUITO DELA!
Oitavo - os professores de Direito acham-se mais do que aquilo que são; não criam, apenas transmitem. Ponto assente!
Nono- Já me viste no teatro? humm, curioso, eu também! Antígona?
Décimo- és um mau jornalista! Péssimo. Horrível.... Não suporto o teu estilo balofo.. ( acertei caríssimo?)
11- Respeita a legião, porque ela nasceu para respeitar os direitos dos alunos! E com isso, ela vai crescer ainda mais! Pró ano atacaremos como nunca! Prepare-se para o combate!
12- o meu CV é o meu CV.
13- tanto posso ir à missa com a minha mãe, como ir também com a tua, se quiseres.
14- não me obrigues a descobrir-te o IP.
Com ódio,
Mário
Claramente não vou usar o anonimáto neste post, porque não tenho que esconder nada de ninguém.
Caro amigo (da onça), vaguiava eu pelo Café Odisseia a ler uns textos inspiradores de amigos quando depois de mais um texto brilhate do Mário, venho ver o que as pessoas têm a dizer e deparo-me com isto. Dois comentários cheios de hipócrisia, cinismo, inveja, mentira e afins. De certeza absoluta que amiga/o do Mário não serás, porque ele topava-te à distância. Gostei dos bluffs e das pequenas mentiras que aqui foram escritas.
Agora vou dizer-te, seja lá quem fores, o que deveras me incomoda.
Primeiro a tua covardia, segundo, as tuas mentiras, terceiro as tuas más analogias, quarto a tua hipócrisia e inveja, que juro me repulsa. Em quinto e por último, porque não sou de escrever por pontos, chamares namoradinha à Joana.
Não sei como sabes tanto sobre o Mário, principalmente as coisas do foro privado. Podes saber muita coisa, mas acredita, não conheces minimamente o Mário.
Com repulsa e sem anonimato,
Miguel
Caro Amigo Miguel ,
deixa lá o menino(a),
certamente não me conhece!
Forte abraço e obrigado pelas palavras amigas!
Mário
Este "Amigo Admirador" deve julgar que consegue proferir uma espécie de "Acórdão do Ser". Já deve sonhar com a barra do Tribunal e a sua elevação a Julgador. Quiçá só em sonhos consiga atingir tão glorioso posto. Espere, os seus 15´s e 16´s irão certamente galvanizar o seu brilhante e astuto currículo académico na FDUP. Congratule-se, pois pertence à trupe dos "iluminados" das pautas. Penso que talvez a sua vida seja tão vazia que só se possa orgulhar disso. Já pensou em ir ocupar o tempo com um segundo curso superior em Educação Tirânica? Talvez assim consiga chegar aos calcanhares do Mário, tal como refere que gostaria. E, desse modo, também deixaria esse vácuo ontológico irrigado com pequenos átomos de coscuvilhice! Recomendo-lhe, ainda, uma ida à Farmácia mais próxima em Cedofeita para comprar pomada para acalmar a dor de cotovelo. Para terminar, um último conselho: deixe a vida virtual e dedique-se mais à vida social. Pode ser que, assim, encontre também uma "Namoradinha/o". Ao contrário de si, ainda há pessoas naquela faculdade que primam pela Felicidade alheia. Esses romances do tipo "Odeio Pessoas Felizes" já passaram de moda. Está visto que também não passaria na Prova de Admissão às Tertúlias Jurídicas Cor-de-Rosa. Até para comentar a vida alheia é preciso talento. Temos pena.
hihi
Esse hihi era dispensável Ary.
Fiquei espantado com as voltas que o mundo dá. A Maria da Alemanha fala-me deste post e do caos que para cá ia e eu vim espreitar. Mas não liguem, eu já volto a marrar comercial como se só tivesse ido a duas aulas o ano todo =)
Ao contrário de muita gente, eu durmo melhor quando me criticam. Além de me fazer pensar mais, adormeço mais rápido. Mais não digo, não quero parecer mais Hegeliano.
Só cá faltavam anónimos...
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