domingo, 23 de maio de 2010

sobre a posiçao intermédia

O Rui Botelho Rodrigues dispara, neste post, sobre a relação do catolicismo e o socialismo.

Do voluntarismo não se traduz, necessariamente, a criação de uma sociedade livre.
Se o liberalismo nasce da destruição dos valores Cristãos da sociedade - o amor ao Próximo, a caridade, a liberdade responsável, a obediência (não no sentido servil, como no sentido socialista), o valor sagrado e único da Vida Humana - substituindo todos os critérios de bem jurídico pela ideia de Propriedade - propriedade sobre o corpo, sobre as ideias, sobre o capital, etc. - é natural afirmar-se que toda a construção dogmática do Cristianismo é substituída por uma materialista.

Neste ponto, a doutrina liberal de Groce pode ensinar muitas coisas a RBR. Groce define o Liberalismo como “concepção total do mundo e da realidade”, e centra-se na ideia de, através dos seus princípios – base, e “mercê da diversidade e da oposição das forças espirituais, aumentar e nobilitar continuamente a vida e lhe conferir o seu único e total significado”.

O Liberalismo, de tão denso, tão indefinido, tão promíscuo, chega a admitir a possibilidade de se negar a si próprio e Justificar as doutrinas que procuram o seu fim e aniquilação. De facto, o princípio da Liberdade, não raras vezes, degenera em situações de reacção contra essa mesma liberdade.

O Liberalismo aceita estes incidentes da vida da Sociedade. Ditaduras, Socialismo, Colectivização, na perspectiva de Groce, são caminhos para a Liberdade necessários, justificáveis pela mesma vontade de livre – arbítrio que o Liberalismo protege.

É claro que a doutrina Liberal de Groce é criticada por ser demasiado estática, por se limitar a ver ocorrer os acontecimentos do mundo, à espera de uma revolução Liberal que ocorra por uma qualquer boa – aventurança da dialéctica hegeliana. E que, ainda assim reinstalada na sociedade, aceite os perigos que outrora destruíram a Ordem Liberal.

Será isto uma definição de liberalismo prestável? É uma perspectiva filosófica, que é saudável de adoptar quando se estuda o Liberalismo. No entanto, não é a única.

Tanto o liberalismo como o socialismo partem de perversões do ideal católico.

RBR pode continuar a desprezar a doutrina católica - que se diz personalista, e combate ferozmente todas as formas de colectivismo e engenharia social - mas colocar a doutrina católica no mesmo plano da socialista é um erro infantil.

Mais facilmente se vê o Rui tentado a cair nas falácias materialista do marxismo. Não é por acaso que alguns economistas vêm na importância dada ao factor trabalho por Smith um prenúncio para as teorias de Marx. Há muitos pontos de contacto entre o marxismo e o liberalismo. A diferença está numa mera concepção negativa de liberdade para uns, contra uma ferozmente positiva para outros. Não consegue o Rui descortinar uma posição intermédia?

Considerar um feto no corpo de uma mulher como sua propriedade é a perpetuação do erro marxista.

O momento de geração da Vida não é um acto contratual, não visa a transmissão de propriedade. Considerar isto como tal seria abrir as portas para a escravatura sexual.

O que resulta do acto sexual é a criação de Vida. Considerar que o aborto é uma expressão de vontades, abre um precedente terrível.

6 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...
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Rui Botelho Rodrigues disse...

três pontos:


1) eu respeito o catolicismo - só não vejo porque razão uma doutrina teológica deve ser misturada com a filosofia política. nenhum liberal propõe uma religião «liberal» (ok, talvez alguns proponham, mas não eu). os resultados, em ambos os casos, são maus.

2) o catolicismo parece-se com o socialismo em dois sentidos. o primeiro é rejeitarem o individualismo metodológico. o segundo é o igualitarismo. ambas têm como origem a tentativa do catolicismo de estabelecer uma filosofia política - algo que considero errado, tanto que acabam alinhados com os socialistas nisto ou naquilo.

3) quanto ao aborto - na minha visão o feto não é propriedade da mãe. o corpo é. se o feto é indesejado pela mãe ela tem o direito de o expulsar, não de o matar à paulada a seguir ao facto. isto é uma posição política, não uma posição moral. moralmente, eu acho que tendo sido originado por uma relação consensual a mulher deveria ter o bebé, não expulsá-lo. mas mais uma vez: misturar ética política com moralidade pessoal só leva a tirania. é por isso que me oponho ao catolicismo político, e não me oponho nada ao catolicismo per se (ou a qualquer acto voluntário entre adultos). O facto de não ser católico não me impede de reconhecer as coisas boas que a igreja fez pela civilização; mas também não me permite ignorar os horrores que a igreja perpetrou quando envolvida com o Estado, na política.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

A Democracia-Cristã e o catolicismo político nunca foram, quanto a mim, posturas viáveis. Por uma simples e clara razão: anulam magistralmente os pressupostos morais e poliíticos que se propõem a professar.

Senão note-se:

Um partido democrata-cristão no poder age segundo duas opções:

A primeira traduz-se no agitar da bandeira da sua herança católica que poderá abrir caminho para a criação de um Estado de natureza perigosamente confessional.

A segunda representa a negação da tendência confessional, que o torna tão cristão como hindu, budista, muçulmano ou judeu.
Afinal, qual das grandes religiões não partilha do altruísmo, personalismo, igualitarismo, e fraternidade do Catoliscismo?

Quero deixar claro que não nego a herança dos quadros axiológicos/éticos do Cristianismo na nossa sociedade. O que tento remediar são os danos causados pela selvageria de preceitos dogmáticos usurpadores da vontade humana.

Demasiado ARROJAda a tentativa de politizar isoladamente o Catolicismo...


p.s. peço que me desculpem pelas repetidas edições do post.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Fernando:

as Democracias -Cristãs nunca têm grandes problemas no contexto do Estado.

Da maior parte das vezes, aglutinam os secotres "conservadeiros" da sociedade num esforço de simplesmente estagnar a engenharia social dos partidos de esquerda. A maior parte das vezes não o conseguem.
No entanto, a democracia cristã é de influência protestante, e só em alguns países católicos ela prepondera, sendo que a Áustria deve ser o único exemplo.

O catoliscismo é incompatível com o partidarismo.

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