Caro Pedro,
Bom ver que voltaste à escrita cá no blogue.
Se me permitires pegar num ponto do teu último texto para discursar sobre um tema que me tem vindo a perturbar ultimamente, agradecia-te muito.
Esse mesmo tema prende-se, a meu ver, a um certo alheamento da realidade histórica e também da crescente ideia de que o passado não serve como argumento, sendo que, quando nos interessa, podemos criticar pessoas e instituições pelo que presumivelmente fizeram num passado muito longínquo.
Li o teu texto e peço-te que tenhas em atenção a análise a este texto, do Público, pois vou analisá-lo parágrafo por parágrafo.
Começo pelo primeiro.
Parece-me que concordas com o Vasco Pulido Valente (VPV) quando ele diz que todo o problema que Saramago levantou era excessivo e desnecessário. Também concordo.
Depois, VPV refere-se aos anticlericalistas.
Não sei se alguma vez leste um panfleto clericalista, mas é dificil que não o tenhas feito, visto que eles proliferavam e proliferam ainda neste país. Os mesmos argumentos circulam, desde os tempos do liberalismo radical (afrancesado) até ao socialismo e ao republicanismo do fim de século (XIX), espalhados por uma imprensa movida por um ódio irracional e uma intelligentsia demagoga.
A Igreja perdeu muitos bens e foi violentada pela ordem política da Iº República, pela venda dos seus bens decretada em 1834, pela proibição da entrada de novas congregações religiosas que perdurou durante mais de meio século, pelo controlo exercido pelo Estado Novo sobre ela, e claro, pelos exageros do PREC.
Ainda assim sobreviveu, mantendo-se na vanguarda da solidariedade social e até do ensino.
VPV afirma que os argumentos de Saramago são dignos de um tipógrafo analfabeto.
Amigo, esta é a verdade! Porque nos tempos conturbados do ódio pela Religião, eram esses os mírmidones dos líderes anticlericalistas, esses os seus capatazes.
Qualquer trolha diria, nesses tempos e ainda hoje, o que Saramago disse. Isto, a mim, parece-me difícil de contestar.
O segundo parágrafo parece-me melhor ainda, mais directo ao assunto.
Todos nós reconhecemos que os prémios Nobel estão politizados. Isso porque todos os anos os conhecedores e admiradores de certo autor, que é considerado, por boa crítica, como promissor ou até grandioso, desiludem-se pela nomeação de um outro, tantas vezes desconhecido e até irrelevante, à excepção do passado de activismo político esquerdista.
Basta ler um pouco a história dos vencedores do Prémio para o reconhecer.
Discorre mais um pouco VPV, em crítica inflamada, contra o "pobre velhinho atacado", até que VPV bate no ponto que os fãs de Saramago, especialmente aqueles que, sendo de Esquerda, o vêm como o último ( e único) símbolo intelectual dessa revolução que se queria cultural, mas cuja geração pouco ou nada vingou fora e dentro de portas.
Saramago, enquanto membro da geração que ia revolucionar a Arte e a Literatura, destronada a Ditadura, fez ditador e destruiu o DN. Despediu (saneou) pessoas que precisavam do seu ganha-pão e o tinham merecido, abusou da autoridade e saiu impune, por fazer parte dessa omnipotente geração falhada (atrasada, no seu esquerdismo totalitarista, uns 30 anos em relação à já moderna esquerda europeia) e por causa do seu amiguismo político, cultivado nos tempos da clandestinidade.
Para finalizar: Não tenho dúvidas de que Saramago sorri com tudo isto, e sai a ganhar, nunca há suficiente publicidade. Nunca se pedirá a Saramago contas pelo mal que fez, pelos abusos que cometeu, e a Igreja é um alvo fácil.
Num país livre onde se adora ver brincar essa Esquerda irrequieta dos comícios, manifestações e outras traulitadas, a Igreja é um belo bobo para que os meninos e senhores possam se divertir, mostrando a sua veia de oprimidos permanentes e a sua blague de falsa intelectualidade.
Porque se esta Igreja, em vez de ser a Romana, ou a Luterana, ou outra qualquer, fosse a mesquita de Mafoma, em que os crentes são realmente bárbaros e violentos, aí sim os intelectuais do anticlericalismo teriam que fazer algo que repugnam veemente: Ter Tomates!
Bom ver que voltaste à escrita cá no blogue.
Se me permitires pegar num ponto do teu último texto para discursar sobre um tema que me tem vindo a perturbar ultimamente, agradecia-te muito.
Esse mesmo tema prende-se, a meu ver, a um certo alheamento da realidade histórica e também da crescente ideia de que o passado não serve como argumento, sendo que, quando nos interessa, podemos criticar pessoas e instituições pelo que presumivelmente fizeram num passado muito longínquo.
Li o teu texto e peço-te que tenhas em atenção a análise a este texto, do Público, pois vou analisá-lo parágrafo por parágrafo.
Começo pelo primeiro.
Parece-me que concordas com o Vasco Pulido Valente (VPV) quando ele diz que todo o problema que Saramago levantou era excessivo e desnecessário. Também concordo.
Depois, VPV refere-se aos anticlericalistas.
Não sei se alguma vez leste um panfleto clericalista, mas é dificil que não o tenhas feito, visto que eles proliferavam e proliferam ainda neste país. Os mesmos argumentos circulam, desde os tempos do liberalismo radical (afrancesado) até ao socialismo e ao republicanismo do fim de século (XIX), espalhados por uma imprensa movida por um ódio irracional e uma intelligentsia demagoga.
A Igreja perdeu muitos bens e foi violentada pela ordem política da Iº República, pela venda dos seus bens decretada em 1834, pela proibição da entrada de novas congregações religiosas que perdurou durante mais de meio século, pelo controlo exercido pelo Estado Novo sobre ela, e claro, pelos exageros do PREC.
Ainda assim sobreviveu, mantendo-se na vanguarda da solidariedade social e até do ensino.
VPV afirma que os argumentos de Saramago são dignos de um tipógrafo analfabeto.
Amigo, esta é a verdade! Porque nos tempos conturbados do ódio pela Religião, eram esses os mírmidones dos líderes anticlericalistas, esses os seus capatazes.
Qualquer trolha diria, nesses tempos e ainda hoje, o que Saramago disse. Isto, a mim, parece-me difícil de contestar.
O segundo parágrafo parece-me melhor ainda, mais directo ao assunto.
Todos nós reconhecemos que os prémios Nobel estão politizados. Isso porque todos os anos os conhecedores e admiradores de certo autor, que é considerado, por boa crítica, como promissor ou até grandioso, desiludem-se pela nomeação de um outro, tantas vezes desconhecido e até irrelevante, à excepção do passado de activismo político esquerdista.
Basta ler um pouco a história dos vencedores do Prémio para o reconhecer.
Discorre mais um pouco VPV, em crítica inflamada, contra o "pobre velhinho atacado", até que VPV bate no ponto que os fãs de Saramago, especialmente aqueles que, sendo de Esquerda, o vêm como o último ( e único) símbolo intelectual dessa revolução que se queria cultural, mas cuja geração pouco ou nada vingou fora e dentro de portas.
Saramago, enquanto membro da geração que ia revolucionar a Arte e a Literatura, destronada a Ditadura, fez ditador e destruiu o DN. Despediu (saneou) pessoas que precisavam do seu ganha-pão e o tinham merecido, abusou da autoridade e saiu impune, por fazer parte dessa omnipotente geração falhada (atrasada, no seu esquerdismo totalitarista, uns 30 anos em relação à já moderna esquerda europeia) e por causa do seu amiguismo político, cultivado nos tempos da clandestinidade.
Para finalizar: Não tenho dúvidas de que Saramago sorri com tudo isto, e sai a ganhar, nunca há suficiente publicidade. Nunca se pedirá a Saramago contas pelo mal que fez, pelos abusos que cometeu, e a Igreja é um alvo fácil.
Num país livre onde se adora ver brincar essa Esquerda irrequieta dos comícios, manifestações e outras traulitadas, a Igreja é um belo bobo para que os meninos e senhores possam se divertir, mostrando a sua veia de oprimidos permanentes e a sua blague de falsa intelectualidade.
Porque se esta Igreja, em vez de ser a Romana, ou a Luterana, ou outra qualquer, fosse a mesquita de Mafoma, em que os crentes são realmente bárbaros e violentos, aí sim os intelectuais do anticlericalismo teriam que fazer algo que repugnam veemente: Ter Tomates!
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