“Antes da guerra havia uma macieira atrás da igreja. Era uma macieira que devorava as suas próprias maçãs.
O pai do guarda-nocturno também tinha sido guarda-nocturno. Numa noite de verão ele estava por detrás da sebe de buxo. Viu como a macieira abriu uma bocarra mesmo do alto do tronco, no sítio onde os ramos se separam. A macieira devorava maçãs.
Ao amanhecer, o guarda-nocturno não se foi deitar. Foi ter com o juiz de paz da aldeia. Contou-lhe como a macieira atrás da igreja devorava as suas próprias maçãs. O juiz pôs-se a rir. O riso fazia-lhe estremecer as pestanas. O guarda-nocturno ouvia o medo através do riso dele. Nas fontes do juiz batiam os martelos da vida.
O guarda-nocturno foi para casa. Deitou-se vestido. Adormeceu. Adormeceu banhado em suor.
Enquanto dormia, a macieira esfregou tanto as fontes do juiz que as feriu. Tinha os olhos vermelhos e a boca seca.
Depois de almoço o juiz deu uma tareia à mulher. Tinha visto na sopa maçãs a flutuar. E tinha-as engolido.
O juiz não conseguiu dormir depois de comer. Fechou os olhos e ouvia o ruído das cascas das árvores do outro lado da parede. As cascas das árvores estavam suspensas em fila. Balouçavam presas por cordas e devoravam maçãs.”
O pai do guarda-nocturno também tinha sido guarda-nocturno. Numa noite de verão ele estava por detrás da sebe de buxo. Viu como a macieira abriu uma bocarra mesmo do alto do tronco, no sítio onde os ramos se separam. A macieira devorava maçãs.
Ao amanhecer, o guarda-nocturno não se foi deitar. Foi ter com o juiz de paz da aldeia. Contou-lhe como a macieira atrás da igreja devorava as suas próprias maçãs. O juiz pôs-se a rir. O riso fazia-lhe estremecer as pestanas. O guarda-nocturno ouvia o medo através do riso dele. Nas fontes do juiz batiam os martelos da vida.
O guarda-nocturno foi para casa. Deitou-se vestido. Adormeceu. Adormeceu banhado em suor.
Enquanto dormia, a macieira esfregou tanto as fontes do juiz que as feriu. Tinha os olhos vermelhos e a boca seca.
Depois de almoço o juiz deu uma tareia à mulher. Tinha visto na sopa maçãs a flutuar. E tinha-as engolido.
O juiz não conseguiu dormir depois de comer. Fechou os olhos e ouvia o ruído das cascas das árvores do outro lado da parede. As cascas das árvores estavam suspensas em fila. Balouçavam presas por cordas e devoravam maçãs.”
Herta Müller, O homem é um grande faisão sobre a terra
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