segunda-feira, 8 de março de 2010

O problema da meritocracia e as questões da base

Li recentemente, por aí, que o problema do mérito, e da advogância do mérito, falha num modelo social e económico onde uns têm menos hipóteses de competir que outros.
Como já tenho lido isto noutros sítios e blogues reputadamente de esquerda, considero meu dever começar a desmontar esta mais recente e pálida tentativa dos adeptos da antropofagia estadual para combater o pensamento conservador e liberal do mérito e da propriedade.
Primeiro, é óbvio que todos os seres humanos partem de posições diferentes.
Não há um índice comum de referência para que possamos nivelar todos os seres humanos, tanto porque tal é injusto, como porque tal corrói os últimos fundamentos da nossa sociedade civil e cultura. Por muito que esses dois acontecimentos sejam favoráveis à causa dos sectores da Revolução.
Para haver mérito é necessário o desmérito. Para haver noção de esforço é necessária a noção de preguiça ou desleixo.
Para haver mérito é necessário existir uma sociedade livre, visto que mérito é um conceito subjectivo que é especialmente definido por grupos de pessoas, não é passível de ser considerado por uma secretaria de Estado como um objectivo comum a toda a Humanidade.
Para avaliar o mérito é necessário perceber uma coisa:
Aquilo que um homem realiza na vida é o fruto do seu passado, presente e futuro.
O mérito funciona caso seja dada a oportunidade do indivíduo de, no seu espaço de vida, usar os mecanismos que lhe foram postos à disposição para que ele possa fazer deles tudo o que o seu engenho lhe permita.
Um filho de pais pobres e desleixados sofrerá com a liberalidade dos seus pais, a sua preguiça, os seus vícios.
No entanto, sofrerá muito mais caso tenha de ser tributado em 50% no seu primeiro ordenado porque o Estado resolveu facilitar a vida de alguém. Principalmente quando essa facilitação envolve meios pouco científicos, pouco humanos (o Estado-Providência, essa invenção animalesca) que têm como único objectivo criar burocratas que sirvam o Poder e estatísticas que sirvam os governos. Tem sido essa a experiência do Mundo, em todas as nações. E quem o disser diferente, que o prove. Abolir o mérito é impor o Passado, a imobilidade.
Sem mérito, abolindo as instituições e hábitos culturais que exigem dos indivíduos aceitação social e até laivos de elitismo, destruímos a noção que o ser humano tem do Futuro. Sabendo que todos partirão de uma base comum, que não há esforço necessário por aqueles que nos são próximos, visto que a identidade mítica do Estado usará sobre eles o seu poder "horizontalizador", que pobre alma se sentirá constrangida a violar a "podre igualdade"?
É a necessidade que forma os bons pais, os bons filhos, os bons amigos e os bons vizinhos.
Sem ela, sem a ajuda dos outros, sem a representação nos outros, como vamos formar bons cidadãos?
Sem o Mérito resta-nos o Homem-Servo. Mais uma besta acéfala do socialismo, dos Devoradores.
Por fim, anular o mérito é destruir o Presente.
O primeiro homem a criar fogo terá provavelmente sido destruído pelos seus iguais.
Queimado provavelmente na mesma estaca que ele ajudou incendiar.
O Socialismo é puramente primitivo. Exige, acima de tudo, que os homens sejam iguais e que se mantenham como tal. Mesmo quando uns não o são. Quando a uns, seja por graça de Deus ou por mérito, lhes é permitido um glimpse de algo divino: a Invenção, a Inovação, o Pensamento. O progresso, seja feito em proveito próprio ou para ajudar a vida dos que nos rodeiam. Foi isto que terá sido combatido nos primeiros tempos da Humanidade, e foi combatido igualmente nos séculos e milénios seguintes. Alinhar num plano geral, cedido a todos e feito para todos, com todos os esforços possíveis e justificados para que a nivelação da sociedade se dê. No entanto, quando a Humanidade aprendeu a valorizar os seus filhos, quando os homens puderam deter direitos sobre aquilo que criaram, quando o primeiro homem tomou um pedaço de Terra e chamou-o seu, então aí nasceu a Justiça.
E o direito de cada um a ser o melhor que consegue ser, e a defender-se do Tribalismo dos primeiros socialistas.
Combater o socialismo é combater o fim da humanidade e do respeito pelo Próximo.
O socialismo é puramente natural. Um homem empurrar um revólver na cara de outro, exigindo-lhe o dinheiro ou a vida, é perfeitamente natural. Abordar meio-Mundo prometendo-lhe as riquezas da outra metade também. Querer o bem e o melhor sem dar nada em troca é a primeira coisa que passa na mente de uma criança. É esse estádio mental, porém, o qual os socialistas se vêm limitados.
É a propriedade que cria a nossa civilização como a conhecemos, desde as nossas concepções de liberdade às questões processuais mais complicadas do nosso direito.
É essa lei, e o direito a obtê-la, a fazer parte dela, a possuí-la e desfrutar dela, a usa-la responsavelmente de forma a fazer valer os nossos valores e ideais, que a Esquerda socialista quer destruir. Com subterfúgios, aparentes cedências, mas sem dó nem piedade. Às vezes nem eles mesmos se apercebendo.

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