terça-feira, 16 de junho de 2009

Entre Muros com a Crème de la Crème

"Tivemos o Muro de Berlim, temos os muros da Palestina e agora os muros do Rio". Assim escreveu José Saramago num destes dias. Assim escreveu à laia de nata intelectual com que sempre pontua as suas frases, pejadas de “coisas pestilentas” e muitas pontas soltas que deram o nó num golpe de marketing da Caminho faz pouco tempo. É num tom descomprometido entre chalaça e azedume, de perna cruzada e marcas senis, que o opinion maker português compara, de uma assentada, três realidades independentes na sua singularidade.

De um lado temos a cortina de ferro, da qual Saramago fala com sobranceiro afastamento – velhas lides, as mesmas ideias, sem escapar de uma bela entorse no braço.

No sector oposto temos o muro da Cisjordânia que, longe de ser uma solução consensual ou politicamente correcta é, como bem denotou Miguel Monjardino no Expresso, tremendamente eficaz – registou-se uma redução significativa dos atentados terroristas na raia.

Por fim, temos o muro das favelas do Rio de Janeiro, muro este que, apesar de suportado por argumentos ambientalistas, logo se vê que pretende mitigar a construção ilegal e o crescimento descontrolado das favelas. Um problema profundo que não se resolverá com brandura governativa e remédios caseiros. Ademais, inchar o peito e falar em repressão e segregação dos favelados pela construção de um muro soa um pouco a cocktail de barbitúricos.

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