domingo, 28 de junho de 2009

O Odisseia feito pelos seus leitores - André Levi

André Levi, um leitor e companheiro de curso, mandou-nos um texto que tem como título -

O Conservadorismo do CDS.
Leitura Recomendada.

I

Consideração inicial

Antes de tudo, devo pedir desculpas ao Manel pelo atraso da minha resposta, ele que tão prontamente o fez ao meu comentário, mas os exames (e, vá lá, o simples esquecimento) não perdoam!

II

Da definição de Conservadorismo

Quando no CDS se fala em conservadorismo, não se pensa no velho conservadorismo americano ao estilo do Partido Republicano. Quando no CDS se fala em conservadorismo, a expressão tem um significado bem mais caseiro e muito distante do daquele partido.

O conservadorismo que há com mais ou menos força dentro do CDS, liga-se ao tradicionalismo português e ao conceito tradicional de família; à monarquia e ainda a algum resquício de Integralismo Lusitano que por aí ande; à moral Cristã, com grande afinidade à Igreja; à defesa do Império e à projecção atlântica nacional; ao patriotismo historicista; ao eurocepticismo (não absoluto); à concepção de um Estado forte; à economia centralizada; a uma iniciativa privada bem balizada; aos ideais de autarcia e de fisiocracia em detrimento de uma economia de mercado.

Este é o conservadorismo que há, com mais ou menos força no CDS.

Dificilmente se confunde com o conservadorismo tradicional anglo-saxonico que tem preferência por uma determinada concepção de família, que tem traços de tradicionalismo, que é patriótico de uma forma historicista, mas, por outro lado, dá todo o espaço à autonomia privada, defende uma economia o mais solta e livre possível, vê o mercado como o modelo económico mais equitativo e lucrativo, não é estranho às teorias da divisão internacional do trabalho, nem à Europa (na sua vertente europeia, claro está).

Em suma, o conservadorismo anglo-saxónico é centrado no Homem, num determinado conceito de Homem (livre, patriota, presado, inserido num determinado contexto familiar), enquanto que o conservadorismo do nacional e do CDS, com mais ou menos expressão, é centrado, não no Homem, mas na relação que se estabelece entre o Estado e o Homem e o Homem e o Estado.

Há, pois, neste ponto, uma discordância entre nós.

III

Do Conservadorismo no CDS

O CDS não é um partido conservador. O CDS é, também, influenciado por uma concepção conservadora da realidade.

Dizes imaginar um conceito de conservadorismo para o CDS, reclamando a Democracia-Cristã como modelo económico para o PSD. Facto é que por mais conservador que imagines o CDS, não deixa de ser um partido, fundamentalmente, democra-cristão. Se o PSD tem em vista uma viragem nesse sentido, só posso aplaudir e congratular-me com o a difusão dos ideais democratas-cristãos no nosso país. Não posso, todavia, deixar de advertir que a Democracia-Cristã não é um modelo económico: é uma concepção de Estado.

É palpável a influência das concepções conservadoras no seio do CDS. O patriotismo historicista e a defesa do tradicionalismo, mostram-no bem. Mas a sua influência não irá muito mais longe do que isto.

A Democracia-Cristã, assim, assume-se como a corrente de maior importância na construção ideológica do CDS: a defesa da dignidade humana, na concepção de cidadão e das relações deste com o Estado e do Estado com este; a aceitação do mercado; a defesa do estado comedido; o império da responsabilidade social... A marca da Democracia-Cristã...

IV

Das afinidades do CDS com partidos conservadores estrangeiros

Devo admitir a minha ignorância quanto à realidade do UK Conservative Party. Porém, posso falar com alguma propriedade do Partido Republicano.

O Partido Republicano não tem uma actuação e estrutura ideológica dominante constantes ao longo da sua história. Os melhores exemplos disso serão, talvez, as clivagens internas a propósito do esclavagismo ou mesmo a dificuldade da escolha do candidato às últimas presidenciais.

Pegando neste último exemplo, podemos ver dois extremos de uma série de “Partidos Republicanos” dentro do Partido Republicano, pegando em duas personalidades: John McCain e Sarah Palin.

John McCain é herdeiro do primitivo Partido Republicano, como tu muito bem disseste, militante da “aposta nos valores individuais, a protecção do cidadão face à coacção económica, física e intelectual por parte de outros cidadãos e do Estado” e da aceitação da “Tradição cultural, social e histórica”. Palin representa um outro, bem mais estatista, confessional, nada estranho a abusos, arbitrariedades e irracionalidades (tanto por parte do estado como dos privados), ditadas por um tradicionalismo bacoco, por considerações religiosas mais ou menos ilustradas e por um patriotismo agressivo e nada respeitador da integridade de outros Estados.

O CDS não se revê nem numa nem noutra posição; nem no conservadorismo primitivo (liberal), nem num outro conservadorismo evangélico. E, honestamente, desconheço pontos intermédios que nos digam algo em especial.

Já se pensarmos, por exemplo, na alemã CDU alemães, neste caso são visíveis as semelhanças.

V

Do conceito de Família do CDS e das críticas de Martim Avillez

Em primeiro lugar, há que começar por esclarecer muito bem um assunto: o CDS não propõe um conceito de família, em especial; não prefere determinadas estruturas familiares a outras. Certamente que todos nós gostaríamos que todas as famílias fossem constituídas de acordo com os ditâmes tradicionais. Mas não se fazem juízos políticos sobre esta questão. Sem dúvida que uma criança crescerá de uma forma mais saudável se em casa tiver um pai e uma mãe e se tiver o apoio e carinho dos avós e dos tios. Não significa isto que este modelo familiar seja preterido em relação a outros. As coisas são como são. A realidade é como é. Não se podem obrigar duas pessoas a constituir família, nem tão pouco se quer que assim seja. Da mesma forma encaramos as relações homossexuais.

O CDS não é um partido homofóbico. Em nenhum momento foi dado a entender pelas suas estruturas directivas que havia lgum problema com a homossexualidade. É uma opção. Faz parte da esfera privada de cada indivíduo. Em nenhua hipótese tem o Estado algo a ver com isso. De facto, as opções sexuais de cada indivíduo, de per si, em nada interferem com a esfera privada dos indivíduos circundantes ou sequer com a consciência ética colectiva da Nação. As opções sexuais de cada um são um acto unilateral, perfeitamente dissociáveis de tudo o resto: não tem reflexos juridicamente relevantes.

Diferentes são os casos em que, à força, se quer dar relevância jurídica àquilo que não a tem. Uma coisa é o indivíduo assumir-se como homossexual, construir relações homossexuais, livremente desenvolvendo a sua personalidade; coisa perfeitamente distinta é querer valorar essa situação de uma forma não valorável, atribuindo-lhe características que, por natureza, não são as suas, ou chamando-lhe nomes que, em bom português, não são os seus.

Dois homens vivendo juntos, que criam entre si uma relação afectiva (chamando-lhe, porventura “amor”), que assume uma dimensão sexual é simplesmente isso: não é um casamento, não é uma família; é algo que duas pessoas fazem, estando fora da esfera de acção do Estado, enquanto fruto da mais pura, simples e unilateral iniciativa privada.

O casamento é um dos mais antigos institutos experienciados pelo Homem. E que pela sua global vivência e constância de estrutura e definição, pode ser dito radicado na consciência mais íntima do Homem e absolutamente adstrito à sua condição; (só) pode ser dito radicado directa, absoluta e indubitavelmente no Direito Natural.

Antes de avançar mais, impera que se teçam algumas considerações sociológicas sobre o fenómeno da homossexualidade, nos termos em que nos é apresentado. De forma brilhante Vallet de Goytisolo, na sua obra “Sociedad de massas e Derecho”, dá-nos conta de como a sociedade técnica e urbana contribui para a desagreagação de um povo e a sua transformação em massas, substituindo-se o elemente histórico pelo voluntarista. O sentimento de pertença desvanece-se; a cidadania relativiza-se; a humanidade perde-se: substitui-se o conceito de cidadão e de homem por um conceito purista e extremado (egoísta) de indivíduo, desprendido da sua natureza, pouco preocupado com a sua condição, não tendo, em boa verdade, que prover pela sua subsistência. É uma engrenagem e só uma engrenagem da grande e descaracterizada urbe. Mas uma engrenagem que nunca olha para as que estão à sua volta. Tem que fazer o que faz, mas está-se pouco importando para o resto das engrenagens ou sequer para a saúde da máquina. Desde que esteja garantido o seu bem estar, tudo está bem. Assiste-se ao império da vontade egoísta, em que “o papel reservado às instituições é substituído por slogans como representação mental unificadora”, que une vontades e não pessoas.

Este retrato pode parecer demasiado radical, mas é absolutamente verdadeiro. Assim se explica a incrível violência urbana; se explica o afrouxar das relações humanas na urbe; se explica a falta de consideração pela condição humana; se explicam os comportamentos sociais desviantes e desumanizantes; se explicam os comportamentos sexuais desviantes ou simplesmente alternativos e pouco naturais. A substituição do elemento histórico pelo voluntarista leva à degradação das instituições humanas e à degradação do conceito de Homem, com tudo o que isso implica.

Tendo falado em abstracto sobre o Homem e as instituições humanas, proponho-me a falar em particular do casamento e do casamento na realidade jurídica portuguesa.

O casamento que os potugueses durante muito tempo conheceram radica na natureza do próprio Homem, influenciado por considerações Cristãs. O casamento foi um instituto constante, com um objecto, uma estrutura e directrizes bem definidas. Recentemente, deixámos de conceber o casamento como um vínculo perpétuo; depois deixámos de o conceber como pressupondo um vínculo estável; depois deixamos de proteger as partes, em caso de “rescisão” de contrato; agora preparamo-nos para alterar a sua definição. Em boa verdade, a instituição “casamento” foi substitída pelo slogan “liberdade sexual”.

Esta instabilidade e mesmo indefinição são contrárias aos predicados mínimos exigíveis para que um instituto possa usar, de pleno direito, esse nome. Uma instituição instável não é, muito simplesmente, uma instituição. Em boa verdade, a lei implodiu o casamento civil material, insistindo, no entanto, em preservar um termo que não se reporta a nenhum conceito, em preservar uma fachada, em preservar uma figura jurídica a que a lei chama “casamento”, mas que já não o é.

Face a este constatação, assistindo a esta forma vazia de conteúdo, assistindo a esta inexistência institucional, apresento uma proposta: porque não, muito simplesmente, acabar com o casamento civil?

Se é um vínculo a todos acessível, sem predicados mínimos, mas que, na verdade, não vincula, não atribui nenhuma posição especial às partes, nem garante a sua segurança, em que medida faz sentido a sua existência? Que vantagem tiramos de vivermos de e para pró-formas? O casamento civil deixa de gter significado ou utilidade. Muito bem, limpe-se a casa e deite-se fora o que não serve.

Pelo contrário, se ainda houver alguém que atribua algum significado, nomeadamente religioso, ao casamento, então que se casem religiosamente e o vivam religiosamente, segundo os preceitos das suas confissões, enquanto fruto da autonomia privada, sem a intervenção estatal.

Retomando a análise da relação do CDS com o casamento e a família e voltando a um momento em que o casamento não está completamente vazio e em que ainda não abrange as relações homossexuais, volto a reforçar a ideia de que a Democracia-Cristã não tem um conceito de Homem, mas um conceito de Estado: um Estado construído à medida do Homem, que assenta primordialmente na sua dignidade, que dá espaço a autonomia privada, mas que exige, em retorno, responsabilidade por parte dos indivíduos, de forma que “a busca da felicidade” individual de um, não obstrua a de outro, nem ponha em causa “o bem-estar geral”. E um Estado assim não pode ter um determinado conceito de Homem, para além daqule que este, naturalmente e em condições normais, tem de si mesmo.

A Democracia-Cristã, defendendo esse conceito, não porque seja sua opção, mas porque o respeito pela dignidade humana o obriga, que se radica no Direito Natural, é forçada a defender as instituições humanas, na sua formulação originária adstrita ao conceito natural de Homem. Por consequência lógica, é forçada a defender o casamento na sua formulação originária adstrita ao conceito de Homem. Como tal, não pode aceitar o alargamento do casamento civil aos casais homossexuais.

A homossexualidade, tal como o casamento, não é um fenómeno novo. Sociedades e tempos houve em que era bem vista ou permitida; sociedades e tempos hove em que era mal vista e proibida. Nunca, em nenhum momento, todavia, se pretendeu confundi-la com o segundo. O casamento foi sempre um instituto muito bem definido, visto radicar na natureza humana.

A pan-homossexualidade imperialista actual, essa é nova. E é precisamente fruto da tal substituição do elemento histórico pelo voluntarista, produto da sociedade técnica urbanizada, que leva à substituição das instituições humanas por slogans. É este povo massificado e desumanizado, esquecido ada sua natureza, que ousa querer confundir casamento com liberdade sexual. São conceitos paralelos.

Por tudo isto não pode o CDS, enquanto partido, fundamentalmente, Democrata-Cristão aceitar o casamento homossexual. Já muito diferente é a aceitação da homossexualidade: essa é não mais do que o produto da iniciativa individual.

VI

Do CDS

Em jeito de resumo, proponho-me, mais uma vez, de forma telegráfica (este comentário ficou demasiado longo!) a definir o CDS.

É um partido cuja ideologia é influênciada por, essêncialmente três correntes: Conservadorismo (o nacional), Democracia-Cristã (que é a predominante) e Liberalismo.

Defendemos o tradicionalismo nacional, não de forma absoluta, mas ponderada. Temos orgulho na nossa história, conhecemos a nossa herança atlânticista e acreditamos que o seu repúdio não é a solução. Não ignoramos, sem sermos confessionais, as origens judaico-cristãs da nossa cultura. Não somos estranhos à ideia de uma forma de governo Realista. Acreditamos na dignidade humana como valor fundamental, situado acima de qualquer outro valor, virtude, ideal, projecto ou o quer que seja. Acreditamos na comedição do Estado, na iniciativa privada e no mercado, mas pelo contrário, no império da responsabilidade social. Sabemos que não nascemos todos iguais, devendo o Estado promover a mobilidade social, sem que isso prejudique a responsabilidade individual de cada pessoa. Queremos um estado presente, mas não obeso. Só aceitamos um Estado transparente, dirigido pelos melhores, que se renovam constantemente, num verdadeiro espírito altruísta, demofílico, democrático, responsável, despojado, rigoroso, imparcial, plural, defendendo a igualdade (não se diga, por favor, que isto é ética republicana, porque não é).

É este, de forma telegráfica, o CDS.

11 comentários:

Tomás Gonçalves da Costa disse...

André,

Vou ter de discordar em dois pontos.

1. Não concordo com o fim do casamento civil. Embora não me seja difícil simpatizar com essa solução, acho que traz novos problemas... O casamento civil seja numa conservatória ou numa praia tem um simbolismo. E é esse simbolismo que muita gente procura quando fala em casamento. É, aliás, irónico que muitos defensores do casamento homossexual, sem se aperceberem, o que defendem é uma sacralização da união homossexual. Novamente o simbolismo.
Portanto, acabar com o casamento civil traria problemas a todos aqueles que não querem um casamento "na igreja" mas querem uma cerimónia com uma autoridade civil etc...

2. A Democracia Cristã foi uma resposta ao socialismo. Socialismo que tem o grande erro de se esquecer que cada Homem é inigualável, ou seja, que o igualitarismo tão apregoado não é justo e é um ataque à própria dignidade humana.
Como tal, não é apenas uma visão do Estado. É uma ideia do Estado e do seu papel tendo o personalismo como base essencial. Personalismo que é bastante diferente do individualismo.

É a melhor "resposta" ao socialismo até aos dias de hoje. Foi muito adoptada na Europa pós- II Guerra Mundial. Poderá ser uma resposta à crise mundial.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Seguindo a linha de raciocínio do Levi, e talvez por uma via que ele não concorde, o casamento tornou-se uma mera formalidade contratual, perdeu todas as características que o tornavam único, um instituto jurídico per se.

a relação do casamento religioso com o religioso, em Portugal, é muito semelhante à formalizada por A. Herculano, no Código de Seabra. é um trabalho muito antigo, que vinha na esteira na tradição liberal da época.
infelizmente, e a meu ver, o Estado Liberal, tanto em Portugal como na Europa, quis substituir o papel da Igreja no que toca ao casamento. A regulação do casamento fundamentou-se, no início, nos trâmites e regras da igreja católica.

a meu ver, e enquanto defensor da supressão do casamento civil, temos de acabar com essa relação incestuosa.
O casamento é um instituto religioso, social, etcaetera.
O estado só pode regular uniões civis, uniões de facto. e isto não é apenas uma mudança de nome, é todo um trabalho minucioso que deve ser feito à volta desta nova solução.

Tomás, esta é uma das discussões onde tu e eu iremos discordar até ao fim dos tempos. A meu ver, e estou a arriscar nas minhas suposições, estamos a discordar em matéria de princípios.
O teu princípio, e retirei esta ideia do teu discurso sobre o simbolismo do casamento(por favor, corrige-me se tiver errado), o Estado terá um papel fundamental de reforçar os institutos jurídicos concernentes à família e à sociedade civil. O meu princípio é que não, não deve. A sociedade civil e os seus órgãos, entre eles a Igreja Católica, durante séculos progrediram e avançaram e humanizaram a instituição que nós todos reconhecemos chamada Casamento. Mal o Estado se apoderou dela, subverteu-a e balançou-a ao sabor das correntes políticas dominantes.
Por um lado, do ponte de vista de um liberal mais liberal que conservador, reconheço que liberdade sexual não é sinónimo de casamento. No entanto, a nossa cultura e o nosso meio social está a mudar a uma velocidade fatal para estes costumes antigos, que dependem da morosidade dos tempos. adaptá-los constantemente só causa transtornos, como é o caso do casamento homossexual.

enfim, o comentário está a ficar muito grande, de futuro talvez prepararei um texto onde possa abordar a interessante questão do simbolismo, que não tive tempo de comentar.

V. disse...

Enquanto sociólogo não podia ficar calado. A sociologia não, uma sopa instantânea que se compre aos pacotes num supermercado. Não se pode simplesmente ir buscar um autor com um nome bonito à prateleira, descontextualizar a sua tese, por na panela e utiliza-la para justificar todo e qualquer argumento. Não tente usar uma ciência para justificar o seu preconceito e ignorância quanto aos temas que trata. Porque se, de facto, soubesse realmente em que é consiste sociologia não diria metade das ignomínia que para aí disse.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

V., tudo bem que a sociologia não é adquirível em médias plataformas comerciais, mas não é um monopólio de alguns felizardos.

"ir buscar um autor com um nome bonito à prateleira, descontextualizar a sua tese, por na panela e utiliza-la para justificar todo e qualquer argumento"

isto faz-se tanto com autores de sociologia como de direito, psicologia, história, economia, astronomia, etc. é um exercício de intelectualização livre que permite aos seres livres-pensantes adoptar ideias, contextualizando-as na sua realidade.
por isso é que nós ainda lemos Aristóteles e descontextualizamos a sua filosofia para a contextualizar na nossa.

V. disse...

Caro Manel, lá por toda a gente fazer não quer dizer que esteja correcto, devia saber isso.

A partir do momento em que se diz "vamos tecer considerações sociológicas sobre" está a ser assumida uma postura de discurso cientifico e coerente e não de intelectualização livre de café. O método do autor do post é exactamente igual ao da autora do livro "O segredo" quando pretende justificar a sua tese mirabolante com supostas teses da física quântica, ou seja, não faz qualquer sentido. Quando não se sabe daquilo que se está a falar, não se fala. Caso contrário entramos num pedantismo que apenas fomenta a ignorância e preconceito. Haja mais honestidade intelectual...

André Levi disse...

Manel,

Não sou completamente estranho à tua argumentação.

No entanto, considero que é função do Estado, não "reforçar", mas proteger, não os "institutos jurídicos concernentes à família e à sociedade civil", mas os institutos radicados na condição humana.

O casamento que hoje conhecemos é profundamente influênciado por concepções Cristãs. Mas as concepções Cristãs de casamento são fundadas, mais que tudo, na natureza humana.

Yves Sinclair disse...

Bom Tenho a dizer que realmente o CDS mostra rasgos de uma certa nostalgia de estado novo, no sentido em que defende um estado, com rasgos de monarquia (Não que o estado novo a defendesse, mas também nao se opunha), de autarcia, da ideia da Familia como pedra basilar, tem uma grande afinidade à igreja, e defende o império. Bom O nosso querido oliveira Salazar defendia isso. E viu que das poucas maneiras de o manter, foi através da repressão.

Pois temos de ver que cada vez mais a sociedade não se revê nas afinidades da igreja, na ideia secular de familia. (aliás temos de falar das ideias de familias, pois a familia cada vez mais muda e deixa de ser pai, mae e filhos, para ser mae solteira com amigos e filhos, ou até situações sem casamento, familias homosexuais, familias a 3 com filhos: 2 homens e 1 mulher, ou 2 mulheres e 1 homem etc..)
Ao defender um "império" no mundo actual estamos a dizer que existem povos que têm de ficar sob o jugo de outros (o que para alguem que está em direito mostra um grande desconhecimento de DIP, e do principio da autodeterminação, e autonomia dos povos.

Ainda que o CDS tenha uma certa importancia como oposição, não parece que os seus modelos baseados em posições, que como referimos supra ja nao têm força, nem cabimento, nem tão pouco muita logica, sejam uma alternativa de futuro.

Yves Sinclair

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Yves,

concordo com muitos pontos. De facto, a ideia imperial já não se põe nos nossos dias. no entanto, a ideia do império cultural, do império do espírito e da tolerância, o Vº Império, subsiste ainda na nossa cultura. e eu assumo, com algum embaraço de ingenuidade, que acredito que Portugal é um potência, não militar, não colonial, não económica, mas uma potência histórico-cultural. e acho que a ideia do império é adaptável a isto.

quanto à ideia monárquica... lá está. aconselho a leitura deste texto: http://cafeodisseia.blogspot.com/2009/05/defesa-da-monarquia-reflexoes-sobre.html

o estado não tem qualquer tipo de moralidade para com os novos tipos de família que surgem, no entanto não tem moralidade para mudar o estatuto dos antigos.

André Levi disse...

Yves,

Tens em parte razão nas críticas que fazes a essas ideias. Não tens razão quando identificas o CDS com essas ideias.

Acontece, contudo, que o CDS não é nada disso. O que fiz foi definir conservadorismo (português) e falar do papel que o conservadorismo desempenha no CDS, enquanto partido não conservador. Cfr. III "Do Conservadorismo do CDS"

Muito claramente "É palpável a influência das concepções conservadoras no seio do CDS. O patriotismo historicista e a defesa do tradicionalismo, mostram-no bem. Mas a sua influência não irá muito mais longe do que isto."

Somos patriótas. Não somos imperialistas nem colonialistas.
Reconhecemos a influência do Cristianismo na nossa cultura. Não somos confessionais. Não defendemos nenhum conceito específico de família. A família deve ter muito pouco que ver com o Estado. A sua construção deve ser fruto, quase exclusivamente da autonomia privada.

Para que se perceba melhor o papel do Conservadorismo no CDS recomendo a leitura integral do texto. Reforço a ideia de que o CDS NÃO é um partido conservador. Este conservadorismo (nacional) existe, com mais ou menos força, em todos os partidos portugueses, porque é este o conservadorismo da sociedade portuguesa (pelo menos o cúmulo teórico).

E se influência o CDS, também influência o PSD, o PS, o PCP, o PEV, o BE, o PCTP, o MMS, o MEP, o PPM, POUS4, o PND... Influência os partidos porque influência as nossas vidas. É como uma herança histórica. Os bretões e os partidos britânicos serão influenciados, com mais ou menos força, pelo conservadorismo britânico. Os portugueses e os partidos portugueses são influênciados, com mais ou menos força, pelo conservadorismo.

André Levi disse...

Caro V. (curioso nome),

De facto, gosto muito de sopa. A minha preferância vai, com poucas dúvidas, para a de marisco, mas não de pacote! E a sua?

Continuando, permita-me um reparo: esqueça o prefixo! Reli o meu texto à procura de uma oportunidade para o utilizar, todavia (que aborrecido!), não a encontrei. Só lá estavam conceitos. Completos e sem apêndices.

Admito que não partilhe do meu quadro de valores. Admito que não concorde com o que disse. Porém, faça o favor à rectidão de não desvalorizar os conceitos que lhe são apresentados, só pelo simples facto de não os valorar da mesma forma que quem os apresentou.

Não são conceitos pré-concebidos. São conceitos inteiros e pensados.

Não pretendo ter mais formação do que nenhuma na área da sociologia. Não pretendo ter a omnisciência dos fenómenos socilógicos. Não pretenda, por favor, ser o único com olhinhos na cara.

Expus uma realidade, analisada à luz de determinadas estruturas mentais e quadros valorativos. Uma análise, sem dúvida, parcial, não meramente descritiva.

O meu caro V., no lugar de rebater o que hei dito, preferiu insultar-me, acusando-me de ser preconceituoso, ignorante e ignóbil (estava bem lançado!), denotando um excesso de forma e um conteúdo inexistente. São estilos. Há quem goste. Eu, não.

E não só não gosto, como tenho medo. Quem ataca outrém da forma como você atacou, sem que a nenhum momento tenha esgrimido um só argumento, por mais pequenino que fosse, em nome de valores que me são ocultos, de um jeito tão visceral, é perigoso. Não se puseram em causa argumentos, não foi nada discutido; foi, mui singelamente, perseguida a diferença. Perigoso.

Se eu "de facto, soubesse realmente em que é consiste sociologia", se fosse um sociólogo e se estivesse interessado em produzir um documento secamente científico, "não diria metade das ignomínias" que disse. Se, por outro lado, o V. fosse uma pessoa correcta, preocupado com o debate franco e respeitador da diferença, "não diria metade das ignomínias" que disse. Mas parece-me que não o é. Em vez disso optou por insultar-me, esquecendo-se das ideias (já para não falar da boa educação e da rectidão científica). Mais uma vez, é uma questão de estilo. Há quem goste. Eu, não.

Reservo o direito de continuar a fazer uma análise da realidade à luz dos meus valores, desde que feita com ilustração e rectidão moral e científica. Reservo o direito de ter as minhas próprias convicções. Reservo o direito de ser diferente. Não lhe concedo o direito de, arbitrária e infundadamente, me insultar ou de pôr em causa a minha rectidão ou o meu intelecto.

Gosto de conversar, gosto de discutir, gosto de aprender (sim, porque, pasme-se, isso é possível). Não gosto deste seu estilo. Em nome do brio próprio, só lhe ficava bem retratar-se. Portanto, faça-o.

Os melhores cumprimentos,
A. (pode ser que pegue a moda)

André Levi disse...

V.,

O seu segundo comentário pode ser resumido em uma palavra: pretensiosimo (não que o primeiro não o pudesse também ser).

O meu texto não é um tratado científico. É um texto de opinião. Mas não é qualquer tipo de opinião. Nem sequer de "intelectualização livre de café". É uma opinião válida, validamente fundamentada. A referência às teorias do jurista Vallet de Goytisolo, pretende somente enquadrar a minha própria opinião.

A minha opinião não é "preconceituosa", "ignorante", ignóbil", estúpida, irracional ou "desonesta". Se fosse, talvez o você o tivesse feito ver. Mas não. Limitou-se a criticar por criticar, não sabendo, certamente, muito bem o porquê. Mas eu digo-lhe: preconceito e ignorância. Tem as vistas demasiado curtas para aceitar a diferença. Mas não se preocupe: é, com certeza, a influência do conservadorismo à portuguesa (em si muito, muito grande, pelo que se vê).
O senhor propõe que "quando não se sabe daquilo que se está a falar, não se fala". Eu proponho o alargamento da regra para as situações em que não se sabe porque se está a falar.

Em nenhum momento o V. se propôs a discutir ideias, mas, simplesmente, a insultar-me. Aviso-o de que, dificilmente aceitarei isto. Já lhe disse que há quem goste do seu estilo. Eu, não. Recomendo-lhe outra vez, em nome da rectidão moral e intelectual: retrate-se.

Quem pensa que é para me dirigir as palavras que dirigiu? Não lhas admito, nem a si, nem a ninguém, por uma simples razão: são falsas. E quem recorre a falsidades, é falso.

Apresenta-se como sociólogo; fala em honestidade. Todavia, cada palavra que profere é uma cuspidela em cima dela. É muito engraçado a forma como passa ao lado de toda a argumentação, dirigindo-se, direitinho, às injúrias.

Já agora, acho ridícula e de um populismo de militante falta de gosto, comparar o meu texto ao "Segredo". Não estou aqui a justificar nenhuma tese, ou a impingir nada. Fiz uma interpretação da realidade, que me pareceu oportuna ao descrever o papel do conservadorismo no CDS. Ao escrevê-la, imaginava as reacções que poderia provocar. Quando escrevemos um texto vamo-nos apercebendo da possibilidade do contraditório. Esperava-o. Não esperava uma reacção como a sua, que não pôs em causa as ideias, mas a pessoa, numa explosão de convicção (pouco ilustrada, desde já) completamente desproporcionada.

Terei todo gosto em debater consigo as ideias em cima da mesa. Mas um debate tem que ter, pelo menos, duas partes. Quando estiver disposto, diga qualquer coisinha.

Até lá, pense muito bem na sua conduta e, pela saúde do seu brio pessoal, recomendo-lhe pela terceira vez: retrate-se.

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