quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Só vejo o mar: É vermelho marxista

Eu, antes de escrever a vermelho socialista (pois se achar-se o "democraticamente eleito" é isso), exponho aquilo que a minha bebâda consciência ainda é capaz de digerir.

Do referendo ao plebiscito vai a distância que aqui, estudantes de direito, me recuso a falar. A primeira ideia que me perturba o sono é esta.

A segunda é o filho da puta ditador que caralho, até é eleito democraticamente, mas como ganhou o referendo vamos lá pedir à sininho argumentos verdes cor de nota.
Tão belo falar do Obama e do prodigioso e fecundo fenómeno da melhor democracia do mundo. É só a mesma que permitiu ao melhor presidente da sua história governar mais tempo do que o idóneo aconselha. Mas então o chavez já não é ditador. Momon não te rias que já te apanho. Já por isso os americanos espertos impuseram limites. Tumba, safa te agora. O problema é que tens razão, mas do que pode ser não se retira o é ou o será. Vejam bem, num exercício meramente abstracto poder ser eleito irrestritivamente não implica a viciação do sistema político ou eleitoral. Nós podemos presumi-lo? Podemos supo-lo, mesmo teme-lo? Pois é claro que sim. Mas dele não retiramos a certeza.

Aliás, por alguma razão eu gramo o mesmo tipo na minha terra há-de fazer 16 anos, o mesmo jardim tem não sei quanto tempo e tantas mais casos. É óbvio que nao se compara a influência do autarca ao do chefe de estado, mas se de democracia perfeita falamos e queremos então suportemos o argumento.

Se foi o chavez eleito democraticamente nem há discussão que se faça, se tem (fale-se que o homem nem nas aulas se calava) legitimidade nem se discuta, se tem ambos sem suspeição o mesmo se aplica. Não discuto a legitimidade de exercício neste caso, como já o justifiquei há longos meses, porque a democracia funciona e é pelo sufrágio que é apurada. É óbvio que podemos contrapor as duas legitimidades, a de exercício e a de título, mas quando os mecanismos permitem a fiscalização, avaliação e a posterior decisão da primeira é infértil abordá-la, para além de obsoleta. Noutro domínio podemos fazê-lo; com Hitler, por exemplo. Mas o desgraçado impôs um clima de terror e medo, morte e genocídio com perpetuação fascista, totalitária, autoritária e ditatorial no poder, que nem a análise pode ser feita. Já com os outros dois, o caso é diferente: o início, o meio e o fim são diferentes. Basta que se saiba como chegaram ao poder, como o mantêm e o dominam para se entender que o caso muda de figura e, por conseguinte, de análise.

A verdade é esta, que o chavez faz merda faz, que não fazem sentido as profecias e ideias que tem não fazem, que é arrogante é; mas não é ditador ou algo que se pareça enquanto o sufrágio, insuspeito e isento, andar com ele. Caramba, digam-me onde leram sobre suspeitas de fraudes com a acuidade e clarividência necessárias que possamos falar disso? Uma diferença para o Eduardo dos santos, por acaso. Nem o eurodeputado, no justificado rol de críticas auspiciosas inclui esta ideia (Lembrei-me que um jornalista foi também expulso do Brasil por dizer que o Lula era um bebum). De nada serve apelar e justificar quando nos convém e profetizar os males quando discordamos se do mesmo vem a base.

Em três notas concluo a minha opinião:

- não é o chavez nenhum presidente dos pobres ou do povo. No mesmo momento em que ia escrevendo ocorreram-me umas palavras de Nietzsche: "O Estado é o nome do mais frio de todos os monstros gelados. Aliás, ele mente duma maneira fria e a mentira que sai da sua boca é esta: Eu, o Estado, sou o Povo."

-é eleito de forma democrática, pelo que nem se questione a sua legitimidade, nem se o compare a outros homens, nem se fale num ditador.

-a questão das divisas, dos jornais, da tv, rádio nao permitem falar num ditador. Num projecto muito auspicioso disso, pois claro, mas não em ditador.

Não restem, portanto, dúvidas quanto à legalidade e legitimidade do homem e do processo referendário, sem deixar de se ter a mesma garantia de que a decisão é errada e não se identifica com a ideia de democracia que pretendemos e se pretende.

Concentrem-se agora esforços no controlo da sua política, impedindo o caminho para a tirania, empenhando-nos num exemplar controlo internacional nas eleições próximas.

Abraço.

2 comentários:

Sara Morgado disse...

Tu acabaste de dizer que a questão da tv contribuia para um projecto muito auspicioso?
Oh meu deus.

Não creio que o resultado de eleições possa ser suficiente para apurar a democracia. Não por si só. Em muito tinha de interferir o Direito antes disso, para que o referendo, antes de mais, esteja de acordo com um regime democrático, nomeadamente no que respeita à questão colocada por ele.

Pedro disse...

auspicioso como significando bom agoiro; prometedor. O significado será este.
Como é óbvio, o sentido em que o utilizei foi o segundo. É tão óbvia essa reflexão. Não como um el dorado, sim como uma projecção, que se crê óbvia: a do caminho a um autoritarismo.

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