Apreciemos os rectos moralistas, senhores da inominável verdade, detentores da égide que, sentados no seu trono, se encolerizam contra qualquer manifestação religiosa. É moeda corrente o riso escarninho com que alguns opinion makers europeus recebem qualquer declaração da Santa Sé: seja uma encíclica papal, sermão domingueiro, declaração de bispo ou cardeal. Tudo o que a Igreja diz é falso e só merece o nosso mais profundo repúdio! Aliás, o papa é um velhinho senil e nós, cultores da perfeição circular, não lhe perdoamos ter enfileirado na juventude hitleriana (mesmo que na altura não passasse de um miúdo sem opção de escolha)!
O mais interessante é que, para o Vaticano não ser alvo da crítica destes seres etéreos, teria de mergulhar em azoto líquido. Senão vejamos: se durante muito tempo acusavam a Igreja de não acompanhar a evolução dos padrões culturais, agora, que finalmente se voltou para as novas tecnologias (Internet, televisão, etc), agora que participa activamente em debates transversais a toda a sociedade, que reflecte sobre os últimos avanços da ciência; agora que faz tudo isto, os nobres moralistas apontam-lhe o dedo e apelidam-na de leviana.
Mais grave ainda é a deturpação que as declarações dos representantes clericais sofrem: exemplos históricos são interpretados como manifestos anti-islâmicos; metáforas são levadas a peito pela imprensa, que sente a sua dignidade decepada por entre muita birra e choro, como crimes de lesa pátria.
O nosso mundinho é tão airoso na sua perfeição formal que silenciar a Igreja se tornou estandarte de algumas esquerdas mais inconsequentes. A Santa Sé não tem só o direito de questionar e discutir assuntos políticos, tem também esse dever. Então, uma instituição com tanto poder educacional e formativo, deveria permanecer calada? Para muito boa gente sim, deveria voltar-se para o terço e ministrar uns quantos pais-nossos em jeito de expiação dos pecados e deixar a política para os indivíduos capacitados. Não interessa que os senhores bispos que vemos palestrar tenham dedicado toda a vida ao estudo minucioso não só da teologia, mas também da filosofia, sociologia, POLÍTICA, diplomacia, direito etc. Não, nada disto interessa, eles são incapazes e ponto final!
Outra questão, tantas vezes invocada, é a mancha escarlate do sangue de milhões de inocentes ceifados pela Igreja. Sem dúvida que houve derrame de sangue, sem dúvida que morreram inocentes. Todavia, da mesma maleita se encontra ferido o socialismo, o liberalismo, o nosso país, qualquer país. Os alicerces da humanidade são incrivelmente sangrentos. Contudo, pouca gente refere, por exemplo, a sua luta pelo fim da escravatura e o contributo inestimável na defesa da dignidade humana.
Assim sendo, após o que escrevi, não me abstenho de tecer duras críticas. Considero grotesco o perdão do Vaticano ao bispo norte-americano (Richard Williamson) que nega incessantemente o holocausto nazi. Não se pode passar uma borracha por cima de discursos anti-semitas (vocábulo no sentido estrito, uma vez que são vários os povos semitas), discursos que só encorajam o ódio perante os judeus, novamente em franca expansão. Assim como me parece incomportável a sua posição no combate ao vírus da SIDA (a infeliz e insustentável oposição ao uso do preservativo).
Perante o exposto, fica o desejo de uma convivência saudável entre as várias forças sociais, que deveriam colaborar entre si, não entrando em desatinos despóticos e não açambarcando a verdade.
O mais interessante é que, para o Vaticano não ser alvo da crítica destes seres etéreos, teria de mergulhar em azoto líquido. Senão vejamos: se durante muito tempo acusavam a Igreja de não acompanhar a evolução dos padrões culturais, agora, que finalmente se voltou para as novas tecnologias (Internet, televisão, etc), agora que participa activamente em debates transversais a toda a sociedade, que reflecte sobre os últimos avanços da ciência; agora que faz tudo isto, os nobres moralistas apontam-lhe o dedo e apelidam-na de leviana.
Mais grave ainda é a deturpação que as declarações dos representantes clericais sofrem: exemplos históricos são interpretados como manifestos anti-islâmicos; metáforas são levadas a peito pela imprensa, que sente a sua dignidade decepada por entre muita birra e choro, como crimes de lesa pátria.
O nosso mundinho é tão airoso na sua perfeição formal que silenciar a Igreja se tornou estandarte de algumas esquerdas mais inconsequentes. A Santa Sé não tem só o direito de questionar e discutir assuntos políticos, tem também esse dever. Então, uma instituição com tanto poder educacional e formativo, deveria permanecer calada? Para muito boa gente sim, deveria voltar-se para o terço e ministrar uns quantos pais-nossos em jeito de expiação dos pecados e deixar a política para os indivíduos capacitados. Não interessa que os senhores bispos que vemos palestrar tenham dedicado toda a vida ao estudo minucioso não só da teologia, mas também da filosofia, sociologia, POLÍTICA, diplomacia, direito etc. Não, nada disto interessa, eles são incapazes e ponto final!
Outra questão, tantas vezes invocada, é a mancha escarlate do sangue de milhões de inocentes ceifados pela Igreja. Sem dúvida que houve derrame de sangue, sem dúvida que morreram inocentes. Todavia, da mesma maleita se encontra ferido o socialismo, o liberalismo, o nosso país, qualquer país. Os alicerces da humanidade são incrivelmente sangrentos. Contudo, pouca gente refere, por exemplo, a sua luta pelo fim da escravatura e o contributo inestimável na defesa da dignidade humana.
Assim sendo, após o que escrevi, não me abstenho de tecer duras críticas. Considero grotesco o perdão do Vaticano ao bispo norte-americano (Richard Williamson) que nega incessantemente o holocausto nazi. Não se pode passar uma borracha por cima de discursos anti-semitas (vocábulo no sentido estrito, uma vez que são vários os povos semitas), discursos que só encorajam o ódio perante os judeus, novamente em franca expansão. Assim como me parece incomportável a sua posição no combate ao vírus da SIDA (a infeliz e insustentável oposição ao uso do preservativo).
Perante o exposto, fica o desejo de uma convivência saudável entre as várias forças sociais, que deveriam colaborar entre si, não entrando em desatinos despóticos e não açambarcando a verdade.
4 comentários:
Excelente, Jacob, excelente!
Isto parece um concurso de quem diz mais palavras caras em menos linhas:P :P :P!
Mas é um bom texto:P
aceito sugestões para o nome do concurso:)
Obrigado ao Ruben e a Cristina Ribeiro pela paciente leitura!
Simplesmente impecável!!
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