domingo, 25 de maio de 2008

terrorismo blogosférico

tem aparecido nas caixas de comentários de bloggers da FDUP um link irritante e infinitamente repetido:

http://sociedadededebates.blogspot.com/

é aconselhável ir dar uma visitinha e ver do que se trata e quem são os meliantes chatos que fazem isto.

domingo, 18 de maio de 2008

take me out

Estou a ficar um blogosférico maníaco. Confesso que gosto de me "sentir lido", de sentir que as minhas palavras se podem valorizar mais do que numa simples conversa, que a troca de ideias a que eu me proponho é capaz de atingir uma audiência muitas vezes maior da que eu poderia imaginar conseguir. No entanto, é um prazer que vai e vem. Ultimamente o III Anónimo tem vindo a receber uma data de visitas. De certa forma isso deve-se a uma fase da minha vida, a um texto que eu escrevi, à minha opinião e à forma como a decidi revelar. O que me deu um novo ânimo, se bem que eu sei que dez comentários por post é um acontecimento prestes a dissipar-se. O que não tem mal algum. Estive para acabar com este blogue, e centrar-me num só para comentários e textos políticos. Não o vou fazer, vou continuar com os meus textos livres.
A verdadeira razão de toda esta conversa, prende-se com um facto que me deixou muito babado, que está ligado a um bebé muito pequenino, talvez muito pretensioso, a um projecto muito jovem e cheio de esperanças. Sempre que eu vejo que esse bebé é comentado, fico irracionalmente feliz.
E isso aconteceu num blogue de um "amigo" nosso, de um comentador usual desse bebé-blogue, o Há Discussão. Segundo ele, autor de um bom blogue, colega de uma faculdade mais a Sul, na antiga capital do Império, o nosso blogue é uma visita aconselhada, algo a ter em conta. Eu noto nisto um pequeno crescimento, mas um primeiro passo válido. Espero muito que este projecto se mantenha. Acho que é uma mais valia nossa, uma dádiva à faculdade, aos nossos colegas, a nós próprios.
Passo a citar: "um blogue de estudantes da Faculdade de Direito do Porto que aborda variados temas, tendo-se sobretudo focado em questões políticas, em posts escritos com elevada qualidade (em termos de Língua Portuguesa e do próprio conteúdo). É um precioso fórum de discussão. Aconselho vivamente!" é mesmo!

Como cheguei mais cedo a casa do que estava a pensar, e vou passar um sábado à noite miserável, resolvi fazer uma pequena selecção de textos deste blogue, que eu penso ser uma ajuda aos que recentemente o descobriram e ainda não lhe deram devida atenção. Aproveito assim a tal data de visitas que tenho recebido, antes que o fluxo se esgote.

o lado fixe da cimeira : primeiro texto sério e composto de todo o blogue, e como resposta a esse texto, o seguinte, do Francisco Noronha.
a questão africana: talvez o remate desta discussão, a última palavra da minha parte acerca dela.
entre florença e roterdão: mais um texto meu (que favoritismo) mas para aplacar a cena, com menção ao texto do Henrique Maio, outro colaborador do blogue. Vale a pena ver toda a discussão que se fez à volta de Erasmus e Maquiavel, com as participações tanto do Francisco Noronha como da Daniela, se não me engano, participantes desta tertúlia filosófica.
democrático ou anti-democrático: primeiro texto da Daniela, sobre a nova lei sobre os Partidos Políticos.
Sarkozy, o génio político: texto do Henrique Maio sobre Sarkozy. (é difícil linkar as respostas em texto do Francisco, visto não terem título, mas é de considerar também, claro.
entre acção e o resultado: resposta minha à polémica "Sarkozy-Bruni"
e outro sol no novo horizonte: o melhor texto que eu creio ter feito em toda a minha vida.
era uma travessa de SNS: texto da Sara Morgado, poucas intervenções, muitos comentários.
europa: a crise da esquerda: texto meu, com interessa a posterior resposta do Noronha.
reminiscências: um óptimo texto do Francisco Noronha, aquando de um renascimento da temática do aborto.
sobre o aborto: a minha resposta.
coincidências: o mais comentado.
quem é a oposição?: meu texto.

e está assim, curtamente elaborada, um resumo do que temos vindo a fazer este ano, realizado num momento de pura "no-life" minha.

sábado, 17 de maio de 2008

pay every pence

bellum omnium contra omnes(ou O Manifesto dos Dentes Cariados)

No seguimento dos meus últimos posts, muita gente ficou muito indignada.
De certa forma, ergueram-se as forças vivas contra mim de uma forma pouco habitual, porque eu sou um rapaz pacato, e todo o tipo de sarilhada barata que me possam arranjar dispenso. Gosto de sarilho caro, e sinceramente malhar em algo como a praxe pode fazer muita gente feliz, muita gente furiosa, mas é muito pequeno, muito básico para mim.
Devo assumir assim a total e completa culpa no rebuliço que causei, com todas as honras daí subjacentes, e explicá-lo. Tanto pró-praxistas como anti-praxistas indignaram-se contra os meus argumentos, à excepção talvez da Daniela, essa jóia de rapariga, que espero eu um dia case comigo e crie assim os futuros reis de Portugal. Tanto antis como prós indignaram-se com as minhas palavras de suposto ódio radical, como se eu me tivesse tornado de repente um revolucionário, num novo Miguel Sousa Tavares.
Notei, com tal força que não tinha notado até agora, que na minha Faculdade de Direito há uma enorme necessidade em manter o pó rasteirinho, há uma enorme necessidade de deixar as coisas como estão, mesmo que estejam sujas. Ia fazer uma piada muito óbvia com o edifício da associação de estudantes, mas é demasiado fácil, demasiado básico, mais uma vez.
A discussão à volta da Praxe não é nova. Não inaugurei nada de novo. No entanto, penso ter tido alguns privilégios de exclusividade no que toca à abordagem do assunto.
O que está escrito está escrito, o texto é definitivamente meu. Não quero no entanto que se torne num manifesto anti-praxe, nem muito menos quero-o adaptado por algum movimento anti. Reflecte antes de mais duas linhas de pensamento minhas: a primeira parte do texto, a "que começa bem", sobre aquilo que eu penso que é uma praxe, ou o que devia ser. A segunda, "a que acaba mal", sobre aquilo que eu identifico como a forma como a praxe da Faculdade da Rua dos Bragas agiu. Tenho a certeza que farpalhei em todos, e generalizei imenso, e magoei inclusivamente pessoas que não mereciam ser atingidas, rectificando, que não se deviam sentir atingidas, mas que infelizmente no fogo cruzado e por causa da natureza do assunto em questão se viram enrodilhadas e confundidas com os criticados em questão. Compreendo perfeitamente, mas isto é a blogosfera, e coisas assim saem todos os dias.

Os gregos tinham um dito que um homem de sucesso deve saber quando parar. Parar para ver os erros cometidos. O único erro que cometi até agora foi não ter criticado com igual dureza os órgãos que estão fora da praxe, e que contaminam a faculdade. Que são muitos.
Resta-nos muito pouco a não ser respeitar a praxe, e agora parto pela posição moderada. Tal como afirmei anteriormente, eu só piso os calos quando mos pisam também. E mesmo aí, hesito.

Não guardo nenhum ódio e ressentimento à praxe, pelas razões óbvias: não é saudável odiar por tudo e por nada, e porque é uma organização estudantil. A Praxe nasce de uma vontade, e essa é a vontade dos estudantes. E essa vontade é sagrada, pelo menos no limite da faculdade. Esta foi uma mensagem endereçada aos anti.
Por muito que essa vontade seja perpretada, em certos casos para não generalizar, por pessoas cheias de si, pessoas demasiado orgulhosas cuja pedagogia nem sempre é a mais correcta, ou quase nunca, é um assunto totalmente diferente. Isto já é endereçado aos prós. Eu falo da praxe porque já lá estive. Logo, tenho um mínimo tendencialmente razoável para falar dela. O que não invalida que quem nunca lá tenha andado não fale dela! Temo no entanto que fale dela por ser um esquisitinho, ou um anti-praxe declarado, alguém que se torna um paladino dos pressupostos dos lugar-comuns. EU tomo a seguinte mentalidade em relação à praxiture: Experimentei? Sim, claro. Não gostei. E agora? Agora sigo o meu caminho, que a praxe a mim, mal não me faz (por várias razões: sei kung-fu, judo e trago sempre comigo uma moca de Reguengos com picos)
E muito menos, me parece fazer mal aos outros. Os que lá andam parecem bem contentes e alegres com o que fazem, se calhar bem mais do que eu.
Agora, o que não me posso abster é de reagir quando sinto que afinal, a praxe pode estar mesmo a fazer-me mal. Ou à minha faculdade. Ou às pessoas que eu estimo, que algumas delas lá andam, e por causa delas escrevi este último esclarecimento. E foi isso que aconteceu no dia do Cortejo. Esse dia, a fonte de todas as críticas que eu aqui assinalei, foi a meu ver Vergonhoso. Mas tragicamente Vergonhoso, não é um Vergonhoso qualquer, foi um embaraço enorme.
Foi talvez o culminar do meu raciocínio perante esta organização, perante o espírito deste grupo. Para mim, isto não é praxe. A Praxe nasce de uma tradição natural, e foi tornada de forma puramente positivista numa instituição. E essa instituição não representa interesses comuns, mas sim privados e sectaristas. Logo, a forma de agir para com ela é deixá-la no seu cantinho, na sua paz, na sua actividade. Não podemos esperar nada dela para connosco. O seu único dever é para com ela própria, e foi assim que escolheu ser, e ninguém pode ter nada contra isto, é uma escolha. E é isso que eu digo ao meu amigo Francisco, à Daniela, aos outros "anti". A Praxe, ou os que se arrogam falar em nome dela, que têm toda a legitimidade para tal, visto que mais ninguém se oferece para o fazer por enquanto, não é académica, não é aberta. Abre-se quando muito bem entende. E isso meus caros, é legítimo. E eu só voltarei a falar quando se abrir na altura que não deve. Quanto às razões da minha saída, Noronha, lamento ter parecido um bebé chorão, mas sinceramente te digo que saí porque estava na altura de tal. Eu sei que tu achas imensa confusão a uma posição que não passe pelo total desagravo pela praxe, mas acredita que eu a tenho assim formada, e acho que de certa forma os nossos pontos de vista acabam por nem divergir muito, ao fim ao cabo. Mas isso ver-se-à mais tarde.
Para finalizar, queria ressalvar duas intervenções, para além das que muito apreciei e agradeci: a do Ary e a da Daniela.
O Ary foi moderado, sim, conservador como ele disse, mas sereno. E parece muito mais acostumado à conversa de blogues que muitas das pessoas que simplesmente deixaram a tampa saltar. E não penso, ao contrário do que se disse, que foste incipiente. Sensato, talvez um pouco irritantemente neutral, mas incipiente é muito exagerado.
A Daniela, porque defendeu os seus pontos de vista fortemente, de forma bem estudada, simples e directa.

Contando que tudo esteja bem exposto, frisando que isto não é um pedido de desculpa, mas um simples argumento, um pouco extenso, de que o que está escrito não é pura escrita destrutiva, termino assim o texto. Todos os pontos me parecem devidamente elucidados, e a minha posição muito clara. Não considero a Praxe, nem esta nem a da maioria da UP, uma legítima sucessora da de Coimbra. O seu próprio carácter forçado retira-lhe esse direito.
Não considero a Praxe isenta de julgamento. Apesar de tudo, é algo que levará sempre o nome da FDUP, e enquanto estudante da FDUP, é do meu alto interesse ver o nome da minha faculdade bem representado. Logo julgo, logo critico. E podem vir pavonear toda a sua libido de traje, que eu nem ligo. O que mais preciso é de material para escrever.
Podem chamar a Praxe de fascista, machista, elitista. Eu nem concordo muito. A mim basta-me considerar o seguinte: eu escolhi reger-me por regras que eu possa escolher, que me pareçam racionais, que não me imponham obstáculos de escolha, não por achar esses obstáculos idiotas, por muito que alguns o sejam, mas porque simplesmente sou assim. Eles escolheram outra via. E fica por aí.
Muito obrigado pela leitura.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

excomungatio

um aviso antes de ler este texto aqui em baixo, a actual major atraction deste sítio.
antes de mais, para todos os que vão ler e comentar, a resposta que deixei ao Hugo, que bem se pode ver nos primeiros posts deste blogue, mas que tive de contextualizar para este caso.
aqui vai:


Hugo, (neste caso geralizado, irados elementos praxistas)

não encontras no texto nenhum dos clichés normais.
nem sequer me aproximei do fascismo, porque acho um argumento pouco correcto, de todo a praxe é possível de definir como fascista, a meu ver.

1º não tens de discutir praxe com quem lá não está.

2º não tens de discutir praxe com quem nada dela percebe, mas este é o meu blogue, e eu escrevo o que eu quero, nem tem de ser o que eu penso! mas o que eu quero. e mais, duvido que aja por aí muita gente a dizer que "percebe" o que é a praxe. eu só disse que a entendi. é um meio sinonimo.

3º eu não deixo de respeitar ninguém. limito-me a classificar formas de agir. se amanhã eu vir que a praxe fez algo extraordinariamente bom e útil e alvo de admiração, eu escrevo com todos os adjectivos. no entanto, pelo que eu vi, principalmente na cerimónia, tenho de despejar todos estes adjectivos e mais uns sinónimos.

4º não sinto orgulho em chamar os outros de idiotas, mas às vezes é preciso fazê-lo.

5º no entanto, não te chamei de idiota

6º conheço a praxe dos outros sítios sim, inclusivamente muito bem a praxe de medicina, de letras e direito de Coimbra. tenho familiares praxísticos, e eles não são idiotas,penso. logo não generalizo nem as praxes em geral de idiotas, nem muito menos os elementos da praxe da faculdade de direito.

7º resumindo Hugo: não generalizei, não usei lugares-comuns baratos, não empurrei o nome de alguém na lama, pelo menos injustificadamente, nem sequer me comprometi com um posição anti-praxe. tanto porque não estou para compromissos, como não estou para cenas anti, é muito fatela.

8º passa a ler os meus textos com a mesma atenção que lês os comentários da Maria João, caso queiras comentar justamente, claro.

9º reafirmo algo, que é o seguinte. este é o meu espaço inter pessoal, na blogosfera. ou seja, eu escrevo o que quero, não tem de ser o que penso, mas o que quero. logo escrevo, nem que seja para praticar a escrita.

10º e último. contando como aviso aos elementos praxísticos, que virão ler e reclamar e tentar fazer-me a folha:
10.1 - eu sei kung fu
10.2 - eu sei judo
10.3 - eu trago comigo todos os dias uma moca de Barcelos muito grande

e por último do último, e mais importante:
leiam isto talvez como um aviso daquilo que pensam de vocês lá fora, não como apenas uma gabarolice contra vocês, nada tenho contra vocês. só quando me pisarem os calos, eu pisarei os vossos. pelo menos tento.
Leiam isto, como um protesto da falta de representação que vocês deviam dar, não da vossa praxe, mas da vossa Casa.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

de ratio praxis

Uma das praxes mais discutidas e vulneráveis a movimentos anti da universidade do Porto é a praxe da Faculdade de Direito da Universidade do Porto. É uma praxe dolorosa do ponto de vista psicológico, físico, exige muita participação e disponibilidade, traz certas responsabilidades que absorvem na quase totalidade todos os que a aceitam.
Eu tenho orgulho dos momentos que lá passei, e não me arrependo deles ou sequer me proponho trocar de recordações. Conheci duas das pessoas por quem tenho mais apreço naquela praxe, e muitas outras com quem me dou bem. Acima de tudo, nutro por muitos dos meus antigos camaradas de praxe uma confiança difícil de abalar.
Por muito que seja difícil compreender estes pontos de vista, por muito irracional que pareça privilegiar uma amizade nascida na pura e voluntária adversidade, há certas explicações que podemos usar. A praxe não é um fenómeno inquestionável, nem inexplicável. Não é um elemento de fé. Acontece, é um laço humano. O seu problema, a pedra base que lhe falta, o fundamento ideológico que estraga todo a quadro desta pintura pretensiosamente espartana e árdua, é uma completa falta de noção de tradição que realmente exista, que realmente se justifique. A praxe da faculdade de Direito é uma criação recente, inspirada numa inspiração do que terá sido porventura a praxe de Coimbra.
Licurgo disse que as leis duras unem os Homens. Quanto mais severo for o regime de um estado, quanto mais estóico e exigente, simples e despido de complexidades, mais fortes são os homens.
Daí Licurgo ter criado uma das sociedades mais características da História, a sociedade espartana. É bastante óbvio que é um fenómeno destes que une o elemento praxístico. É a dureza das suas leis, a facilidade com que se criam situações em que a nosso dever é olhar pelo colega do lado, é atravessar tudo junto.
Este é talvez o objectivo mais nobre de toda a praxe, senão o único. Ou seria, não fosse a causa porque se faz isto mesquinha e trivial, na maioria dos casos.
Pedem-nos para sofrer, para aguentar os insultos e as ofensas, para nos unirmos forçadamente ao companheiro do lado, com apenas um fim. O de poder fazer o mesmo para o ano que vem.
Mas isso é somente uma escolha, algo irrisório, que infelizmente se revelará no carácter dos futuros praxistas.
Arrependo-me de ter saído da praxe a uma semana do fim, por muito que já lá não pusesse os pés há mas de 4 ou 6 semanas. Arrependo-me porque se soubesse teria saído no último dia, antes de atravessar a tribuna. Não me considero anti-praxe, mas tenho agora graves e sérios problemas com a praxe da minha faculdade. A cena representada no cortejo, em que os representantes da praxe da faculdade de direito deixam passar os finalistas sem qualquer tipo de companhia, sem qualquer amostra de solidariedade, mostra muito bem o que serão ou já são a nova geração de praxistas desta Escola de Direito. Uns idiotas egoístas.
Um pequeno bando de idiotas egoístas que resolveu galardoa-se a si próprio com um traje que não respeitam, com ideais demasiado nobres e incompreensíveis para os seus propósitos mesquinhos de gastrópode. Uma bacoquice de todo o tamanho, para resumir.
O traje é algo tão académico, e algo tão pessoal, que devia ser proibido aos idiotas legalistas usá-lo, porque impor leis nalgo estudantil, é como impor um limite máximo no consumo de álcool durante a queima, um limite no número de vezes que se diz "despedida" nos fados académicos, um limite nas vezes que um estudante de direito diz "merda" e "a doutrina diverge". As leis fazem-se para os Homens, não são os Homens que se moldam para caber dentro delas, se bem que certos membros da praxe cabem incompreensivelmente dentro dos trajes, anafados como estão das suas manias sebosas.
Eu mereço o meu traje. Não por o ter feito debaixo das vossas regras, mas porque provei a mim próprio que sei viver com elas, que são as infelizes leis do mundo, que vocês tanto gostam de representar. O que me difere é o facto de as querer mudar. Porque é isso que eu não tenho de igual para com a praxe. Eu não me altero, eu altero aquilo que me rodeia, pelo meu simples agir de ser humano, de cidadão. A verdadeira praxe não cria uma barreira de prerrogativas e leis obtusas e velhas, antes constrói uma muralha de homens, de universitários, uma muralha que se considera igual não pelas cores da roupa mas pela vontade de se superarem pelo mérito e pela agudeza de espírito, sem corromper ou humilhar a dignidade do camarada de estudos, de vida, de tristezas, de fados. Uma praxe distingue-se pelo exercício do intelecto dos seus. Nunca pelo simples arrotar de doutrinas e lenga-lengas patetas. Não são os abraços de bêbado, os momentos calorosos de traje amarrotado que vos tornam, caloiros do mundo, finalmente iguais e superiores, capazes de ser considerados gente entre os outros Pares da Praxe!
É antes o que vocês fazem durante todo o ano, o respeito que mostram para com os vossos verdadeiros iguais, que são todos os que lá andam, desde o sr.Ferreira da portaria, até ao Conselho Científico da Faculdade.
Querem igualdade, democracia? Querem sentido de presença, de pertença, de fraternidade? Comecem com a vossa família, e façam dos vossos novos companheiros uma família.

Após tanto tempo na praxe, pude finalmente sair convencido que aprendera o que ela era. Percebi a essência, e se essa essência não entrou em mim foi por uma simples razão.
Se me mantive ignorante perante os ensinamentos da praxe, digo com todo o orgulho que sim, pois não aceito nenhuma das vossas leis.
A questão está de todo este assunto está no respeito que a Praxe poderá dar à Faculdade, visto que esta tem sido representada com honras por pessoas que resolveram viver em harmonia com a muy amada liberdade académica.

terça-feira, 13 de maio de 2008

já agora, vale a pena pensar nisto

os autocarros são os Gulags da sociedade capitalista

segunda-feira, 12 de maio de 2008

domingo, 11 de maio de 2008

manifesto anti-sóbrios

leiam o que eu fiz durante a Queima das Fitas na blogosfera:
aqui!
"Religiosos com vinho no sangue que atiram preservativos a colegas da Universidade Católica." (esta foi a mais gira delas todas)

"E como não podia deixar de ser, as conversas jurídicas e outras que tais num local onde supostamente nada deveria ser feito a sério, refúgio para certos monárquicos que foram tomados por bêbados devido às suas ideias."

"tomados por bêbados devidos às suas ideias", frase mítica e profundamente lírica que vai prsenciar provavelmente num dos blogues mais lamechas do país.

agradeçam à Daniela Ramalho Fidel Lenine, conhecida como a "lenina" lá na FDUP, e na FLUP também, ao que diz o texto. é autora de um blogue, o "Bocas que discordam comigo vão para o Gulag"

25781 Manuel Pinto de Rezende

assinem.

muppet show



presidenciais americanas 2008

breathe in

o III anónimo vai-se revitalizar, após algum tempo de paragem. a série Shamisen vai continuar, mas por enquanto fazer-se-à uma pequena pausa.
alguns textos novos vão aparecer, mas agora com mais direcção para alguns temas. outro projecto blogosférico já está na mesa, e a cozinhar :)

bons estudos

sexta-feira, 18 de abril de 2008

shamisen


(parte III) NAMBANJIN

Garcia aproximou-se então de Tanamori, procurando uma conversa mais descontraida entre os dois. Tinham percorrido os corredores da casa em ameno diálogo, mas Garcia sentia-se agitado e impaciente. A vontade de vingar aqueles que vira morrer não aplacara, e os calmos ares de inverno já não sortiam nele a alegria de estar vivo.
Questionou Tanamori sobre sua identidade e porque o tinha salvo, e soube que fora Tanamori que havia falado com os padres Jesuítas que tinham contratado os seus serviços. A princípio pensou que ele os tinha emboscado, mas percebeu que tal não faria sentido, visto que Tanamori não só o tinha salvo, como precisava muito dos seus serviços. Tanamori era um leal servidor do imperador, que ainda era um jovem rapaz. Nas suas viagens pela China e pela Coreia, ouviu falar de um povo de raça branca que havia aportado por aquelas bandas há poucos anos, e que regularmente fazia umas visitas não raras vezes clandestinas. Depois, esse mesmo povo chegou a Nagasáki, e falou-se por todo o Japão que os brancos altos e narigudos, nambans do sul, nambanjin como ficaram conhecidos, possuiam poderosas armas de fogo e mestria impar na condução de navios no mar, que tinham bem aparelhados e artilhados com as mesmas armas. De forma a derrotar os seus oponentes, e unir o Norte do Japão em nome do imperador, Tanamori conseguiu falar com homens religiosos desse povo. No entanto, mal estes haviam chegado, um exército dos seus inimigos do clã Hideyoshi seguiram a sua caminhada desde a cidade de Nagoya, o porto que dá acesso ao norte do Japão, e massacraram-nos, apenas falhando em roubar as suas armas e bagagens, socorridas a tempo pelos homens de Tanamori.
- Pena que se tenham apenas salvo os haveres, e perdido os homens - ressalvou Garcia - ter-te-iam sido de grande valia nas lutas que virão.
- Não te escondo a minha alegria, estrangeiro, por teres sobrevivido - Tanamori falava sem excessiva alegria, sempre moderadamente - Em nome do imperador, os serviços dos da tua raça serão compensados em ti. Agradecia que ensinasses os meus homens a usar estas armas como os teus usam. No entanto, compreendo que estejas triste e cansado. Não te obrigarei a ficar aqui. Pagar-te-ei o regresso a Nagoya, onde ficarás hospedado às minhas custas enquanto esperas por um dos barcos do teu povo. O que não deve tardar, pois os teus são conhecidos pela Ásia fora como uma raça de gentes inquieta e amaldiçoada pela vontade de navegar, de perder terra e morrer no mar. Por grandes guerreiros e sábios que sejam, custa-me a crer que um povo navegante e difícil de contentar se poderá governar e manter tão bem como o nosso, pacífico e sereno. Tenho aqui algo que deverás gostar, no entanto.
E apresentou-lhe um farrapo branco, no entanto limpo e cuidado, onde se podia ver as armas de Portugal. Garcia ficou comovido com o gesto de Tanamori, e curvou-se para agradecer o magnânimo gesto. Era de facto uma prenda gloriosa, honrada. Disse-lhe que esta era a bandeira do seu país, dos seus reis e das suas cidades, dos seus exércitos e navios, uma bandeira que lhes havia sido dada por Deus, segundo as lendas, mal sabendo Garcia que a razão das quinas é puramente monetária e arrogadora de direitos.
- Também no Japão os guerreiros têm particular amor pelas suas bandeiras, morrem por elas. Significam a honra dos seu senhor e da Casa desse senhor.
- Em Portugal, a bandeira é de todos, e tanto é o símbolo do Rei, como da res publica, do povo e dos senhores, dos homens de religião e das raças, povos e credos que sobre ela vivem em paz. Tanto é o seu significado, que fala-se de um português que perdeu os dois braços a defender a bandeira e só a perdeu porque lha arrebataram dos dentes, para depois esta ser de novo recuperada numa investida quase suicida de um cavaleiro nosso. Eu já a servi muitas vezes. Fiz coisas por ela que não faria noutras situações. Ela une-nos, mesmo para as más acções. Tal como todas as bandeiras, daymio.
- Fala-se do orgulho dos teus, um orgulho ainda assim não ofensivo para os outros.
- É o que nos distingue dos castelhanos, meu senhor.
- Não conheço esses homens, nem nunca ouvi falar deles. Estranho que sintas esse orgulho no teu povo. No Japão, o Imperador é Homem e Deus. Ele une o Sol e a Terra, e todo o Japão vive sob a sua égide de paz. Ou pelo menos assim deveria ser. Ele cuida dos seus filhos, e todos no Japão têm direito à sua dignidade devido à sua acção civilizadora, e todos têm direito a viver e a morrer na sua terra. Porque é que o teu Rei obriga os seus a morrer longe de casa? A lutar e degladiar-se longe de casa, esquecendo a casa dos seus antepassados? Porque é que o teu povo navega e comercia, em vez de plantar a terra, cultivar os templos, amar a família e a harmonia, honrar-se a si e aos filhos? A morte cruel dos teus seria impensável ao Imperador do Japão, pois este nunca deixaria que os seus filhos partissem numa missão arriscada e sem possibilidade de honrar os mortos.
- É esta a vontade do meu povo, senhor. Escolhemos o nosso líder, batemos os nossos inimigos, criamos a nossa cultura, e vivemos do mar porque ele é o nosso amigo. E somos unidos debaixo de um estandarte, por muito que sejamos diferentes e rivais, estamos unidos na adversidade. Os teus, no entanto, lutam entre si, na própria casa. Isto nunca aconteceria entre o meu povo. Derramar sangue irmão é pecado. Lutas por um imperador que dizes ser Deus, pois eu vi esse imperador em Kyushyu e ele era uma criança. Como podem homens viver em paz debaixo do seu governo?
- O imperador é o Japão, Garcia. Se ele é jovem e inconsciente, também o é o Japão. Quando ele for mais velho e sábio, o Japão será uma nação forte e estável como nenhuma outra. Compreenderás o Oriente, um dia. Há muito que vocês Portugueses cá andam, mas não nos perceberam. Os Ocidentais são severos arrogantes, e só a si chamam a razão. Não conseguem ver que no Oriente, as aparências enganam, e há mais numa flor do que meras pétalas e sementes.
- Senhor Tanamori, em muitas coisas somos iguais, e teríamos sido bons amigos caso não houvesse milhas infinitas de mar a separar-nos. Gostaria que aceitasse os meus serviços e o meu mister de soldado ao serviço da tua nobre causa.
Tanamori assentiu, com benevolência e serenidade, ao pedido do português. Ensinou-lhe os métodos de combate usados naquelas terras, e com quantos homens poderia contar por batalha. Também lhe ensinou como se comportar em sociedade, inclusivamente à mesa, pois os rituais naquelas partes diferiam dos do Sul Japonês, que era mais conhecido de Garcia. Dotou-o de armadura e de armas, que Garcia achou perfeitamente bem desenhadas, e cedo começou a formação do sobrevivente nas artes da espada japonesa. Em troca, Garcia, ensinou os ferreiros de Tanamori a fabricar os arcabuzes, as armas que os portugueses usavam, e iniciou a construção de um exército de arcabuzeiros entre os samurais, a quem treinou de acordo com as técnicas portuguesas, as mais eficientes e modernas da época.
O grande objectivo seria dar combate aos Hideyoshi, assassinos e execráveis rivais da Casa de Taina, e derrotá-los definitivamente com a sabedoria das armas e da tecnologia, retirando da obscuridade e do isolamento larga parte do Japão nortenho e rebelde às ordens imperiais.
Assim começou a história de Garcia Rodrigues, natural da antiga cidade de Lamego, das mais respeitadas da Península, e moço da Casa de Ataíde, que serviu desde os 14 anos na armada da Índia por não achar no serviço de um senhor honra suficiente para um mancebo. Viveu em Goa, em Luanda, viajou por muitos e perigosos lugares, tendo sido distinguido durante o terrível cerco de Diu, onde se bateram com bravura os portugueses. E como entre a vida e a morte, já disse o poeta que mais serviu a causa do Império, todos os dias são dele, esta é uma das muitas histórias que Garcia Rodrigues viveu, antes de fechar em si o livro da existência.

quinta-feira, 27 de março de 2008

shamisen


(parte II)Sakura

"Meu nome é Tanamori, do clã Taina. Eu sou o chefe desta casa e tu, gaijin, és o meu convidado. Nada deves temer enquanto cá estiveres."
O samurai falava de forma directa e limpa, honrando os preceitos da sua nobre casta, ao mesmo tempo reconfortando o seu hóspede.
"O meu nome é Garcia Rodrigues, da casa dos Ataíde, e sou da cidade de Lamego, no distante reino de Portugal. Ou pelo menos ainda o era quando de lá saí. Compreendes o que eu digo?"
"Dominas a língua deste país como poucos nambanjin antes de ti. Já me tinham falado da perspicácia dos bárbaros, e vejo que não eram apenas rumores. Poucos homens sabem dominar a língua tão bem como a espada, se bem que eu diria que enquanto a tua língua é uma fénix voadora, o teu uso da espada ainda não passa de um fruto por colher."
Garcia soube nesse momento que o homem com quem falava o observara, podia até ter estado comprometido com o ataque que ele e a sua comitiva haviam sofrido.
Acompanhara uma comitiva de 11 homens, recrutada em Goa, a chamada Gloriosa Roma do Oriente e cidade dos vice-reis. Essa comitiva era composta por um goês e 10 portugueses, 2 deles padres jesuítas, líderes da expedição, que tinham requisitado o serviço dos restantes, considerados os melhores mestre-espadas do império da Ásia, como seus acompanhantes e guarda-costas. Segundo os padres, tinham sido convidados por um grande senhor do país dos Japões para partilhar os seus conhecimentos de pólvora e das coisas da guerra. Não fosse a terrível emboscada que tinham sofrido, e talvez tivessem cumprido essa missão com sucesso.
"Estávamos em grande falta de números contra tais inimigos, distinto senhor. Fomos atacados por gentes armadas com chuços e pequenas espadas. Perdi muitos e valentes companheiros de viagem. Aquele que me derrubou durante o combate permitiu que eu não visse o desfecho da trágica batalha, e não sei do paradeiro dos poucos que sobreviveram ao ataque surpresa."
"Quando eu lá cheguei, todos estavam mortos". Garcia mostrou-se apreensivo. "Vejo que tinhas companheiros entre os que se perderam naquele dia..."
"Mais do que meros companheiros, eram meus bons amigos. Entre esses homens vinha Mestre Julião, muito conhecido nas Índias pela sua perícia da espada e do mester de físico. Ele e vários outros serviram comigo no famoso cerco de Diu."
"O Japão está muito longe dos sítios de que falas. A meu ver, perderam-se homens que passaram por grandes dificuldades e eram dignos de grandes honras. O que é algo lastimável, visto que padeceram às mãos de gente baixa, ladrões e ronin baratos."
"Ronin?" perguntou o português.
"De certeza que deste país só conheces as gentes e expressões das cidades. Um ronin é um samurai caído em desgraça, que perdeu seu amo e não teve a coragem de cometer seppuku, em honra dele. Por vezes são até muito hábeis no manejo das armas, mas a sua pobreza de espírito vale-lhes o baixo estatuto que têm entre nós, e são contratados como meros servos para trabalhos sujos que um verdadeiro samurai não é digno de fazer. Presumo que entre vocês também se dão tais acontecimentos."
"Não, não sei bem a que te referes. Sei que já vi fidalgos de grandes famílias servir nos regimentos e nos terços de infantaria como o mais comum dos vilãos. Entre nós portugueses a superioridade de qualidade das gentes não é soberba, como no caso dos castelhanos e dos do reino de França, se bem que nos últimos anos, dizem os mais velhos, a tendência tem vindo a se comparar em orgulho e desprezo entre os nobres."
"Na nossa terra, ser nobre é ser servidor dos mais fracos, não é algo de que nos devamos vangloriar, mas antes estimar e sentir orgulho."
"Ainda há grandes portugueses que também assim pensam, daymio Tanamori, mas no Ocidente cada vez menos são os humildes. Talvez agora possas tu me responder a algumas das minhas questões."
Tanamori estacou por breves segundos, sem contudo perder a compostura. O Estrangeiro estava em seu poder, e era agora hóspede da sua casa. No entanto, estes bárbaros de raça pálida pareciam-lhe excessivamente curiosos e atrevidos para compreenderem o ritualizado cerimonial do Oriente, e a sua falta de paciência, além de proverbial, era acompanhada de uma argúcia de espírito fantástica. Tanamori começava então a admirar tanto o homem que tinha à sua frente, como a tomar cuidado com o que lhe poderia desvendar.
"Dir-te-ei aquilo que me parecer apropriado dizer, nambanjin."

nota: esta pequena história, inspirada num pequeno livro de lendas japonês, adaptada à nossa língua, ao nosso contexto histórico e cultural, e à minha imaginação, é o projecto definitivo a que se vai consignar este meu blogue. no interesse da divulgação das culturas do mundo, vou tentar proliferar estes meus pequenos trabalhos, e espero que com isto vá aguçar a curiosidade dos visitantes.
acompanho com esta nota um pequeno dicionário de expressões, para que quem leia se vá direccionando, e de algumas noções e curiosidades.

gaijin - nome dado pelos japoneses aos estrangeiros. a sua utilização tem se rareado, devido ao facto de recentemente esta designação ter ganho valor perjurativo.

nambanjin - nome dado aos portugueses pelos japoneses, significando bárbaros do sul.

Japões - nome primitivo dado pelos primeiros viajantes portugueses aos habitantes da ilha nipónica.

cerco de Diu - episódio importantíssimo da presença da civilização europeia no subcontinente indiano, o cerco de Diu chama-se assim por se ter situado na cidade de Diu, onde uma pequena força de 500 portugueses aguentou, por duas vezes, um duro cerco de meses. Essas acções de guerra foram tomadas ou pelo imperador mogol da Índia, ou pelos turcos otomanos, inimigos da presença portuguesa na Índia.

Mestre Julião - personagem real, herói do primeiro cerco de Diu.

daymio - espécie de senhor feudal no Japão, os mais poderosos tinham ao seu serviço milhares de samurais, o equivalente aos cavaleiros da Europa Medieval.

seppuku - prática comum entre os samurais, de cometer suicídio para não perder a honra tribal.

vilãos - no sentido do texto, e contextualizando o sentido histórico, não deve ser entendido como alguém apto para actos vis, mas sim alguém cuja classe se encontra entre os não-privilegiados, ou seja, do Povo.

terça-feira, 4 de março de 2008

shamisen


(parte I) LÓTUS

Uma fresca brisa de madrugada entrava por entre os biombos, acordando-o docemente dos lençóis de linho branco. Levantou-se com um jeito desajeitado, cambaleando confusamente para fora do quarto. Lá fora sentia-se o Inverno de Janeiro nas cerejeiras em flor, com leves pinceladas de branco e de castanho, num sereno sentido de sossego, adornando o jardim.
Percorreu o corredor de soalho castanho, apoiando-se no corrimão de madeira e nas finas colunas, até às escadas. Desceu-as vagarosamente, e pousou os pés descalços na terra fresca, brincando com o orvalho da relva por entre os intervalos dos dedos. Apetecia-lhe ajoelhar... estava quase nu ao frio, ligado por faixas brancas nos ferimentos das costas e do peito, que deitavam um perfume acre de urze ou qualquer outro tipo de curativo, e vestia um saiote de lã negro que lhe tapava as pernas até às canelas. Ispirou fortemente todo o ar, e apreciou o leve aroma do jardim. Estava cansado ainda. E sem saber onde se encontrava, o velho sentido de exploração levara-o quase involuntariamente a procurar ar fresco para respirar. Certos homens não são feitos para camas, já lhe dizia a mãe. Ele não o fora. Aos 14 anos fugiu de casa e embarcou na primeira nau que encontrou. Sabia-lhe melhor a rede de dormir do marinheiro que a cama do cortesão.
Assustou-se com um aconchegado toque nas costas, e virou-se custosamente para trás. Aí, um homem vestido com um kimono branco envolvia-o num cobertor de peles.
"Vejo que acordaste" disse o homem."Sim", respondeu-lhe em nipónico, a língua do homem, "estou a falar com o meu generoso anfitrião?" e o homem fez-lhe sinal que o seguísse. Lá dentro alguém tocava um intrumento de corda, e ouvia-se uma voz feminina a acompanhar o recital. Devia ser uma professora a repreender a sua aluna, pensou. "Perdoa a minha jovem filha, gaijin, ela ainda está a aprender a tocar o shamisen." Então era assim que soava o shamisen, o famoso instrumento que tanto lhe falaram em Nagoya. Não lhe importava nada os desafinos da jovem, mesmo tocado impropriamente o som produzido pelo instrumento era belo.
Foi convidado a sentar-se e a tomar a refeição, e seguiu os modos dos habitantes da casa de sentar à mesa. A sala de jantar estava rodeada de uma aura de serenidade, e tons claros de beje e escuro. Sentou-se à direita do homem do kimono, enquanto as suas filhas se sentaram à sua esquerda, de acordo com uma etiqueta já há muito integrada. A mulher e as três filhas eram pequenas de estatura, se bem que elegantes, usavam todas, à excepção da mãe, o cabelo preso, que esta usava solto e pujante, de um escuro brilhante extremamente liso. Estavam vestidas com simplicidade, vestindo-se à japonesa, com um kimono comprido mas despadronizado, de cores simples branca e azul. Não esboçaram nenhuma reacção à presença do estrangeiro.
Comeu frugalmente, com o receio de desagradar ao dono da casa, e em profundo silêncio, tal como toda a família presente no jantar. A atmosfera de equilíbrio e harmonia reinante ajudaram-no a recompor os sentidos, e os seus músculos perderam a rigidez com o perfume inebriante do incenso e do saké.
Após o fim da refeição, todos se levantaram ao sinal do homem do kimono, e foi ordenado a uma das mulheres da casa que cuidasse das comodidades do convidado.
Dentro de um pequeno compartimento, a jovem encarregada, porventura uma das criadas da casa, despiu-o suavemente, quase sem lhe tocar com os dedos, e substituiu-lhe as gazes e as ligaduras. Estava pronto em menos de meia-hora, já com o gibão posto e o saiote. Quis expressar gratidão para a mulher, mas esta partiu apressadamente do quarto.
Sentia-se preso. Não sabia onde estava, perdido num mundo diferente, à mercê de um senhor poderoso da região. De um daymio, um senhor feudal japonês, titular da vida de centenas, senão de milhares de guerreiros.
Passos dirigiam-se para o seu compartimento, avançando lestos e sem demora. Preparou-se.

sentimentalismos

hoje sinto-me assim

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

bem, bem... olha só o que eu encontrei

especialmente dedicado a todos os que andam numa organização estudantil específica, na faculdade de direito, que não pode ser mencionada por motivos óbvios...



e para os outros também

tertúlias no blogue da fdup

o meu texto num dos blogues da faculdade.

para ver aqui

o sistema

"Ainda antes de se começarem a ouvir as críticas mais ferozes contra a crescente promiscuidade do Estado com entidades privadas, o gestor António Carrapatoso escrevia na revista Atlântico de Fevereiro um artigo a denunciar a existência de um outro “sistema“, certamente mais relevante para o país do que aquele que existe no futebol. Um “sistema” em que, passo a citar, “alguns grupos políticos, de um só partido ou do bloco central de interesses, vão repartindo com escasso critério profissional e de mérito os lugares públicos e para-públicos. Desde o funcionalismo até às colocações nas empresas participadas pelo Estado”.

Um “sistema” onde, cito de novo, “a elevada promiscuidade entre o poder político e o poder económico resulta em primeiro lugar do posicionamento e acção de governantes e outros agentes”, não se promovendo “a clarificação da fronteira entre o poder político e o poder económico”."

Por Paulo Pinto Mascarenhas

texto na íntegra aqui.

insurgente

"Como há tempos referia o Professor Rui Ramos, o problema da Direita portuguesa é a recusa em conceber que existe um background ideológico e tendência para justificar as suas medidas apenas na vertente económica. A título de exemplo, a questão do défice orçamental foi apresentada por Durão Barroso e Manuela Ferrira Leite como uma "imposição de Bruxelas" ou com a necessidade de não podermos gastar mais do que temos (refira-se que mesmo perante uma máxima que parece saída da boca do Sr. La Palisse exista quem pense o contrário). Embora até certo ponto seja verdade, a questão está colocada de forma errada. Esta medida deve ser adoptada para bem dos portugueses, presentes e futuros, independentemente das imposições da Comissão ou do eixo franco-alemão. A questão do défice zero (embora correcta) nada nos diz acerca do nível de despesa do Estado. Qualquer nível de despesa seria justificado desde que as receitas fossem suficientes. A verdade é outra. Cada Euro dispendido pelo Estado representa menos um Euro (ou dois segundo a Lei de Friedman) disponível para os contribuintes. E a questão não é meramente financeira. Representa também uma perda de liberdade do indivíduo em favor do Estado, 90% da vezes em nome de um duvidoso princípio de "Justiça Social". A liberdade do Estado é inversamente proporcional à liberdade do indivíduo. É por este último que nos batemos. Contra o Estado omnipotente e contra aqueles que o procuram endeusar."

in O Insurgente

domingo, 24 de fevereiro de 2008

surreal cinema

a queda de Dali

quem gosta de cinema, gosta de uma boa história. eu gosto de bom cinema.
um bom cinema é, na visão democrática, ver um bom filme americano ou britânico, ou mesmo francês, que estes já começam a compreender a ciência do lucro.
um filme surrealista é surrado mal saia nas salas, qual prostituta pouco competente pelo seu chulo impetuoso.

a queda do surrealismo, no entanto, não é criado pelos seus inimigos, mas pelos que os odeiam.
o melhor elogio de um génio do cinema é a ausência de um elogio. e assim, um génio do cinema não retrata a realidade. retrata o ser mais irreal de todos, ele próprio. e a sua irrealidade é o nosso licor, a cidra que bebericamos, ou então, uma verdadeira merda pedófila que temos de aturar durante uma puta de uma sessão de cinema, com o gajedo todo a ver o novo filme do Tarantino.



João Carlos Monteiro foi um velho decrépito, feio, perverso, fascinante e galanteador. e os seus filmes são a prova do seu génio.
o seu filme "Branca de Neve" ainda é odiado em Portugal, com as vísceras de todos os críticos. odiado por uma esquerda que o vê como um intelectual desgovernado e despreocupado, e por uma direita que o vê como um ataque à cultura portuguesa, o que quer que isso seja, JCM compreendeu algo que génios injustamente deificados ainda não perceberam: a arte não tem cor política, nem vertente. a arte limita-se a existir, e a libertar os homens.

frases de JCM

Do cadáver de um homem livre poderá sair acentuado mau cheiro. Nunca sairá um escravo.

"As Bodas de Deus" de João César Monteiro

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

banda gástrica

há dias na TVI

Mulher de 400 quilos foi atropelada por um monovolume e está no hospital em condição grave.

uma mulher de 400 quilos não é atropelada. Perde o direito constitucional a ser atropelada logo que ultrapassa os 399 quilos.

o que pode acontecer é ela ter a chatice de ficar as próximas semanas a arrancar os pedaços do monovolume do umbigo.

livros


Sam Harris - O Fim da Fé

o próximo ornamento a ter na minha biblioteca.

explosm

escrever nas paredes

Cyanide and Happiness, a daily webcomic
Cyanide & Happiness @ Explosm.net

domingo, 17 de fevereiro de 2008

dos Partidos

Há uns dias caiu o governo socialista italiano. De acordo com o sistema complicado de representação do parlamento italiano, mais vale dizer que caiu o governo de aspiração verticalmente direccionada para um "poucochinho de socialismo".

Os únicos países que mantém governos de esquerda, actualmente, na Europa, são apenas dois, uma velha monarquia e uma pequena república, curiosamente vizinhas. A república portuguesa e o reino da Espanha.

Isto pode querer dizer várias coisas. Na Europa, com a maior pluralidade de ideologias, a direita, que aproveitou as últimas crises económicas e políticas para rejuvenescer e mudar a sua imagem aos olhos do eleitorado, tirou à esquerda, mais descuidada neste parecer, grande parte da exclusividade de ideias que esta possuiu durante décadas. De facto, a democracia cristã, liberal ou democrata, uns chavões quase proibidos na nossa terra, um porque é um óbvio atentado ao nosso sagrado laicismo, os restantes dois porque são atentados à nossa sagrada ignorância, obtiveram lá fora uma pluralidade de ideais modernos que ganharam simpatias entre a população jovem e adulta, entre conservadores sedentos de uma moralidade nacional e antigos militantes de esquerda, que se dizem agora liberais para afirmar a sua mudança para o centro político.
Apenas em Portugal persiste a ideia de que a Direita, ou é totalmente virada à direita (CDS/PP) ou disputa o centro com os socialistas. De facto, mantém-se uma visão redutora, e não se imagina sequer que um partido de direita possa, imaginem, aprovar a despenalização do aborto e a legalização das drogas e da prostituição! É, no entanto,é o que acontece "lá fora". A direita ganhou um impulso liberal de tal forma que se mostra mais libertadora e moderna que a esquerda. É o que se passa, por exemplo, na Holanda e na Finlândia, expoentes máximos destes casos (por falar nisso, na Finlândia está já lá o nosso autor, o edukador, um abraço para ele).
Faz falta em Portugal, como sempre fez, um partido de Direita sem preconceitos. Um partido que retirasse ao PS o excessivo peso na política nacional, peso esse impossível de contrariar com o PSD, devido à inércia deste.

No entanto, este situação europeia está a trazer efeitos nefastos na Europa também. Começa a escassear o original ideal europeu da união, da igualdade entre os países. Faz falta, também, em toda a velha Europa, um poder capaz de equilibrar a balança. Falta uma nova Esquerda, que controle os impulsos excessivamente "laissez-faire" da política moderna.
Faz falta...

da Nacionalidade

Nós portugueses vivemos à quase um milénio neste pequeno rectângulo. Somos um povo antigo, com uma língua que sempre acarinhamos como algo poético e saudoso, tão parecida connosco com a personalidade dos seus sons.
A nossa pequenez levou a que, durante vários séculos de história, houvesse suficientes cruzamentos entre diferentes raças que cá viviam (mouros, godos, judeus, romanos, etc.) para que criássemos um precoce conceito de nacionalidade, dos primeiros na Europa e no mundo.
É muito difícil para nós analisar certos casos como o dos Balcãs. Não compreendemos a mescla de culturas, de etnias, de estatutos... Vemos, tal como a grande maioria das nações ocidentais, pelos olhos de um iluminista, de um revolucionário de 1848, o princípio de nacionalidade para nós é algo eterno e sempre presente.
Vou-vos falar aqui de 3 países. Da Sérvia, lar da nação de eslavos do sul mais famosa na história mundial, os sérvios. Do Kosovo (ainda não sei bem o que é) e de Timor. Três percepções diferentes de nacionalidade, quase desconhecidas para nós, europeus habituados ao preto no branco nacional.

A Sérvia foi durante largos anos um reino poderoso, que resistiu valorosamente à invasão turca, prevenindo assim a expansão do sultanato de Istambul pela Europa medieval e renascentista. A sua cultura é em muito semelhante à russa, devido à forte presença da religião ortodoxa e de ligações com a civilização bizantina grega. Daí a grande ligação que têm os sérvios, eslavos do sul, e os russos, eslavos do norte. Não confundir a concepção de eslavo com Eslováquia ou Eslovénia. Estes países, tal como a Croácia, a Sérvia, a Polónia ou a Rússia, são de etnia dominante eslava, mas as diferentes influências exteriores, devido ao grau básico civilizacional do primitivo povo eslavo, criaram diferenças entre estes, levando à criação de novas nações. Assim, a Polónia é um país de eslavos germanizados e católicos, devido à proximidade com a Alemanha e a Europa. A Macedónia, de eslavos muçulmanos que se cruzaram com antigos colonos turcos. Durante muito tempo, nenhum destes povos eslavos, à excepção da Polónia, atingiu um estado de independência ou mesmo de mínima auto-determinação. Os sérvios, os mais numerosos e com maior sentido de autonomia, sempre foram uma população problemática para as potências dominantes da região, a Áustria e a Turquia, aliando-se várias vezes aos Russos para as contrariar.
O Kosovo é actualmente habitado por sérvios, os originais habitantes da região, e por albaneses. Os albaneses são um povo anterior à vinda dos eslavos para os Balcãs. São de origem Ilírica, e eram nos tempos do império romano do Oriente contratados como mercenários, e criaram à custa disso um pequeno país que funcionava à custa de principados. Após a conquista turca, a Albânia recebeu várias influências deste povo. A antiga inimizade com os sérvios aumentou. Os Sérvios, que já viam os albaneses como um povo submisso aos turcos, e por isso seu inimigo, recrudesceram esta inimizade após a progressiva islamização da maioria da população albanesa.
Não existe, assim, uma população kosovare. Existe um pequeno território cuja população dominante não corresponde à nacionalidade do poder oficial. Mas a isto não podemos chamar uma situação ilegal ou injusta. Os albaneses do Kosovo saíram, na maioria, de livre vontade do seu território original, e foram instalar-se ali. O ódio dos Sérvios, que os viam como os capatazes dos antigos opressores turcos, levou a que essa população, cada vez mais numerosa, fosse dolorosamente discriminada. Os albaneses ripostaram com acções criminosas e aumentando o volume de comércio ilícito nas província, forma de comércio esse que é a actividade mais lucrativa do Kosovo actualmente. Milosevich, preocupado com a disseminação do povo albanês na província histórica do seu país, encetou uma política de limpeza étnical, prontamente julgada pela NATO e pelos EUA, que prontamente criaram infra-estruturas no Kosovo capazes de criar formas de limpar etnicamente os sérvios. Mas isto não passou, claro, na televisão.
A criação de um estado kosovare vai desequilibrar, mais uma vez, a situação nos Balcãs.
A sua criação só interessa ao governo americano, interessado na cruzada ideológica, e na formação de um estado potencialmente muçulmano e fácil de controlar, para amenizar as relações dos EUA com a religião de Maomé, e para ganhar um aliado na zona, de forma a contrariar as pretensões expansionistas de Moscovo e impor um travão na presença da política da UE.
E todos sabem disto. Sabem que o que se passa no Kosovo não é a libertação de uma nação, mas apenas a mudança de um estatuto e a criação de mais um país para o mesmo povo, o albanês. E sérias repercussões se podem esperar para os sérvios e os seus estimados monumentos localizados na zona, provas únicas da sua cultura. A Direita Europeia, americanizada e sem ideias, temente do que Sarkozy poderá pensar, não se mexe sem a autorização da França e da Alemanha. A Esquerda, fiel aos seus ideias de imutável e senil, sente-se obrigada, por um sentimento idiota de carácter pseudorevolucionário, a aceitar a criação de um novo país, algo tão belo de presenciar em todas as épocas, ainda que isso implique um feroz ataque à integridade da Sérvia. O mal deste país é a sua ligação com a Rússia e o facto de ser governado por um partido nacionalista. Assim, caso fosse outro, aposto que todas as organizações de lugares-comuns esquerdistas da treta que proliferam neste velha Europa, tão carente de quem a leve a sério, tão carente de uma esquerda interessada e investigadora, de uma direita activa e estável, fariam um mega-protesto.
Hoje de tarde vai-se criar um país sem estabilidade política, sem qualquer tipo de antecedentes históricos, do tipo de países que se criou com êxito na América do sul, mas sempre sem mérito na Europa. Vai-se criar um país dependente, sujeito aos embargos russo e sérvio, que não inspira confiança à Europa e aos europeus. Pior, um país totalmente sustentado com activos europeus, visto que os americanos, de tão bem que fizeram a sua missão, relegaram esta missão toda para a UE, que insiste em não dar o seu parecer àcerca do assunto. Um povo para dois países, ou seja, prevê-se uma união futura entre albaneses da Albânia e albaneses do Kosovo. Basicamente, retiramos uma fatia de território tão importante ao sérvios como é para nós o Minho, com a cidade de Braga e Guimarães, berços da nacionalidade, e vai-se dar de bandeja aos albaneses. Não vejo em que é que podemos sequer apreciar esta decisão.

Por fim, gostaria de resumir a situação de Timor leste. ou Lorosae, depende do dialecto que se falar, se em tétum, se na língua portuguesa. Antigamente dividida entre duas potências, Portugal e Holanda, a ilha de Timor mostra claros indícios das diferentes colonizações. Entre uma população numerosa e citadina do Timor Leste, ou cidades bem organizadas mas que se anda quilómetros para ver nativos da região a Oeste. Simplesmente os holandeses preferiam exterminar populações possivelmente nocivas a ter o nosso método desconfortável de conviver com elas. Um passo verdadeiramente interessante seria dar a independência à outra metade da ilha, para que, juntamente com Timor Leste, formarem um estado confederado tendo em base a comum cultura tétum, e as diferentes vertentes portuguesa e holandesa-indonésia dos respectivos estados.
Há dias ouvi nas notícias que, após o atentado a Xanana, se devia por a seguinte pergunta: "Quem estaria interessado na morte de Reinado?" ou seja, já se pensa que Xanana está, de certa forma, a eliminar os opositores ao poder. De facto, esta reaccionarice de jornalista sempre foi muito presente em Portugal, este recusar a admitir méritos a todos os que se mostram conscientes da necessidade de uma presença estrangeira neste país jovem. Xanana Gusmão é um homem muito respeitado na comunidade internacional. É um antigo combatente, e atraí as simpatias do seu povo. De originária ideologia socialista, ele é agora um presidente liberal e consciente das realidades do mundo moderno. Até a situação se regularizar, Timor vai ter ainda muitos anos de presença da ONU, e espero eu, de presença portuguesa, visto que podemos ainda e muito colaborar com este povo, e daí tiraremos muitas lições positivas e um aliado fiel. Admiro muito o povo timorense, e fico sempre comovido quando um timorense me fala com carinho do nosso país, da ideia persistente que eles têm do português.
Assim, contando com os muitos que estão interessados num presidente que não seja tão pró-português como Xanana, e que veja mais possibilidades de lucro com um líder mais submetido à vontade australiana ou americana, deve-se fazer antes esta pergunta:

Quem estaria interessado na morte de Xanana?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

adivinhem...


exacto... acabaram-se os exames.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

esqueci-me de comemorar o post 100

POR ISSO VOU COMEMORAR O POST 105!

PARABÉNS AO III ANÓNIMO.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

pontos de vista

in Portugal Contemporâneo

"O laicismo é um caminho para a escravatura. Quem ficar surpreendido com esta afirmação provavelmente não entende muito de liberdade ou então alimenta secretamente o desejo de escravizar os seus concidadãos.
Reduzir a vida humana à sua vertente material, elevar a ciência ou até a razão a Providência e definir o bem como intrínseco à nossa existência física é uma receita para a perda da liberdade. Porquê? Porque as noções de bem e de mal passariam a depender apenas da frágil interpretação humana e a ser sancionadas, enquanto tal, como Lei.
Os opressores que implementassem leis que violassem os direitos naturais não responderiam perante nenhuma instância superior e os oprimidos não poderiam invocar direitos sagrados para resistir à opressão. O relativismo e a falta de força moral fariam o resto!
O direito à vida, à liberdade, à propriedade e à procura da felicidade são inalienáveis porque foram conferidos por Deus aos homens. Ao eliminar Deus o laicismo distorce, fragiliza e aliena os direitos que nos tornam livres e portanto é um caminho para a escravatura. Q.E.D."

nota - nem todos os pontos de vista expressos neste blogue são partilhados pelo autor.

e mais uma da senhora...

"MACHISTA NÃO É SÓ QUEM BATE NA MULHER

As mulheres, duas ou três que por lá andam (na revista Atlântico) escrevem umas coisitas sobre a vida mundana. (...) E os homens atlânticos aplaudem-nas como cãezinhos, neste caso cadelinhas, amestradas que brilham com os seus truques de circo. Bravo.

Cara Ana de Amsterdam, tem toda a razão. A minha estupidez genética (sabe, sou mulher) e total incapacidade de apreender qualquer informação digna de ser vomitada num artigo da imprensa escrita obriga-me a escrever sobre idiotices, banalidades da vida mundana. Deve ser o hábito de ser aplaudida como a uma vaca que acabou de ganhar o primeiro prémio na feira Agropecuária de Beja, não me leve a mal: cá em casa é assim, cada vez que abro a boca atiram-me moedas de dez cêntimos que vou amealhando para comprar mais uma Hola, a minha bíblia vital.
Suplico-lhe, porfavorporfavor, que tenha compaixão de mim, pois não passo de uma fútil rapariga a quem os ovários, as mamas e a obrigação de pôr máquinas a lavar negaram a profundidade para dissertar sobre temas verdadeiramente importantes e publicáveis. Graças a Deus existem homens que escrevem nas revistas, e nos blogues, e nos livros – sabe-se lá a rebaldaria de sentimentos que esta merda não seria. E graças a Deus que temos por cá mulheres como a estimada Ana, que nos lembra ao resto do gajedo que a futilidade não nos é permitida, que escrever (e ser paga por isso) sobre sapatos ou filhos é para donas de casa mentais, sopeiras que não ouvem músicas em francês, analfabrutas sem acesso aos cursos de mestrado na Universidade Nova e que só seremos respeitadas quando nos comportarmos como homens e aprendamos a mijar de pé e a escrever sobre grandes assuntos da Humanidade (quem sabe se crónicas sobre futebol e charutos não nos dignifiquem). Só não lhe perdoo a comparação com as cadelinhas: tive uma rafeira chamada Leidi que era muito mais inteligente que maior parte dos bloggers que poluem a internet pátria, por muito Coetze que leiam. Bom Ano."

da autoria de rititi.

toma lá que é para a ana de amsterdam aprender.

a lady

finalmente, encontrei uma verdadeira mulher de armas:


Também conta que nem o blogue ou a sua autora possam com esse discurso zapatero (a política é feita por gente muito má que invade países e mente à fartazana, menos por mim que sou super bonzinho e só quero mudar, mudar, mudar) do Obama. Too much Oprah, que queres que eu te diga...


sem mais... tremam.

love is...

Cyanide and Happiness, a daily webcomic
Cyanide & Happiness @ Explosm.net

tomadas à letra

Cyanide and Happiness, a daily webcomic
Cyanide & Happiness @ Explosm.net

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

recordar é viver

eu escrevi este texto aquando do meu primeiro blog, o copinho de azeite.
Foi o único texto que de facto valeu a pena. Senhoras e senhores:

Memórias de um Intelectual

"Come forth, Lazarus! And he came fifth and lost the job." James Joyce.

Era um belo dia de Verão, em Junho de 1925... Lembro-me vagamente, estávamos todos em casa de Picasso, eu, Groupious, Hemingway e e Sarah Afonso. Picasso era um verdadeiro espanhol, como dizia Gropious... quer dizer, falava espanhol e ia a Espanha ver a família de vez em quando...era simplesmente maravilhoso de se ver... Hemingway acabara de escrever uma história sobre pugilistas num safari em África. Nem eu nem Sarah Afonso achamos que estava muito bem planeada, e eu até gracejei com o facto de a leitura de Ernest ser totalmente enfadonha, rimo-nos muito, fizemos um belo serão de galhofa, e mais tarde, na brincadeira, calçamos umas luvas de boxe e ele partiu-me o nariz.
Enquanto ia comprar fruta, encontrei Gertrude Stein. Ela lera algum dos meus manuscritos, e eu não resisti a perguntar-lhe se ela achava que eu me ia tornar um grande escritor. Ela, naquela sua expressividade muito própria, disse-me "Não". Tomei-o como um sim, e na manhã seguinte parti para Itália.
Em Itália conheci Marinetti, um homem de uma química muito especial, principalmente no seu andar, pondo um pé sempre à frente do outro, até conseguir aquilo a que chamava "andar" ou "passos". Eu e Sarah Afonso discutimos com ele o cubismo de Picasso, e rimo-nos muito com as suas ideias, mas baixinho, pois com o fascismo em alta na Europa, havia pouco com que nos rirmos.
De volta a França, Salvador Dali convenceu Picasso a tomar café com ele no "Biccarette"...Nesse cansado mês de Novembro, foi a coisa mais emocionante que aconteceu. Gertrude Stein perguntou a Picasso se a arte não era meramente uma expressão de algo. Picasso respondeu qualquer coisa, mas a boca cheia de torrada com manteiga mais não fez do que arruinar o café au lait de Gropious.
Uma vez em Munique, íamos passar o reveillon, apareceu Fernando Pessoa com duas primas cabeludas e feias. Hemingway gostava de mulheres com bigode, mas desiludiu-se quando se apercebeu que uma delas mais não era que Mário de Sá Carneiro. A outra, no entanto, era mesmo prima de Fernando Pessoa. À noite, já passados os festejos, Suzanne Lenglen perguntou-me porque não casava eu com Gertrude Stein, já que nos dávamos tão bem e passávamos tanto tempo jutos. Eu disse-lhe que ela era inteligente demais para mim, e que parecia mais homem do que eu. Rimo-nos muito, e mais tarde, na brincadeira, Stein calçou umas luvas de boxe, e partiu-me o nariz.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

quem é o meu Deus

O meu Deus não é uno e indivisível.
Divide-se em 3: o Pai, o Filho e o Espírito.

É o Pai de todos os filhos que não os tiveram.
É Filho de todas as mães que os perderam.
É Espírito de todos aqueles que julgaram tê-lo perdido.

O meu Deus não é todo-poderoso,
o meu Deus é o Todo.

Ele não é o Deus dos fortes
ele não é o Deus dos grandes.
O meu Deus não perdoa,
o meu Deus ama.

O meu Deus é o Deus dos Mesquinhos,
das mulheres que transportam droga no ventre,
das prostitutas e dos transsexuais marginalizados,
da inocência perdida das crianças violadas.

O meu Deus nasceu em palhinhas em Belém,
e ainda dorme assim, numa rua perdida de Nova Deli
o meu Deus ata bombas à cinta mandado pelos seus líderes
e dispara contra palestinianos comandado pelos seus tiranos.

O meu Deus é alvejado nas costas na Costa do Marfim,
e foi vendido pela mãe a um bordel na Malásia.

O meu Deus não dita regras.
O meu Deus pede, grita,
eu passo pelo meu Deus todos os dias.
Ele dá-me a luz, o seu amor, deu-me a minha mulher e os meus filhos.

A única coisa que me pede em troca são 50 cêntimos para comer
e eu arranjo sempre forma de não lhe pagar.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

imagens da minha 3º casa (ermesinde ái lóbiú)

O Mintas deve se ter magoado forte e feio:



A ver pela queda, eu acho que o Mintas se matou.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

adeus, camaradas

O autor vai encerrar até dia 25.
Estão previstas, no entanto, modificações neste prazo.

a face do ódio

No vídeo seguinte, Farfur, herói do horário infantil palestiniano, é interrogado por israelitas, recusando-se a vender-lhes as terras.
Em consequência é espancado e morto pelo seu opressor, naquele que foi, consequentemente, o último episódio da série.

pete is not innocent

Mas a sua música é boa como o caraças



Pete Doherty - Babyshambles - Fuck Forever

então mas...

acabou de chegar isto ao meu email, um Alerta SIC totalmente drogado:

Sporting empata em Coimbra frente à Académica por 1-0.
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