sábado, 1 de novembro de 2008

o mito judaico-socialista


João Hall Themido é um dos mais prestigiados embaixadores e diplomatas portugueses deste século, e do século passado. Dos seus 84 anos, passou larga quantidade deles naquele jogo escuro de influências e de cinismo que é a diplomacia. Ainda para mais, viveu nesses tempos de espiões e estrategas que foi a Guerra Fria.

Manifestamente conservador, e outras coisas mais que podemos encontrar na sua entrevista no Expresso, Hall Themido lançou um livro de memórias e estórias suas que deve ser bem interessante. Entre essas recordações de uma vida de árduo labor e patriota entrega, cujo reconhecimento será apenas justo, está uma opinião algo dúbia sobre aquele que é para mim, e por isso a minha opinião em seguimento poderá ser de desconfiar, o maior vulto humanistico e um dos grandes portugueses do século XX, Aristides de Souza Mendes (escreve-se com "z" devido à original assinatura).
Segundo JHT, Aristides de Souza Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus na altura da IIª Guerra Mundial e salvador de mais de 30 mil judeus (mais do que o famoso Schindler), a sua acção histórica é um mito criado por Judeus após o 25 de Abril.


O julgamento de JHT parece-me algo precipitado, e talvez se deva a alguma inveja ou simples arrogância profissional. Começa por considerar que Aristides possuía um cargo de diplomacia menor, por ser somente Cônsul, e por apenas ter exercido essa função não lhe deveria ser dada a importância atribuida aos que seguem a carreira diplomática, os Embaixadores. É muito comum este tipo de pensamento nos Portugueses que se formam em Direito, e esta suposta superioridade moral e profissional é acarinhada e propiciada desde os tempos de formação na Faculdade.

De facto, há várias razões para Aristides de Souza Mendes ter tido uma carreira "menor". Primeiro, e antes de tudo, era um aristocrata a servir nos tempos jacobinos da Iª República. Para piorar a figura, era um monárquico convicto apostado em representar o seu país com dignidade e nos locais onde era mais preciso (fez uma comissão no Brasil, e uma na Bélgica, onde ganhou amizade com o Rei Leopoldo da Bélgica, sem contar com muitas outras mais nos sítios mais diversificados). Os governos da Iª República usaram muitas vezes de serviços de homens e mulheres abertamente monárquicos, por lhes faltar quadros profissionais e competentes para a política externa e interna. Nunca lhes eram concedidos, no entanto, cargos de grande importância.
No tempo de Estado Novo, a carreira consular de Aristides estava tão consolidada que somente era compreensível continuar o seu trabalho nessa função.

O Mito Judeu

Afirma JHT que, após o 25 de Abril, forças judaicas e pós democratas organizaram-se por revitalizar a memória do cônsul e criar um mito sobre a sua acção em Bordéus, considerada irresponsável por parte do Embaixador (e por Salazar na altura, diga-se de passagem).
Assim, criou-se, por influência de sionistas ávidos de propaganda e de democratas anti-Estado Novo, a imagem de Aristides de Souza Mendes.

Não consigo partilhar deste ponto de vista por vários motivos. Aristides de Souza Mendes colaborou com o Estado Novo e isso é reconhecido por historiadores e amigos. Mais importante que um regime, coube-lhe servir um país que ele, acima de tudo, prezava e amava.
Depois, custa-me a crer que as "forças democráticas" do pós-25 de Abril fossem escolher um católico, conservador e monárquico descendente de uma casa com historial "liberal" como herói nacional, caso tivessem necessidade de criar um.


Mais, invoco a memória desse mesmo português, ainda tão esquecido, tão desprezado pela nossa cultura pelas suas ideias e formas de viver, como modelo do típico individualismo lusitano. Desprezou as ordens de um Governo e de um Governante Ditatorial e procurou, pelas Obras e pela Acção, salvar muitos perseguidos da fúria nazi que varreu a Europa dos anos 30 e 40.
Antes de ser monárquico, antes de ser cônsul, antes de ser português,Aristides foi aquilo que importa: um Homem Livre.

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