terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cadavre Exquis


Hoje transcrevo uma pequena passagem do Primeiro Manifesto do Surrealismo (1924), de André Breton. Porém, pela sua obra, façamos uma reflexão prévia.

Tanto merece este movimento cultural, um movimento de choque, político, inconformado nas suas divagações circulares e ideias em suspenso. Contra tudo e todos se ergue o Surrealismo. Aperfeiçoamento do Dadaísmo, dádiva de Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Apollinaire; homens de impulso, entendido quase sempre como sociopatia. Obtém em Breton o mestre, o doutrinador; e em Aragon o fiel (enquanto pôde) ajudante. Breton forma o Círculo Surrealista Francês, provavelmente, o mais profícuo movimento cultural do século passado (Artoud, Pérret, Éluard, Tzara, etc).
É criado o Surrealismo Absoluto, a Escrita-Mecânica pura; técnica desprovida de qualquer intelectualização; a literatura (Breton era pela sua destruição!) ao serviço dos meandros da psique humana, pelo fim da arte! Esplendor em Peixe Solúvel (1924).
O Surrealismo Absoluto estava condenado à impraticabilidade. Com a entrada de Salvador Dali no Círculo Surrealista, o movimento ganha novo ânimo. A Escrita-Mecânica é substituída pela Paranóia-Crítica de Salvador, conceito que admitia já a intelectualização da obra. Magníficos textos e composições pictóricas nos proporcionou! Para além deste, pensemos em Miró, Chirico, Ernst, Magritte (o magnífico Magritte!); também Picasso pertenceu ao Círculo, escrevendo mesmo algumas peças de teatro (O Desejo agarrado pelo rabo).
Para além da frenética actividade intelectual (não esqueçamos as brincadeiras de Cadáver Esquisito) o grupo surrealista foi responsável por inúmeros actos de desobediência civil, com recurso a violência; iconoclastia levada às derradeiras consequências. Identifica-se, temporariamente, com o Comunismo (tentado dar efectividade aos seus objectivos políticos), o que provocará dissidências entre os elementos originais. A verdade é que, gradualmente, ocorrerá a separação dos membros. O Surrealismo definha curvado sobre si próprio, entre intrigas e golpes palacianos!

Portugal bem deve agradecer a Breton a influência que surtiu em Cesariny, O’Neill, Herberto Hélder, entre outros.

Vejamos tão adiado trecho:

As Noites de Young são surrealistas do começo ao fim; infelizmente, é um padre que fala, mau padre, sem dúvida, mas padre.
Swift é surrealista na maldade.
Sade é surrealista no sadismo.
Chateaubriand é surrealista no exotismo.
Constant é surrealista em política.
Hugo é surrealista quando não é tolo.
Desbordes-Valmore é surrealista no amor.
Bertrand é surrealista no passado.
Rabbe é surrealista na morte.
Poe é surrealista na aventura.
Baudelaire é surrealista na moral.
Rimbaud é surrealista na prática da vida e alhures.
Mallarmé é surrealista na confidência.
Jarry é surrealista no absinto.
Nouveau é surrealista no beijo.
Saint-Pol-Roux é surrealista no símbolo.
Fargue é surrealista na atmosfera.
Vaché é surrealista em mim.
Reverdy é surrealista em sua casa.
Saint-John Perse é surrealista à distância.
Roussel é surrealista na anedota.
ETC

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