domingo, 7 de dezembro de 2008

Fidei Depositium



Se é facto assente que vínhamos guardando silêncio do XVII Congresso Nacional do Partido Comunista Português, não é menos correcto que uma dor aziaga nos impede de prosseguir tão devota quietude.
Importa efectuar umas quantas reflexões. Ser comunista é uma questão de fé. Há muito que o ónus do PCP deixou de ser a actuação política para abraçar o plano supra-racional.
Nas doutrinas marxista e marxista-leninista encontrou o Sacro-Tutor, a Divindade; em Álvaro Cunhal conheceu o Redentor, o Arauto da bem-aventurança; no Alentejo cativou os crentes; na CGTP o Sumo-Sacerdote da Pregação.
Sem rodeios devemos admitir o óbvio: o Partido Comunista está velhinho; vive de militantes demasiado enfraquecidos para enfrentarem os desafios internos ou de geopolítica; cristalizou no êxtase revolucionário e aí cegou (basta ver o incansável apoio de Margarida Botelho ao modelo cubano, que aliás é o único modelo comunista que ainda podem citar – isto se nada perguntarmos a Bernardino Soares a respeito da sua querida Coreia do Norte); não consegue cativar jovens (a plateia envelhecida do Congresso bem o prova). E se estes argumentos não bastarem a algum ouvido mais aguerrido, e se vier a palco a premissa do aumento da mobilização em seu redor, retorquimos: são os naturais refluxos gástricos de uma crise pandémica, é o medo a falar alto e bom som!
Jerónimo de Sousa bem faz propaganda a um Partido Comunista modernizado, porém, o único sinal de modernidade é a gravata que usa (considerada por muitos militantes como objecto herético). Acresce ao exposto a solidão a que o PCP se decidiu votar: nem aperto de mão a Manuel Alegre, ou amizade com o Bloco de Esquerda que, aliás, nas palavras de Jerónimo possui “um carácter social-democratizante, disfarçado por um radicalismo verbal esquerdizante herdado da diáspora das forças que lhe deram origem”.
Uma nota para a eleição do Comité Central, que conta agora com 67 por cento de funcionários do partido, a maioria dos quais não fez outra coisa da vida senão “servi-lo”; mas, neste caso, nada que não aconteça em outros locais.
Como tal, escutemos a Internacional, qual Jesu, Joy of Man’s Desiring, firmes na convicção de que o poder chegará a essas bandas “quando o povo português quiser”.

2 comentários:

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

VIVA A INTERNACIONAL!

DC disse...

a verdade é que apesar de não defenderem um sistema democrático, pelo menos não como a generalidade das pessoas o concebe, conseguem ser a terceira força política nas AR(empatados com o PP), eleita democraticamente...
Afinal este país tem uma população envelhecida, que apesar de passar quatro anos a dizer que isto no tempo do salazar é que era, na altura de colocar o papelinho mágico na caixinha, não exprime dessa forma o seu voto.

Só uma pequena nota quanto à Internacional e sua utilização no post, parece-me que talvez a "avante camarada", ou a "carvalhsesa" fossem mais adequadas ao PCP

eXTReMe Tracker