Isto acontece, especialmente, devido a dois factores que podemos considerar dois problemas. O primeiro problema é evolutivo, o segundo é interno.
O primeiro problema é o simples facto de o PSD já não ter possibilidade de ser SD. Durante muito tempo, o PSD foi o único partido da social-democracia. Mas a social-democracia com cabecinha e sem trejeitos de socialismo radical, que é a social-democracia que o PS apresentava e que actualmente é sustentada pelo Bloco de Esquerda. Mas tendo o PS utrapassado esta fase mais S e entregue à escumalha a batata quente do "socialimo revolucionário e mansinho ao mesmo tempo", do Estado cancerígeno e produtor de riquezas ineficaz e pretensiosamente distribuidas, chegou a altura de se reajustar no plano político. Aqui chama-se a esse reajustar de plano político de "virar à direita". José Sócrates, por muito que a sua imagem seja repudiada em público durante o extâse popularista das massas, está a fazer ao PS aquilo que Manuel Alegre não quer: virá-lo para a social-democracia de tipo europeu, e não de tipo terceiro-mundista, que é o que temos tido por aqui. E aí o PS, se calhar, poderá passar a chamar-se social-democrata. Seria uma evolução correcta, mas por enquanto ser "socialista" continua a ser a religião oficial para se ter nos meios bem-intencionados deste País, fica o nome.
Até agora, o PSD foi de direita porque tentou ser social-democrata, sem ser socialista. Nem sempre conseguiu isso, porque nada fez para combater o peso do Estado na economia (até, como veremos, se alimentou dele). Agora, o PSD está a assistir a um fenómeno inesperado e único: finalmente, em Portugal, começam a aparecer cabecinhas que discordam do facto de a social-democracia ser um conceito de direita, com o seu respeito pela tradição e algumas concepções conservadoras. E, de facto, a social-democracia não deve nada, mas mesmo nada, ao socialismo. Agora, o problema será sempre a turba do colectivismo, que se levantará insistentemente por entre a turba dos sindicatos comunistas e das amargas ruelas dos sanguessugas do Sistema. Mas essa o PS já não ouve. Felizmente.
Agora que se provou que o problema do PSD é existir um PS, esboça-se o problema número dois: o interno, neste caso o problema interno que se passa no corpo dos deputados do PSD que faltaram à dias a uma votação na AR, o problema da falta de espinha dorsal, devido ao excesso de lambe-botismo que fazem no dia-a-dia. Este exercício deprimente, tão próprio do PSD, tão próprio da retórica moral cavaquista, santanista, barrosista, etctrista, é o cancro do partido.
Não tenho mínimas dúvidas que, houvesse alguma hipótese do PSD ganhar as eleições antes dos acontecimentos desse dia, desvaneceram-se agora. Em nome do jogo político de influências e favores, "alguém" "comprou" o desaparecimento dos 30 deputados e mandou uma excelente mensagem a Manuela Ferreira Leite: nem no próprio partido ela pode confiar.
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