O 25 de Abril entrou no meu imaginário desde muito cedo, talvez desde os 6 anos. Não porque os meus pais fossem politicamente activos, que o eram bastantes anos antes de eu nascer, mas porque sempre se respirou um ar de conspiração familiar aos jantares e convívios dos meus parentes.
Lembro-me que o meu avô materno era profundamente salazarista. Mas era-o por um mitigado ódio a outras personalidades políticas, especialmente Mário Soares. Se o era com justiça ou não, não é para aqui chamado. Sei sim que o meu avô, apesar de não ter sido um cidadão problemático, nunca gostou muito de Salazar. Emigrou, fez a vida lá fora, voltou cá apenas para viver em paz e sossego.
Os meus pais eram PSD, sendo que o meu Pai chegou a militar, nos tempos de faculdade.
Não tenho especiais referências de esquerda na minha vida, e tenho uma certa pena disso.
O que recordo com mais amor da minha infância são as histórias que lembro de outros familiares, tios, tios em segundo grau, primos, etc., histórias essas que falavam da vida que levavam em Moçambique, Angola, Timor. Conseguia sentir, desde essas alturas, uma brisa exótica, um apelo suave às profundezas do hemisfério sul.
A questão das antigas províncias ultramarinas despertou, desde cedo, a maior curiosidade, e influenciou o meu amor pela História.
O que se passou nas terras africanas, após a descolonização portuguesa, é para mim um crime convicto, uma deserção covarde por parte do Governo Português.
Imagino o horror das populações citadinas quando souberam que o Exército Português não reagiria aos abusos dos movimentos de libertação que rugiam selvaticamente da floresta e do mato, proclamando por limpeza étnica, partidária, patriótica e proletária.
O que se passou em Angola, onde os massacres atingiram milhões, e em Moçambique e em Timor, bem como na Guiné, tem culpados directos e responsáveis detectáveis.
O Estado Novo não soube dar início à democratização do regime, não soube desenvolver uma administração autónoma nas colónias que trouxesse à independência gradual dos países africanos. A tese spínolista, apesar das falhas, era a única que planeava a sustentável conclusão da guerra colonial.
O marxismo político, não. A culpa dos mortos em África, as purgas, as deserções, toda essa desonra que humilhou Portugal até ao infinito, é imputável ao PCP de Álvaro de Cunhal, ao MFA de Otelo, a todos os movimentos de suposta revolução de esquerda, bem como ao egoísmo da Direita de Francisco Sá Carneiro, que não mexeram uma palha por alertar à ultrajosa situação que se dava nas antigas colónias.
Do golpe militar de 25 de Abril, tenho eu todo o respeito. Foi um golpe pró-democrático, e da democracia nascem sempre coisas belas e boas, pelo menos sempre que essa democracia se alia ao Estado de Direito.
O problema do 25 de Abril é que, no dia 26, o golpe passou de golpe para movimento revolucionário, para programa revolucionário, para um esforço nacional de engenharia social e caciquismo. E houve ditadura militar e violação de direitos básicos, houve prisões arbitrárias, houva assassínios, houve a ocupação por parte do Estado e Comissões de Trabalhadores de coisas que não lhes pertenciam.
Por isso não me venham com merdas, e cantar as vossas musiquinhas de intervenção, que este país viu suficiente intervenção nesses dias. Não me falem em Liberdades abstractas, quando não conseguiram manter as mais concretas.
Vocês, geração de Abril, foram os que comeram tudo, tudo, e não deixaram nada. Nem um resquício de honra ao qual nos possamos agarrar de um passado de vergonha e humilhação e pedantismo. Somos a chacota da Europa.
Por isso me recuso a celebrar o 25 de Abril. Pago todos os dias a factura da revolução dos marxistas e dos assassinos. Todos os dias, morre Angola mais um pouco, morre a Guiné mais um pouco, por causa desses capitães da liberdade.
Pois bem, eles que se fodam. Culpo-os a eles, e já paguei suficiente cara a minha liberdade, que é minha desde sempre.
Acabou, por aqui, o vosso tributo de Midas. A dívida está paga. A vergonha de um povo é o recibo.
Lembro-me que o meu avô materno era profundamente salazarista. Mas era-o por um mitigado ódio a outras personalidades políticas, especialmente Mário Soares. Se o era com justiça ou não, não é para aqui chamado. Sei sim que o meu avô, apesar de não ter sido um cidadão problemático, nunca gostou muito de Salazar. Emigrou, fez a vida lá fora, voltou cá apenas para viver em paz e sossego.
Os meus pais eram PSD, sendo que o meu Pai chegou a militar, nos tempos de faculdade.
Não tenho especiais referências de esquerda na minha vida, e tenho uma certa pena disso.
O que recordo com mais amor da minha infância são as histórias que lembro de outros familiares, tios, tios em segundo grau, primos, etc., histórias essas que falavam da vida que levavam em Moçambique, Angola, Timor. Conseguia sentir, desde essas alturas, uma brisa exótica, um apelo suave às profundezas do hemisfério sul.
A questão das antigas províncias ultramarinas despertou, desde cedo, a maior curiosidade, e influenciou o meu amor pela História.
O que se passou nas terras africanas, após a descolonização portuguesa, é para mim um crime convicto, uma deserção covarde por parte do Governo Português.
Imagino o horror das populações citadinas quando souberam que o Exército Português não reagiria aos abusos dos movimentos de libertação que rugiam selvaticamente da floresta e do mato, proclamando por limpeza étnica, partidária, patriótica e proletária.
O que se passou em Angola, onde os massacres atingiram milhões, e em Moçambique e em Timor, bem como na Guiné, tem culpados directos e responsáveis detectáveis.
O Estado Novo não soube dar início à democratização do regime, não soube desenvolver uma administração autónoma nas colónias que trouxesse à independência gradual dos países africanos. A tese spínolista, apesar das falhas, era a única que planeava a sustentável conclusão da guerra colonial.
O marxismo político, não. A culpa dos mortos em África, as purgas, as deserções, toda essa desonra que humilhou Portugal até ao infinito, é imputável ao PCP de Álvaro de Cunhal, ao MFA de Otelo, a todos os movimentos de suposta revolução de esquerda, bem como ao egoísmo da Direita de Francisco Sá Carneiro, que não mexeram uma palha por alertar à ultrajosa situação que se dava nas antigas colónias.
Do golpe militar de 25 de Abril, tenho eu todo o respeito. Foi um golpe pró-democrático, e da democracia nascem sempre coisas belas e boas, pelo menos sempre que essa democracia se alia ao Estado de Direito.
O problema do 25 de Abril é que, no dia 26, o golpe passou de golpe para movimento revolucionário, para programa revolucionário, para um esforço nacional de engenharia social e caciquismo. E houve ditadura militar e violação de direitos básicos, houve prisões arbitrárias, houva assassínios, houve a ocupação por parte do Estado e Comissões de Trabalhadores de coisas que não lhes pertenciam.
Por isso não me venham com merdas, e cantar as vossas musiquinhas de intervenção, que este país viu suficiente intervenção nesses dias. Não me falem em Liberdades abstractas, quando não conseguiram manter as mais concretas.
Vocês, geração de Abril, foram os que comeram tudo, tudo, e não deixaram nada. Nem um resquício de honra ao qual nos possamos agarrar de um passado de vergonha e humilhação e pedantismo. Somos a chacota da Europa.
Por isso me recuso a celebrar o 25 de Abril. Pago todos os dias a factura da revolução dos marxistas e dos assassinos. Todos os dias, morre Angola mais um pouco, morre a Guiné mais um pouco, por causa desses capitães da liberdade.
Pois bem, eles que se fodam. Culpo-os a eles, e já paguei suficiente cara a minha liberdade, que é minha desde sempre.
Acabou, por aqui, o vosso tributo de Midas. A dívida está paga. A vergonha de um povo é o recibo.
3 comentários:
Olá Manuel!
Preparava-me para colocar no meu blogue uma frase, à qual achei muita graça, ouvida esta tarde num café (um estabelecimento comercial, mesmo) numa belíssima vila história portuguesa - Arouca - proferida por um indivíduo que discutia, em grupo, sobre a canonização do Condestável Nuno Álvares Pereira, com resquícios das comemorações de Abril à mistura, quando, por se interseccionarem inevitavelmente algumas ideias no meu cérebro, decidi antes passar por aqui e dar uma espreitadela.
E eis que, uma vez mais, as ideias se interseccionam e se complementam. Estás curioso, já, por saber onde quero eu chegar.
Pois bem, dizia assim o indivíduo: «Oh pá, já era difícil de encontrá-los, mas desde que os homens começaram a ir à esteticista rapar os pelos nas partes íntimas como as "gajas", então agora é que é impossível encontrar "gajos" de tomates pretos!»Incontestável, pensei eu... para logo passadas umas horas reconhecer que me precipitei no meu juízo!... Pois se não vejam:
Aqui, venho encontrar um...
Contigo encontra-se um amigo que te acompanha na passada, o Jacob...
Comigo, já somos três...
Que venha mais outro, e traga um amigo também...
Pois há muito trabalhinho para fazer... :)
Brilhante, este teu texto, Manuel!
Parabéns!
Esqueceu-se de um gajo.
O Durão Barroso e o seu famoso grito "Nem mais um soldado para as colónias".
Apesar de tradicionalmente ser imputadoào PCP, este slogan foi criado por Durão e o seu Éme Érre Pum Pum.
Meu caro Manuel,
Tomei a liberdade de transcrever grande parte deste excelente post lá para o ES.
Um abraço
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