Existem 700 sem-abrigo na cidade do Porto. Espalham-se pelas ruas num espectáculo miserável e cruel que comove pouquíssima gente – não comove a Administração Central nem comove a autarquia. Na passada quinta-feira os trabalhadores da Câmara do Porto (os trabalhadores, sublinhe-se) tomaram a iniciativa de realizar um jantar para sem-abrigo e demais necessitados.
O espectro da assistência prestada a estas pessoas é fácil de delinear – iniciativa privada. O Estado, pessoa colectiva socialista e de bem (termo jurídico), demitiu-se da acção assistencial que devia prestar a estes indivíduos, mais, desistiu deles. O mesmo Estado que não se importa de empanturrar de bolos subsidiados, todas as manhãs, milhares de pessoas que não querem trabalhar; numa via-sacra da doçaria e do cafezinho sorridente, que se estende por todas as terriolas do nosso belo país.
Bem, este Estado que não tem pudor em financiar a esperteza saloia de muito boa gente, lá se lembra, muito a custo, dos sem-abrigo. Lembra-se quando faz muito frio e há aqueles alertar amarelos da neve; lembra-se no Natal e diz: “RTP, põe lá uma peça tristonha sobre os indigentes. Assim até parece que nos preocupamos… Mas que não seja muito grande senão estraga-nos a grelha toda!”.
Felizmente ainda existem acções individuais, aquela iniciativa privada que para a Odete Santos é uma barbaridade e uma canseira incompreensível. Congregações religiosas e ONG cruzam as cidades na tentativa de minorar o frio que se entranha nos ossos e de lhes proporcionar pelos menos uma refeição quente – sim, em Portugal passa-se fome, ainda se passa muita fome.
Na maioria das cidades europeias existem residências estaduais para colmatar este problema. Contudo, nestas cidades o flagelo é de tal proporção que as residências pouco resolvem.
Ora, em Portugal a situação ainda não está descontrolada, podendo facilmente ser resolvida com a construção de um edifício de abrigo aos necessitados nas grandes cidades. Considero que esta seria área para um proveitoso intervencionismo.
No entanto, estou ciente dos entraves que esta ideia enfrenta. O Governo que não se importa de financiar poços de betão e torres de marfim, que não se importa de salvar tudo e todos da falência, que convida estudantes estrangeiros para palestras e os aloja em hotéis de cinco estrelas; depressa consideraria incomportáveis os custos de construção e manutenção de tais abrigos.
As autarquias também não parecem sensíveis ao assunto – a do Porto por vezes sofre de uma insensibilidade crónica. Nesta cidade seria interessante reconverter um dos muitos prédios devolutos (uma das 6.000 habitações em risco de ruir) num abrigo – até se acelerava a requalificação urbanística.
Continua a parecer mais fácil ignorar os rostos sujos dos pedintes, afinal, eles nem existem, nós desviamos sempre o olhar.
O espectro da assistência prestada a estas pessoas é fácil de delinear – iniciativa privada. O Estado, pessoa colectiva socialista e de bem (termo jurídico), demitiu-se da acção assistencial que devia prestar a estes indivíduos, mais, desistiu deles. O mesmo Estado que não se importa de empanturrar de bolos subsidiados, todas as manhãs, milhares de pessoas que não querem trabalhar; numa via-sacra da doçaria e do cafezinho sorridente, que se estende por todas as terriolas do nosso belo país.
Bem, este Estado que não tem pudor em financiar a esperteza saloia de muito boa gente, lá se lembra, muito a custo, dos sem-abrigo. Lembra-se quando faz muito frio e há aqueles alertar amarelos da neve; lembra-se no Natal e diz: “RTP, põe lá uma peça tristonha sobre os indigentes. Assim até parece que nos preocupamos… Mas que não seja muito grande senão estraga-nos a grelha toda!”.
Felizmente ainda existem acções individuais, aquela iniciativa privada que para a Odete Santos é uma barbaridade e uma canseira incompreensível. Congregações religiosas e ONG cruzam as cidades na tentativa de minorar o frio que se entranha nos ossos e de lhes proporcionar pelos menos uma refeição quente – sim, em Portugal passa-se fome, ainda se passa muita fome.
Na maioria das cidades europeias existem residências estaduais para colmatar este problema. Contudo, nestas cidades o flagelo é de tal proporção que as residências pouco resolvem.
Ora, em Portugal a situação ainda não está descontrolada, podendo facilmente ser resolvida com a construção de um edifício de abrigo aos necessitados nas grandes cidades. Considero que esta seria área para um proveitoso intervencionismo.
No entanto, estou ciente dos entraves que esta ideia enfrenta. O Governo que não se importa de financiar poços de betão e torres de marfim, que não se importa de salvar tudo e todos da falência, que convida estudantes estrangeiros para palestras e os aloja em hotéis de cinco estrelas; depressa consideraria incomportáveis os custos de construção e manutenção de tais abrigos.
As autarquias também não parecem sensíveis ao assunto – a do Porto por vezes sofre de uma insensibilidade crónica. Nesta cidade seria interessante reconverter um dos muitos prédios devolutos (uma das 6.000 habitações em risco de ruir) num abrigo – até se acelerava a requalificação urbanística.
Continua a parecer mais fácil ignorar os rostos sujos dos pedintes, afinal, eles nem existem, nós desviamos sempre o olhar.
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