Daniel Oliveira, ilustre cavaleiro das estepes e mentor das dez pragas do Egipto, louvou, vai há pouco, na sua crónica do Expresso, guarida improvável, Portugal não ter seguido na peugada da Irlanda quando o pôde. Regozijando-se de termos ficado quietinhos levou o seu frémito mais além: “Tivéssemos seguido os conselhos dos nossos “sábios liberais” e a crise teria hoje, para a maioria dos portugueses, uma dimensão apocalíptica. Por isso, quando sairmos deste buraco e os vendedores de milagres arrebitarem, não nos podemos esquecer da Irlanda. No fim quem paga o preço da aventura é quem menos ganhou com ela”.
Eu não sou um “sábio liberal”, quem dera que fosse, no entanto, denoto que Daniel Oliveira tem acesso privilegiado ao Livro do Apocalipse, talvez uma ligação apostólica que lhe permita ter um tête-à-tête logo de manhãzinha depois do pequeno-almoço.
Se escreve por inspiração divina não me atrevo a discordar, mais, faço questão de cimentar a suas palavras. Ainda bem que nunca fizemos mais que olhar para a Irlanda! Ainda bem que durante os últimos vinte anos nos limitámos a olhar para a Irlanda numa quietude domingueira. Ufa, assim não fosse e estaríamos neste momento “como o país que mais sofre com esta crise”, poderíamos estar prestes a “colapsar”.
Como o nosso ânimo pachorrento assim não permitiu agora podemos rir a bom rir da Irlanda, na nossa velhice desafogada. Façamos então um exercício de terapia do riso: rio-me de não termos investido fortemente na educação como os Irlandeses, e de neste momento possuirmos um dos mais porosos sistemas de ensino da UE, onde os alunos passam por cálculo administrativo para mostrar na Assembleia da República e exibir em Bruxelas; rio-me de não termos apostado em indústrias de futuro como os irlandeses, de termos utilizado os subsídios comunitários para comprar BMW e fanfarrar; rio-me de a Irlanda ter poucas auto-estradas – nós temos dezenas delas, mais do que carros até, e teremos TGV e novo aeroporto e muitas estatuetas em homenagem ao Deus Sol para vincar ainda mais a ideia de sermos a capital europeia do betão. Raios, felizmente não vivemos os últimos vinte anos como os irlandeses, com um sistema económico sem fugas.
Eu acho a coluna do Daniel Oliveira um primor e, quando a crise internacional perder fôlego e a Irlanda começar a recuperar a uma velocidade digna de nota, enquanto aqui a Província der de caras com uma nova crise interna gravíssima, gostaria de lhe perguntar para onde deverei olhar – para a cratera Bloco de Esquerda?
Daniel Oliveira tem razão quando diz que a Irlanda se encontra neste momento em frágil situação. De facto, Portugal não sente tanto a crise – obviamente devido a uma maior intervenção estatal, maior regulamentação, dispomos de mais garantias que nos resguardam durante a tormenta. Já a Irlanda, que possui de um sistema financeiro mais desregulamentado, e onde o estado está menos presente, sentirá a crise sem qualquer almofada que a proteja. Ainda assim poderemos perguntar-nos até que ponto o Estado Português protege os cidadãos – se chama a si 42% dos rendimentos (fora os descontos para a Segurança Social) de cada vez mais indivíduos, com que legitimidade pedirá a estas pessoas que consumam mais para sair da crise? Se o Estado Português tributa de forma escandalosa as empresas, por que carga de água é que alguém quererá investir cá? Bem, sem consumo e investimento privado torna-se morosa a tarefa de sair da crise! Possível solução: mais obras públicas! A mesma solução que vimos utilizando desde há vinte anos para cá. E de onde vem o dinheiro para mais investimentos em betão? O FMI, sorte a dele, já não entra em Portugal; a batata quente salta então para a Europa, para as mãos da Comissão.
Já a Irlanda, não colocando tantos entraves a possíveis investidores, terá mais hipóteses de os atrair – pura teoria das vantagens comparadas. Por conseguinte, como não sufoca os cidadãos com impostos, poderá esperar deles mais consumo. Ora, daqui resulta uma saída mais fácil da tormenta em que nos encontramos.
Ficam alguns dados referentes a importações e exportações, educação, e desemprego na Irlanda.
Eu não sou um “sábio liberal”, quem dera que fosse, no entanto, denoto que Daniel Oliveira tem acesso privilegiado ao Livro do Apocalipse, talvez uma ligação apostólica que lhe permita ter um tête-à-tête logo de manhãzinha depois do pequeno-almoço.
Se escreve por inspiração divina não me atrevo a discordar, mais, faço questão de cimentar a suas palavras. Ainda bem que nunca fizemos mais que olhar para a Irlanda! Ainda bem que durante os últimos vinte anos nos limitámos a olhar para a Irlanda numa quietude domingueira. Ufa, assim não fosse e estaríamos neste momento “como o país que mais sofre com esta crise”, poderíamos estar prestes a “colapsar”.
Como o nosso ânimo pachorrento assim não permitiu agora podemos rir a bom rir da Irlanda, na nossa velhice desafogada. Façamos então um exercício de terapia do riso: rio-me de não termos investido fortemente na educação como os Irlandeses, e de neste momento possuirmos um dos mais porosos sistemas de ensino da UE, onde os alunos passam por cálculo administrativo para mostrar na Assembleia da República e exibir em Bruxelas; rio-me de não termos apostado em indústrias de futuro como os irlandeses, de termos utilizado os subsídios comunitários para comprar BMW e fanfarrar; rio-me de a Irlanda ter poucas auto-estradas – nós temos dezenas delas, mais do que carros até, e teremos TGV e novo aeroporto e muitas estatuetas em homenagem ao Deus Sol para vincar ainda mais a ideia de sermos a capital europeia do betão. Raios, felizmente não vivemos os últimos vinte anos como os irlandeses, com um sistema económico sem fugas.
Eu acho a coluna do Daniel Oliveira um primor e, quando a crise internacional perder fôlego e a Irlanda começar a recuperar a uma velocidade digna de nota, enquanto aqui a Província der de caras com uma nova crise interna gravíssima, gostaria de lhe perguntar para onde deverei olhar – para a cratera Bloco de Esquerda?
Daniel Oliveira tem razão quando diz que a Irlanda se encontra neste momento em frágil situação. De facto, Portugal não sente tanto a crise – obviamente devido a uma maior intervenção estatal, maior regulamentação, dispomos de mais garantias que nos resguardam durante a tormenta. Já a Irlanda, que possui de um sistema financeiro mais desregulamentado, e onde o estado está menos presente, sentirá a crise sem qualquer almofada que a proteja. Ainda assim poderemos perguntar-nos até que ponto o Estado Português protege os cidadãos – se chama a si 42% dos rendimentos (fora os descontos para a Segurança Social) de cada vez mais indivíduos, com que legitimidade pedirá a estas pessoas que consumam mais para sair da crise? Se o Estado Português tributa de forma escandalosa as empresas, por que carga de água é que alguém quererá investir cá? Bem, sem consumo e investimento privado torna-se morosa a tarefa de sair da crise! Possível solução: mais obras públicas! A mesma solução que vimos utilizando desde há vinte anos para cá. E de onde vem o dinheiro para mais investimentos em betão? O FMI, sorte a dele, já não entra em Portugal; a batata quente salta então para a Europa, para as mãos da Comissão.
Já a Irlanda, não colocando tantos entraves a possíveis investidores, terá mais hipóteses de os atrair – pura teoria das vantagens comparadas. Por conseguinte, como não sufoca os cidadãos com impostos, poderá esperar deles mais consumo. Ora, daqui resulta uma saída mais fácil da tormenta em que nos encontramos.
Ficam alguns dados referentes a importações e exportações, educação, e desemprego na Irlanda.
2 comentários:
Excelente post!
Agradeço a paciente leitura, Michael!
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