quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Da Arte e da sujidade Urbana

A Arte exige maturação enquanto arrazoado polissémico. Ora, que polissemia podemos deslindar num tag, ou seja, numa assinatura estilizada?
Há quem adore esta infâmia dos graffitis e dos stencils, essa brincadeira de “borrar” a parede dos outros com a sua “arte”. Em certos grupos e segundo alguma cartilha, isto é uma manifestação moderna de Arte.
Quanta brutalidade! Que idiotas! Que entendimento fazem eles da Arte?
Pois sendo a Arte a mais humana das coisas, sendo a sua criação a mais nobre das actividades do Homem, como se pode prender a Arte a algo tão criminoso como prejudicar a criação do Homem?
Explico-me – a Arte nasce do esforço criativo e do mérito individual do seu criador.
A Arte é vista pelos outros, mas isso não a torna sua propriedade. A Arte pertence a quem a criou, às suas custas e segundo a sua zelosa dedicação. Onde haverá Humanidade em manifestar a Arte de alguém ao estropiar outra forma de Arte, como a beleza de um monumento nacional, ou o fruto do trabalho meritório de outro Homem, como a parede de sua casa? Que direito há na passagem de uma mensagem, quando o faço às custas de outro?

É a sociedade Moderna, dizem. Será a Sociedade Moderna uma sociedade de cobardes e ladrões, onde se faz e vive como um parasita, às custas da individualidade de outro?

É então, a nossa, uma Sociedade moderna, sem dúvida. Uma Sociedade de celerados, glutões que pretendem imbuir os restantes cidadãos no seu frémito tribal e alienador.

Recuso-me a aceitar este rabisco, estas mensagens, o grotesco. A minha cidade já é suja que chegue para que estes indivíduos, achando-se a vanguarda artística, ou a vanguarda dos costumes, venham empolar ainda mais a sua decadência.

Se são viciados em adrenalina e gostam de quebrar as regras básicas do convívio e harmonia social, não são artistas;

Se gostam de assinar as vossas alcunhas, isso não vos faz artistas;

Se gostam de escrever mensagens curtas – usem o Twitter.

13 comentários:

Street Fighting Man disse...

não podia discordar mais. sem me querer alongar em teorias tipo 'grafitar não é estragar' apenas refiro que enquanto a arte tiver um papel de intervenção social para um graffiti, um stencil ou o que for continua a ser legítimo e louvável. são perspectivas. porém faço um parêntesis, e julgo que estamos de acordo, há muita borrada por essas cidades fora, tags e graffitis que não lembram ao menino jesus. sobretudo tags. uma overdose de tina sem sentido.
mas entre um alfinete de ama gigante em serralves e uma stencil bem feito numa rua qualquer prefiro a segunda.

cumprimentos

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

o problema é que o estragar ou o não estragar é uma valoração subjectiva.
podem pintar uma obra digna de louvre no meu portão, que para mim, que gosto dele verde e simplezinho, seria estragar na mesma.

arte não é apenas o que um grupo de pessoas acha ser bonito ou danoso para a sociedade. pintar algo na propriedade de outrem sem autorização deste não é Arte. é uma patifaria.

eu acho muita piada a muitos stencils. mas se algum fosse pintado na porta de minha casa, que eu aprecio bem verdinha e simplezinha, apagava-o de imediato.

Street Fighting Man disse...

e estavas no teu direito, uma vez que a casa é tua. mas eu acho mais correcto partir do princípio que é uma forma de arte e que deve ser analisada caso a caso antes de ser condenada. há aí muita casa velha, muito beco por onde não passa ninguém com stencils fantásticos e eu pessoalmente ficaria triste se eles desaoarecessem. aliás custar-me-ia apagar um bom stencil do muro de minha casa, por muito que me chateasse ele já não estar tão branquinho como antes

Street Fighting Man disse...

quanto ao facto de ser uma patifaria: duvido imenso que se o graffiti vivesse de pedir autorização aos donos dos imóveis continuasse a haver graffiti lol

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

ninguém deixa de dizer que stencils e gafittis são giros ou não. não deixo de reconhecer que há. de facto, grafittis e stencils que são apelativas ao meu gosto.

mas não os considero Arte, pelos mesmos pressupostos que já escrevi atrás. arte é mais do que pintar ou escrever coisas giras.
tem a ver com o mérito, a humanidade da obra, e o facto de o fazeres sem prejudicar outro ser humano.
muitas vezes, esta arte urbana usa a camuflagem do vandalismo urbano para singrar, até.

Guilherme Silva disse...

Concordo com o teu post Manuel.

Ricardo Mesquita disse...

Manel e Pedro,

Não é a primeira vez que esta conversa surge. O Manel e eu tivemos oportunidade de o fazer numa das reuniões do Tribuna. Sou da opinião que o conceito de Arte, como algo forçosamente subjectivo, é amplo. Assim, se se transmitem mensagens, se se mobilizam pessoas e se despertam consciências, todas as manifestações são louváveis. Também eu fico seduzido com o conteúdo de algumas delas. Creio que o ponto do Manel tem mais que ver com a forma como se escolhe transmitir a mensagem. Não é legítimo que esta "arte" se imponha a quem quer que seja e tanto mais quando tudo isso é feito à custa do património alheio. Se os autores das tags, como artistas que são - divergências à parte, o são realmente que usem meios próprios e seus para veicularem as suas ideias ou concepções pessoais. Todos nós, quando e onde quer que assumamos uma tomada de posição o fazemos ou devemos fazer de forma a respeitar a autonomia dos outros. Em casa de cada um, cada um define o que é arte. Porque a verdadeira arte nunca é admirada através das imposição.

Street Fighting Man disse...

manuel, se o teu conceito de arte em sentido amplo abrange o tal alfinete de ama gigante então não sei lol é a arte se por convenção se lhe chamarem arte? então miguel de cervantes estava bem lixado porque o d. quixote foi considerado uma obra de comédia pelos seus contemporâneos

jünger disse...

Art. 335º CC
1. Havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes.
2. Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva considerar-se superior.


cada macaco no seu galho já la diz o povo! por muito bonita e "artística" que seja a minha pintura, duvido que o meu vizinho do r/c C lhe ache tanta mérito artístico quanto eu..

quid juris?


P.S. - ainda bem que o Cervantes o escreveu em papel e não na porta de minha casa!..

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

e concluindo o comentário do Jünger:

e assim se faz bem, num Estado de Direito.

Street Fighting Man disse...

eu prezaria e muito ter uma das maiores obras de literatura de sempre nas paredes de minha casa. aliás é uma ideia a guardar para quando construir uma minha.

à lição de constitucional, respondo com uma lição de história: porque ao longo dela a liberdade de expressão sempre foi facilmente sacrificada por outros direitos que 'se devam considerar superiores'. sistematicamente.

não esqueçamos, meus senhores, que cada um invoca o Estado de Direito para o que lhe convém, e que a linha é ténue entre o sê-lo de facto, e uma ditadura asséptica de bons costumes e politicamente correcto.

Amen

Joana Banana disse...

Partindo da premissa que nos diz que a arte nasce do esforço criativo e mérito indidivual: não ignoremos que há muita tela, correctamente exposta em museus, que não existe sem ter havido sacrifício de outros direitos. São as inúmeras questiúnculas pessoais entre pintor e modelo (lembro-me rapidamente de Vermeer e a rapariga do brinco de pérola), são supostos aproveitamentos de ideias de outros. Será menos concreto do que uma parede propriedade privada de alguem? Sim. Mas não deixa de se colocar a questão.
No entanto, a maior parte de bons graffiti não estão em paredes de casas particulares, e sim em edifícios considerados públicos. Pelo menos os que mais técnica de desenho e criatividade exigem. Aí coloca-se a questão: é público, é de todos, logo porque mo impõem? Porquê impôr ver algo quando passo por uma parede de um edifício público, ou de uma parede da rua de casas de comércio?
Aí entra o princípio do dano. O mesmo posso dizer de certas imagens publicitárias que ali estão, sem se contestar a sua beleza fotográfica ou não, vulgarmente em paredes com a bela da autorização do proprietário (que nem sabe o que se irá afixar). Porque é que tenho que passar e olhar para aquela publicidade, fotografia, que não me agrade?
No entanto: que dano me causaria? Que dano real e concreto a não ser interferir nas minhas opiniões subjectivas sobre o que é bonito ou agradável à vista?

Lembro-me entretanto de casas, propriedades privadas, que são bastante desagradáveis ao meu conceito de beleza ou criatividade artística: todos nos lembramos dos gnomos, ovelhas e meninos a fazer chichi nos jardins. Ou então de uma casa peculiar toda azul e dourada dedicada ao FCP. O que faço quando passo e olho? O facto de ser propriedade privada não interfere com nenhum direito meu?

Ou então tomemos outro caminho: concedamos que os stencils e graffitis não são arte. Assim como a casa azul ou os jardins ou mesmo a imagem publicitária (o que é duvidoso para algumas orientações): e se não for arte ou vencer essa opinião e for mera manifestação, qual a justificação para não figurar no espaço público ou estar ao alcance dos olhos de quem passa e o frequenta?

Recordo também Keith Haring, expostos em museus actualmente, e que começou com desenhos de giz nos metros e afins.

Os publicitários e donos das casas esteticamente 'criminosas' não são cobardes e ladrões. Respeitam concerteza as leis, aliás, como poderiam expôr no espaço público aquela imagem sem o fazerem? Ainda bem que há uma Lei que eles respeitam na perfeição.

E não estou alheia a PDM's, estou apenas consciente de que são imbuídos de valores estéticos impostos por alguém. Tal como o portão verde e simples, que apesar de ser propriedade privada, interfere com o espaço público.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

joana, o ponto do meu texto é exactamente eu estar-me borrifando para o que é que tu ou outra pessoa pensa ser bonito ou não.

há critérios objectivos, e um deles é rabiscar e pintar as coisas dos outros.
se eu pintar a minha casa de azul, tu não podes fazer nada porque a casa é minha e ainda existe propriedade privada neste país (mas aos poucos vai-se perdendo caminho neste ponto).

e podes contestar a beleza da publicidade, da cor da casa, da arquirtectura afrancesada, etc. mas a verdade é que tudo isso saiu do trabalho de alguém, foi pago por alguém que usou do seu livre arbítrio e da sua liberdade, ou seja, pagou pelo que fez. quem grafita, a menos que seja preso e pague a porcaria que fez, faz sem pagar. tão simples como isso.

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