Hoje o Odisseia escolhe o rock pioneiro dos Pink Floyd.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
A Grande Porca
"Mas é vergonhoso que este seja também o Ministério que depois de sucessivas condenações em tribunal, interpõe recursos que só visam conduzir o cidadão-queixoso à exaustão ou à banca rota, na via sacra que é a justiça portuguesa. Imagine-se, à custa do dinheiro do próprio contribuinte."
Carlos Nunes Lopes no 31 da Armada
Carlos Nunes Lopes no 31 da Armada
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
O que eu não gosto de ler nos jornais
A Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado, o banco de todos nós, não se importou nada de sustentar e salvar duas instituições submersas numa catadupa de falcatruas; ladroage, como diz a malta do meu bairro.
Vimos declarações e uma corrida às justificações: "Senão abrimos um precedente drástico; se os deixamos cair as pessoas vão todas tirar os seus depósitos; é o fim; a banca quebra" e para salvarmos as instituições financeiras lá foi o Estado acudir. Avaliou mal, o prejuízo é enorme, a decisão discutível, os críticos e os apoiantes dividem-se. Até agora o escrito é meramente fáctico.
Não discuto isto porque já o suficiente se falou (mal). Mas indigno-me e enervo-me quando leio que podem haver despedimentos na banca, quando leio que se salvou o Sr Fino, quando leio que o Sr Berardo negociou muito bem com as instituições, quando leio que as taxas de juro cobradas têm sido impeditivas para as empresas (muitas têm fechado portas por isso) e famílias. O meu dinheiro para estes Srs? "Enroladinho e vaselinado no sítio que eles sabem, obrigadíssimos, e tenho dito ámen".
O mínimo que exigimos de um governo dá a mão e limpa o rabo é que adopte atitudes idóneas (não inúteis e erradas) para as empresas -taxas de 10% são impossíveis!, para as famílias, para os desempregados. Não admito que um Berardo (um dos culpados disto -enriqueceu especulando, entre negócios paralelos) possa negociar a sua dívida e as empresas e famílias encontrem os golias de obstáculos.
A mais, garante-se um aval (bem sei que o Estado ganha dinheiro e nada é dado, mas garante-se!) e permite-se isto aos bancos?
Uma ultima palavra para a Caixa Geral de Depósitos, que podia e devia acudir nestas situações: praticando taxas melhores, mais baixas, salvaguardando e protegendo as famílias em melhores condições que as outras instituições bancárias, obrigando os outros bancos a fazer o mesmo. É este o momento ideal.
Que o Banco do Estado se comporte como tal, não se deixe ficar prostrado!
Abraço.
Vimos declarações e uma corrida às justificações: "Senão abrimos um precedente drástico; se os deixamos cair as pessoas vão todas tirar os seus depósitos; é o fim; a banca quebra" e para salvarmos as instituições financeiras lá foi o Estado acudir. Avaliou mal, o prejuízo é enorme, a decisão discutível, os críticos e os apoiantes dividem-se. Até agora o escrito é meramente fáctico.
Não discuto isto porque já o suficiente se falou (mal). Mas indigno-me e enervo-me quando leio que podem haver despedimentos na banca, quando leio que se salvou o Sr Fino, quando leio que o Sr Berardo negociou muito bem com as instituições, quando leio que as taxas de juro cobradas têm sido impeditivas para as empresas (muitas têm fechado portas por isso) e famílias. O meu dinheiro para estes Srs? "Enroladinho e vaselinado no sítio que eles sabem, obrigadíssimos, e tenho dito ámen".
O mínimo que exigimos de um governo dá a mão e limpa o rabo é que adopte atitudes idóneas (não inúteis e erradas) para as empresas -taxas de 10% são impossíveis!, para as famílias, para os desempregados. Não admito que um Berardo (um dos culpados disto -enriqueceu especulando, entre negócios paralelos) possa negociar a sua dívida e as empresas e famílias encontrem os golias de obstáculos.
A mais, garante-se um aval (bem sei que o Estado ganha dinheiro e nada é dado, mas garante-se!) e permite-se isto aos bancos?
Uma ultima palavra para a Caixa Geral de Depósitos, que podia e devia acudir nestas situações: praticando taxas melhores, mais baixas, salvaguardando e protegendo as famílias em melhores condições que as outras instituições bancárias, obrigando os outros bancos a fazer o mesmo. É este o momento ideal.
Que o Banco do Estado se comporte como tal, não se deixe ficar prostrado!
Abraço.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Laissez-Faire e Liberalismo
Os princípios básicos do liberalismo não contêm nenhum elemento que o faça um credo estacionário, nenhuma regra fixa e imutável. O princípio fundamental segundo o qual devemos utilizar ao máximo as forças espontâneas da sociedade e recorrer o menos possível à coerção pode ter uma infinita variedade de aplicações. Há, em particular, enorme diferença entre criar deliberadamente um sistema no qual a concorrência produza os maiores benefícios possíveis, e aceitar passivamente as instituições tais como elas são. Talvez nada tenha sido mais prejudicial à causa liberal do que a obstinada insistência de alguns liberais em certas regras gerais primitivas, sobretudo o princípio do laissez-faire. Contudo, de certa maneira, essa insistência era necessária e inevitável. Diante dos inumeráveis interesses a demonstrar que certas medidas trariam benefícios óbvios e imediatos a alguns, ao passo que o mal por elas causado era muito mais indireto e difícil de perceber, apenas regras fixas e imutáveis teriam sido eficazes. E como se firmara uma forte convicção de que era imprescindível haver liberdade na área industrial, a tentação de apresentá-la como uma regra sem exceções foi grande demais para ser evitada.
F. Hayek, O Caminho para a Servidão
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Portugal no Mundo
“Portugal, vindo de além do mundo, revela-se ao mundo até ao século XIV, formulando a sua própria cultura, a do Espírito Santo, e na plenitude de suas características fundamentais no que incluo o que chame de qualidades e defeitos, de seu inteiro povo, ou do conjunto de seus povos regionais, dos grupos vários que se formem e de colaborantes classes.
Do século XV ao século XX revela Portugal o mundo ao mundo, na força máxima de sua variedade, e com bastante compreensão de sua unidade humana e de sua aspiração ao mais elevado e mais íntimo.
Do século XXI por diante revelará Portugal ao mundo, sobretudo pelo ser de cada um, o que se vai atingir para além do mundo, com toda a física uma metafísica; todas as coisas várias e a mesma; todos os povos um só e diferentes; todas as características uma e diferentes; todos os ideais diferentes, e só um.”
Agostinho da Silva
Do século XV ao século XX revela Portugal o mundo ao mundo, na força máxima de sua variedade, e com bastante compreensão de sua unidade humana e de sua aspiração ao mais elevado e mais íntimo.
Do século XXI por diante revelará Portugal ao mundo, sobretudo pelo ser de cada um, o que se vai atingir para além do mundo, com toda a física uma metafísica; todas as coisas várias e a mesma; todos os povos um só e diferentes; todas as características uma e diferentes; todos os ideais diferentes, e só um.”
Agostinho da Silva
Outubro de 1991
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o que é liberalismo?
"É urgente retirar à população o enorme ónus financeiro que representa hoje o financiamento da despesa pública, baixando os impostos - não podemos mais sacrificar as famílias e as empresas ao ponto de lhes tirar o que cada vez mais custa a ganhar. Caso contrário, a população que, repito, na esmagadora maioria dos casos, já leva vidas muito precárias e que tem mais a ganhar que a perder, pode muito bem dizer: basta! E, nesse dia, terá o apoio dos militares que, por sua vez, também se inserem no grupo dos precários.
Além disso, é importante realçar que o Estado Previdência pode estar a dar as últimas. Confesso que receio que, ao mínimo sinal de ruptura no pagamento das reformas ou dos crescentes subsídios de desemprego, a indignação suba, irreversivelmente, de tom. Dir-se-á: imprimam as notas que forem necessárias. Pois! O problema é que também esse sistema está em ruptura. A única solução é que todos possam dar mostras de parcimónia, justeza e ética - a começar no Estado. Isso significa matar este regime de democracia indirecta. Significa reduzir o Estado às áreas estritamente necessárias (Justiça, Segurança Pública, Saúde e Ensino Básico). Significa reduzir os impostos. É habitual dizer-se que em Portugal existe um complexo de esquerda. Só há complexo de esquerda porque o Estado é omnipresente, criando situações casuísticas de injustiça social. Retirem o Estado da vida das pessoas - em particular das suas carteiras -, reponham a justiça social e rapidamente mudaremos. Para melhor!"
Além disso, é importante realçar que o Estado Previdência pode estar a dar as últimas. Confesso que receio que, ao mínimo sinal de ruptura no pagamento das reformas ou dos crescentes subsídios de desemprego, a indignação suba, irreversivelmente, de tom. Dir-se-á: imprimam as notas que forem necessárias. Pois! O problema é que também esse sistema está em ruptura. A única solução é que todos possam dar mostras de parcimónia, justeza e ética - a começar no Estado. Isso significa matar este regime de democracia indirecta. Significa reduzir o Estado às áreas estritamente necessárias (Justiça, Segurança Pública, Saúde e Ensino Básico). Significa reduzir os impostos. É habitual dizer-se que em Portugal existe um complexo de esquerda. Só há complexo de esquerda porque o Estado é omnipresente, criando situações casuísticas de injustiça social. Retirem o Estado da vida das pessoas - em particular das suas carteiras -, reponham a justiça social e rapidamente mudaremos. Para melhor!"
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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Realismo Socialista ou Ladainha Beata
O Odisseia já dispôs de oportunidade para demonstrar o seu repúdio perante o cortejo de charlatães e pela inépcia do Banco de Portugal no caso BPN; já encarou com odioso esgar a deplorável acção da imprensa no caso Freeport; por fim, não teve pudor em apelidar Hugo Chávez de ditador (gostamos de chamar as coisas pelos nomes). Convém sublinhar, que destas misérias sai a democracia indisposta, para não dizer maltratada. Vamos mais longe e, com franqueza, consideramos que o actual governo tem sido o seu principal agressor.
Numa altura em que as alvas alminhas de esquerda se travestiram de valorosas guardiãs dos direitos humanos e da igualdade, em que se luta ferozmente pelo casamento homossexual, em que se agendam discussões públicas sobre a eutanásia – assuntos, sem sombra de dúvida, importantes e merecedores de morosa reflexão – ninguém nota, ou parece notar, os laivos de autoritarismo com que este governo se vai cobrindo, passo a passo, numa ladainha vagarosa mas constante.
Como primeiro ataque consideremos a ASAE, uma autêntica polícia de costumes, autoritária, arrogante, e radical. Desde que a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica assimilou uns quantos tiques da alta-roda, muito se tem ressentido o património gastronómico português, muito se tem perdido de um equilíbrio alimentar milenar que sempre resultou e auto-regulou, sem a necessidade de pedir auxilio a uma turba de microbiólogos que adorariam viver num mundo esterilizado. Não faz sentido a exacerbada acção da ASAE: é facto que ajudou a criar uns belos oligopólios alimentares (excluiu do mercado dezenas de empresas de condimentos, devido à directiva da dose individual), e colocou tantos entraves a pequenas empresas (lacticínios por exemplo) que estas se viram materialmente impossibilitadas de seguir seu negócio; no final, bem no final, salve-se a higiene.
Segue-se a forma, particularmente vigorosa, com que o Governo vem tratando os funcionários públicos. Professores, polícias, médicos, empregados de secretaria SÃO OBRIGADOS a frequentar acções de formação, mesmo que estas sejam parcas em conteúdo ou nem sequer tenham que ver com a sua área profissional (pensemos na acção de formação do computador Magalhães, esse circo de humilhação). Mas, insaciável, o monstro bíblico ainda se dá ao luxo de OBRIGAR professores a participar em mascaradas, não vão as pobres criancinhas ficar com um trauma insanável.
Não deixemos de referir que o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico) se considera no direito de tornar a ataraxia (supressão de juízo) prática corrente e saudável. Em casos de choque entre relatórios de funcionários de grau hierárquico distinto, os subordinados hierarquicamente têm, não só de ceder aos seus superiores (como é natural), TENDO TAMBÉM DE ADOPTAR TAL PARECER COMO SEU!
Mas se tais comportamentos desviantes não satisfazem o coração dos nossos leitores, então atentemos ao próximo Congresso do PS. Ora, o XVI Congresso Nacional do Partido Socialista contará com a presença do partido chavista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela); de uma delegação do Partido Comunista da China; do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola); entre outros partidos socialistas europeus. Recordando Durão Barroso: “Fui ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro no meu país e muito frequentemente temos de nos sentar em reuniões internacionais na companhia de pessoas com as quais a minha mãe não gostaria de me ver”; referia-se a Robert Mugabe e, certamente, a sua mãezinha perdoou-o. Claro está que as relações diplomáticas internacionais exigem que se engulam muito sapos, é óbvio que por vezes é necessário negociar com escroques. Contudo, Durão Barroso nunca tentou toldar a tirania de Mugabe, não tentou apresentá-lo como um democrata. O PS faz o contrário. Vai receber representantes de três Estados com regimes profundamente autoritários (Venezuela, Angola e China), e vai recebê-los com a maior naturalidade, como velhos amigos. Quanta indulgência! Aliás, neste caso digno de estudo, vemos um PS ansioso por engolir sapos num frémito existencial de confraternizar com crápulas!
Valha-nos o sol e a pacatez, que vem minguando, no Estado mais ocidental da Europa. Calem-se as carpideiras, pois nada do que escrevi é verdade. A verdade pertence ao PS e demais esquerdas, a verdade pertence ao Realismo Socialista.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
O Centenário Comemorativo do aparecimento de uma nova forma de Portugal: a Actual
Já se proclama na televisão a proximidade do centenário da implantação da república, no dia 5 de Outubro de 1910.
Visa a comissão que prepara esta comemoração mostrar aos portugueses as conquistas sociais conseguidas nesses conturbados tempos.
Apesar de inglório, é de facto um esforço nobre, e do maior interesse histórico. O problema, a meu ver, centra-se na continuidade da propaganda enganosa que se mantém na abordagem deste assunto.
Havia membros dos vários partidos republicanos que eram, de facto, pessoas de enorme valor e iniciativa. A decadência do regime anterior e o caciquismo, bem como a crescente imobilidade social, proibiram essas pessoas de se inserirem no sistema e provarem o seu valor com os devidos méritos. No entanto, durante a república, o favoritismo, o caciquismo, a corrupção e sectarismo só aumentaram, tendo atingido um patamar de violência inédito na nossa história entre diferentes organizações rivais.
Todas as grandes medidas tomadas pela Primeira República deram-se no ano de 1911, e mesmo essas tiveram efeitos de curtíssima duração. A separação entre Estado e Igreja deu-se em situações de absoluto desprezo e autoritarismo do Estado sobre a Igreja. É até erróneo falar na Lei da Separação, como foi chamada na altura. A denominação mais correcta seria Lei da Submissão da Igreja ao Estado, que passou a controlar todos os edifícios de culto, bem como a leitura das pastorais nas missas. O “direito à greve”, como se costuma ler nos manuais de história da escola, não foi instituído ou criado nessa altura. Já existiam greves durante a Monarquia Constitucional, e não eram reprimidas brutalmente (pelo menos as pacíficas). O que se deu em 1911 foi a regulação da greve pela classe política, que o fez à revelia das associações sindicais, que não tiveram qualquer voto ou opinião na matéria.
Já no ano seguinte à promulgação do Decreto-Lei que regulava o direito à greve se deu a prisão, em Lisboa, de 800 grevistas. Durante essa greve geral, órgãos republicanos revolucionários, aqueles mesmos que hoje em dia o canal público de televisão retrata com pinta de heróis progressistas, arrebentaram carros eléctricos “à bomba”. Muitos desses membros da Formiga Branca e da Carbonária usaram os trabalhadores como instrumentos de protesto e instabilidade, e depois usavam da sua imunidade para com as tropas republicanas que vinham impor a ordem, visto que os carbonários sempre gozaram de particular temor e respeito por parte dos partidos republicanos.
O Partido Socialista, criado ainda antes do Partido Republicano, foi arbitrariamente condenado e fechado, devido às suspeitas de ter contactos com os activistas da Monarquia.
Na educação, os republicanos somaram falhanços atrás de falhanços. As faculdades criadas na altura funcionavam em condições impróprias, devido ao facto de terem sido criadas em pacotes. Só na IIº República, ou Estado Novo, se criaram infra-estruturas capazes do ensino desses cursos.
Em 1914 havia já mais de 2000 pessoas acusadas de crimes políticos.
A liberdade política em nada progrediu, regrediu. A censura à revista Orpheu, a diminuição do número de eleitores de 900 mil durante a Monarquia para 300 mil durante a república, bem como as persistentes ditaduras de executivo apoiadas pelos presidentes da república, tornaram a situação portuguesa tão melindrosa como ridícula. Em 26 anos de primeira república, o País consumiu-se.
Renasce o messianismo e o sebastianismo, mas numa vertente diferente da antiga. Dantes, os sebastianistas choravam a grandeza perdida. Agora, choram a decadência perpétua.
Como súmula ou epíteto da campanha desastrosa que foi para o País toda esta farsa da república de Outubro, restam dois fenómenos ocorridos em 1914 e 1921.
A entrada irresponsável na guerra tornou Portugal na nação mais miserável da Europa. A fome foi tanta em Lisboa que se deram motins. As tropas estavam tão mal armadas que perderam em todas as frentes, nas colónias africanas e na Europa. Não houve valentia lusa para a Iº República. Não numa guerra que não nos pertencia, e na qual não estávamos no lado único da justiça. O custo de vida atingiu os 200% e entre 1917-25 houve 200 greves.
Em 1921 o sintoma último da queda da República tem lugar no massacre cruel da “Noite Sangrenta”, a rusga mais cruel da nossa história e também a mais esquecida ou escondida dos portugueses. Foram fuzilados sumariamente todos os heróis do 5 de Outubro.
Uma revolução assim não merece uma comemoração. Merece uma séria meditação por parte deste país e dos seus cidadãos.
Durante a vigência do primeiro regime republicano os portugueses tiveram, pela primeira vez, consciência dos males que podem assolar a sua terra e da instabilidade que também por cá é possível.
Em vez de escondermos toda a porcaria debaixo de um belo tapete, a comissão comemorativa do centenário devia estudar o fenómeno e procurar expô-lo ao homem médio, para que se deixassem para trás todos os mitos que envergonham a nossa história. Ou será que o compadrio político permaneceu tão forte desde esses dias, que a Verdade não poderá nunca ver a derradeira luz?
Visa a comissão que prepara esta comemoração mostrar aos portugueses as conquistas sociais conseguidas nesses conturbados tempos.
Apesar de inglório, é de facto um esforço nobre, e do maior interesse histórico. O problema, a meu ver, centra-se na continuidade da propaganda enganosa que se mantém na abordagem deste assunto.
Havia membros dos vários partidos republicanos que eram, de facto, pessoas de enorme valor e iniciativa. A decadência do regime anterior e o caciquismo, bem como a crescente imobilidade social, proibiram essas pessoas de se inserirem no sistema e provarem o seu valor com os devidos méritos. No entanto, durante a república, o favoritismo, o caciquismo, a corrupção e sectarismo só aumentaram, tendo atingido um patamar de violência inédito na nossa história entre diferentes organizações rivais.
Todas as grandes medidas tomadas pela Primeira República deram-se no ano de 1911, e mesmo essas tiveram efeitos de curtíssima duração. A separação entre Estado e Igreja deu-se em situações de absoluto desprezo e autoritarismo do Estado sobre a Igreja. É até erróneo falar na Lei da Separação, como foi chamada na altura. A denominação mais correcta seria Lei da Submissão da Igreja ao Estado, que passou a controlar todos os edifícios de culto, bem como a leitura das pastorais nas missas. O “direito à greve”, como se costuma ler nos manuais de história da escola, não foi instituído ou criado nessa altura. Já existiam greves durante a Monarquia Constitucional, e não eram reprimidas brutalmente (pelo menos as pacíficas). O que se deu em 1911 foi a regulação da greve pela classe política, que o fez à revelia das associações sindicais, que não tiveram qualquer voto ou opinião na matéria.
Já no ano seguinte à promulgação do Decreto-Lei que regulava o direito à greve se deu a prisão, em Lisboa, de 800 grevistas. Durante essa greve geral, órgãos republicanos revolucionários, aqueles mesmos que hoje em dia o canal público de televisão retrata com pinta de heróis progressistas, arrebentaram carros eléctricos “à bomba”. Muitos desses membros da Formiga Branca e da Carbonária usaram os trabalhadores como instrumentos de protesto e instabilidade, e depois usavam da sua imunidade para com as tropas republicanas que vinham impor a ordem, visto que os carbonários sempre gozaram de particular temor e respeito por parte dos partidos republicanos.
O Partido Socialista, criado ainda antes do Partido Republicano, foi arbitrariamente condenado e fechado, devido às suspeitas de ter contactos com os activistas da Monarquia.
Na educação, os republicanos somaram falhanços atrás de falhanços. As faculdades criadas na altura funcionavam em condições impróprias, devido ao facto de terem sido criadas em pacotes. Só na IIº República, ou Estado Novo, se criaram infra-estruturas capazes do ensino desses cursos.
Em 1914 havia já mais de 2000 pessoas acusadas de crimes políticos.
A liberdade política em nada progrediu, regrediu. A censura à revista Orpheu, a diminuição do número de eleitores de 900 mil durante a Monarquia para 300 mil durante a república, bem como as persistentes ditaduras de executivo apoiadas pelos presidentes da república, tornaram a situação portuguesa tão melindrosa como ridícula. Em 26 anos de primeira república, o País consumiu-se.
Renasce o messianismo e o sebastianismo, mas numa vertente diferente da antiga. Dantes, os sebastianistas choravam a grandeza perdida. Agora, choram a decadência perpétua.
Como súmula ou epíteto da campanha desastrosa que foi para o País toda esta farsa da república de Outubro, restam dois fenómenos ocorridos em 1914 e 1921.
A entrada irresponsável na guerra tornou Portugal na nação mais miserável da Europa. A fome foi tanta em Lisboa que se deram motins. As tropas estavam tão mal armadas que perderam em todas as frentes, nas colónias africanas e na Europa. Não houve valentia lusa para a Iº República. Não numa guerra que não nos pertencia, e na qual não estávamos no lado único da justiça. O custo de vida atingiu os 200% e entre 1917-25 houve 200 greves.
Em 1921 o sintoma último da queda da República tem lugar no massacre cruel da “Noite Sangrenta”, a rusga mais cruel da nossa história e também a mais esquecida ou escondida dos portugueses. Foram fuzilados sumariamente todos os heróis do 5 de Outubro.
Uma revolução assim não merece uma comemoração. Merece uma séria meditação por parte deste país e dos seus cidadãos.
Durante a vigência do primeiro regime republicano os portugueses tiveram, pela primeira vez, consciência dos males que podem assolar a sua terra e da instabilidade que também por cá é possível.
Em vez de escondermos toda a porcaria debaixo de um belo tapete, a comissão comemorativa do centenário devia estudar o fenómeno e procurar expô-lo ao homem médio, para que se deixassem para trás todos os mitos que envergonham a nossa história. Ou será que o compadrio político permaneceu tão forte desde esses dias, que a Verdade não poderá nunca ver a derradeira luz?
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Uma Europa Livre?
Orhan Pamuk abandonou a Turquia, num suposto auto-exílio após duras reprimendas por parte de órgãos governamentais.
Anna Politovskaya foi assassinada, suspeita-se que a soldo do Governo Russo, tal como a jornalista que continuou o seu trabalho.
Roberto Saviano, autor do êxito “Gomorra” vive com uma escolta de cinco guarda-costas, e viaja num carro blindado. Não mantém a mesma residência muito tempo, e vive sob constante ameaça de morte da Máfia.
Em Portugal, suspeita-se que membros do SIS tenham pressionado magistrados e jornalistas para não divulgarem certas informações sobre os escândalos que recentemente têm vindo a afectar o governo.
Na Europa, na nossa livre e comunitária Europa, a qualidade dos governantes só rivaliza com uma coisa: a liberdade de escrever.
Anna Politovskaya foi assassinada, suspeita-se que a soldo do Governo Russo, tal como a jornalista que continuou o seu trabalho.
Roberto Saviano, autor do êxito “Gomorra” vive com uma escolta de cinco guarda-costas, e viaja num carro blindado. Não mantém a mesma residência muito tempo, e vive sob constante ameaça de morte da Máfia.
Em Portugal, suspeita-se que membros do SIS tenham pressionado magistrados e jornalistas para não divulgarem certas informações sobre os escândalos que recentemente têm vindo a afectar o governo.
Na Europa, na nossa livre e comunitária Europa, a qualidade dos governantes só rivaliza com uma coisa: a liberdade de escrever.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Glória ao Bravo Povo (III)
Tem cirandado na ilustre imagética dos nobres estudantes de Direito irrepreensíveis certezas referentes à legitimidade de El Comandante Hugo Chávez.
Principalmente certos sectores diametralmente opostos ao Café Odisseia (e Graças a Deus!) têm-se pronunciado pela indubitável legitimidade de exercício que ocorre do suposto resultado do referendo.
Apraz-nos aditar umas quantas elucubrações. Começamos por referir todos os aspectos que violam, no nosso sentido pouco estudado das legitimidades, o Estado de Direito e a recorrente legitimidade de um governante. Perdoem-nos as alminhas sensíveis, nós não temos salvação.
De facto, os milhares de DESAPARECIMENTOS; os ASSASSINATOS (a soldo) de jornalistas e estudantes; a propaganda intensiva (MESMO NO DIA DO REFERENDO E À BOCA DAS URNAS); as nacionalizações unilateralmente impostas; o encerramento compulsivo de uma estação televisiva oposicionista; o terrorismo económico internacional; os programas semanais de três horas do Líder Socialista; o aproveitamento da miséria através de subsídios; o desrespeito pelos princípios da separação de poderes e da integridade republicana da Constituição; a própria INCONSTITUCIONALIDADE da proposta de referendo, que pela constituição venezuelana só poderia ser feita em Dezembro de 2009; o total desrespeito pela imunidade diplomática (CORTESIA INTERNACIONAL); a inflação galopante causada pela condução da economia por um grupo centralizador de amadores irresponsáveis, caiem perante os ilustres argumentos borra-botas, que os afastam com hercúleo à-vontade.
Impulsionados por um certo nojo com todo este conformismo cinzentão e sensaborão que invade tão esclarecidas mentes do activismo político, e vendo todo este impulso ideológico cego a valores e a sentido tão desaproveitado, os presentes autores têm de, mais uma vez, divorciar-se (de acordo ainda com o casamento heterossexual) da opinião corrente leviana.
Reiteramos, portanto, a ideia de que Hugo Chávez tem tanta legitimidade no exercício das suas funções como Robert Mugabe, José Eduardo dos Santos, Mussulini, Adolf Hitler, Atila, Júlio César ou Fátima Felgueiras. E até nos permitimos a dizer mais, o sentido democrático de Hugo Chávez é tão enriquecedor como a inteligência de Duarte Cordeiro.
Até porque o apoio de um povo acicatado pelo chicote da miséria não é, E NUNCA FOI, sinónimo de legitimidade de exercício.
A legitimidade de exercício prende-se, sobretudo, no respeito dos princípios do Estado de Direito e não do conforto idiossincrático das maiorias opressivas, proletárias, camponesas e académicas. A legitimidade de exercício de Hugo Chávez estava perdida bem antes deste referendo, e é isso que devemos frisar.
Principalmente certos sectores diametralmente opostos ao Café Odisseia (e Graças a Deus!) têm-se pronunciado pela indubitável legitimidade de exercício que ocorre do suposto resultado do referendo.
Apraz-nos aditar umas quantas elucubrações. Começamos por referir todos os aspectos que violam, no nosso sentido pouco estudado das legitimidades, o Estado de Direito e a recorrente legitimidade de um governante. Perdoem-nos as alminhas sensíveis, nós não temos salvação.
De facto, os milhares de DESAPARECIMENTOS; os ASSASSINATOS (a soldo) de jornalistas e estudantes; a propaganda intensiva (MESMO NO DIA DO REFERENDO E À BOCA DAS URNAS); as nacionalizações unilateralmente impostas; o encerramento compulsivo de uma estação televisiva oposicionista; o terrorismo económico internacional; os programas semanais de três horas do Líder Socialista; o aproveitamento da miséria através de subsídios; o desrespeito pelos princípios da separação de poderes e da integridade republicana da Constituição; a própria INCONSTITUCIONALIDADE da proposta de referendo, que pela constituição venezuelana só poderia ser feita em Dezembro de 2009; o total desrespeito pela imunidade diplomática (CORTESIA INTERNACIONAL); a inflação galopante causada pela condução da economia por um grupo centralizador de amadores irresponsáveis, caiem perante os ilustres argumentos borra-botas, que os afastam com hercúleo à-vontade.
Impulsionados por um certo nojo com todo este conformismo cinzentão e sensaborão que invade tão esclarecidas mentes do activismo político, e vendo todo este impulso ideológico cego a valores e a sentido tão desaproveitado, os presentes autores têm de, mais uma vez, divorciar-se (de acordo ainda com o casamento heterossexual) da opinião corrente leviana.
Reiteramos, portanto, a ideia de que Hugo Chávez tem tanta legitimidade no exercício das suas funções como Robert Mugabe, José Eduardo dos Santos, Mussulini, Adolf Hitler, Atila, Júlio César ou Fátima Felgueiras. E até nos permitimos a dizer mais, o sentido democrático de Hugo Chávez é tão enriquecedor como a inteligência de Duarte Cordeiro.
Até porque o apoio de um povo acicatado pelo chicote da miséria não é, E NUNCA FOI, sinónimo de legitimidade de exercício.
A legitimidade de exercício prende-se, sobretudo, no respeito dos princípios do Estado de Direito e não do conforto idiossincrático das maiorias opressivas, proletárias, camponesas e académicas. A legitimidade de exercício de Hugo Chávez estava perdida bem antes deste referendo, e é isso que devemos frisar.
texto de autoria mútua de Manuel Rezende e Pedro Jacob
Glória ao Bravo Povo (II)
(publicado por Manuel e Jacob)
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existe legitimade de exercício na Venezuela
Glória ao Bravo Povo (I)
os bons partidários de Chávez explicam docemente aos estudantes Venezuelanos o valor da revolução socialista
(publicado por Manuel e Jacob)
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Só vejo o mar: É vermelho marxista
Eu, antes de escrever a vermelho socialista (pois se achar-se o "democraticamente eleito" é isso), exponho aquilo que a minha bebâda consciência ainda é capaz de digerir.
Do referendo ao plebiscito vai a distância que aqui, estudantes de direito, me recuso a falar. A primeira ideia que me perturba o sono é esta.
A segunda é o filho da puta ditador que caralho, até é eleito democraticamente, mas como ganhou o referendo vamos lá pedir à sininho argumentos verdes cor de nota.
Tão belo falar do Obama e do prodigioso e fecundo fenómeno da melhor democracia do mundo. É só a mesma que permitiu ao melhor presidente da sua história governar mais tempo do que o idóneo aconselha. Mas então o chavez já não é ditador. Momon não te rias que já te apanho. Já por isso os americanos espertos impuseram limites. Tumba, safa te agora. O problema é que tens razão, mas do que pode ser não se retira o é ou o será. Vejam bem, num exercício meramente abstracto poder ser eleito irrestritivamente não implica a viciação do sistema político ou eleitoral. Nós podemos presumi-lo? Podemos supo-lo, mesmo teme-lo? Pois é claro que sim. Mas dele não retiramos a certeza.
Aliás, por alguma razão eu gramo o mesmo tipo na minha terra há-de fazer 16 anos, o mesmo jardim tem não sei quanto tempo e tantas mais casos. É óbvio que nao se compara a influência do autarca ao do chefe de estado, mas se de democracia perfeita falamos e queremos então suportemos o argumento.
Se foi o chavez eleito democraticamente nem há discussão que se faça, se tem (fale-se que o homem nem nas aulas se calava) legitimidade nem se discuta, se tem ambos sem suspeição o mesmo se aplica. Não discuto a legitimidade de exercício neste caso, como já o justifiquei há longos meses, porque a democracia funciona e é pelo sufrágio que é apurada. É óbvio que podemos contrapor as duas legitimidades, a de exercício e a de título, mas quando os mecanismos permitem a fiscalização, avaliação e a posterior decisão da primeira é infértil abordá-la, para além de obsoleta. Noutro domínio podemos fazê-lo; com Hitler, por exemplo. Mas o desgraçado impôs um clima de terror e medo, morte e genocídio com perpetuação fascista, totalitária, autoritária e ditatorial no poder, que nem a análise pode ser feita. Já com os outros dois, o caso é diferente: o início, o meio e o fim são diferentes. Basta que se saiba como chegaram ao poder, como o mantêm e o dominam para se entender que o caso muda de figura e, por conseguinte, de análise.
A verdade é esta, que o chavez faz merda faz, que não fazem sentido as profecias e ideias que tem não fazem, que é arrogante é; mas não é ditador ou algo que se pareça enquanto o sufrágio, insuspeito e isento, andar com ele. Caramba, digam-me onde leram sobre suspeitas de fraudes com a acuidade e clarividência necessárias que possamos falar disso? Uma diferença para o Eduardo dos santos, por acaso. Nem o eurodeputado, no justificado rol de críticas auspiciosas inclui esta ideia (Lembrei-me que um jornalista foi também expulso do Brasil por dizer que o Lula era um bebum). De nada serve apelar e justificar quando nos convém e profetizar os males quando discordamos se do mesmo vem a base.
Em três notas concluo a minha opinião:
- não é o chavez nenhum presidente dos pobres ou do povo. No mesmo momento em que ia escrevendo ocorreram-me umas palavras de Nietzsche: "O Estado é o nome do mais frio de todos os monstros gelados. Aliás, ele mente duma maneira fria e a mentira que sai da sua boca é esta: Eu, o Estado, sou o Povo."
-é eleito de forma democrática, pelo que nem se questione a sua legitimidade, nem se o compare a outros homens, nem se fale num ditador.
-a questão das divisas, dos jornais, da tv, rádio nao permitem falar num ditador. Num projecto muito auspicioso disso, pois claro, mas não em ditador.
Não restem, portanto, dúvidas quanto à legalidade e legitimidade do homem e do processo referendário, sem deixar de se ter a mesma garantia de que a decisão é errada e não se identifica com a ideia de democracia que pretendemos e se pretende.
Concentrem-se agora esforços no controlo da sua política, impedindo o caminho para a tirania, empenhando-nos num exemplar controlo internacional nas eleições próximas.
Abraço.
Do referendo ao plebiscito vai a distância que aqui, estudantes de direito, me recuso a falar. A primeira ideia que me perturba o sono é esta.
A segunda é o filho da puta ditador que caralho, até é eleito democraticamente, mas como ganhou o referendo vamos lá pedir à sininho argumentos verdes cor de nota.
Tão belo falar do Obama e do prodigioso e fecundo fenómeno da melhor democracia do mundo. É só a mesma que permitiu ao melhor presidente da sua história governar mais tempo do que o idóneo aconselha. Mas então o chavez já não é ditador. Momon não te rias que já te apanho. Já por isso os americanos espertos impuseram limites. Tumba, safa te agora. O problema é que tens razão, mas do que pode ser não se retira o é ou o será. Vejam bem, num exercício meramente abstracto poder ser eleito irrestritivamente não implica a viciação do sistema político ou eleitoral. Nós podemos presumi-lo? Podemos supo-lo, mesmo teme-lo? Pois é claro que sim. Mas dele não retiramos a certeza.
Aliás, por alguma razão eu gramo o mesmo tipo na minha terra há-de fazer 16 anos, o mesmo jardim tem não sei quanto tempo e tantas mais casos. É óbvio que nao se compara a influência do autarca ao do chefe de estado, mas se de democracia perfeita falamos e queremos então suportemos o argumento.
Se foi o chavez eleito democraticamente nem há discussão que se faça, se tem (fale-se que o homem nem nas aulas se calava) legitimidade nem se discuta, se tem ambos sem suspeição o mesmo se aplica. Não discuto a legitimidade de exercício neste caso, como já o justifiquei há longos meses, porque a democracia funciona e é pelo sufrágio que é apurada. É óbvio que podemos contrapor as duas legitimidades, a de exercício e a de título, mas quando os mecanismos permitem a fiscalização, avaliação e a posterior decisão da primeira é infértil abordá-la, para além de obsoleta. Noutro domínio podemos fazê-lo; com Hitler, por exemplo. Mas o desgraçado impôs um clima de terror e medo, morte e genocídio com perpetuação fascista, totalitária, autoritária e ditatorial no poder, que nem a análise pode ser feita. Já com os outros dois, o caso é diferente: o início, o meio e o fim são diferentes. Basta que se saiba como chegaram ao poder, como o mantêm e o dominam para se entender que o caso muda de figura e, por conseguinte, de análise.
A verdade é esta, que o chavez faz merda faz, que não fazem sentido as profecias e ideias que tem não fazem, que é arrogante é; mas não é ditador ou algo que se pareça enquanto o sufrágio, insuspeito e isento, andar com ele. Caramba, digam-me onde leram sobre suspeitas de fraudes com a acuidade e clarividência necessárias que possamos falar disso? Uma diferença para o Eduardo dos santos, por acaso. Nem o eurodeputado, no justificado rol de críticas auspiciosas inclui esta ideia (Lembrei-me que um jornalista foi também expulso do Brasil por dizer que o Lula era um bebum). De nada serve apelar e justificar quando nos convém e profetizar os males quando discordamos se do mesmo vem a base.
Em três notas concluo a minha opinião:
- não é o chavez nenhum presidente dos pobres ou do povo. No mesmo momento em que ia escrevendo ocorreram-me umas palavras de Nietzsche: "O Estado é o nome do mais frio de todos os monstros gelados. Aliás, ele mente duma maneira fria e a mentira que sai da sua boca é esta: Eu, o Estado, sou o Povo."
-é eleito de forma democrática, pelo que nem se questione a sua legitimidade, nem se o compare a outros homens, nem se fale num ditador.
-a questão das divisas, dos jornais, da tv, rádio nao permitem falar num ditador. Num projecto muito auspicioso disso, pois claro, mas não em ditador.
Não restem, portanto, dúvidas quanto à legalidade e legitimidade do homem e do processo referendário, sem deixar de se ter a mesma garantia de que a decisão é errada e não se identifica com a ideia de democracia que pretendemos e se pretende.
Concentrem-se agora esforços no controlo da sua política, impedindo o caminho para a tirania, empenhando-nos num exemplar controlo internacional nas eleições próximas.
Abraço.
Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura
Hoje escrevo sobre António Lobo Antunes, o melhor escritor português da actualidade. Ler uma obra sua, qualquer que seja, é observar a criação de um objecto inovador e inimitável. A técnica narrativa de Lobo Antunes põe em sentido qualquer grande nome da literatura mundial. Diga-se que a sua escrita dispõe de uma complexidade tremenda, descrições entrecortadas por diálogos, por vezes difíceis de identificar, entre o uso extremado de metáforas e comparações. Lê-lo requer um envolvimento emocional a que muitas vezes os leitores não estão habituados, requer entrega, aliás, uma fracção do que o autor nos dá, justa troca.
Lobo Antunes é, neste momento, o autor que mais merece o Nobel da Literatura; é, se ainda existe justiça na atribuição de tal prémio, quem para tal mais escreve. Não questiono o mérito de Saramago, de facto, o prémio foi-lhe correctamente atribuído, nem tentarei justificar a superioridade literária de Lobo Antunes – deixo isso para quem gosta de se aborrecer.
As suas obras olham o quotidiano, temas banais que mais não desejam ser, versam vivências do autor (principalmente a guerra colonial e as memórias da sua profissão)ect. Não é isto que o destaca mas sim o seu entendimento perfeito dos sentimentos com que pontua as personagens, entidades quase corpóreas, é a crueza do discurso em passagens que se desejavam suavizadas. Mas Lobo Antunes não quer ser suave, diz o que deseja da forma como habitualmente é sentido, homem de aguçado entendimento e engenho. Nas suas palavras: “porque aquilo que escrevo pode ler-se no escuro”.
Deixo um excerto da sua obra Cus de Judas:
“Escute. Olhe para mim e escute, preciso tanto que me escute, me escute com a mesma atenção ansiosa com que nós ouvíamos os apelos do rádio da coluna debaixo de fogo, a voz do cabo de transmissões que chamava, que pedia, voz perdida de náufrago esquecendo-se da segurança do código, o capitão a subir à pressa para a Mercedes com meia dúzia de voluntários e a sair o arame a derrapar na areia ao encontro da emboscada, escute-me tal como eu me debrucei para o hálito do nosso primeiro morto na desesperada esperança de que respirasse ainda, o morto que embrulhei num cobertor e coloquei no meu quarto, era a seguir ao almoço e um torpor esquisito bambeava-me as pernas, fechei a porta e declarei Dorme bem a sesta, cá fora os soldados olhavam para mim sem dizer nada, Desta vez não há milagre meus chuchus, pensei eu, fitando-os, Está a dormir a sesta, expliquei-lhes, está a dormir a sesta e não quero que o acordem porque ele não quer acordar, e depois fui tratar dos feridos que se torciam nos panos de tenda, nunca os eucaliptos de Ninda se me afiguraram tão grandes como nessa tarde, grandes, negros, altos, verticais, assustadores, o enfermeiro que me ajudava repetia Caralho caralho caralho com pronúncia do Norte, viemos de todos os pontos do nosso país amordaçado para morrer em Ninda, do nosso triste país de terra e mar para morrer em Ninda, Caralho caralho caralho repetia eu com o enfermeiro com o meu sotaque educado de Lisboa, o capitão apeou-se na Mercedes num cansaço infinito, segurava a arma à laia de uma cana de pesca inútil, o povo da sanzala espreitava receoso lá de baixo, escute-me como eu escutava o rápido latir aflito do meu sangue nas têmporas, o meu sangue intacto nas têmporas, pelos buracos da varanda via o capitão a passear de um lado para o outro apertando o viático de um copo de uísque contra o peito, falando sozinho, cada um conversava sozinho porque ninguém conseguia conversar com ninguém, o meu sangue no copo do capitão, tomai e bebei ó União Nacional, o corpo do morto crescia no quarto até rebentar as paredes, alastrar pela areia, alcançar a mata em busca do eco do tiro que o tocou, o helicóptero transportou-o para Gago Coutinho como quem varre lixo vergonhoso para debaixo de um tapete, morre-se mais nas estradas de Portugal do que na guerra de África, baixas insignificantes e adeus até ao meu regresso, o furriel arrumou os instrumentos cirúrgicos na caixa cromada, os canivetes, as pinças, os porta-agulhas, as sondas, sentou-se ao meu lado nos degraus do posto de socorro, espécie de vivenda pequenina para férias dos reformados melancólicos mordomos idosos, governantas virgens, os eucaliptos de Ninda não cessavam de aumentar, estamos os dois aqui sentados como eu e ele nesses tempo, Abril de 71, a dez mil quilómetros da minha cidade, da minha mulher grávida, dos meus irmãos de olhos azuis cujas cartas afectuosas se me enrolavam nas tripas em espirais de ternura, Foda-se, disse o furriel que limpava as botas com os dedos, Pois é, disse eu, e acho que até agora nunca tive um diálogo tão comprido com quem quer que fosse.”
Lobo Antunes é, neste momento, o autor que mais merece o Nobel da Literatura; é, se ainda existe justiça na atribuição de tal prémio, quem para tal mais escreve. Não questiono o mérito de Saramago, de facto, o prémio foi-lhe correctamente atribuído, nem tentarei justificar a superioridade literária de Lobo Antunes – deixo isso para quem gosta de se aborrecer.
As suas obras olham o quotidiano, temas banais que mais não desejam ser, versam vivências do autor (principalmente a guerra colonial e as memórias da sua profissão)ect. Não é isto que o destaca mas sim o seu entendimento perfeito dos sentimentos com que pontua as personagens, entidades quase corpóreas, é a crueza do discurso em passagens que se desejavam suavizadas. Mas Lobo Antunes não quer ser suave, diz o que deseja da forma como habitualmente é sentido, homem de aguçado entendimento e engenho. Nas suas palavras: “porque aquilo que escrevo pode ler-se no escuro”.
Deixo um excerto da sua obra Cus de Judas:
“Escute. Olhe para mim e escute, preciso tanto que me escute, me escute com a mesma atenção ansiosa com que nós ouvíamos os apelos do rádio da coluna debaixo de fogo, a voz do cabo de transmissões que chamava, que pedia, voz perdida de náufrago esquecendo-se da segurança do código, o capitão a subir à pressa para a Mercedes com meia dúzia de voluntários e a sair o arame a derrapar na areia ao encontro da emboscada, escute-me tal como eu me debrucei para o hálito do nosso primeiro morto na desesperada esperança de que respirasse ainda, o morto que embrulhei num cobertor e coloquei no meu quarto, era a seguir ao almoço e um torpor esquisito bambeava-me as pernas, fechei a porta e declarei Dorme bem a sesta, cá fora os soldados olhavam para mim sem dizer nada, Desta vez não há milagre meus chuchus, pensei eu, fitando-os, Está a dormir a sesta, expliquei-lhes, está a dormir a sesta e não quero que o acordem porque ele não quer acordar, e depois fui tratar dos feridos que se torciam nos panos de tenda, nunca os eucaliptos de Ninda se me afiguraram tão grandes como nessa tarde, grandes, negros, altos, verticais, assustadores, o enfermeiro que me ajudava repetia Caralho caralho caralho com pronúncia do Norte, viemos de todos os pontos do nosso país amordaçado para morrer em Ninda, do nosso triste país de terra e mar para morrer em Ninda, Caralho caralho caralho repetia eu com o enfermeiro com o meu sotaque educado de Lisboa, o capitão apeou-se na Mercedes num cansaço infinito, segurava a arma à laia de uma cana de pesca inútil, o povo da sanzala espreitava receoso lá de baixo, escute-me como eu escutava o rápido latir aflito do meu sangue nas têmporas, o meu sangue intacto nas têmporas, pelos buracos da varanda via o capitão a passear de um lado para o outro apertando o viático de um copo de uísque contra o peito, falando sozinho, cada um conversava sozinho porque ninguém conseguia conversar com ninguém, o meu sangue no copo do capitão, tomai e bebei ó União Nacional, o corpo do morto crescia no quarto até rebentar as paredes, alastrar pela areia, alcançar a mata em busca do eco do tiro que o tocou, o helicóptero transportou-o para Gago Coutinho como quem varre lixo vergonhoso para debaixo de um tapete, morre-se mais nas estradas de Portugal do que na guerra de África, baixas insignificantes e adeus até ao meu regresso, o furriel arrumou os instrumentos cirúrgicos na caixa cromada, os canivetes, as pinças, os porta-agulhas, as sondas, sentou-se ao meu lado nos degraus do posto de socorro, espécie de vivenda pequenina para férias dos reformados melancólicos mordomos idosos, governantas virgens, os eucaliptos de Ninda não cessavam de aumentar, estamos os dois aqui sentados como eu e ele nesses tempo, Abril de 71, a dez mil quilómetros da minha cidade, da minha mulher grávida, dos meus irmãos de olhos azuis cujas cartas afectuosas se me enrolavam nas tripas em espirais de ternura, Foda-se, disse o furriel que limpava as botas com os dedos, Pois é, disse eu, e acho que até agora nunca tive um diálogo tão comprido com quem quer que fosse.”
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da chegada ao Paraíso
Relato da viagem de Pero Vaz de Caminha a Vera Cruz, na armada de Pedro Álvares Cabral
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra –
a Terra da Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças; e ao sol posto, obra de seis léguas da terra, surgimos âncoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali permanecemos toda aquela noite. E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas pouco mais ou menos.
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
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a viagem
as anedotas de um aluno de Direito
"No segundo ano, aprendemos a repetir anedotas. De tanto as ouvir, quando damos por ela já repetimos aquelas com que nos tem enchido os ouvidos. Olhamos um pouco de soslaio, ou de inveja, para aqueles que as não conseguem repetir, por cursarem outras áreas. É que se não conseguem repetir as nossas anedotas, pelo menos tem outras...menos depuradas, mais práticas. Se bem que não consigam alcançar a subtileza do nosso refinado, ou cáustico, ou mesmo desafortunado, humor."
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Pelo Menos Foi Eleito Democraticamente... (IV)
Esta série de imagens serve para deitar por terra a famosa falácia da legitimidade de título, tantas vezes utilizada por prestidigitadores da retórica. Foi eleito democraticamente… Muito bem, contudo, a legitimidade de título não substitui a legitimidade de exercício. De que serve aditarmos que indivíduos como o Hugo Chávez foram democraticamente eleitos? De nada serve, é hipocrisia encapotada, tão socialmente correcta.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Surto Viral
Após fechar a fronteira com a República Democrática do Congo, devido à epidemia de ébola (provavelmente o vírus mais grave conhecido), Angola vê-se a braços com um aumento significativo dos casos de raiva na capital. Até à data sessenta e nove crianças pereceram, em Luanda, após contrairem o vírus. As autoridades sanitárias já iniciaram um programa de combate à enfermidade: campanhas informativas junto das escolas e abate de animais (oitocentos abates). Os animais vadios que deambulam pelas ruas de Luanda são o principal foco de contágio do vírus. Quanto aos cães, gatos e macacos, o abate é relativamente simples. Contudo, o mesmo não se verifica com ratos e morcegos.
Refira-se que os sessenta e nove casos detectados são uma aproximação grosseira do real problema. Aliás, para além da questionável transparência dos dados fornecidos, Luanda tenta desconsiderar a situação, como refere Fátima Valente (membro da comissão de combate à raiva): “Anualmente, desde 2001, vinham ocorrendo entre vinte e trinta casos. Em 2006 tivemos oitenta e um casos.”
Refira-se que os sessenta e nove casos detectados são uma aproximação grosseira do real problema. Aliás, para além da questionável transparência dos dados fornecidos, Luanda tenta desconsiderar a situação, como refere Fátima Valente (membro da comissão de combate à raiva): “Anualmente, desde 2001, vinham ocorrendo entre vinte e trinta casos. Em 2006 tivemos oitenta e um casos.”
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
They Like It Big
Big Government is back in town, e já se fala em terras lusitanas de neo-keynesianismo.
A escola de Keynes é a escola intervencionista por excelência no mundo das economias de mercado e das democracias liberais, e os seus ensinamentos têm-se espalhado um pouco por todo o globo, agora com redobrada intensidade.
Os keynesianistas (Br.), ou keynesianos (Pt.), advogam a inflexibilidade de preços e salários como única forma de atingir o pleno emprego, e defendem a intervenção do Estado na criação de subsídios e apoios a empresas e consumidores, e estímulos do mercado como obras públicas. A grande bandeira da política de Keynes no que toca às despesas públicas é o efeito multiplicador. Resumidamente, o efeito multiplicador consiste no aumento do múltiplo do rendimento através do aumento do investimento. Isto acontece porque o aumento do investimento aumenta a procura de bens de consumo.
Estas teorias reaparecem na esquerda democrática como factores de cura da actual crise económica, mas surgem demasiado desligadas da lógica de Keynes e da sua ideia de política económica. Ao mesmo tempo que o efeito multiplicador tem efeitos positivos, pode também vir a ter efeitos negativos. De facto, a teoria até funcionava se as economias nacionais não estivessem implicadas num contexto internacional. Isso quer dizer que os rendimentos provindos do acréscimo de consumo podem ser usados na compra de bens ao estrangeiro, anulando os efeitos do “efeito multiplicador”.
Keynes, no entanto, estava muito ciente das falhas na sua teoria, e procurou colmatar essas falhas usando os regimes políticos da sua época.
Exigia e exige o keynesianismo uma dose larga de proteccionismo económico e medidas de pleno emprego, como nacionalizações e criação de indústrias nacionais. O keynesianismo, em meados dos anos 30, parecia adaptar-se perfeitamente aos regimes nacional-socialistas e fascistas. Estas economias emergentes da Grande Depressão ultrapassavam em resultados as economias dos países democráticos cultores da iniciativa privada. Tanto foi assim que Keynes fez questão de que os seus trabalhos fossem primeiro publicados em alemão, na Alemanha nazi, considerada por ele o palco onde as suas teorias teriam melhor resultado.
Muitos outros países adoptaram medidas estatais, aumentando o comércio interno através de medidas coloniais e impondo restrições aos bens importados, fossem das colónias ou de outras metrópoles. É o caso de Portugal e Reino Unido.
É possível que o keynesianismo das décadas de 30, 40, 50, 60 e 70 tenha recuado a autonomia das antigas colónias das potências europeias em várias décadas, e que posteriormente ainda tenha causado a dependência destas em relação ao estrangeiro.
As medidas de protecção à agricultura preconizadas pela UE foram talvez as maiores culpadas pelas graves crises económicas dos países africanos. Produtores de matérias-primas, estes estados viram os mercados “inchar” com produtos europeus produzidos a uma escala imbatível. A concorrência, protegida e subsidiada por um sistema de quotas e investimentos, aumentou os bolsos dos agricultores da União, mas com terríveis custos.
Os cânticos laudatórios dos Partidos Socialistas e Social-Democratas aos 30 Anos Gloriosos são a prova de como este egoísmo europeu se mantém, e se quer repetir. Durante as décadas em que a Europa se fechou em si, anafada pelo Plano Marshall e pelo consumismo incentivado, o resto do mundo morria à fome, procurando incansavelmente um lugar nos mercados ocidentais ou caindo em políticas socialistas.
A oposição liberal, se a há, só pode argumentar com os 15 Anos Livres, os anos iniciados por políticos como Reagan ou Thatcher, que por muito que se discorde das suas políticas conservadoras, criaram a abertura económica que permitiu às praças asiáticas progredir e alcançar um nível social e económico capaz de competir com os europeus e americanos. Esses 15 anos livres, cujo auge foram os anos 80, que viram uma América Latina a levantar-se do chão e a largar a caridade ocidental. Só na época do “neo-liberalismo” as economias africanas puderam compensar a desfeita dos europeus e dos americanos.
A volta ao Big Government era de esperar. Há vários anos que os europeus se queixam da competitividade da Ásia, da África, numa espécie de bairrismo continental. Agora, mais uma vez, a culturalmente superior Europa tem a hipótese e a desculpa para se fechar, e ganhar o suficiente para atirar alguns ossos ao “Terceiro Mundo”, como tão carinhosamente gosta de fazer. A miséria de uns, de facto, alimenta os outros.
A escola de Keynes é a escola intervencionista por excelência no mundo das economias de mercado e das democracias liberais, e os seus ensinamentos têm-se espalhado um pouco por todo o globo, agora com redobrada intensidade.
Os keynesianistas (Br.), ou keynesianos (Pt.), advogam a inflexibilidade de preços e salários como única forma de atingir o pleno emprego, e defendem a intervenção do Estado na criação de subsídios e apoios a empresas e consumidores, e estímulos do mercado como obras públicas. A grande bandeira da política de Keynes no que toca às despesas públicas é o efeito multiplicador. Resumidamente, o efeito multiplicador consiste no aumento do múltiplo do rendimento através do aumento do investimento. Isto acontece porque o aumento do investimento aumenta a procura de bens de consumo.
Estas teorias reaparecem na esquerda democrática como factores de cura da actual crise económica, mas surgem demasiado desligadas da lógica de Keynes e da sua ideia de política económica. Ao mesmo tempo que o efeito multiplicador tem efeitos positivos, pode também vir a ter efeitos negativos. De facto, a teoria até funcionava se as economias nacionais não estivessem implicadas num contexto internacional. Isso quer dizer que os rendimentos provindos do acréscimo de consumo podem ser usados na compra de bens ao estrangeiro, anulando os efeitos do “efeito multiplicador”.
Keynes, no entanto, estava muito ciente das falhas na sua teoria, e procurou colmatar essas falhas usando os regimes políticos da sua época.
Exigia e exige o keynesianismo uma dose larga de proteccionismo económico e medidas de pleno emprego, como nacionalizações e criação de indústrias nacionais. O keynesianismo, em meados dos anos 30, parecia adaptar-se perfeitamente aos regimes nacional-socialistas e fascistas. Estas economias emergentes da Grande Depressão ultrapassavam em resultados as economias dos países democráticos cultores da iniciativa privada. Tanto foi assim que Keynes fez questão de que os seus trabalhos fossem primeiro publicados em alemão, na Alemanha nazi, considerada por ele o palco onde as suas teorias teriam melhor resultado.
Muitos outros países adoptaram medidas estatais, aumentando o comércio interno através de medidas coloniais e impondo restrições aos bens importados, fossem das colónias ou de outras metrópoles. É o caso de Portugal e Reino Unido.
É possível que o keynesianismo das décadas de 30, 40, 50, 60 e 70 tenha recuado a autonomia das antigas colónias das potências europeias em várias décadas, e que posteriormente ainda tenha causado a dependência destas em relação ao estrangeiro.
As medidas de protecção à agricultura preconizadas pela UE foram talvez as maiores culpadas pelas graves crises económicas dos países africanos. Produtores de matérias-primas, estes estados viram os mercados “inchar” com produtos europeus produzidos a uma escala imbatível. A concorrência, protegida e subsidiada por um sistema de quotas e investimentos, aumentou os bolsos dos agricultores da União, mas com terríveis custos.
Os cânticos laudatórios dos Partidos Socialistas e Social-Democratas aos 30 Anos Gloriosos são a prova de como este egoísmo europeu se mantém, e se quer repetir. Durante as décadas em que a Europa se fechou em si, anafada pelo Plano Marshall e pelo consumismo incentivado, o resto do mundo morria à fome, procurando incansavelmente um lugar nos mercados ocidentais ou caindo em políticas socialistas.
A oposição liberal, se a há, só pode argumentar com os 15 Anos Livres, os anos iniciados por políticos como Reagan ou Thatcher, que por muito que se discorde das suas políticas conservadoras, criaram a abertura económica que permitiu às praças asiáticas progredir e alcançar um nível social e económico capaz de competir com os europeus e americanos. Esses 15 anos livres, cujo auge foram os anos 80, que viram uma América Latina a levantar-se do chão e a largar a caridade ocidental. Só na época do “neo-liberalismo” as economias africanas puderam compensar a desfeita dos europeus e dos americanos.
A volta ao Big Government era de esperar. Há vários anos que os europeus se queixam da competitividade da Ásia, da África, numa espécie de bairrismo continental. Agora, mais uma vez, a culturalmente superior Europa tem a hipótese e a desculpa para se fechar, e ganhar o suficiente para atirar alguns ossos ao “Terceiro Mundo”, como tão carinhosamente gosta de fazer. A miséria de uns, de facto, alimenta os outros.
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Prémios Odisseia - Categoria Blogos
A tão esperada cerimónia bloguística tem agora lugar, no Café Odisseia, para recompensar os incansáveis bloggers, ou blogueiros, que se esforçaram árduamente no período de tempo em que a apreciação destes prémios é feita, de 16 de Fevereiro de 2008, a 16 de Fevereiro de 2009.
Esta minha ideia, apesar de recente, tem como principal objectivo a promoção dos blogos da FDUP.
PS: Como já podem reparar, aqui diz-se blogo (a mais correcta aportuguesação da palavra) e não blogue.
Passamos então aos prémios Café Odisseia, retirados da minha lista pessoal. Poderão haver outras listas de outros autores, mas pelo menos peço-lhes para variarem no nome dos prémios. Aí vai:
Categoria Blogos da FDUP
Prémio "Gostava de escrever as coisas que tu escreves, mas às vezes dá-me sono" : Povoado
Prémio "Escreves tão bem, quando não falas de política e sociedade" : Bocas pó Barulho
Prémio "Se gostasse do mesmo tipo de música que tu gostas, lia isto mais vezes" : Street Scriptures
Prémio "Gosto deste blogue, mas às vezes é lamechas" : Rua dos Bragas
Prémio "Almost unique, almost 'nobody likes the Spanish Inquisition' stuff" : Tangerina
Categoria Individuais:
Melhor Post: Em cada pessoa reside um direito da humanidade* , Daniela Ramalho
Blogueiro mais sexy: eu
---------------------------------------------------------
Blogueiros must read:
Ary
Tiago Ramalho
Daniela Ramalho
Francisco
Jacob
Guilherme Silva
Estudante de Direito
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prémios fdup
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Em Todo o Caso...
A minh’Alma fugiu pela Torre Eiffel acima,
- A verdade é esta, não nos criemos mais ilusões –
Fugiu, mas foi apanhada pela antena da T.S.F.
Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertzianas…
(Em todo o caso que belo fim para a minha Alma!...)
Mário de Sá-carneiro
- A verdade é esta, não nos criemos mais ilusões –
Fugiu, mas foi apanhada pela antena da T.S.F.
Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertzianas…
(Em todo o caso que belo fim para a minha Alma!...)
Mário de Sá-carneiro
Paris, Agosto 1915
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sábado, 14 de fevereiro de 2009
A Tolerância que Nos Tolhe
Apreciemos os rectos moralistas, senhores da inominável verdade, detentores da égide que, sentados no seu trono, se encolerizam contra qualquer manifestação religiosa. É moeda corrente o riso escarninho com que alguns opinion makers europeus recebem qualquer declaração da Santa Sé: seja uma encíclica papal, sermão domingueiro, declaração de bispo ou cardeal. Tudo o que a Igreja diz é falso e só merece o nosso mais profundo repúdio! Aliás, o papa é um velhinho senil e nós, cultores da perfeição circular, não lhe perdoamos ter enfileirado na juventude hitleriana (mesmo que na altura não passasse de um miúdo sem opção de escolha)!
O mais interessante é que, para o Vaticano não ser alvo da crítica destes seres etéreos, teria de mergulhar em azoto líquido. Senão vejamos: se durante muito tempo acusavam a Igreja de não acompanhar a evolução dos padrões culturais, agora, que finalmente se voltou para as novas tecnologias (Internet, televisão, etc), agora que participa activamente em debates transversais a toda a sociedade, que reflecte sobre os últimos avanços da ciência; agora que faz tudo isto, os nobres moralistas apontam-lhe o dedo e apelidam-na de leviana.
Mais grave ainda é a deturpação que as declarações dos representantes clericais sofrem: exemplos históricos são interpretados como manifestos anti-islâmicos; metáforas são levadas a peito pela imprensa, que sente a sua dignidade decepada por entre muita birra e choro, como crimes de lesa pátria.
O nosso mundinho é tão airoso na sua perfeição formal que silenciar a Igreja se tornou estandarte de algumas esquerdas mais inconsequentes. A Santa Sé não tem só o direito de questionar e discutir assuntos políticos, tem também esse dever. Então, uma instituição com tanto poder educacional e formativo, deveria permanecer calada? Para muito boa gente sim, deveria voltar-se para o terço e ministrar uns quantos pais-nossos em jeito de expiação dos pecados e deixar a política para os indivíduos capacitados. Não interessa que os senhores bispos que vemos palestrar tenham dedicado toda a vida ao estudo minucioso não só da teologia, mas também da filosofia, sociologia, POLÍTICA, diplomacia, direito etc. Não, nada disto interessa, eles são incapazes e ponto final!
Outra questão, tantas vezes invocada, é a mancha escarlate do sangue de milhões de inocentes ceifados pela Igreja. Sem dúvida que houve derrame de sangue, sem dúvida que morreram inocentes. Todavia, da mesma maleita se encontra ferido o socialismo, o liberalismo, o nosso país, qualquer país. Os alicerces da humanidade são incrivelmente sangrentos. Contudo, pouca gente refere, por exemplo, a sua luta pelo fim da escravatura e o contributo inestimável na defesa da dignidade humana.
Assim sendo, após o que escrevi, não me abstenho de tecer duras críticas. Considero grotesco o perdão do Vaticano ao bispo norte-americano (Richard Williamson) que nega incessantemente o holocausto nazi. Não se pode passar uma borracha por cima de discursos anti-semitas (vocábulo no sentido estrito, uma vez que são vários os povos semitas), discursos que só encorajam o ódio perante os judeus, novamente em franca expansão. Assim como me parece incomportável a sua posição no combate ao vírus da SIDA (a infeliz e insustentável oposição ao uso do preservativo).
Perante o exposto, fica o desejo de uma convivência saudável entre as várias forças sociais, que deveriam colaborar entre si, não entrando em desatinos despóticos e não açambarcando a verdade.
O mais interessante é que, para o Vaticano não ser alvo da crítica destes seres etéreos, teria de mergulhar em azoto líquido. Senão vejamos: se durante muito tempo acusavam a Igreja de não acompanhar a evolução dos padrões culturais, agora, que finalmente se voltou para as novas tecnologias (Internet, televisão, etc), agora que participa activamente em debates transversais a toda a sociedade, que reflecte sobre os últimos avanços da ciência; agora que faz tudo isto, os nobres moralistas apontam-lhe o dedo e apelidam-na de leviana.
Mais grave ainda é a deturpação que as declarações dos representantes clericais sofrem: exemplos históricos são interpretados como manifestos anti-islâmicos; metáforas são levadas a peito pela imprensa, que sente a sua dignidade decepada por entre muita birra e choro, como crimes de lesa pátria.
O nosso mundinho é tão airoso na sua perfeição formal que silenciar a Igreja se tornou estandarte de algumas esquerdas mais inconsequentes. A Santa Sé não tem só o direito de questionar e discutir assuntos políticos, tem também esse dever. Então, uma instituição com tanto poder educacional e formativo, deveria permanecer calada? Para muito boa gente sim, deveria voltar-se para o terço e ministrar uns quantos pais-nossos em jeito de expiação dos pecados e deixar a política para os indivíduos capacitados. Não interessa que os senhores bispos que vemos palestrar tenham dedicado toda a vida ao estudo minucioso não só da teologia, mas também da filosofia, sociologia, POLÍTICA, diplomacia, direito etc. Não, nada disto interessa, eles são incapazes e ponto final!
Outra questão, tantas vezes invocada, é a mancha escarlate do sangue de milhões de inocentes ceifados pela Igreja. Sem dúvida que houve derrame de sangue, sem dúvida que morreram inocentes. Todavia, da mesma maleita se encontra ferido o socialismo, o liberalismo, o nosso país, qualquer país. Os alicerces da humanidade são incrivelmente sangrentos. Contudo, pouca gente refere, por exemplo, a sua luta pelo fim da escravatura e o contributo inestimável na defesa da dignidade humana.
Assim sendo, após o que escrevi, não me abstenho de tecer duras críticas. Considero grotesco o perdão do Vaticano ao bispo norte-americano (Richard Williamson) que nega incessantemente o holocausto nazi. Não se pode passar uma borracha por cima de discursos anti-semitas (vocábulo no sentido estrito, uma vez que são vários os povos semitas), discursos que só encorajam o ódio perante os judeus, novamente em franca expansão. Assim como me parece incomportável a sua posição no combate ao vírus da SIDA (a infeliz e insustentável oposição ao uso do preservativo).
Perante o exposto, fica o desejo de uma convivência saudável entre as várias forças sociais, que deveriam colaborar entre si, não entrando em desatinos despóticos e não açambarcando a verdade.
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Darwin e a Madeira
A 4 de Janeiro de 1832, o HMS Beagle, na sua viagem histórica, aporta na Madeira. Durante a sua viagem, o navio que transportou o futuro famoso naturalista e criador do evolucionismo tal como o conhecemos somente parará em território português mais duas vezes, uma em Cabo Verde e outra, já na vinda, na ilha Terceira.
Sobre esta visita escreverá Darwin o seguinte no seu diário de bordo:
“Eu estava tão doente que nem sequer me pude levantar para ver a Madeira quando estivemos a apenas 12 milhas de distância.”
e esta foi a única menção à ilha durante toda a sua viagem.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
A Origem das Espécies
Como postula o Darwinismo, os indivíduos mais aptos singram na comunidade. Facilmente reconhecemos a Darwin o mérito de ter afastado o paradigma científico do criacionismo; paradigma este que conheceu várias roupagens, entre elas a "lei do uso/desuso" de Lamarck (o uso um órgão desenvolve-o, o desuso atrofia-o). Darwin introduz o conceito da "selecção natural" e do "antepassado comum a cada espécie"; choca a comunidade científica e religiosa – a geração espontânea é posta em causa.
Contudo, a história poder-lhe-ia ter sido bem mais ingrata, como o foi para Alfred Russel Wallace. Este autor, naturalista britânico, desenvolveu, paralelamente a Darwin, uma teoria tão similar que se diria plagiada. Contudo, de embuste nada tinha e, quando Darwin se apercebeu da sua existência, apressou-se a publicar a Origem das Espécies, antecipando-se a Wallace, mais vagaroso.
Tivesse o fado sido outro e falaríamos hoje em “Wallacismo” e não em Darwinismo.
Contudo, a história poder-lhe-ia ter sido bem mais ingrata, como o foi para Alfred Russel Wallace. Este autor, naturalista britânico, desenvolveu, paralelamente a Darwin, uma teoria tão similar que se diria plagiada. Contudo, de embuste nada tinha e, quando Darwin se apercebeu da sua existência, apressou-se a publicar a Origem das Espécies, antecipando-se a Wallace, mais vagaroso.
Tivesse o fado sido outro e falaríamos hoje em “Wallacismo” e não em Darwinismo.
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Um Povo Menino
Cesariny volta ao Odisseia, diz umas verdades, deixa um poema e desaparece:
Há uma hora, há uma hora certa
"Há uma hora, há uma hora certa
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente gente! olhos, narinas, bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates, telefonistas,
varinas, caixeiros desempregados,
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo aos
mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua."
Há uma hora, há uma hora certa
"Há uma hora, há uma hora certa
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente gente! olhos, narinas, bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates, telefonistas,
varinas, caixeiros desempregados,
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo aos
mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua."
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Humor de Javé
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Trabalho Empreendido
O Ranking Web of World Universities publicou ontem a lista das 500 melhores universidades do mundo. Os primeiros cinco lugares são ocupados pelo MIT, Stanford, Harvard, Berkeley, e Cornell (todas sedeadas nos Estados Unidos).
A Universidade do Porto figura no 271º lugar; segue-se a Universidade do Minho (300º); Universidade Técnica de Lisboa (374º); Universidade de Coimbra (378º); por fim, Universidade de Lisboa (479º).
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
a odisseia ~ a rainha de Aaru
Discurso da Rainha de Aaru, quaixando-se da falta de compromisso dos portugueses que lhe haviam prometido ajuda, a ela e ao marido, em caso de ataques de inimigos comuns.
“Fonte limpa é o Deus que naquela casa se adora, de cuja boca procede toda a verdade, mas os homens são charcas de água turva, em que por natureza continuamente moram desvarios e faltas, pelo que se deve haver por maldito o que confia no bocejo dos seus beiços.
Porque vos afirmo, senhor capitão, que desde que me entendi até agora, nenhuma outra causa tenho visto nem ouvido senão que quando os desaventurados, como meu marido e eu, mais fazemos por vós, os portugueses, tanto menos fazeis por eles, e quanto mais deveis menos pagais, pelo que, inferindo daqui, o que claramente se pode afirmar é que o galardão da nação portuguesa mais consiste e mais pende da aderência que do merecimento.
E prouvera a Deus que o que eu conheço de vós, por meus pecados, conhecera el-rei meu marido há vinte e nove anos, porque nem ele vivera tão enganado convosco como viveu, nem em fim se viera a perder por vossa causa, como se perdeu.” Capítulo 30 da "Peregrinação".
Porque vos afirmo, senhor capitão, que desde que me entendi até agora, nenhuma outra causa tenho visto nem ouvido senão que quando os desaventurados, como meu marido e eu, mais fazemos por vós, os portugueses, tanto menos fazeis por eles, e quanto mais deveis menos pagais, pelo que, inferindo daqui, o que claramente se pode afirmar é que o galardão da nação portuguesa mais consiste e mais pende da aderência que do merecimento.
E prouvera a Deus que o que eu conheço de vós, por meus pecados, conhecera el-rei meu marido há vinte e nove anos, porque nem ele vivera tão enganado convosco como viveu, nem em fim se viera a perder por vossa causa, como se perdeu.” Capítulo 30 da "Peregrinação".
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O Velho do Mar
Da tradição helénica surge-nos Proteu, filho de Tétis e Oceano, deidade capaz de assumir qualquer forma quando acossada; de tal capacidade dispõe também o Bloco de Esquerda. Pode parecer ultralibertino, padroeiro dos canabinóides, protector dos homossexuais, cultor da diversidade religiosa (esta é difícil de engolir!), etc. Todavia, de quando em vez, quebrantam-se-lhe as forças e assume a forma original (como Proteu).
Na VI Convenção do Bloco de Esquerda, assistimos à assunção de velhos e gravíssimos vícios. Senão vejamos: "O BE quer uma esquerda grande e capaz para combater os inimigos e a exploração. Tem que ser anti-capitalista e só pode ser socialista. Grande pela representação dos mais explorados, dos trabalhadores, dos explorados" – palavras de Francisco Louçã. Fala-nos, portanto, de “exploração”, “combater os inimigos” e, por duas vezes, de “explorados”. Há muito que não se registava tão sinistro caso de esquizofrenia. E mais, o Bloco “tem que ser anti-capitalista” (deveria “ter de ser”, mas não estamos aqui a discutir correcção linguística).
Perante deixas desta índole podemos troçar ou ignorar com esgar de desagrado, contudo, não podemos ficar surpreendidos. O Bloco mais não está que a retornar à sua matriz original, a mescla formada pela UDP (União Democrática Popular), PSR (Partido Socialista Revolucionário) e Política XXI. Louçã está a dizer tudo o que há muito desejava, distribuído em doses cavalares pela imprensa, apoiado pelas mais recentes modas europeias (extremismo de esquerda em França e Alemanha).
Imbuído no seu êxtase, o líder bloquista estuga o passo: vamos impedir que empresas privadas “saudáveis” despeçam trabalhadores! Bem, vamos meter o bedelho nas opções administrativas das empresas privadas já que o nosso Leviathan trotskista/marxista/maoísta não tem noção de decência! Vamos interferir em assuntos dos quais não enxergamos a ponta dum corno! E já agora, vamos nomear gestores públicos para “velar” pelas empresas privadas. Força irmãos de luta…
Proponho a seguinte teorização: imaginemos que um determinado funcionário de uma empresa privada “saudável” não possui a competência necessária, aliás, é negligente na sua conduta e põe a empresa em risco; imaginemos agora que o empregador (um explorador capitalista, claro está) quer despedir o funcionário incapaz. Quer mas não pode, porque o Bloco de Esquerda decidiu pensar por ele, num golpe de génio irrepreensível.
Nota para a ingratidão do partido que, para além de afastar Joana Amaral Dias da lista para a Mesa Nacional, na senda de Estaline eliminou as imagens da ex-dirigente de um vídeo, exibido na Convenção, dedicado às figuras que mais contribuíram para a sua mediatização.
Na VI Convenção do Bloco de Esquerda, assistimos à assunção de velhos e gravíssimos vícios. Senão vejamos: "O BE quer uma esquerda grande e capaz para combater os inimigos e a exploração. Tem que ser anti-capitalista e só pode ser socialista. Grande pela representação dos mais explorados, dos trabalhadores, dos explorados" – palavras de Francisco Louçã. Fala-nos, portanto, de “exploração”, “combater os inimigos” e, por duas vezes, de “explorados”. Há muito que não se registava tão sinistro caso de esquizofrenia. E mais, o Bloco “tem que ser anti-capitalista” (deveria “ter de ser”, mas não estamos aqui a discutir correcção linguística).
Perante deixas desta índole podemos troçar ou ignorar com esgar de desagrado, contudo, não podemos ficar surpreendidos. O Bloco mais não está que a retornar à sua matriz original, a mescla formada pela UDP (União Democrática Popular), PSR (Partido Socialista Revolucionário) e Política XXI. Louçã está a dizer tudo o que há muito desejava, distribuído em doses cavalares pela imprensa, apoiado pelas mais recentes modas europeias (extremismo de esquerda em França e Alemanha).
Imbuído no seu êxtase, o líder bloquista estuga o passo: vamos impedir que empresas privadas “saudáveis” despeçam trabalhadores! Bem, vamos meter o bedelho nas opções administrativas das empresas privadas já que o nosso Leviathan trotskista/marxista/maoísta não tem noção de decência! Vamos interferir em assuntos dos quais não enxergamos a ponta dum corno! E já agora, vamos nomear gestores públicos para “velar” pelas empresas privadas. Força irmãos de luta…
Proponho a seguinte teorização: imaginemos que um determinado funcionário de uma empresa privada “saudável” não possui a competência necessária, aliás, é negligente na sua conduta e põe a empresa em risco; imaginemos agora que o empregador (um explorador capitalista, claro está) quer despedir o funcionário incapaz. Quer mas não pode, porque o Bloco de Esquerda decidiu pensar por ele, num golpe de génio irrepreensível.
Nota para a ingratidão do partido que, para além de afastar Joana Amaral Dias da lista para a Mesa Nacional, na senda de Estaline eliminou as imagens da ex-dirigente de um vídeo, exibido na Convenção, dedicado às figuras que mais contribuíram para a sua mediatização.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
A Ler (Indispensáveis)
Michael Seufeurt no "O Novo Século", sobre a convenção bloquista.
Bad Bank?, no mesmo sítio, por João Ribeirinho Soares.
Os turras do caviar, no "Estado Sentido", por Nuno Castelo-Branco.
O Capital Improdutivo, pelo jcd, no "Blasfémias".
Do chipismo socialista, no mesmo sítio, por Gabriel Silva.
PS: Regionalização e casamento de homossexuais são bandeiras da esquerda do povo - Sócrates, na Lusa.
Bad Bank?, no mesmo sítio, por João Ribeirinho Soares.
Os turras do caviar, no "Estado Sentido", por Nuno Castelo-Branco.
O Capital Improdutivo, pelo jcd, no "Blasfémias".
Do chipismo socialista, no mesmo sítio, por Gabriel Silva.
PS: Regionalização e casamento de homossexuais são bandeiras da esquerda do povo - Sócrates, na Lusa.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
O fim do Mundo Neo-Liberal
O Mundo criado nos últimos 15 anos de tolerância de fronteiras, de crescimento económico ímpar, de desenvolvimento por todo o mundo, pela recuperação dos mercados de África e Ásia e da progressiva abertura dos Estados socialistas aos ideais de liberdade individual está, para jubilo de muitos, a passar por uma crise de valores democráticos e identidade.
Reagindo a uma crise financeira que a contínua propaganda política insiste em responsabilizar a iniciativa individual, as classes políticas dos países democráticos apoderam-se do poder económico e da opinião das massas, através de discursos e slogans demagógicos e irresponsáveis.
Mesmo os países-símbolo da democracia e da liberdade já começam a usar a sua economia como arma política.
Depois dos EUA de Obama e do "Buy America" chega a altura do Reino Unido de Gordon Brown e do Partido Trabalhista preconizarem medidas proteccionistas da indústria e dos empregos.
Foi até aqui que nos levou o crescimento do Estado e os apelos ao pânico geral do Labour. A antiga Inglaterra das políticas laborais propícias ao estabelecimento de estrangeiros está a ser substituída pelo socialismo de Estado, que tantas vezes derivou em congéneres racistas e xenófobas.
A Europa comete os mesmos erros que a levaram à Iª Guerra Mundial, o nacionalismo laborial, a economia controlada e a ideologia proteccionista. Adivinham-se tempos complicados para as economias mais frágeis e dependentes dos mercados internacionais, como o são as economias dos países pequenos.
O nosso único consolo é o fim do neoliberalismo.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
problemas de interpretação
Um problema interessante que tem escapado a debate na FDUP, e principalmente entre os estudantes de Introdução ao Direito, é o caso da estranha intepretação de uma norma do regulamento da Liga Portuguesa de Futebol sobre o funcionamento de uma competição desportiva patrocinada por esta.
O Conselho de Justiça achou que era mais correcto interpretar conforme a intenção da norma e não de acordo com a correcção e o seu sentido "gramatical".
O problema está em considerar a expressão goal average a média de golos marcados e sofridos de uma equipa ao longo de uma competição, o seu significado literal, ou a diferença de golos marcados e sofridos ao longo de uma competição, que são coisas muito diferentes, aparentemente.
É claro que o CJ fez a escolha mais segura, mais justa, e à risca safou a Federação Portuguesa de Futebol de meter a pata na poça.
Fica o aviso a todas as colectividades desportivas para passar a usar expressões portuguesas nos seus regulamentos, que é a coisa mais "direitinha" de se fazer.
PS: fica a justificação do CJ:
Qualquer pessoa entende a expressão com esse sentido. Por exemplo, a expressão mister refere-se o treinador, porque nos primórdios do nosso futebol os treinadores eram ingleses.
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direito
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Plataforma Pensar Claro
O João de Brito e Faro, juntamente com outros quatro organizadores, está a preparar uma conferência na FEP com o nome "Plataforma Pensar Claro".
A Conferência vai contar, como orador, com o Professor João César das Neves. Estará desde as 18h no auditório 260 da dita Faculdade, dia 13 de Fevereiro.Pelo que se pode ver pelo blogo da Plataforma, assuntos como Sociedade, Política e Economia vão estar na mesa de debate.Ficam desde já todos convidados, e espera-se mais uma vez a presença interessada de estudantes, não só da FDUP, mas também de outras casas académicas.
Dos Odisseus pelo menos eu estarei presente, a fazer a cobertura desta 1º conferência da Pensar Claro, um projecto que, espera-se, floresça. Mais tarde o resumo será publicado aqui, se assim se der a oportunidade.
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plataforma pensar claro
serviço público
A RTP1 passou uma peça de 15 minutos sobre uma jovem americana que, com o apoio de um bordel (que leva o seu negócio muito a sério), vende a sua "virgindade" num leilão pela Internet.
15 minutos para noticiar um espectáculo de aberrações, sobre uma nova modalidade de mulher-objecto. Tudo isto, claro, custeado com o dinheiro dos contribuintes.
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da próxima compliquem menos
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Anti-Imperialismo e Home Run
A duas semana de nova consulta popular (referendo para aprovar uma emenda constitucional que lhe proporcionará um substancial aumento de poder), Hugo Chávez dá-se a mil trabalhos para seduzir a populaça. Na foto joga basebol, o "desporte de los hijos de Bólivar". As sondagens mais recentes apontam uma percentagem de 51,5% a favor da alteração constitucional; e 48,1% contra.
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Hugo Chávez
domingo, 1 de fevereiro de 2009
aurea mediocritas
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